Turmas de Afinidade: sociabilidade e juventude em uma escola pública brasileira

September 11, 2017 | Autor: A. Revista Interd... | Categoria: Educación, Ciências Sociais, Juventud, Ciencias Sociales, Educação, Juventude
Share Embed


Descrição do Produto

Turmas de Afinidade: sociabilidade e juventude em uma escola pública brasileira1 Daniele Barbosa2 Juarez Dayrell3 Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil)

A presente comunicação oral é resultado de uma pesquisa de mestrado a qual procurou compreender os significados que os jovens alunos atribuem à sociabilidade no cotidiano escolar e seus possíveis impactos na vivência escolar. Pretendeu-se discutir as relações de sociabilidade entre os mesmos no cotidiano escolar, e identificar e analisar os espaços e tempos escolares utilizados pelo jovem aluno nas mesmas. Os conceitos de sociabilidade e juventude foram articulados numa composição de autores vinculados ao campo das ciências sociais, especialmente da Sociologia e da Educação, por isso a relevância do mesmo no neste Congresso. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, de cunho etnográfico, articulando práticas metodológicas de coleta de dados como observação participante, questionário, entrevistas abertas e sessões de grupo focal. A investigação foi realizada com uma turma do 2º ano do Ensino Médio, de uma escola da rede estadual de ensino, localizada em um bairro de periferia, no município de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. A partir da vivência com os sujeitos pesquisados pôde-se conhecer as dinâmicas em torno do cotidiano escolar dos jovens alunos. Foi possível entender como se dão as relações de amizade através da caracterização das turmas, bem como suas origens e ocupação espacial na instituição de ensino. Foi possível ainda apontar, através das posturas dos grupos, as interações presentes nas relações de sociabilidade dos jovens alunos. A partir delas, procuramos compreender os sentidos da escola atribuídos pelos agrupamentos e, através das estratégias construídas pelos mesmos, entender a relação existente entre esses sentidos e a amizade no interior da instituição de ensino. This oral communication is the result of a research which examined social relations in the daily live of high school students their possible impacts on the learning experience of students. It looks at the interaction between social patterns and learning, and seeks to identify and analyze school spaces and school times used by young students in their social relations. The communication draws on theories of social relations from various scholars in the fields of social science, especially in Sociology and Education, explaining its relevance in this Congress. The research is qualitative and ethnographic, using observations, questionnaires, open interviews and focus group sessions. The subjects were sophomore high school students in a public school, in a suburb of the city of Juiz de Fora, in the state of Minas Gerais, Brazil. The researchers were able to gather detailed information on the daily life and school routines of the students, and through this to understand the process of friendship building, group characteristics, and the role of social groups in the school. From an

1 O presente texto surgiu apartir dos resultados da nossa pesquisa de mestrado desenvolvida entre 2005 e 2007, no curso de Pós Grauação em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais – Brasil. 2 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 3 Professor da Faculdade de Educação da UFMG e coordenador do Observatório da Juventude da UFMG www.fae.ufmg.br/objuventude).

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

84

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

assessment of students' attitudes, beliefs, and strategies, it was possible to identify the meaning that school had to the students, in relation to their friendships and educational pursuits. Palavras-chave: Juventude, Sociabilidade, Escola. Key-words: Youth, Sociability, Public school.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

85

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

“A gente não faz amigos, reconhece-os.” Vinícius de Moraes Neste texto são discutidas as relações de sociabilidade entre jovens alunos no cotidiano escolar, identificando os espaços e tempos utilizados, os significados atribuídos pelos jovens a tais relações, bem como seus possíveis impactos na vivência escolar. Buscamos entender os sentidos que os jovens atribuem às relações sociais, em especial a dimensão da sociabilidade, no cotidiano da escola pública. A pesquisa foi realizada com jovens alunos de uma turma (2 A) do 2º ano do ensino médio de uma instituição pública de ensino, no município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil. O objeto de estudo demandava uma investigação qualitativa, de cunho etnográfico. Nesse sentido, lançou-se mão da observação participante4 na escola, da aplicação de questionários aos jovens, de entrevistas abertas5 com os jovens selecionados, e de sessões de grupo focal (GF) como técnicas de coletas de dados.

A SOCIABILIDADE COMO PANO DE FUNDO No intuito de compreender o conjunto de redes interpessoais que os alunos estabelecem no interior da escola, buscamos compreende-lo através da noção de sociabilidade. Conforme Requena Santos (1994), para compreender estas redes sociais é preciso, inicialmente, tomar a ideia de que os indivíduos se sentem mais à vontade na comunidade do que fora dela. Segundo o autor, essas redes de relações são um contínuo processo de trocas, nas quais os indivíduos dependem uns dos outros. Essas trocas apresentam limites difusos, operam as informações, serviços e auxílios com grande eficiência. Do ponto de vista do autor, as ações em torno dessas redes se intensificam à

4

Conforme Bogdan e Biklen (1994), o pesquisador qualitativo não pode estudar o ambiente sem fazer parte dele, sendo necessária a sua inserção no contexto estudado. Nesse sentido, a fim de obter informações acerca da sociabilidade dos jovens alunos na instituição de ensino, fizemos o uso da observação participante a partir do mês de abril até o encerramento do ano letivo, aproximadamente cinco dias por semana. 5 Terminologia utilizada por Bogdan e Biklen (1994). AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

86

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

medida que aumenta sua densidade: quanto mais densa a rede, mais os amigos se interessam em saber uns dos outros. Tal comportamento dos indivíduos nas redes sociais aponta a existência das redes pessoais, nas quais as posturas se relacionam ao próprio indivíduo, bem como ao entorno no qual está inserido, construídos por meio de laços pessoais. Essas redes pessoais variam de tamanho, de composição, de características e são estabelecidas em decorrência de fatores como a livre eleição dos indivíduos com quem irá se relacionar6. Ao mesmo tempo também sofrem influência da predisposição psicológica dos envolvidos na rede7, da educação formal e das relações desenvolvidas na infância e na adolescência, dentre outras questões. É possível afirmar que o tipo de rede pessoal que mais se aproxima da estabelecida pelos jovens é a que se dá com base em um processo de interação e intercâmbio, pois os indivíduos podem desenvolver certas atividades entre si e fornecer ajuda material e/ou emocional um para o outro, como uma típica relação de amizade.. Todavia, o que estamos chamando de amizade? A questão do coletivo na vida dos jovens é fundamental, na qual ser jovem implica, a princípio, ser grupo8. É mediante a troca de experiências e da necessidade de pertencer a um agrupamento que eles constroem sua subjetividade, interpretam o mundo que os rodeia e passam a se conhecer melhor. Partindo desta idéia, torna-se necessário definirmos melhor o que dominamos de sociabilidade. Uma forma de compreendermos a sociabilidade e seu significado sociológico9, é buscar entendê-la apartir de Simmel (1983). Para esse autor, uma das características da relação de sociabilidade refere-se à origem das relações de amizade: a “livre escolha” (Dayrell, 2005). É na escolha de com quem vai interagir que o jovem aluno estabelecerá algum tipo de aproximação com o outro e constituirá ou não uma relação de amizade. É por

