Turismo, Música e Economia Criativa: O Festival de Bossa & Jazz na Praia da Pipa/RN

June 3, 2017 | Autor: C. Rn | Categoria: Música, Economia Criativa
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GT ECONOMIA – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade

Modalidade da apresentação: Comunicação oral

TURISMO, MÚSICA E ECONOMIA CRIATIVA: O FESTIVAL DE BOSSA & JAZZ NA PRAIA DA PIPA/RN Gabriela Targino, UFF Fernando Manuel Rocha da Cruz, DPP/UFRN

Resumo: A música é um setor cultural e criativo capaz de dinamizar cidades e espaços urbanos, promovendo o desenvolvimento econômico, social e cultural, gerando novas formas de vivências sociais e culturais. A Economia Criativa expressando-se através de setores criativos é um campo de estudo que vem ganhando solidez no Brasil, desde 2011, no tocante à implementação de políticas públicas de fomento da área. A cultura se atrela à economia interligando setores base de diversas áreas da indústria, despontando a denominada “indústria criativa”, a qual veio destacar no Brasil a cadeia produtiva de setores econômicos que visam o ativo cultural como parte da geração de seus produtos. Partindo de metodologia qualitativa e nomeadamente do estudo de caso, realizamos pesquisa entre 2013 e 2014, tendo por base as técnicas de pesquisa de entrevistas semiestruturadas, observação participante e registro fotográfico. Concluímos que a realização anual do Festival de Bossa e Jazz na Praia da Pipa, aliado ao setor turístico vem contribuindo para a dinamização e desenvolvimento social, cultural e econômico da localidade. Palavras-chave: Desenvolvimento. Economia criativa. Música. Praia da Pipa.

1 CONCEITOS BASILARES E A FRAGILIDADE DA TERMINOLOGIA As políticas públicas brasileiras fomentadoras da economia criativa ainda encontram-se fragilizadas quando se volta o olhar para as implementações legais voltadas para Economia Criativa. No ano de 2012, a nível federal, o Ministério da Cultura – MinC, passa a atuar com a pasta da Secretaria da Economia Criativa (SEC) e aprovou o Plano da Secretaria da Economia Criativa, suas políticas,

diretrizes e ações, que vigorou durante o período de 2011-2014. A SEC é formalizada pelo Decreto 7743, de 1º de junho de 2012 e o referido plano tornase pilar em diversos Estados e municípios para fomentar a articulação dos profissionais enquadrados nos segmentos dos setores criativos. Nessa perspectiva, Cláudia Leitão, Secretária da Economia Criativa à época, argumentava que o referido Plano representava a vontade e o compromisso do MinC para reaver “o que a economia tradicional e os arautos do desenvolvimento moderno descartaram: a criatividade do povo brasileiro” (LEITÃO, 2012, p. 13). Para a Secretária, o Estado brasileiro precisava fazer germinar as tecnologias sociais produzidas pela imensa criatividade brasileira, ao invés de deixá-las se tornarem realidades irrefutáveis. Todavia, em momento anterior às ações do MinC, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) realizou, em 2008, um estudo sobre a Cadeia da Indústria Criativa Brasileira apoiando-se em uma classificação bem mais ampla do que aquela proposta pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Apesar das diferenças existentes entre as classificações estabelecidas pelas instituições aqui citadas, pode-se verificar que há um certo consenso sobre os principais setores contemplados nessas classificações. Assim, a definição da indústria criativa adotada pela FIRJAN (2008; 2012) inclui os segmentos de Expressões Culturais, Artes Cênicas, Artes Visuais, Música, Filme & Vídeo, TV & Rádio, Mercado Editorial, Software & Computação, Arquitetura, Design, Moda e Publicidade, Pesquisa & Desenvolvimento e Biotecnologia. Seguindo tal ideário de setores criativos no Brasil, a Secretaria de Economia Criativa apresenta os seguintes campos de recorte: Patrimônio; Expressões Artísticas; Artes de Espetáculo; Audiovisual/do Livro, da Leitura e da Literatura; e, Criações Culturais e Funcionais (BRASIL, 2012, p. 29-30). Dessa forma, o setor do Software & Computação (Tecnologias de Informação e Comunicação, na nomenclatura de 2014) adotado pela FIRJAN como setor criativo é excluído pela SEC, uma vez que ela restringe os setores criativos ao fator cultural, seguindo a distinção entre criatividade e inovação, considerando que a primeira é própria da cultura e das artes, enquanto a inovação surge relacionada com a Ciência e Tecnologia (CRUZ, 2014a). Sob tal recorte de estudo, entende-se o Festival de Bossa & Jazz da Pipa, na Praia da Pipa-RN, é um evento cultural que proporciona a movimentação de

