Turismo de Fronteira e a Rota Turística Pantanal-Amazônia-Andes-Pacífico

June 24, 2017 | Autor: Yure Lobo | Categoria: Planejamento Urbano e Regional, Turismo, Turismo de Fronteira
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Oportunidades e desafios do Turismo de Fronteira: o caso da Rota Turística PantanalAmazônia-Andes-Pacífico (RTPAAP). Yure Lobo [email protected] Bacharel em Turismo (UFPR), pósgraduação em "Cidade, Meio ambiente e Políticas Públicas". Atua há 10 anos como consultor para projetos de desenvolvimento turístico territorial no Brasil e exterior. A concretização da Estrada Interoceânica Sul, megaprojeto de infraestrutura que conecta o Atlântico brasileiro ao Pacífico peruano, numa extensão de 5.404 quilômetros, insere-se na dinâmica da economia global como um novo espaço de oportunidades ao ampliar os horizontes de conexões, numa vinculação anteriormente inexistente. Aproxima o Brasil da costa peruana, parte mais ocidental da América do Sul e o ponto mais próximo do nordeste asiático e, no outro sentido, oferece ao Peru uma forma mais econômica de acessar os portos do Atlântico e os mercados Europeu e Africano. Este fato inaugurar um processo crescente de cooperação, dinamização econômica e integração na América do Sul. É neste contexto que se insere o processo de roteirização turística integrada denominado Rota Turística Internacional Pantanal-Amazônia-Andes-Pacífico (RTPAAP), uma estratégia de comercialização e diversificação da oferta turística dos Estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso de forma articulada a Macrorregião Sul do Peru. Uma proposta pautada por um amplo arranjo institucional e pela construção de parcerias nos âmbitos local, regional, nacional e internacional, tendo a Estrada Interoceânica Sul como um cordel que entrelaça diversos interesses e realidades e a RTPAAP como produto comum deste território e instrumento para o desenvolvimento regional capaz de contribuir para a dinâmica de ações de cooperação internacional entre os dois países. Os principais atores institucionais envolvidos pelo lado brasileiro são os Governos dos Estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE, a Agência de Desenvolvimento do Turismo na Macrorregião Norte - ADETUR AMAZÔNIA, o Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR e o Ministério do Turismo. Pelo lado peruano tem-se o envolvimento direto do Governo Regional de Cusco, da Câmara Regional de Turismo de Cusco - CARTURC, da Direção de Comercio Exterior e Turismo - DIRCETUR e da Comissão de Promoção do Peru para Exportação e Turismo - PromPerú. Existe, também, um grande apoio por parte do Ministério das Relações Exteriores de ambos os países. Atualmente a formatação deste produto envolve, no Brasil, duas Macrorregiões Turísticas (Centro Oeste e Norte), cinco Regiões Turísticas (Polo Pantanal e Polo Cerrado/Mato Grosso, Polo Pérola do Mamoré e Pólo Madeira-Mamoré/Rondônia; Vale do Acre/Acre) e doze municípios que, por meio de uma consultoria especializada, foram mapeados e diagnosticados apresentando condições turísticas favoráveis para a consolidação de um produto comercialmente viável. São eles: Cuiabá-MT, Chapada dos Guimarães-MT, Nobres-MT, Jaciara-