6

A “livre eleição” tratada aqui por Requena vai ao encontro de uma das características fundamentais da sociabilidade entre os jovens que é a escolha dos amigos com quem se quer interagir. (Cf. Dayrell, 2005). 7 Conforme o autor Requena Santos (1994), a timidez ou um temperamento mais expansivo pode influenciar positivamente ou negativamente nas oportunidades de se construir relações. 8 Segundo uma série de pesquisas (Abramo, 1997; Carrano, 2000; Dayrell, 2002; Spósito, 2002 9 Para efeito didático e de construção do texto lançamos mão das terminologias “amizade” e “sociabilidade” ao longo do artigo, ao tratar das interações entre os jovens alunos investigados. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

87

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

meio da eleição de colegas na instituição de ensino que os jovens alunos escolhem quem serão os candidatos possíveis para compor seu grupo10. Outra característica também destacada nos estudos Simmel é a simetria. O sociólogo ressalta a importância da ausência de posições hierárquicas nas relações de sociabilidade. Acreditamos que as relações sociais existentes entre os jovens alunos na instituição de ensino são simétricas, uma vez que todos se encontram na posição de estudantes e, mais ou menos, na mesma idade, o que não acontece na relação professor/aluno11, por exemplo. Apesar da simetria, não descartamos a presença da relação de poder e/ou de conflitos presente nessas interações, como possíveis relações mais favoráveis, ou de liderança, ou de popularidade deste ou daquele jovem aluno, bem como outros subordinados, determinados com apelidos vexatórios ou mesmo tímidos. Simmel (1983) também ressalta que nas relações de sociabilidade não há propósitos previamente estabelecidos, e, sim, um fim em si mesma. A sociabilidade para os jovens “parece responder às suas necessidade de comunicação, de solidariedade, de democracia, de trocas afetivas e, principalmente, identidade” (Dayrell, 2005, p. 186). Os indivíduos se satisfazem simplesmente por estarem associados, ocorrendo o puro processo de associação. O prazer da interação se dá no próprio fato da união em si, e não por um interesse ou motivo final12. Outras característica, abordada por Simmel (1983) e Giddens (2005) é a impessoalidade, a irrealidade, o tato. Essa é uma espécie de proteção que os indivíduos utilizam com o propósito de não demonstrar suas fraquezas a todos, que auxilia nos limites da relação. O controle da expressão facial, dos gestos e da postura corporal ao

10

Achamos conveniente destacar aqui o cuidado ao usarmos o termo “escolha”, pois pode parecer que os indivíduos são extremamente livres e autônomos não só na opção de seus caminhos (sejam eles profissionais, escolares, etc.), mas também na sociabilidade/amizade (na preferência das relações com estas ou aquelas pessoas). No caso dos jovens, vale ressaltar que tal escolha é sempre relativa, pois se dá no contexto da “enturmação” estabelecida pela instituição de ensino, na qual o jovem aluno não interfere. 11 Não foi nossa intenção tratar tais relações de maneira pura e harmoniosa. Os conflitos existentes constituem uma forma de perceber essa diversidade. 12 Vale ressaltar que outros autores se referem a tal traço da sociabilidade usando outras terminologias. Simmel (1983), por exemplo, também trata tal característica como “impulso de sociabilidade”, e Devidre Boden e Harvey Molotch (apud Giddens, 2005) como “compulsão de proximidade”. Para estes dois últimos autores, é por meio da proximidade que os indivíduos passam a ter mais subsídios sobre como outras pessoas pensam e se sentem e, portanto, se tornam capazes de entender melhor o que esta acontecendo nesse tipo de interação social. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

88

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

interagir com os indivíduos também contribui para a identificação dessa característica da sociabilidade. Finalmente, temos a natureza democrática das relações de sociabilidade. O indivíduo somente oferece valores sociais (como amor, alegria, atenção, carinho, etc.) no equivalente ao que ele recebe, ou seja, tal troca deve se dar de maneira recíproca e na mesma intensidade. Segundo esses mesmos autores, a base da sociabilidade é a conversação. Nesse caso, nenhum conteúdo pode ganhar importância em si mesmo, mas, ao mesmo tempo, deve ser interessante e atraente. Parte do sentido do que o que é dito está nas palavras e a outra parte, no modo como o contexto social estrutura o que é dito. Giddens ainda ressalta a existência das concepções partilhadas, definidas como os complexos ativados pelos envolvidos, pelo fato de um indivíduo já conhecer o outro, dada a relação de amizade. Nesse contexto, entendemos a amizade como um tipo de sociabilidade que apresenta três princípios inerentes: a autonomia, ideia de que os amigos não dependem uns dos outros; a ausência de uma rotina maçante; e, por fim, a limitada, que nos remete à ideia de que uma relação de amizade tende a ser fechada, impenetrável à presença e à influência dos “não amigos”.

MIRANDO COM UMA LUPA: AS TURMAS DE AFINIDADE É com esse olhar que buscamos entender as relações que os jovens alunos estabeleciam entre si no cotidiano escolar. Com o passar do tempo, a convivência acentua as semelhanças e diferenças de cada discente, revelando a tendência dos mesmos de se agrupar. No decorrer da pesquisa, foi possível identificar, mapear e caracterizar na sala de aula seis turmas de afinidade distintas. Alguns jovens utilizam como categoria nativa para essas aglutinações denominações como “panelinhas” e “grupinhos”. Dadas as múltiplas origens e seu caráter dinâmico, achamos conveniente tratar tais agrupamentos como “turmas”. O termo “turma” também quer dizer um “grupo de amigos” e “galera” (Ferreira, 2000), especialmente AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

89

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

estudantes e trabalhadores. Nesse sentido achamos que tal termo revela muito mais a dinamicidade típica da sociabilidade e dos agrupamentos entre os jovens alunos. Além disso, é por meio da afinidade que constroem suas redes de amizade, buscando simultaneidade de opiniões ou qualidades morais entre colegas de sala de aula. (BARBOSA, 2007, p.71) Lançando mão de tais ponderações, definimos tais agrupamentos de “turmas de afinidade” - aglutinações em uma sala de aula as quais apresentam comportamentos e intensidades de relações mais ou menos em comum na escola. A forma de interação entre eles durante boa parte do tempo escolar, o conversar, o “zoar” ou o brincar, também são comportamentos que achamos relevantes na caracterização dessas turmas. Entendemos, também, que os jovens integrantes desses agrupamentos procuram se sentar próximos uns dos outros, permanecendo juntos no pátio da instituição, geralmente demonstrando interações mais intensas do que os outros colegas da sala de aula. Na sala de aula na qual foi realizada a pesquisa, a turma de mais fácil reconhecimento é a da “Janela”. De comportamento próximo ao esperado pela instituição de ensino (o silêncio, a participação nas aulas, a cópia do conteúdo, bem como a linearidade no desempenho relacionado às notas bimestrais) ela é formada por três componentes: duas alunas brancas e um jovem negro, o qual se autodeclara homossexual. Situada no canto da sala, próximo à mesa do professor, tal turma permaneceu ao longo de todo o período de pesquisa sentada no canto esquerdo da sala, próximo à mesa do professor, encostada à parede na qual estavam as janelas da sala de aula. Outra turma de mesmo comportamento, reconhecido tanto pelos próprios alunos quanto pelos professores, é o das “Evangélicas”. O grupo é composto por três jovens brancas e está localizado no fundo direito da sala de aula. Com grande número de componentes, também, há a turma dos “Roqueiros”, composta por três jovens negros e três jovens brancos. Caracterizando-se como o único grupo de meninos que não costuma ficar batendo papo, os jovens se distribuem ao longo de três diferentes fileiras do lado direito da sala. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