diversos setores que se interligam, uma vez que há comunicação entre organização do evento, produtores culturais, músicos, rede de hoteleiros e de gastronomia, marketing, agências de turismo, mídias e redes de comunicação, entre outros agentes que se enquadram nas indústrias criativas. Setor (ou indústria) criativo e economia criativa são conceitos basilares e norteadores das políticas públicas de fomento da economia criativa. Assim, os setores criativos são “indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e que apresentam um potencial para a criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração de propriedade intelectual”. (DCMS, 1998). Enquanto, por Economia Criativa optamos pela definição de Cruz (2014b) que considera “o ciclo econômico de criação, produção, distribuição, difusão, consumo, fruição de bens e serviços que têm por objeto a arte e a cultura ou que incorporam elementos culturais ou artísticos”. Dessa forma, incluímos na Economia Criativa, as “atividades econômicas que têm objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado” (CRUZ, 2014b). O conhecimento e a cultura são a base para a dinâmica que impulsiona as transformações nas formas de produção, consumo e convivência social nas sociedades modernas. Assim, a obtenção de conhecimento e criatividade culturalmente

informada

constituem

fatores

de

extrema

relevância

no

desenvolvimento social, econômico e cultural de um país. No Brasil, estes setores ainda carecem de apoio expresso por parte do Estado brasileiro. Nos últimos anos, a criatividade vem promovendo a inserção de novos conceitos, ideias dentro da sociedade, assim como gerando retornos favoráveis e positivos. É preciso recordar que a mudança no cenário social ocorre por mudanças aceitas pela própria sociedade. À luz desse prisma, nas palavras de Lerner, “toda cidade deveria desenvolver/aprimorar seu desenho próprio, um desenho que pode ser escondido sob camadas de ambientes naturais e construídos” (LERNER, 2011, p. 40). Na realização da pesquisa desenvolvida entre 2013 e 2014, optamos pela metodologia qualitativa com enfoque etnográfico de modo a compreender e refletir sobre o Festival Bossa e Jazz, assim como sobre a relevância das indústrias criativas para o desenvolvimento social, cultural e econômico da Praia da Pipa/RN.

Para o efeito, foram aplicadas entrevistas semiestrutradas e informais, observação participante com registros em diário de campo e fotográfico.

2 O FESTIVAL DE BOSSA & JAZZ DA PIPA O Festival de Bossa e Jazz da Pipa, evento musical observado em 2014, foi organizado e realizado pela articulação no setor privado através da Lei Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, e o apoio, promoção e parcerias tanto de empresas privadas, quanto do Governo do Estado e da Prefeitura de Tibau do Sul, município sede do evento. Em 2014, foi realizado a quinta edição deste Festival, sendo o terceiro promovido na localidade da Praia da Pipa. De acordo com a entrevista à microempresária e coordenadora geral do evento, Juçara Figueiredo, o evento teve seu inicio em Natal, capital do Estado (RN), e possuía outro formato, pois era um festival fechado na via Costeira numa casa de espetáculos em Natal (RN). Depois, “no segundo ano é que a gente já fez uma incursão aqui (Pipa) e fizemos o último dia gratuito na pracinha (Praça do Pescador) onde a gente observou a reação do público, observou enfim todo apoio que a gente teve aqui da comunidade e dessa forma a gente decidiu mudar o formato e trazer o festival para Pipa. Esse foi o início da história. Nós estamos indo para o 5º ano de realização do Fest Bossa & Jazz.” (Juçara Figueiredo, produtora cultural JF Produções).

