Um bravo (dicas para a sessão de defesa da proposta

May 23, 2017 | Autor: Sandra Mara Corazza | Categoria: Doutorado, Mestrado
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Um bravo


(dicas para a sessão de defesa da proposta)





Sandra Mara Corazza

1) Proposta é proposta. Você deve lembrar-se o tempo todo, ou seja,
antes e durante a sessão de Defesa de Proposta, que esta não é uma sessão
de trabalho final. Ainda não se trata de sua tese ou dissertação. A Defesa
de Proposta é, apenas, uma sessão de trabalho sobre a sua produção, até
este momento. E você deve ajudar a orientadora, os membros da Banca e o
público a manterem esse clima. Lembre-se: esta é apenas a primeira vez que
o passarinho sai do ninho, isto é, que a pesquisa ganha um mundo diferente
daquele dos leitores amigos, namorantes, bando de orientação. A primeira
vez não é a última...


2) Não fale muito. No início da sessão, no momento da apresentação de
seu trabalho, seja breve. Fale, no máximo, até 10 minutos (na sessão final,
você falará o dobro, isto é, 20 minutos). Falar, pausadamente, durante 10
minutos equivale a ler um texto de até 3 páginas, espaçamento 1,5, fonte
12, Times New Roman. Elabore um texto conciso e forte, que mostre o seu
trabalho, especialmente para o público presente (tomara!), pois os membros
da Banca já o leram.


3) Prepare. A não ser que tenha combinado, previamente, com a sua
orientadora, que não haverá qualquer apresentação e que passarão
diretamente para a argüição dos membros da Banca, não vá para a sessão sem
preparação. Você não terá condições de falar bem, de modo espontâneo, sobre
o seu trabalho porque estará nervoso, agitado, tenso (mesmo que
minimamente). Melhor preparar um pequeno texto de apresentação do que ficar
dizendo sensos comuns ou bobagens desordenadas; as quais, inclusive, podem
desmerecer o brilho do seu próprio trabalho. Seja digno do que você
escreveu! Prepare-se!


4) Não agradeça. Não agradeça nem aos pais, irmãos, namorado, marido,
filhos, avós, bisavós, sogros, cachorros, gatos, carrapatos, humanidade,
sociedade, civilização, etc. Isto que você está vivendo não é uma entrega
de Oscar! Nada foi, ainda, terminado. Tudo é provisório e todos estão ali
para tratar justamente dessa provisoriedade. Não agradeça, porque agradecer
confere um tom apoteótico de fim. Você só pode agradecer a dois tipos de
gens: aos membros da Banca (2 vezes: no início e no final da sessão) e ao
público.