90

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

No cotidiano da pesquisa, identificamos, também, uma turma no centro da sala de aula, o grupo “Meião”, composto de três jovens alunas brancas e uma negra, as quais se mostraram brincalhonas e participativas tanto com os colegas quanto com os professores. Também foi possível perceber a turma de afinidade “Rosa”, constituída por quatro meninas brancas, as quais costumam sentar-se, também, do lado direito, encostadas na parede, se possível, sempre em duplas. Por causa da vaidade, da grande importância atribuída em se mostrarem e se sentirem femininas, da preferência pela cor pink, escolhemos especialmente a denominação “Rosa” para essa turma de afinidade. Por fim, a última turma de afinidade mapeada foi a do “Fundão”. A turma é a maior da sala, constituída por oito componentes: seis meninos e duas meninas, sendo seis negros e dois brancos. Essa turma não costuma se dedicar muito às aulas ou a quaisquer outras atividades da escola, não costumam copiar com frequência a matéria, sentam-se de lado nas carteiras, conversam e “zoam” em sala.

POLÍTICA GEOGRÁFICA Cada turma de afinidade expõe e “domina” o seu lugar preferidos na sala de aula onde, se aprovado pela maioria, permanecem ao longo do ano letivo. Tal negociação se dá por meio de uma política geográfica construída mediante relações em sala de aula. Tal “política” inicia-se no momento em que os alunos realizam a ocupação na sala de aula em determinados espaços, no princípio do ano escolar13. Ao mesmo tempo em que identificam sua turma e as demais, os jovens alunos também reconhecem os espaços ocupados por elas nos limites da sala de aula, não ultrapassando a linha de demarcação de um agrupamento que não seja o deles. Pareceu-nos que essa forma de organização compõe uma espécie de “tratado silencioso”, ou seja, uma dinâmica que se estrutura sem que nenhum aluno precise discutir ou combinar tal fundamento. Após a escolha e a permanência de cada turma de afinidade em seu devido lugar, cabe também pensar: por qual motivo cada uma delas escolheu justamente tal espaço na sala 13

Vale ressaltar que a ocupação voluntária da sala de aula pelos jovens alunos não é fato comum em todas as instituições de ensino. Algumas escolas determinam os lugares dos discentes pelo “mapa de sala”, o que não ocorreu na sala de aula investigada.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

91

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

de aula? Ao levantar tal questionamento para os jovens alunos durante a pesquisa, algumas justificativas emergiram. Segundo o grupo da “Janela”, sentar-se próximo à mesa do professor é a maneira de a turma ficar distante da bagunça dos outros alunos e, ao mesmo tempo, participar melhor das aulas. Outro motivo foi alegado pela turma das “Evangélicas” de escolheram o fundo direito da sala para se sentar: para “ninguém encher o saco”. As jovens alunas procuram se relacionar somente com outros evangélicos na sala de aula e, ao se isolar no fundo, procuram manter certo distanciamento dos outros colegas “não evangélicos”. Ao mesmo tempo, quando algumas turmas de afinidade escolhem o espaço pensando em “ficar longe da bagunça” ou para “ninguém encher o saco”, estão baseando suas escolhas também na amizade, ou melhor, na ausência de afinidade com outros grupos. Já as turmas “Rosa” e “Meião” justificaram suas escolhas espaciais pelo fato de “ver e ser visto”. De acordo com a turma “Rosa” o local onde escolheram é ideal para observarem os colegas e, ao mesmo tempo, serem vistos por eles, pois, do lugar onde se sentam, “dá pra ver a sala toda!” Ao mesmo tempo, a turma “Meião” conversa bastante, faz brincadeiras o tempo todo, costuma “zoar” em voz alta e mantém um bom relacionamento com boa parte dos professores, inclusive de maneira participativa nas aulas. Nesse sentido, o grupo defende a preferência pelo espaço ocupado pelo grupo na sala por gostar de ser o “centro das atenções”. Entretanto, os “Roqueiros” mencionaram que se sentam ao longo da quarta fileira da sala por serem os “lugares onde não estava sentado nenhum outro aluno”. Próximos uns dos outros, os integrantes dessa turma afirmam que a escolha se deu por acaso. Após as outras turmas de afinidade terem ocupado seus lugares, os jovens alunos em questão utilizam carteiras “permitidas” pelas turmas. Por fim, conforme as turmas “Fundão” e “Rosa”, a iniciativa de se sentar no fundo da sala deve-se à vontade, assim como cita Brandão (2005), de “se sentir livre para fazer coisas erradas”. Ao se distanciar do quadro-negro e do professor, as chances de conversar com os colegas, “zoar”, fazer bagunça, ou seja, executar algumas transgressões intelectuais, aumentam. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

92

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

Percebemos, portanto, que os jovens alunos optam por um espaço na sala com base no comportamento deles. Ter condutas próximas ou distantes do comportamento que a instituição de ensino espera que o aluno demonstre na escola reflete-se na política geográfica de cada grupo de afinidade: sentar próximos aos integrantes de suas turmas permite que os jovens alunos realizem tanto as “artimanhas do prazer”14, quanto atividades escolares juntos, de maneira mais agradável. Nesse sentido, a “política geográfica” acaba proporcionando a manutenção da dinâmica de espaços que permite facilitar as interações entre as turmas de afinidade na sala de aula.

ORIGEM DAS TURMAS E SEUS ASPECTOS MOTIVADORES Boa parte dos jovens alunos constrói suas turmas de afinidade baseando-se na convivência com os colegas da mesma sala, isto é, permanecer na mesma sala contribui na construção das turmas de afinidade, porém não condiciona todas as interações entre os jovens alunos na instituição de ensino. Ao longo da pesquisa, foram identificados diferentes aspectos motivadores na formação dos grupos de afinidade15. Um deles foi o fato de terem estudados juntos em outra sala ou outra escola anteriormente. Duas turmas foram compostas nesses moldes: “Meião” e “Fundão”. Nesse caso, os grupos puderam permanecer com as amizades pré-construídas e agregar outros colegas na sala de aula, enriquecendo e aumentando tal turma de afinidade. Por esse viés, a convivência no ambiente escolar ajuda a preservar e a desenvolver as amizades entre os jovens alunos: Eu e o Alexandre a gente estuda junto desde a 8ª série. Eu e o Binha desde o 1° ano. Aí o pessoal vem de fora, e a gente junta a nossa galera e vai dando nisso aí, ó! (Juliano, 17 anos)

14

Brandão (2005) denomina “artimanhas do prazer” o ato da bagunça pura e simples, conversa fiada, jogos e diversões ou transgressões intelectuais – por exemplo, a “cola”. 15 Vale destacar que quaisquer que sejam as turmas de afinidade, uma única turma pode apresentar uma ou mais dimensões como origem de seus laços.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