De acordo com Juçara Figueiredo, coordenadora geral, o evento nasceu em 2010, visando ampliar a cultura da música instrumental, do Jazz, do Blues e da Bossa Nova no estado do Rio Grande do Norte e na região nordeste. Nessa incursão, a Praia da Pipa, agregava uma “música de boa qualidade num lugar gostoso” (Juçara Figueiredo, produtora cultural). Na Praia da Pipa, o evento decorreu de Quinta-Feira, 21 de Agosto, a Domingo, 24 de Agosto de 2014, sendo quase todas as atividades realizadas nas mediações da Avenida Baia dos Golfinhos e na praça pública do Pescador (Figura 1). Para a produtora cultural, “divulgar e valorizar o talento de jovens artistas que desenvolvam trabalhos musicais nos estilos Jazz, Bossa Nova, Blues ou Música Instrumental no Rio Grande do Norte. A produção do Fest Bossa & Jazz criou na edição passada um segundo palco denominado

‘Novos Talentos do RN’. Em uma iniciativa da produção do festival, este palco passará a ser chamado, a partir deste ano, de ‘Palco Manoca Barreto Novos Talentos do RN’ em homenagem ao grande músico, professor e incentivador da música instrumental no estado, Manoca Barreto, falecido no dia 25 de Novembro do último ano”. (Juçara Figueiredo, coordenadora Fest Bossa & Jazz).

FIGURA 1 – Palco Novos Talentos Manoca Barreto

A Praça do Pescador, 22 de Agosto de 2014, espaço público no qual estava montada a estrutura para o palco dos novos talentos funcionou recebendo artistas potiguares que se têm destacado no cenário musical. Na imagem, ocorre a passagem de som, pelo filho do músico potiguar Antônio de Pádua, João Vitor, o qual realizou a abertura do palco "Novos Talentos" com um show composto de músicas de seu 1º CD e muitos choros, jazz latinos e números instrumentais realizados com o apoio da banda “de Pádua” que o acompanhava. Fonte: TARGINO (2015).

Em 2014, o festival já tinha destaque regional, pois “o festival atinge em 2013 a marca de maior Festival do Nordeste, o maior festival gratuito de jazz do Nordeste é o Fest Bossa & Jazz” (Juçara Figueiredo, 2014). Com isso, antes da sua V edição (2014), o evento foi reconhecido como o Maior Festival de Jazz Gratuito do Nordeste, oferecendo ao público do Rio Grande do Norte e região Nordeste, mais de 15 atrações de Jazz, Blues, Bossa Nova, Música Instrumental,

workshops musicais, oficinas socioambientais, palestras e feira de artesanato (Figura 2).

FIGURA 2 – Palestra sobre Música e Sustentabilidade

Alunos da rede privada, dia 22 de Agosto de 2016, assistem à palestra educativa, seguida de aula sobre como construir um instrumento musical com Tonny Santos (músico) e Daniel (Projeto TAMAR). Alunos construindo um atabaque reciclável, com baldes de tinta, lona e barbante. Após a construção dos instrumentos os mesmos utilizaram-nos para testar o som e ainda ensaiar para a exposição na Praça do Pescador no fechamento do Palco Novos Talentos Manoca Barreto. Fonte: TARGINO (2015).

A descentralização do evento proporcionou a realização de diversas atividades pelo projeto “Oficina Sesc/RN Música & Sustentabilidade”. De acordo com as observações de campo, as oficinas envolveram escolas da rede pública e privada da Praia da Pipa, e os alunos aprenderam a construir instrumentos musicais, reciclando matérias que eram consideradas desprezíveis. As oficinas ocorreram em Natal, na unidade do SESC, e em Pipa, na galeria Vila Mangueiras. Coordenando e ministrando as oficinas estavam músicos, arte-educadores e biólogos do Coletivo Arte Zona, Instituto TAMAR e Santuário Ecológico de Pipa, ensinando a construir os instrumentos, e ainda a usá-los (Figura 3).

