UM ESTUDO DAS PREPOSIÇÕES TO E FOR DO INGLÊS: DIFICULDADES EM L2 E SUAS REPRESENTAÇÕES

May 22, 2017 | Autor: K. Almeida Caraciolo | Categoria: Semântica, Sintaxe, Língua Inglesa, Palavras-chave: Preposições, Perspectiva Gerativa
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Letras

UM ESTUDO DAS PREPOSIÇÕES TO E FOR DO INGLÊS: DIFICULDADES EM L2 E SUAS REPRESENTAÇÕES

Guarulhos 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Letras Karen Beatriz Almeida Caraciolo

Um estudo das preposições to e for do inglês: dificuldades em L2 e suas representações

Relatório final de Atividade Programada de Pesquisa (APP) apresentado ao Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Orientador: Marcello Marcelino Rosa

Guarulhos 2016

Sumário Resumo 1. Considerações Iniciais......................................................................................... 1 2. O objeto de estudo: Preposições .........................................................................3 2.1. O que é preposição? ......................................................................................3 2.2. Marcação de Caso.........................................................................................5 2.3.Alternância Dativa.........................................................................................7 2.4. To e For e suas classificações........................................................................8 2.5.Uma interface entre sintaxe e semântica......................................................8 2.6.Papeis temáticos ..........................................................................................10 2.7.Inventários ...................................................................................................11 3. Retomando as questões da pesquisa..................................................................12 4. Considerações finais..........................................................................................14 5. Referência bibliográfica....................................................................................15

Resumo: A presente pesquisa tem por objetivo analisar duas preposições da língua inglesa, a saber, to e for, com ocorrências somente em posição pós-verbal, ou seja, serão consideradas quando exercerem função de objetos indireto. Tal análise será ancorada em uma perspectiva gerativista, considerando questões de interface entre a sintaxe e a semântica. Como embasamento teórico, os estudos desenvolvidos por J.B. Heaton, 1965; Marianne Celce-Murcia e Diane Larsen-Freeman, 1999 e A. R. Jacobs, 1995, assim como o estudo mais aprofundado de materiais de inglês cujo foco são as preposições selecionadas serão de suma importância para a descrição e entendimento de ambas as preposições. Propõe-se, também, levantar hipótese(s) de o porquê aprendizes brasileiros apresentam dificuldades em selecionar corretamente as preposições acima mencionadas após determinados verbos. Ao final, espera-se entender algumas das diferenças entre as preposições selecionadas, bem como oferecer uma ferramenta de apoio a aprendizes brasileiros na compreensão do uso de to e for. Palavras-chave: Preposições; Língua Inglesa; Sintaxe; Semântica; Perspectiva Gerativa.

1. Considerações iniciais O aprendizado de uma segunda língua (L2) é caracterizado por ser um processo incerto, de muitas dúvidas, questionamentos, e dificuldades em se chegar a uma gramática totalmente estável, visto que as comparações com a língua nativa (L1) são muitas, e por vezes, o aprendiz não consegue fazer analogias compreendidas em ambas as línguas, L1 e L2. Sabendo que a língua inglesa é um idioma de alcance global, muitas pessoas veem a oportunidade de estudar e aprofundar conhecimentos em uma L2 como forma de estarem aptos a melhores desempenhos em empregos, viagens, estudos diversos, etc. Por se tratar do ensino de uma segunda língua no Brasil, é comum e aceitável que o ensino da língua alvo seja ministrado por um falante não nativo, ou seja, por um brasileiro, por exemplo. É esperado, portanto, que o professor de língua estrangeira esteja apto a ensinar os elementos que compõe a língua alvo como um todo, isto é, considerando sua forma, significado e uso. No entanto, determinados tópicos gramaticais oferecem frequentemente maior dificuldade, as quais são enfrentadas tanto por professores quanto por alunos de L2, como o uso de preposições na língua inglesa, por exemplo, to e for. Ainda que o recorte deste estudo não seja muito abrangente, visto que o foco aqui será dado somente a duas preposições da língua inglesa, to e for, vale frisar o fato de que estes itens gramaticais são, como explicitado por Celce-Murcia & Larsen-Freeman (1999), “notoriamente difícil de aprender1” (CELCE-MURCIA & LARSEN-FREEMAN, 1999, p. 401). As autoras ainda complementam dizendo que “mesmo os falantes proficientes de inglês apresentam um desempenho variável em relação a quais preposições usar para um determinado significado2” (op. cit., p. 401). A análise aqui desenvolvida poderá ser considerada uma ferramenta auxiliadora para aqueles que ainda apresentam dificuldades em selecionar preposições após determinados verbos. Dificuldade esta recorrente em diversos níveis de aprendizado. Preposições são palavras facilmente encontradas nas estruturas de qualquer língua, porém, são um tópico mais amplo e complexo do que se pode julgar. Por tal Tradução livre da definição original: “Prepositions are notoriously difficult to learn.” (Celce-Murcia & Larsen-Freeman, 1999, 401) 2 Tradução livre da definição original: “[…] even proficient English speakers exhibit variable performance with regard to which prepositions they use for a particular meaning.” (op. cit., p. 401) 1

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motivo, somente duas preposições foram selecionadas, a saber: to e for. Sabendo também que o uso de ambas as preposições ainda é por demais abrangente, este trabalho toma por objetivo somente as ocorrências em posição pós-verbal, desempenhando função de objeto indireto, conforme os exemplos:

(1) a. I sold my house to Bill. Eu vendi minha casa para Bill.

b. Bill bought a house for his family. Bill comprou uma casa para sua família.