93

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

O reencontro na mesma sala de aula pode incentivar os indivíduos a se aproximarem, construir ou, simplesmente, dar continuidade a uma relação já existente, uma amizade iniciada antes mesmo do ano letivo em questão. Outro aspecto que emergiu foi por morarem próximos uns dos outros no próprio bairro. A turma de afinidade “Janela” alegou que todos os componentes moram próximos, mas nunca trocaram palavras além do “olá”. Alguns jovens alunos alegam que, por não conhecerem ninguém no primeiro dia de aula, procuraram sentar-se próximo dos “conhecidos”, o que resultou na construção da turma. Segundo Van Zanten (2000), ao mesmo tempo em que os amigos do bairro são muitas vezes os amigos da escola, os amigos da escola podem estar associados ao local de residência. Nesse sentido, os jovens constroem os seus laços, e a escola passa a servir como um espaço o que possibilita o surgimento de novas amizades (ou inimizades), funcionando muitas vezes como um espaço de ampliação de sociabilidade. Um aspecto também motivador para a formação dos grupos são as características comuns acerca dos estilos culturais dos jovens. Seja pela frequência à mesma igreja, seja por terem a mesma religião, seja por gostarem do mesmo estilo musical, alguns jovens alunos procuram se aproximar dos outros que têm as mesmas preferências, como no caso das turmas “Evangélicas” e dos “Roqueiros”. Envolvidos no estilo musical rock, o grupo dos “Roqueiros” define suas próprias gírias e roupas, encontrando práticas de sociabilidade e símbolos para a sua condição de jovem. No caso das “Evangélicas”, a igreja, além de se constituir um espaço motivador da origem do grupo, torna-se a essência do conjunto de características, interferindo em algumas condutas, como evitar o uso de roupas curtas e justas, ter cabelos muito curtos e usar maquiagem excessiva. A escola possibilita a ampliação das relações e dos agrupamentos mediante diferentes expressões de diversidade − por exemplo, a formação das turmas em torno dos estilos culturais (Dayrell, 2006). A existência ou a adesão a um mesmo estilo cultural parece funcionar como incentivador da formação e da manutenção dessas turmas de afinidade. Nos grupos que apresentam o estilo como mola propulsora de aproximação, os jovens constroem formas de sociabilidade por meio do exercício da convivência social e, ao mesmo tempo, construindo identidades em comum. Segundo Spósito (2002, p. 83), “as AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

94

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

inúmeras modalidades de aglutinação juvenil em torno da música têm possibilitado a constituição de identidades em comum, de linguagens e de códigos específicos que reúnem jovens em grupos, canalizando interesses e formas de compreensão da realidade social”. Outro aspecto motivador na origem dos grupos de afinidade é a condição social e o padrão de consumo, como ficou claro na turma “Rosa”. As componentes desse grupo costumam se vestir com roupas da moda, cuidam muito dos cabelos, estão sempre de unhas feitas, são brancas, magras e costumam ir às aulas maquiadas. Dependendo do local onde moram e das roupas que usam, alguns jovens alunos passam a construir uma “pirâmide social” que parece interferir na escolha dos amigos. Aparentar possuir mais ou menos dinheiro e consumir mais ou menos que os colegas foram aspectos relevantes nesta perspectiva para algumas turmas de afinidade. Requena Santos (1994, p. 99) afirma que a influência da estrutura social na eleição ou escolha das amizades pode estar estreitamente ligada com o prestígio social do sujeito, isto é, las características sociodemogáficas, el status y la semejanza de posiciones socials influyen directamente en los amigos que tenemos o que podemos escoger. Por fim, a “vizinhança de carteira” também foi apontada pelos jovens alunos como um aspecto motivador na formação das turmas. Um jovem pertencente ao grupo “Janela” defendeu que alguns alunos “no início do ano não conversam com ninguém” e que, aos poucos, vão “conversando com as pessoas que sentam do lado”. Alguns componentes de certos grupos alegam que mantiveram contato os indivíduos que se sentavam ao redor e, com o passar do tempo e dos “bate-papos”, a relação de sociabilidade foi solidificandose, como que guiadas “pelo destino”. Fica evidente que, para esses jovens alunos, a instituição de ensino passa a ser interpretada como um espaço de ampliação de sociabilidade. Mediante a construção das turmas de afinidade, intensificam-se os laços de amizade e os discentes passam a atribuir aspectos positivos e incentivadores à convivência na escola.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

95

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

A DINÂMICA DOS GRUPOS Migrar de uma turma para outra, trocar de amigos, aproximar-se mais de uns ou se afastar de outros, principalmente na escola, são situações comuns nas relações de sociabilidade dos jovens (Dayrell, 2006). Ao longo do ano letivo, boa parte das turmas de afinidade sofreu alteração. Certos agrupamentos existentes no primeiro semestre escolar, ao final do segundo, apresentavam-se modificados. Grande parte dessas mudanças foi pautada, basicamente, pelo trânsito de elementos entre as turmas de afinidade ou de salas e, também, pela evasão escolar. Duas dimensões foram identificadas nesses movimentos entre as turmas de afinidade. A primeira se baseia no trabalho e na evasão escolar. A condição de vida de boa parte dos jovens alunos de periferia provoca a inserção deles no mercado de trabalho e, para muitos deles, o abandono dos estudos precocemente. Morando em um bairro de infraestrutura precária, com poucos recursos e uma renda familiar que geralmente não atende às necessidades de todos os moradores da casa, os jovens tendem a buscar no trabalho um meio para obtenção de recursos e, assim, vivenciar melhor a própria juventude. Muitas vezes abandonam os estudos por não conseguirem conciliá-lo com o emprego. A segunda dimensão se baseia nos conflitos, no simples “não ir com a cara”. Esse aspecto nos remete à dimensão da reversibilidade (Pais, 2005) que, segundo alguns autores, está estritamente ligada à escolha, a um modo de ser jovem da contemporaneidade. Conforme Pais (2005), ela é expressa no constante “vaivém” em diferentes formas de lazer, com diferentes turmas de amigos, podendo aderir á um grupo hoje e outro amanhã, por exemplo. O autor define essa geração com a metáfora “iôiô”, revelando a ideia de mutabilidade das gerações atuais. Tais movimentos estão presentes em boa parte das turmas de afinidade, contudo notamos que, à medida que o comportamento das turmas se distancia daquele esperado pela escola, tal movimento tende a se intensificar, desvelando certa instabilidade da relação dos jovens membros desses agrupamentos com a escola, definindo um cenário instável. Parece ficar claro que fazem parte da condição do jovem nas interações com os AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

96

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

pares na instituição de ensino. O trânsito entre os membros e/ou a troca de turmas de afinidade não são programadas, tampouco têm a ver com indiferença ou substituição. Na verdade, parecem fazer parte da condição do jovem nas interações com os pares na instituição de ensino.

OS CONFLITOS E A DINÂMICA DAS RELAÇÕES Ao pensar as relações que os jovens estabelecem no interior de uma escola pública brasileira, seria possível pensar em relações de amizade sem nos remeter aos conflitos? Se isso ocorre em qualquer etapa da vida, com o jovem não é diferente. Boa parte dos desentendimentos entre os jovens alunos envolve as turmas de afinidade e influenciam na dinâmica dos grupos. Os motivos desses confrontos costumam ser as brincadeiras excessivas (“zoação”), discordância de ideias, de princípios ou de comportamentos, a falta de empatia entre eles ou a implicância16, entre qualquer um dos envolvidos na situação. Os conflitos existentes podem ser entre jovens de agrupamentos diferentes, entre jovens de uma turma de afinidade específica ou entre turmas de afinidade. Neste último, um jovem da turma se envolve em um confronto com o propósito de apoiar o amigo protagonista deste, tradicionalmente chamado por eles de “comprar barulho”. Percebemos que não há como entender a dinâmica dos grupos sem citar os conflitos normalmente presentes em tais interações, muitas vezes responsáveis pelos trânsitos entre os membros dos grupos. Tais desavenças compõem o cenário da sociabilidade dos jovens na instituição de ensino, isto é, os confrontos nos quais os jovens alunos se envolvem, compõem profundamente o dia a dia escolar das turmas de afinidade, principalmente dos agrupamentos que apresentam traços do ser jovem.

