Um cristão-novo nos trópicos: expansão imperial e identidade religiosa nos Diálogos das grandezas do Brasil de Ambrósio Fernandes Brandão. Colonial Latin American Review, 25/2, 200-219 (2016).

May 30, 2017 | Autor: Gabriel Mordoch | Categoria: Portuguese and Brazilian Literature, Jewish Studies, Colonial Brazil
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COLONIAL LATIN AMERICAN REVIEW, 2016 VOL. 25, NO. 2, 200–219 http://dx.doi.org/10.1080/10609164.2016.1205251

Um cristão-novo nos trópicos: expansão imperial e identidade religiosa nos Diálogos das grandezas do Brasil de Ambrósio Fernandes Brandão Gabriel Mordoch Department of Spanish and Portuguese, The Ohio State University, Columbus, OH, USA

Introdução Os Diálogos das grandezas do Brasil (daqui em diante Diálogos), atribuídos ao cristãonovo1 português Ambrósio Fernandes Brandão (1555–1618?), foram redigidos em 1618 no nordeste do Brasil, provavelmente na capitania da Paraíba.2 A obra circulou em forma manuscrita e veio a ser publicada pela primeira vez tão somente na segunda metade do século XIX. Desde então os Diálogos vêm ganhando uma densa camada crítica, inaugurada pelos estudos pioneiros de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816– 1878), Capistrano de Abreu (1853–1927) e Rodolfo Garcia (1873–1949), e consolidada nas edições críticas de José Antônio Gonsalves de Mello (1966) e Frederick Holden Hall (1987).3 A obra foi situada no contexto da literatura de viagens e de informação sobre a terra, e aclamada pela fortuna crítica devido à riqueza descritiva da fauna e flora, da paisagem física e humana, e de aspectos econômicos, políticos e sociais da colônia portuguesa nas Américas (Taunay 1998 [1937], 33–77; Coutinho 1968; Rodrigues 1979). Mais recentemente, a fortuna crítica dos Diálogos vem atribuindo atenção ao fato de a obra ter sido escrita por um autor cristão-novo português, isto é, um descendente de judeus convertidos em massa ao catolicismo devido ao decreto de expulsão promulgado pelo rei Manuel I em 1496.4 De fato, os cristãos-novos vem sendo cada vez mais reconhecidos no âmbito acadêmico como um elemento central e determinante na história, sociedade e mentalidade ibéricas proto-modernas (Kaplan 1987, 119). Por esse motivo, não é surpreendente que críticos como Wiznitzer (1960), Lipiner (1969), Windmüller (1992), Lins (1994), Simões (2001), Santos (2007), Falbel (2008) e Costigan (2010) tenham investigado, em diferentes contextos e profundidades, a maneira pela qual as circunstâncias históricas e o status religioso e social do provável autor dos Diálogos influenciaram a forma e o conteúdo da obra. Meu objetivo neste ensaio é continuar esta linha de pesquisa, destacando algumas passagens dos Diálogos onde reverberam prováveis ecos da instabilidade religiosa que persistiu caracterizando parte da população cristã-nova portuguesa, tanto no Reino como no além-mar, mesmo quatro gerações após a conversão em massa ocorrida em 1497. De fato, a cultura religiosa dos cristãos-novos, também chamados às vezes de ‘marranos’, ‘was born in the confrontation between Christianity and Judaism, which steadily nourished their complex state of being’ (Kaplan 2013, xi).5 Como veremos, as passagens destacadas ao longo deste ensaio aparentemente refletem esta tensão, uma vez que não demarcam de forma explícita a orientação religiosa do texto e seu autor, criando um © 2016 Informa UK Limited, trading as Taylor & Francis Group on behalf of CLAR

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