FIGURA 3 – Expositores no pavilhão do evento

No primeiro dia do evento, 21 de Agosto de 2014, diversos artigos foram comercializados no evento. Promovendo o artesanato e contribuindo com a economia local e dos investidores. As pessoas se emocionavam com os mais diversos materiais que estavam sendo comercializados. Nos demais dias, o pavilhão continuou tendo destaque com a área de exposições de diversos parceiros empreendedores e lojas de artesanato e artefatos tanto da Pipa, quanto de outras cidades. Fonte: TARGINO (2015).

Outras atividades foram Workshops, organizados em Natal no SESC e em Pipa, na Galeria Vila Mangueiras. Com os músicos nacionais, bateria com o vencedor do Batuka Brasil 2013, Rogério Pitombal (BR) e violão com Lula Galvão (BR), e internacionais ofereceram aulas de curta duração, grátis, de trompete com o trompetista Mark Rapp (EUA), e ainda de guitarra blues com o cantor e guitarrista Eric Gales (EUA). Outras atividades foram parcerias com estabelecimentos (Pizzaria Curva do Vento; Restaurante Dall Italiano; Restaurante Porto Lounge, e Hotel Pipa Beleza) que promoveram “Jam Session”, ou seja, após o evento terminar no palco principal, as pessoas estavam convidadas a ir para o local onde o músico convidado da noite tocaria e todos poderiam continuar comendo ao som do Fest Bossa & Jazz. Durante o evento alguns depoimentos foram registrados (dias 22 e 23.08.2014), que elucidaram a permanência do evento no calendário municipal e sobre a ausência de dados quantitativos relativamente ao número de pessoas que ocuparam os leitos de pousadas no município durante o evento:

“A gente hoje tem uma lotação de quase cem por cento dos hotéis e isso é muito, tanto para a prefeitura que é uma parceira desse evento… e um evento como esse ninguém pode desprezar. Ainda bem que está em Tibau do Sul e na nossa querida Pipa, só agrega valor a nosso destino”. (Vadenício Costa, Prefeito de Tibau do Sul). “Eu acho fundamental para o país um Festival como esse, e fica provado que as pessoas estão abertas a vários estilos de música”. (Ed Motta, cantor e compositor brasileiro). “O Festival Bossa & Jazz já está no roteiro do turismo, no roteiro que gera emprego gera renda e movimenta a economia, movimenta o comércio e tem uma representação importante no Rio Grande do Norte”. (Itamar Manso, vice-presidente do Sistema FCOMÉRCIO/RN). “Tem uma coisa muito legal p’ra gente… também o ambiente é muito legal, essa coisa tropical e o interesse das pessoas exatamente num local onde a música é outra”. (Marcos Valle, músico).

As opiniões dos turistas encaminham a ideia de crescimento e expansão do evento, citando que o evento tomou uma proporção acima dos demais eventos, anteriormente realizados na Praia da Pipa: “Eu senti que bossa e jazz ‘tá se tornando uma nomenclatura pequena para o que o festival se tornou, porque a coisa não está só mais na parte musical, então eu acho que bossa e jazz deve ser bossa, jazz, literatura, artes plásticas e muito mais”. (Marco Miranda, turista). “A gente teve a oportunidade de prestigiar a primeira edição do festival que foi em Natal e hoje a gente vê o que tornou esse festival e a representatividade dele aqui no Estado”. (Cláudia Durães, turista). “As pessoas vêm para o evento. É um período ainda meio inóspito, não é temporada, não é nada, mas a gente consegue lotar a cidade como já tem sido nesses últimos anos. Economicamente se gera hospedagem, se gera alimentação porque nosso público é um publico que consome, gera renda

tanto para o comércio todo no geral e os hoteleiros… como também para a prefeitura com os impostos que o município arrecada. O faturamento local muda no mês de agosto”. (Juçara Figueiredo, Produtora Cultural)