16

A implicância entre os jovens alunos pode ser definida como algo que vai além da falta de empatia. A partir do momento em que um jovem “não vai com a cara do outro”, pode-se ignorá-lo bem como tomar “atitudes implicantes”, que consistem geralmente na: troca de ofensas apartir de terceiros,; contar assuntos íntimos ou caluniosos sobre o indivíduo com quem se está implicando; olhar indiscretamente ou “encarar” o outro; ter contato físico de forma abrupta, dar um “encontrão” ou um “esbarrão” propositadamente no outro, dentre outros. Vale considerar que para uma ação ser considerada implicância dependerá do tipo de afinidade e intimidade existente entre os jovens alunos, aspectos fundamentais na definição do que é ou não um ato dessa natureza. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

97

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

SER JOVEM E SER ALUNO: UMA DUPLA CONVIVÊNCIA? Como citado, alguns grupos apresentam um comportamento mais ou menos homogêneo, afastando-se ou aproximando-se do papel de aluno esperado pelas instituições de ensino, ou seja, aproximam-se ou afastam-se do conjunto de condutas que a escola espera que o jovem aluno apresente nela. Mas, afinal, que papel é esse? Conforme Sacristán (2003), existem dois subsistemas que definem a peculiaridade da educação: aquele constituído em torno de quem é, o que deve fazer e como deve ser o aluno; e aquele em torno do meio escolar, que exige do estudante comportamento e atitudes concretos. A determinação de que se cumpra um papel específico gera consequências para a construção da imagem do ser aluno, rodeada de obrigações e deveres, construídos historicamente juntamente com a cultura escolar. Ao entrar na instituição de ensino, o jovem transforma-se em aluno, deixando a sua liberdade de fora, interiorizando a disciplina escolar e dedicando-se ao aprendizado dos conteúdos. Contudo, o que antes determinava rigidamente as normas da instituição escolar já não o é, pois hoje há espaços para que outras categorias invadam a escola, como a do jovem. O estudante, que antes só se relacionava com o ser aluno, hoje convive mais com as etapas da vida; nesse caso, convive mais com o ser jovem na escola. (Dayrell, 2006) Essa tensão entre ser jovem e ser aluno fica evidente nos diferentes comportamentos das turmas de afinidade, que vão construindo diferentes estratégias na sua relação com a escola. Se durante as aulas e o recreio a necessidade dos jovens alunos de interagir com os colegas ainda não cessar, o que fazer? Tratando-se de alguns jovens alunos, a solução encontrada não é muito simples. Na tentativa de ampliar o tempo com os colegas, muitos procuram não se importar com o relógio e insistem prolongar o tempo de interação com eles durante as aulas e, principalmente, entre eles. Teoricamente esse tempo é, para o professor, o momento de saída de uma sala e entrada em outra. Já para ao jovem aluno, também teoricamente, esse seria o tempo no qual se guarda todo o material da aula anterior e se prepara para mais 50 minutos da próxima disciplina. Todavia, a prática é outra, principalmente quando se trata das turmas de afinidade “Meião”, “Roqueiros”, “Rosa” e “Fundão”. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

98

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

Em grupos nos quais há uma dupla convivência entre ser jovem e ser aluno, as variações atenção/desatenção e dedicação/ relaxamento são constantes. Nesses momentos “entre aulas” esses agrupamentos optam por permanecer dentro de sala de aula e iniciar a interação o mais rápido possível. Conversam assuntos que muitas vezes a presença do professor não consegue interromper, encerrando somente por um pedido caloroso dele ou pela matéria que já começa a “borbulhar” no quadro. Para isso, esses alunos estendem o pequeno intervalo entre uma aula e outra, bem como o término do horário do recreio, procurando permanecer fora de sala o maior tempo possível. Contudo, não é com todos os professores que o “Fundão”, por exemplo, tenta ampliar o seu tempo de “relaxamento”. Para desenvolver tal estratégia deve-se, primeiramente, saber qual é o professor que demonstra ou não tal tolerância: Depende... depende da aula (risos). Se for o Élcio não tem jeito (risos)! Mas, se for a Ana, aí todo mundo demora. Acho que só se for o Élcio mesmo... Mas se for outros eu também espero eles chamar (risos). Eles chamam porque fica todo mundo de fora ué! (Juliano, 17 anos)

Para concretizar tal estratégia sobre as “artimanhas do prazer”, os membros dessas turmas fazem uma espécie de “reconhecimento de terreno”, antecipando uma leitura do ritmo de cada professor, por meio de seus rituais e limites em relação à disciplina em sala. Assim é possível tirar proveito das vantagens já conquistadas, elaborar ações futuras e alcançar uma espécie de distancia dos riscos, por exemplo, das punições possíveis. Parece que os alunos desenvolvem uma estratégia na sua relação com a escola e com os professores. No ponto de vista de DeCerteau (1994), “estratégia” é o cálculo ou controle das relações de forças, possível a partir do momento em que um “sujeito de querer e poder” pode ser isolado, neste caso, a escola. Ela se refere a um “lugar” o qual é delimitado, do qual se originam as ações em uma “exterioridade” de alvos ou ameaças. Com esse olhar, podemos constatar que os jovens alunos criam uma ação estratégica, capitalizando vantagens conquistadas, preparando expansões futuras e obtendo uma espécie de distância à variabilidade das circunstâncias. Nesse caso, os jovens alunos observam as AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

99

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

escolas, entendem suas dinâmicas e procuram, a partir de então, traçar suas ações. Nas palavras de DeCerteau (1994, p. 100), “ver é prever, antecipar-se ao tempo pela leitura de um espaço”. Para construir uma ação é preciso que se entenda o funcionamento da instituição escolar, coletando informações que contribuam para a construção da estratégia e procurem evitar as incertezas – isto é o que autor denomina de “poder do saber”. Os grupos de comportamento próximo ao ser aluno tendem a apresentar, na denominação de Canário (2005), uma relação calculada com a escola, cumprindo com suas obrigações escolares, adotando a postura estratégica de recusa do jogo, procurando não se ater em nenhuma outra atividade que coloque em risco o envolvimento com a instituição de ensino, encarando o estudo como atividade principal na vida. Podemos notar tal postura, principalmente, no comportamento das turmas de afinidade “Janela” e “Evangélicas”. Como citado, tais agrupamentos tendem a assumir mais facilmente o papel de aluno instituído e esperado pelas instituições de ensino, como o silêncio em sala de aula, a atenção aos conteúdos, a dedicação às tarefas escolares, o interesse em manter “o caderno em dia”, bem como em alcançar boas notas. Por outro lado, percebemos, também, que nos agrupamentos nos quais a conduta ser jovem sobrepõe o ser aluno, eles estabelecem uma relação “refratária” (Canário, 2005) com a escola: envolvem-se pouco ou nada tanto com as tarefas escolares quanto com a própria instituição. Os agrupamentos tendem a construir situações de atrito com os docentes, ou momentos prazerosos na instituição. Nesse caso percebemos tal conduta, principalmente, no comportamento da turma de afinidade “Fundão” ao demonstrarem a falta de interesse no trabalho escolar, o diálogo durante explicações do conteúdo, o desinteresse em manter o “caderno em dia” e a construção de momentos para se interagir com os membros dos grupos. Ao mesmo tempo, também vale a pena destacar que as turmas de afinidade que apresentam a dupla vivência entre ser aluno e ser jovem na instituição escolar, apresentam uma relação “mitigada” (Canário, 2005) com a escola, isto é, uma relativa identificação com a escola, marcada pelo prazer/desprazer e encontros/desencontros. Nesse caso, notamos que os membros dos grupos “Rosa”, “Meião” e “Roqueiros” AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