MT, Cáceres-MT, Poconé-MT, Porto Velho-RO, Ouro Preto do Oeste-RO, Guajará-Mirim-RO, Rio Branco-AC, Brasiléia-AC e Xapuri-AC. Já no Peru envolve os principais destinos da Macrorregião Sul como Porto Maldonado (Amazônia Peruana), Cusco (Machu Picchu), Arequipa (Vale do Colca), Puno (Lago Titicaca) e Lima (Pacífico). Juntos estes destinos oferecem uma grande diversidade de atrativos, sobretudo nos segmentos turísticos de aventura, ecoturismo e cultura, configurando-se como uma Rota Multidestinos com grande heterogeneidade paisagística, diversidade de ecossistemas e culturas, resultando em uma rica experiência ao visitante. Por meio dela o turista poderá conhecer e vivenciar o Pantanal Mato-Grossense, considerado a maior planície de inundação do planeta e Reserva da Biosfera, a Amazônia, uma das regiões mais biodiversas do planeta e eleita uma das novas sete maravilhas da natureza, os contrastes da selva baixa e alta da Cordilheira dos Andes, as fortalezas e templos sagrados do Império Inca, as ruínas de Machu Picchu, a modernidade e o patrimônio histórico de Lima e as belas praias do Pacífico. Em relação a conexão de modais Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco estão conectados tanto por via aérea, quando por via rodoviária, tendo a BR 364 como principal eixo de conexão terrestre, atualmente em condições precárias. A conexão rodoviária se estende até o Peru, via Estrada Interoceânica Sul, em excelentes condições. Já a conexão aérea sofre uma descontinuidade por não existir operação aérea regular no trecho Rio Branco-Porto Maldonado, a partir do qual seria possível conectar com os demais destinos tanto do Peru, quanto do Brasil. Este é um gargalo importante a ser superado em relação a potencialização da comercialização turística integrada e, também, dos negócios na região. Em relação ao turismo terrestre os dados do turismo internacional apontam para o desafio de elevar a circulação de turistas entre países e regiões limítrofes, no Brasil, uma vez que no Mundo este tipo de turismo (transfronteiriço) representa 80% da demanda internacional e aqui não ultrapassa 40%. Neste sentido a RTPAAP tem grande potencial de contribuição uma vez que somente a área de abrangência da mesma possui uma densidade populacional de mais de 16 milhões de habitantes (público potencial para o turismo interno/intrarregional). Isto sem considerar os turistas estrangeiros que circulam pela região. Para se ter uma ideia somente a região de Cusco/Machu Picchu recebe uma média de 1,2 milhões de turistas estrangeiros por ano. Um projeto de desenvolvimento territorial integrado, como a RTPAAP, deve apontar necessariamente para uma agenda binacional construtiva e beneficiar os interesses dos países envolvidos. Neste caso, o turismo passa a exercer um efeito catalisador para a ampliação das relações sociais, econômicas e culturais na região e traz no seu bojo a constituição de atores e espaços específicos para construção de alternativas comuns visando o enfrentamento de fenômenos de complexa natureza estrutural e capazes de gerar conflitos de fronteira. Não sendo possível aqui aprofundá-los cabe mencionar pelo menos aqueles mais evidentes: o garimpo e a extração ilegal de madeira, fenômenos fundamentalmente brasileiros e que se faz presente também no lado peruano, o tráfico internacional de pessoas em uma espiral crescente e o narcotráfico, complexo multinacional com diversas implicações no território.

Para tanto se torna imprescindível estabelecer mecanismos de governança democrática capazes de fortalecer os laços de aliança e cooperação entre os agentes públicos e privados do turismo e criar condições concretas ao desenvolvimento da atividade nessa região. É sob este perspectiva que deve a avançar a constituição de um Comitê de Fronteira de forma a considerar e incorporar de maneira ampla os interesses diretos das comunidades, instituições e sociedade organizada que estão na área de influência da Rota. Sob esta perspectiva a atividade turística, sobretudo em regiões de fronteira, deve ser assumida, também, como fator de desenvolvimento social e de integração de ações cooperadas que contribui para equacionar as diferenças visíveis em função, principalmente, das assimetrias existentes. Não apenas as econômicas, mas também as culturais que, se não consideradas e incorporadas, podem gerar efeitos negativos para as relações transfronteiriças. MAPA GERAL – ROTA TURÍSTICA INTERNACIONAL: PANTANAL-AMAZÔNIA-ANDES-PACÍFICO

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