De acordo com as observações de campo e entrevista semiestruturada com a produtora (antes do evento), a V edição visou o aproveitamento da geografia e o perfil turístico da cidade, para unir a música ao lugar. Sobre a programação do evento, a Bossa & Jazz Street Band, participou durante os dias do evento, pela manhã e à noite na Avenida Baia dos Golfinhos e no acesso à praia do centro; e, à noite num percurso pela Avenida Baia dos Golfinhos até à área do festival (palco central), convidando moradores e turistas para o início das apresentações e entretendo o público nos intervalos entre os shows (Figura 4). FIGURA 4 – Street Band na praia do Centro

A Street Band, 22 de Agosto de 2014, percorre a Avenida Baia dos Golfinhos e a Praia do Centro convidando moradores, turistas e comerciantes a prestigiarem o evento. Na imagem acima registro da manhã de sexta-feira, segundo dia do evento, com a caminhada na Praia do Centro convidando para os workshops e oficinas. À noite, a banda segue as ruas tocando e ao percorrer as ruas, as pessoas saem seguindo a banda até chegarem ao Palco Principal do evento. Fonte: Fest Bossa & Jazz (2014)1

O evento demonstra influência direta e indireta no social, cultural, político e econômico. A rede de televisão potiguar InterTv Cabugi, realizou chamada 1

Fonte: FESTBOSSAEJAZZ. 2014. Disponível em . Acesso em 20 de dez de 2014.

(convites e matérias) sobre o evento e entrevistas ao vivo na edição do dia anterior e durante o evento. Além de realizar cobertura e entrevistas com os músicos participantes e visitantes. As principais matérias destacaram os benefícios trazidos pelo evento à comunidade, comerciantes e artesãos. A Praia da Pipa foi sinalizada com outdoors e cartazes nos empreendimentos parceiros, além de símbolos do evento informando a programação aos turistas e moradores. Os bastidores do evento foram organizados por alunos estagiários das universidades de Natal, músicos e a equipe técnica da produção, e ainda expôs souvenirs para venda na área principal do evento. A produtora explicou na entrevista que o evento novamente teria sua centralidade na Praia da Pipa, todavia já existem ideias para posteriormente se expandir para outros pontos em Tibau do Sul (RN).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS As Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa necessitam de uma aplicação local do que foi idealizado em termos federais. No entanto, a propósito do V Festival Bossa & Jazz, na Praia da Pipa, é perceptível o envolvimento de outros setores criativos e culturais, para além dos setores econômicos tradicionais com destaque para o do turismo. A sucessão de eventos na Praia da Pipa, de que o Festival é apenas um exemplo permite sugerir o desenvolvimento econômico, social e cultural da localidade e do próprio município. A busca de um desenvolvimento satisfatório à maioria dos cidadãos mostra-se inadequada, apesar de muito seguida e estimulada no passado. O colapso do sistema econômico e o surgimento de novos valores como a preservação do meio ambiente, o respeito à natureza e cultura dos autóctones são fatores para a defesa de um novo modelo de desenvolvimento. (HEIDEMANN, 2009, p. 26-27; CRUZ, 2013) As cidades estão se tornando reflexos em espacialidades que se ampliam e propagam como espelho a identidade do lugar e as novas culturas emergidas em virtude das interações locais, regionais e muitas vezes mundiais. Nos últimos anos, o Fest Bossa & Jazz mostra ser uma ocupação positiva para a cidade, e em especial para a Praia da Pipa, com a ressalva de ser no mês de agosto, mês considerado período de baixa estação (temporada). O evento tem uma dimensão