100

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

tendem a apresentar posturas que se aproximam e se afastam da ideia de ser aluno na escola. Tais agrupamentos tendem a variar entre comportamentos típicos de um ideal de aluno e, ao mesmo tempo, condutas típicas de um jovem, com seus desejos, medos, curiosidades e angústias. Nesse sentido, percebemos que as turmas de afinidades tendem a se posicionar em um continuum que vai desde comportamentos típicos de um ideal de aluno até condutas típicas de um jovem, com seus medos, curiosidades e angústias.

OS SENTIDOS17 O comportamento dos jovens alunos nos diferentes grupos de afinidade tem uma relação muito próxima com os sentidos atribuídos por eles à vivência escolar, também muito próximos à tensão analisada acima entre ser jovem e ser aluno. Notamos que as turmas de afinidade de comportamento próximo ao ser aluno assumem a importância da dedicação que devem ter em relação ao estudo na vida e no futuro deles. Os grupos “Janela” e “Evangélicas” dedicam o tempo no interior das sala de aula somente para os estudos. Ao entenderem a escola como única instituição na qual têm a chance de obter uma formação que lhe permita um futuro estável, os jovens se comportam de maneira mais esperada pela instituição de ensino: atenção às aulas, silêncio, matérias no caderno em dia, evitam comportamentos que desagrade o professor ou que cause conflito com os mesmos. Entendemos que essas turmas atribuem um sentido à escola relacionado à ideia de mobilidade social, como um instrumento para alcançar tal objetivo, representado pela idéia de obtenção de um emprego qualificado e uma vida economicamente segura. Estes jovens valorizam mais os períodos de estudo do que os momentos com os amigos na instituição de ensino: Ah, eu tô na escola é para aprender ué, pra estudar. Eu tenho que aproveitar o tempo que eu estou aqui, que eu tenho a 17

Neste item deste artigo, procuramos entender os fenômenos sociais como constituídos por meio das práticas dos indivíduos, passíveis de reflexividade e subjetividade. Entretanto, essa aptidão é construída e condicionada na interação social, isto é, os sentidos são, acima de tudo, construções sociais. (Abrantes, 2003) AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

101

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

oportunidade de aprender. Onde é que eu vou estudar tudo que eu estudo aqui?! Onde é que vão me ensinar Português, Matemática?! É na escola ué! Tem que aproveitar, tem que aproveitar... tem que dedicar, ficar quieto e aproveitar! Eu quero ser alguém ué! (Gabriele S. 17 anos)

Podemos notar outra postura nos agrupamentos “Rosa”, “Meião” e “Roqueiros” que apresentam maior tensão entre ser jovem e ser aluno. Mesmo reconhecendo a importância da escola na construção do futuro, eles se desmotivam em relação aos estudos devido, entre outras causas, ao contexto com condições precárias no qual a escola está inserida, ao “ritmo lento” das aulas e à oportunidade de passar mais tempo em contato com os colegas. Esses agrupamentos veem seus projetos cada vez mais distantes da continuação dos estudos. Boa parte dos membros dessas turmas busca a conclusão do ensino médio no intuito de obter um mínimo de escolaridade exigida para ingressar no mercado de trabalho em atividades no comércio, em consultórios e outras. Os jovens alunos desses grupos oscilam entre o reconhecimento da importância dos conteúdos escolares e do encontro com as turmas de colegas. Os jovens dos grupos “Meião”, “Rosa” e “Roqueiros” se dedicam aos conteúdos escolares, entretanto não deixam de enfatizar, frequentemente, a escola como um lugar desagradável, com instalações precárias, nem um pouco aconchegantes, e com metodologias tradicionais que não acompanham o ritmo dos jovens alunos, o que os desmotiva de estudar: Ah, sei lá sabe! Eu sei que eu tenho que estudar, que eu vim pra escola pra aprender, mas, ás vezes, tem dia que eu chego aqui e me dá uma preguiça! Tem aula que me dá vontade de fazer qualquer coisa, dá até dor de barriga, mas não dá vontade de assistir aula (risos)! Tem dia que rola de prestar atenção, mas tem dia que eu piso, vejo tudo isso aqui feio, aula chata, professor chato... Ih, não! (Taís, 17 anos)

Sem o estímulo da instituição de resgatar o interesse desses jovens alunos, eles se encontram, muitas vezes, perante uma disputa, na qual um dia os amigos são os vencedores e no outro, a escola.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

102

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

Finalmente, outra postura das turmas de afinidade de comportamento ser jovem que norteia o comportamento deles em sala é pensar o estudo na instituição escolar como uma “obrigação ruim”. Por meio de palavras e expressões como “tortura” e “estudar é um saco”, revela-se a ideia negativa deles em relação ao estudo. Muitas vezes tal opinião é externada por meio da falta de motivação e desinteresse por parte desses educandos, principalmente quando se encontram na sala de aula, “envolvidos” em atividades direcionadas pelos professores. Tal postura é construída e reforçada pelo sentido atribuído à escola que pode envolver animação, interesse, aprendizado, ânimo e felicidade. Para alguns desses jovens alunos, o sentido principal da escola é ser um espaço onde podem encontrar com os amigos e interagir com eles. Diante da dificuldade de atribuir sentido ao aprendizado escolar, os membros desses agrupamentos acabam valorizando mais os encontros e a interação com seus pares. A necessidade e a vontade de estar com os amigos sobrepõem-se ao interesse pelos estudos e à preparação para o futuro pelos meios acadêmicos, provocando, nesse caso, maior valorização desses jovens em permanecer mais tempo com os colegas e membros das turmas de afinidade. Foi possível perceber na turma “Fundão” muitos jovens que demonstram tal postura diante da escola e se aproximam, estabelecendo laços com outros colegas que vêm à escola com o mesmo intuito. É nessa perspectiva do encontro com os amigos que a turma “Fundão” define seu tipo de aula ideal. Para boa parte deles, sentir-se bem ou não em sala de aula dependerá, principalmente, da matéria, pois “aula boa é aula à toa”. Do ponto de vista dessa turma de afinidade, para gostar de estar em sala os alunos devem gostar da aula, e para que isso ocorra, geralmente, é preciso que fiquem à vontade. Esses alunos acreditam que é preciso que o professor não interfira em atividades que mais gostam de fazer em sala, como conversar. Isso significa que quanto menos o docente interferir na interação desses alunos, menos “chata” a aula será.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