5) Não chore. Acima de tudo, não chore. Você pode até se emocionar,
por algum motivo, ficar alegre, triste, em pânico, com sudorese, dor de
barriga, menstruada, com palpitações, taquicardia, vontade desesperada de
fumar, de fazer xixi, tudo isso. Mas não demonstre. Mantenha-se impávido.
Colosso. Chorar, assim como agradecer, dá a impressão de que você concluiu
alguma coisa, o que, definitivamente, não é o caso. Além de mostrar uma
fraqueza indevida para a ocasião. Você tem de ser um bravo!
6) Não se auto-elogie. E, por favor, por favor, não se elogie nem
elogie a sua proposta, idéias, montagens, composições. Não diga que você
(ou mesmo a Proposta) está pensando, tendo idéias, fazendo literatura,
poetando, criando conceitos, traçando plano, inventando personagens
conceituais... Evite isso! Se elogios houver, não será você a fazê-los.
Deixe que os membros da Banca os façam. Se tudo correr bem, e você tiver
feito por merecer, eles elogiarão. Pode ficar tranqüilo.
7) Não julgue. Um erro crasso em qualquer sessão de Defesa: você,
candidato, avaliar os seus avaliadores. Você não é juiz de nada, ao menos,
agora, neste momento. Você é quem está, naquela sessão, sendo julgado (não
é "você", mas o que você escreveu, está bem?). Por isso, nada de verbalizar
avaliações do tipo que se ouve por aí: "Muito interessante o que o
professor X disse"; "Muito importante o que disseste"; "Muito pertinente a
questão aquela da professora Y" (este adjetivo "pertinente", então, dá
vontade na orientadora de cortar os 2 pulsos no ato!). Nada disso: o juízo
de Deus tá suspenso para você, durante toda a sessão! Agüente-se, sem
julgar nada nem ninguém nem você mesmo nem o seu trabalho! Assim fazendo,
você evitará toda a indevida, grosseira e odiosa comparação entre as
contribuições dos professores convidados.
8) Seja humilde. Durante toda a sessão, em todas as suas intervenções,
seja humilde. Não dotado de uma humildade cristã, pegajosa, piegas,
fingida. Seja humilde em suas intervenções, simplesmente, porque se trata
de uma situação que requer tal postura. Você está diante de uma banca que
convidou, junto com a sua orientadora, por ser qualificada, e porque vocês
dois acharam que ela poderia contribuir para a continuidade do trabalho.
Então, nada, nadinha de prepotência! Agradeça as contribuições (até as
críticas) dos membros da Banca, sempre. Se não souber falar nada sobre
algumas delas, diga que agradece (muito) e que vai pensar, estudar,
analisar, pesquisar, discutir com a sua orientadora e com o grupo de
orientação.
9) Não discorde. Não discorde, frontal e diretamente, de um membro da
Banca. Deixe que ele fale tudo o que tem para falar, mesmo que você esteja
horrorizado (mesmo se o que ele estiver falando não tiver nada a ver com o
seu trabalho, mesmo que seja um verdadeiro horror – pois, às vezes, erramos
nas escolhas da Banca) com o que ele está dizendo. Então, agradeça (como
sempre), diga que vai pensar melhor, posteriormente, mas que, agora, você
acha que não concorda, na íntegra, por isso e aquilo... Daí, então, seja
elegante, em sua exposição levemente discordante. Pontue que, agora, você
pode não concordar totalmente com aquele argumento ou idéia ou rumo, mas
que vai pensar melhor, com mais tempo, mais análise, mais estudo, etc.
10) Responda a tudo. Leve um bloco, um caderno ou folhas brancas para
a sessão. Leve canetas (2, no mínimo) que escrevam bem, que não falhem (tá,
não precisa ser uma Mont Blanc!). Anote enquanto cada membro da Banca
falar. Não deixe perguntas, questões, contribuições sem respostas, sem
tratamento, sem referência. Pode juntar algumas questões, pode começar
pelas últimas formuladas, se for o caso, mas mostre que você prestou
atenção, que está atento a toda e qualquer observação que os professores
fizeram. Não deixe pedra sobre pedra... Mesmo que seja uma besteira
explícita.
11) Valorize. Valorize o que estiver escrito na Proposta. Mesmo que os
membros da Banca formulem questões que estejam distantes do que você
escreveu, não se deixe levar, nem muito menos permanecer fora do seu texto.
Pode tratar daquilo que eles estiverem dizendo, mas dê um jeito de retornar
ao texto da Proposta. Fale sobre a sua produção, não sobre outro domínio,
conteúdo, problema. O seu trabalho foi aquele que ali está, não outro. Você
pode até dizer: "Se eu tivesse trabalhado com sala de aula, ou com ensino
de... (por exemplo), o meu trabalho teria sido diferente"...
12) Vista-se direitinho. Pode parecer de pouca importância, mas não é.
Antes da sessão, lave os cabelos com um bom xampu, ponha uma roupa limpa,
um pouco de perfume, uma camisa bonita, um terninho primaveril, um bom
sapato. Claro, você não precisa se endividar por seis meses, mas... Não
vale ir de tênis (para os que só usam tênis, tá, mas um tênis novo,
então!), jeans sujo (aquele, de todo dia), ou rasgado (sei, estão na moda,
mas não vale). Não valem saias muito curtas ou decotes muito generosos ou
calças muito apertadas, que desviem a atenção dos membros masculinos e
femininos da Banca. Não valem cabelos caídos no rosto. Passe um pente ou
prenda-os num belo coque (ai, coisa mais antiga!). Deixe o rosto livre para
olhar de frente, tanto para os membros da Banca como para o público. Não
vale ir para a sua sessão de Defesa vestido como se estivesse indo para as
aulas de toda semana. Não vale... Enfim, vou parar, porque já vi que tô
fascista. Apresentem-se bem ajeitados, cheirosos, bonitos... Só isso já tá
bem.
13) 8 gerais.
A) Antes de ir para a sessão, você deverá ler, ou melhor, estudar todo
o seu trabalho, no mínimo, 2 vezes. Como se fosse um trabalho alheio.
Distancie-se. Tente pôr-se na pele dos membros da Banca. Anote. Faça marcas
nas margens. Corrija. Formule questões. Problematize o que você mesmo
escreveu.
B) Alimente-se bem (não coma feijão porque dá gases) e procure dormir
bem na noite anterior, ou fazer uma pequena sesta (20 a 30 minutos) durante
o dia aquele (se a sessão for à tarde).
C) Lembre-se: você é quem mais sabe do seu trabalho, de suas
fragilidades e qualidades. (Depois da sua orientadora, é claro!)
D) Você estará só. Pelo Regimento de nosso Programa de Pós-Graduação
em Educação da UFRGS, sua orientadora não deverá interferir em nada da
sessão, apenas coordená-la. Ela não pode ser avaliadora, neste momento. E,
se for uma pessoa sóbria, não interferirá mesmo, não defenderá, não
discutirá as avaliações dos membros da Banca, nem falará durante as
argüições, não dará colo. Ao contrário, largará. Confiará. Deixará que
você dê conta do recado. Por total distinção, ela nem mesmo permanecerá na
sala, durante a elaboração do Parecer Final. Tampouco, lerá este parecer.
Pedirá a um membro da Banca que o faça. Ela apenas encerrará a sessão.
Assim, o que você tiver de falar com ela, perguntar, etc., faça-o antes da
sessão, está bem? Durante, vire-se... Você já teve toda a orientação
necessária.
E) Você pode formular questões para os membros da Banca. Mas, não pode
se sentir como se estivesse participando de um seminário, numa sala de
aula, num dia comum. Definitivamente, não valem questões do tipo: "Fale
mais sobre a imanência...". Seja esperto! Aquilo ali é um procedimento
ritual, com protocolo, determinada seqüência, atitudes esperadas, um
público. É um espetáculo, também, em que você é o ator principal. Por isto,
se oriente!
F) Não esqueça de organizar "a social", pós-Sessão: combine com a
orientadora e com colegas aonde ir. Faça reservas. Convide os membros da
Banca para acompanhá-los. Seja um competente social!
G) Durante "a social", sob hipótese alguma, fale com um ou vários
membros da Banca (nem com a orientadora, por amor de Dioniso!) sobre o que
aconteceu durante a sessão, sobre o que eles disseram, sobre o que você
respondeu ou deixou de responder. Isso tudo é muito constrangedor! O que lá
aconteceu, aconteceu. Não leve a sessão para a mesa de bar (assim como não
levará a mesa de bar para a orientação). Depois, depois, haverá a retomada
da sessão e dos pareceres. Agora, sim, é só comemorar!
H) Boa sorte!
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