ampla e independente da gestão municipal para articular economicamente a sua realização contando com a aprovação da Lei Rouanet (nacional) e da Lei estadual Câmara Cascudo, as quais facilitam a articulação em rede com prestadores de serviços formais para subsidiar a estrutura e a realização do evento. Entendemos por conseguinte que as políticas públicas podem articular e favorecer o crescimento de festivais, para que os mesmos saiam da forma “primitiva” de se fazer (reduzida a patrocínios locais) e ocorram em uma estrutura articulada a exemplo do Festival Bossa & Jazz da Pipa. A Avenida Baia dos Golfinhos é o centro das atrações de forma geral, uma vez que os três núcleos de maior concentração das atividades dos eventos (palco central, palco Novos Talentos e Vila Mangueiras) fica na margem da referida via pública. Por fim, outro ponto a se destacar é projeção que o evento faz com a cultura e a música e estas têm sido bastante valorizadas, favorecendo o crescimento econômico da cidade. A ideia de cultura é multidimensional, e age como uma potência em diversas esferas e formas. Não se pode limitar a potencialidade da criatividade humana para não se limitar o desenvolvimento da cidade. Apesar de não ser um centro político independente, a Praia da Pipa dialoga com a cultura local/global e com o convívio da inovação através dos empreendimentos que favorecem entendimentos entre os poderes políticos, as entidades culturais e os agentes econômicos.

4 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991. Institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 10 de Dez de 2014. _____. Decreto nº 7.743, de 01 de junho de 2012. Dispõe da estrutura regimental do Ministério da Cultura. Disponível em Acesso em 28 de fev 2016. BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 a 2014. 2ª ed. Brasília: Ministério da Cultura. 2012. CAIADO, Aurilio Sérgio Costa. Economia Criativa: Economia Criativa na cidade de São Paulo: diagnóstico e potencialidade. São Paulo: FUNDAP. 2011.

CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Ambiente Criativo: Estudo de caso na cidade de Natal/RN. Natal: UFRN. 2014a. _____. Da idéia de progresso ao desenvolvimento regional e territorial. In: AGIR – Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 3, set 2013. _____. Políticas Públicas e Economia Criativa: subsídios da Música, Teatro e Museus na cidade de Natal/RN. Linhares, B. F. (orgs). In: [Anais do] IV Encontro Internacional de Ciências Sociais espaços públicos, identidades e diferenças, de 18 a 21 de novembro de 2014. Pelotas, RS: UFPel. 2014b. DCMS, Creative Industries Mapping Document. London, UK: Department of Culture, Media and Sport, 2005. FIRJAN, Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil. FIRJAN: Rio de Janeiro, nº02 (maio). 2008. _____. Mapeamento da indústria criativa no Brasil (2010). FIRJAN: Rio de Janeiro, 2012. FIRJAN, Sistema. Indústria Criativa: consulta ao índice. Disponível em: . Acesso em: 15 de maio de 2014. _____. Mapeamento da indústria criativa no Brasil (2014). Disponível em: . Acesso em: 16 de dez de 2014. HEIDEMANN, Francisco G. Do sonho do progresso às políticas de desenvolvimento. In: HEIDEMANN, Francisco G; SALM, José Francisco (Orgs). Políticas públicas e desenvolvimento: bases epistemológicas e modelos de análise. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009. p. 23-39. LANDRY, Charles. The creative city: A toolkit for urban innovations. 2ª ed. London: Earthscan. 2008. _____. Prefácio. In: REIS, Ana Carla Fonseca; KAGEYAMA, Peter (Orgs.). Cidades Criativas – Perspectivas. 1ª ed. São Paulo: Garimpo de Soluções & Creative Cities Productions. 2011. p. 7-15. LEITÃO, Cláudia. A criatividade e diversidade cultural brasileiras como recursos para um novo desenvolvimento. In: BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 a 2014. 2ª ed. Brasília: Ministério da Cultura. 2012. LERNER, Jaime. Qualquer cidade pode ser criativa. In: Ana Carla Fonseca Reis, Peter Kageyama, (orgs.). Cidades criativas: perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011. p. 38-43

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em: .

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