103

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Em um esforço de qualificação agrupamos os jovens alunos em três categorias de acordo com a postura deles no cotidiano escolar: comportamento aluno, no qual os jovens membros das turmas de afinidade são capazes de internalizar o papel de aluno instituído e esperado pela escola; o comportamento jovem aluno, no qual a conduta dos estudantes altera entre a postura de aluno e de jovem na instituição; e o comportamento jovem, no qual os alunos apresentam maior dificuldade de internalizar posturas ligadas à instituição escolar. Constatamos que as dimensões como a evasão escolar, a dificuldade na conciliação do trabalho com os estudos e conflitos baseados no “não vou com a cara e pronto”, tornam-se mais frequentes na experiência escolar dos jovens alunos de comportamentos jovem aluno e jovem, intensificando a dinâmica das relações nessas turmas de afinidade. A forma como os jovens alunos ocupam seus lugares apresenta relação com os diferentes comportamentos. As turmas de afinidade de comportamento aluno ocupam seus espaços levando em conta a relação com os grupos, porém buscando o distanciamento entre eles. Ao mesmo tempo, os grupos de comportamento jovem aluno realizam suas escolhas pautadas pela interação com as outras turmas. Já o agrupamento de comportamento jovem pauta sua ocupação pela interação com os membros de sua turma, principalmente para facilitar a execução das transgressões intelectuais, das “zoações” e das brincadeiras. Em relação às turmas de comportamento aluno, por atribuírem um significado maior à escola semelhante à socialmente construída, estas demonstram uma postura mais próxima à esperada pela instituição, assumindo com maior facilidade o papel de aluno. Focando nos grupos de comportamento jovem aluno, eles demonstram uma dificuldade em atribuir significado socialmente esperado pela instituição, apresentando dificuldades de conciliar o sentido da escola com os interesses pessoais. Já a turma de afinidade de comportamento jovem demonstra dificuldade de atribuir sentido aos estudos e relacionam o sentido da escola diretamente às relações estabelecidas em seu interior.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

104

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

Podemos dizer, também, que esses três sentidos proporcionam e reforçam as diferentes posturas das turmas de afinidades, apontando para a construção de determinadas estratégias de sobrevivência na instituição de ensino. Finalmente, ressaltamos a centralidade da sociabilidade para a vida do jovem e para a sua frequência à escola. Fica evidente que a escola tende a não reconhecer o jovem existente no aluno, não valorizando a dimensão educativa presente na sociabilidade que ocorre no seu interior. Nesse sentido, buscar entender a relevância dos laços de amizade no interior da escola contribui para o reconhecimento de que a aprendizagem na instituição ultrapassa o “papel e caneta”, podendo ir além da interferência do docente. A necessidade de convívio dos jovens alunos na instituição de ensino vai ao encontro da relevância do auxílio dos amigos nas diversas instituições e tempos da vida. A presença dos laços de amizade torna-se fundamental para a vivência do jovem aluno da vida escolar.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

105

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

REFERÊNCIAS ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Escrita, 1994. ABRAMO, Helena Wendel. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, n. 5/6, p. 25-36, 1997. ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO, Pedro Paulo Martoni. Retratos da juventude brasileira: análises de uma perspectiva nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2005. ABRANTES, Pedro. Os sentidos da escola: identidades juvenis e dinâmicas da escolaridade. Oeiras, Portugal: Celta, 2003. ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWADSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências sociais: pesquisa qualitativa e quantitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. ANDRÉ, Marli Eliza D. A. de. Etnografia da prática escolar. Série Prática Pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 1995. ARROYO, Miguel. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. ARROYO, Miguel. Quando a escola se redefine por dentro. Presença Pedagógica, Belo Horizonte, n. 6, p. 39-49, nov./dez. 1995. BARBOSA, Daniele de Souza. “Tamo junto e misturado”: um estudo sobre a sociabilidade de jovens alunos em uma escola pública. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2007. BARBOSA, Daniele de Souza. “Tuma ou panelinha?”: a sociabilidade de jovens alunos em uma escola pública. In: SOARES. Leôncio; SILVA. Isabel de Oliveira (Orgs.). Sujeitos da educação e processos de sociabilidade – os sentidos da experiência. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. p. 237-268 BARRAL, Gilberto Luís Lima. Considerações históricas e sociológicas sobre lazer e múltiplas identidades jovens na modernidade, 2004. Mimeo. BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto, Portugal: Porto Editora, 1994 (Coleção Ciências da Educação). BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2003. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A turma de trás. In: MORAIS. Régis de (Org.). Sala de aula: que espaço é esse? 15. ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. BRASIL.

Constituição

da

República

Federativa

do

Brasil.

Disponível

em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm . Acesso em: 16 fev. 2009.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

106

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

BRASIL. Instituto Nacional de estudos e Pesquisas Educacionais de Anísio Teixeira. Disponível em: http://www.inep.gov.br/ . Acesso em: 10 fev. 2009. BRASIL.

Lei

de

Diretrizes

e

Bases

da

Educação



LDB

5692/71.

Disponível

em:

http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/l5692_71.htm Acesso em: 11 fev. 2009. BRASIL.

Lei

de

Diretrizes

e

Bases

da

Educação

(LDB

9.394/96).

Disponível

em:

http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/l9394_96.htm . Acesso em: 11 fev. 2009. BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Parâmetros curriculares nacionais do ensino médio. Disponível

em:

http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=265&Itemid=25 5 Acesso em: 10 jul. 2009. BRASIL.

Plano

Nacional

de

Educação

(PNE).

Disponível

em:

http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf . Acesso em: 6 jan. 2009. BRASLAVSKY, Cecília (Org.). A educação secundária: mudança ou mutabilidade? Unesco/ Santillana, 2002. CANÁRIO, Rui. O que é escola? Um “olhar” sociológico. Porto, Portugal: Editora Porto, 2005 (Coleção Ciências da Educação – Século XXI). CARRANO, Paulo César Rodrigues. Juventudes: as identidades são múltiplas. Movimento: revista da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense. Niterói: DP&A, p. 11-27, 2000. CHAVES, Miriam Waidenfeld. A afinidade eletiva entre Anísio Teixeira e John Dewey. Revista ANPEd, n. 11, p. 86-98, maio/ago. 1999. CORTI, Ana Paula; SOUZA, Rachel. Diálogos com o mundo juvenil: subsídios para educadores. São Paulo: Ação educativa, 2005. CYRANKA, Lúcia Furtado de M.; SOUZA, Vânia Pinheiro. Orientações para normalização de trabalhos acadêmicos. 6. ed. Juiz de Fora, MG: Ed. EDUFJF, 2000. DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. 3. ed. Rio de Janeiro: Rocco: 1997. DAYRELL, Juarez Tarcísio. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL “CIUTAT EDU: NOUS REPTES, NOUS COMPROMISOS”. Anais... Barcelona, out. 2006. DAYRELL, Juarez Tarcísio. A escola como espaço sociocultural. In: _____. Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996. DAYRELL, Juarez Tarcísio. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. DAYRELL, Juarez Tarcísio. Juventude e escola. In: SPÓSITO, Marília (Org.). Juventude e escolarização. Brasília: MEC; Inep; Comped, 2002, p. 67-93. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

107

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

DAYRELL, Juarez Tarcísio. O jovem como sujeito sociocultural. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 40-53, set./dez. 2003. DEBERT, Guita Grin. A antropologia e o estudo dos grupos e das categorias de idade. In: BARROS, Myrian Moraes Lins de. Velhice ou terceira idade? Estudos antropológicos sobre a identidade, memória e política. 3. ed. Rio de Janeiro FGV, 2003, p. 49-68. DECERTEAU, Michel de. Estratégias e táticas. In: ______. A invenção do cotidiano. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 97-102. DIAS, Cláudia Antônio. Grupo focal: técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Informação Sociedade, v. 10, n. 2, 2000. DOMINGUES, José Maurício. Sociologia e modernidade: para entender a sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. ELIAS, Norbert. A individualização no processo social. In: RIBEIRO, Vera (Org.). A sociedade dos indivíduos. Tradução de Michel Schoter. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, p. 102-105. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2. ed. Porto Alegre: Brookman, 2003. FORTUNA, Carlos. Culturas urbanas e espaços públicos: sobre as cidades e a emergência de um novo paradigma sociológico. Revista Crítica das Ciências Sociais, São Paulo, n. 63, p. 123148, out. 2002. GATTI, Bernadete Angelina. Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas. Brasília: Líber Livro, 2005, v. 10. Série Pesquisa em Educação. GEERTZ, C. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1989. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução de Sandra Regina Netz. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. INSTITUTO

BRASILEIRO

DE

GEOGRAFIA

E

ESTATÍSTICA.

Disponível

em:

http://www.ibge.gov.br/english/. Acesso em: 17 fev. 2009. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Divulgados os resultados finais do censo escolar 2006. Disponível em: http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/escolar/news07_02.htm. Acesso em: 8 jan. 2009. LÖWY, Michel. Redenção e utopia: o judaísmo libertário na Europa Central. São Paulo: Cia das Letras, 1989. LUDKE, Menga. ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.U., 1986.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

108

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

MARQUES, Maria Ornélia da Silveira. Escola noturna e os jovens. Revista Brasileira de Educação: juventude e contemporaneidade. São Paulo, v. 5/6, p. 63-74, 1997. MARTINS, José de Souza. Exclusão social e nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997. MATOS, Kelma Socorro Lopes. Juventude, professores e escola: possibilidades de encontros. Ijuí: Unijuí, 2003. MEINERZ, Carla Beatriz. Adolescentes no pátio, outra maneira de viver a escola: um estudo sobre a sociabilidade a partir da inserção escolar na prática urbana. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande do Sul, 2005. MONTEIRO, Roberto Alves (Org.). Fazendo e aprendendo pesquisa qualitativa em Educação. Juiz de Fora: Ed. FEME/UFJF, 1998. OLIVEIRA,

Flávio

C.

e

S.

de.

Sociabilidade

e

trabalho.

Disponível

em:

www.cade.mg.gov.br/textoflavio.htm. Acesso em: 19 set. 2005. OLIVEIRA,

Romualdo

Portela

de.

O

sentido

da

educação

média.

Disponível

em:

www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/emn/tetxt5.htm Acesso em: 12 jan. 2005. OLIVEIRA, Romualdo Portela de; SOUSA, Sandra Zákia. Ensino médio noturno. Disponível em: www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/emn/meio.htm Acesso em: 12 jan. 2005. PAIS, José Machado. Culturas juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1993. PAIS, José Machado. Ganchos, tachos e biscates: jovens, trabalho e futuro. In: ENCICLOPÉDIA MODERNA SOCIOLOGIA. 2. ed. Lisboa, Pt: Âmbar, 2005. PAULA, José Antônio de. Afinidades eletivas e pensamento econômico: 1870-1914. Kriterion, Belo Horizonte, n. 111, p. 70-90, jun. 2005. PREFEITURA MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA. Disponível em: http://www.pjf.mg.gov.br Acesso em: 18 maio 2005. REQUENA SANTOS, Félix. Amigos y redes sociales: elementos para una sociologia de la amistad. Madri: Siglo XXI de España Edutores, 1994. ROCKWELL, Elsie. La dinámica cultural en la escuela. In: ALVARÉZ, Amelia (Org.). Hacia um curriculum cultural: la urgência de Vygotski en la educación. Madrid: infância y aprendizaje, 1997. ROCKWELL, Elsie. Tres para el estudio de las culturas escolares: el desarrollo humano desde una perspectiva histórico-cultural. Interações: estudos e pesquisas em psicologia, São Marcos, SP, v. V, n. 9, p. 11-25, jan./jun. 2000. RODRIGUES, Neidson. Educação: da formação humana à construção do sujeito ético. Revista Educação e Sociedade, Campinas, n. 76, v. 22, out. 2001. SACRISTÁN, José Gimeno. O aluno como invenção. Porto, Portugal: Ed. Porto, 2003. (Coleção Ciências da Educação – Século XXI) AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

109

ORDENAMENTO, REGENERAÇÃO E SOCIABILIDADES URBANAS

SANTOS,

Marcos

Ferreira.

Escola

promotora

de

vida

e

cultural.

Disponível

em:

http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/emn/tetx4.htm Acesso em: 12 jan. 2005. SILVA, Hesley Machado. Jovens do ensino médio noturno: demandas em relação à escola. 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2000. SIMMEL, Georg. George Simmel: sociologia. In: MORAES FILHO, Evaristo (Org.). Grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1983. SOARES. Leôncio; SILVA. Isabel de Oliveira (Orgs.). Sujeitos da educação e processos de sociabilidade – os sentidos da experiência. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. SPÓSITO, Marília. Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 13, p. 73-94, jan./abr. 2000. SPÓSITO, Marília. Algumas reflexões e muitas indagações sobre as relações entre juventude e escola no Brasil. In: ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO, Pedro Paulo Martoni. Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. Ed. Fundação Perseu Abramo: São Paulo, 2005. p. 87-125. SPÓSITO, Marília. Juventude e escolarização. Brasília: MEC/INEP/COMPED, 2002, n. 7. Série Estado do Conhecimento. SPÓSITO, Marília. Os jovens no Brasil: desigualdades multiplicadas e novas demandas políticas. São Paulo: Ação Educativa, 2003. SPÓSITO, Marília; GALVÃO, Izabel. As experiências e as percepções de jovens na vida escolar na encruzilhada das aprendizagens: o conhecimento, a indisciplina e a violência. Perspectiva: revista do Centro de Ciências em Educação. Santa Catarina, v. 22, n. 2, p. 87-125, jul./dez. 2004. TEIXEIRA.

Ely.

A

sociabilidade

no

mundo

contemporâneo.

Disponível

em:

http://www2.uol.com.br/percurso/main/pcs2/artigo0233.htm. Acesso em: 19 set. 2005. VAN ZANTEN, Agnes. Cultura da rua ou cultura da escola? Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 26, n. 1, p. 23-52, 2000. VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. WOODS, Peter. Analisis. In: ______. La escuela por dentro: la etnografia en la investigación educativa. Madri: Paidós Ibérica, 1986, p. 135-160. ZAGO, Nadir. CARVALHO, Marília Pinto de. VILELA, Rita Amélia Teixeira (Org.). Itinerários de pesquisa: pesquisas qualitativas em sociologia da educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 207-222.

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

110

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.