Tomando os exemplos acima como pontapé inicial para a investigação, esta pesquisa tem por objetivo inicial responder algumas questões, como:

i.

Por que as preposições to e for oferecem dificuldade para a aquisição de inglês como L2 para falantes de Português Brasileiro (PB)?

ii.

Por que alguns verbos selecionam to e outros for?

A partir dos levantamentos feitos durante o período de análise, outra questão intrigante surgiu, sendo ela:

iii.

Os livros de ensino de inglês abordam este tópico gramatical? Se sim, o assunto é abordado de forma a levar o aprendiz a entender o uso das preposições to e for?

As seções a seguir cuidarão de definir, dentro de uma perspectiva gerativista e considerando a interface entre sintaxe e semântica, o objeto de estudo desta pesquisa, a saber, as preposições da língua inglesa to e for, bem como discutir as possíveis questões enfrentadas por aprendizes brasileiros de inglês como L2 em relação ao item gramatical selecionado. Por fim, serão retomadas as questões levantadas inicialmente no projeto, juntamente com as considerações finais desta análise.

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2. O objeto de estudo: Preposições Observou-se durante a análise linguística das duas preposições selecionadas que um dos problemas mais comuns concernente to e for é justamente a disponibilidade de dois itens lexicais em na L2 apresentarem-se como apenas um item lexical na L1, pois nos contextos aqui apresentados, tanto to quanto for se manifestam em PB como para. Os exemplos abaixo ajudam a ilustrar a aclaração acima:

(2) a. Amanda takes snacks to his husband every day. Amanda traz lanches para seu marido todos os dias.

b. Ed built a sand castle for his daughter. Ed construiu um castelo de areia para sua filha.

Antes de prosseguir com mais informações, torna-se, pois, essencial explicitar quais são as aclarações mais comuns concernentes ao item gramatical selecionado e como elas são contempladas em seu ensino. Nesta pesquisa, ambas as funções semântica e sintática das duas preposições selecionadas serão levadas em consideração com a finalidade de se obter uma análise mais completa.

2.1. O que é preposição? Para fim de compreensão deste estudo, apresentam-se algumas das definições encontradas para caracterizar o que são preposições. Tais acepções estão presentes tanto em gramáticas normativas e dicionários quanto em coursebooks3, termo este que, segundo o dicionário Oxford, refere-se a livros de ensino usados por escolas de idiomas4. Segundo Richards & Schmidt (2010), uma preposição pode ser reconhecida por se tratar de uma palavra usada com substantivos, pronomes e gerúndios com a finalidade de ligá-los gramaticalmente a outras palavras . O sintagma assim formado, constituído por uma preposição e seu complemento , é um sintagma preposicional . Em Inglês, um sintagma preposicional pode ser "descontínuo" [...] . Preposições podem expressar significados como posse [...] , direção [...] lugar [...] , tempo [...]5. (RICHARDS & SCHMIDT, 2010, p. 452). 3

Termo não mais traduzido ao longo da pesquisa. Tradução livre da definição original: “a book for studying from, used regularly in class” (HORNBY, 2000, p. 303). 5 Tradução livre do original: “a word used with nouns, pronouns and gerunds to link them grammatically to other words. The phrase so formed, consisting of a preposition and its complement, is a prepositional 4

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Tal definição, assemelha-se ao modo como o coursebook On Stage, desenvolvido por Marques (2010), caracteriza tal item gramatical: “as preposições são usadas para ligar os substantivos ou pronomes aos demais elementos de uma frase, formando expressões” (MARQUES, 2010, p. 31). Também é possível equiparar a definição do item gramatical ‘preposição’ proposta por Richards & Schmidt com Cegalla (2005), em sua Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, o qual diz: “preposição é um termo independente ligado a um termo principal ou subordinante, estabelecendo entre ambos relações de posse, modo, lugar, causa, fim, etc.” (CEGALLA, 2005, p. 268). Os exemplos a seguir ajudam no entendimento das colocações acima mencionadas:

(3) a. She will show her new apartment to her friends. Ela mostrará seu novo apartamento aos seus amigos.

b. Susan is baking a cake for her son. Susan está assando um bolo para seu filho.

Em (3a), com exceção de to, que é uma preposição, todos os outros elementos são termos da oração. O termo que exige a preposição é denominado regente enquanto o termo que a sucede, é denominado regido (CUNHA & CINTRA, 2013). Logo, will show (mostrará) é o termo regente e to her friends (para seus amigos) é o termo regido. Já em (3b), a preposição é for, baking (assando), por sua vez, é o termo regente enquanto for her son (para seu filho) é o termo regido. Levando em consideração as definições acima apresentadas, pode-se afirmar que no exemplo (3a), a preposição expressa um destino/alvo, her friends (seus amigos) enquanto em (3b) ela expressa a ideia de benefício6 a alguém. Neste último caso, o beneficiado é her son (seu filho). São poucos os coursebooks que apresentam uma definição mais completa das funções que tal item gramatical pode desenvolver. De modo geral, as preposições, mais phrase. In English, a prepositional phrase may be “discontinuous” […]. Prepositions may express such meanings as possession […], direction […] place […], time […].” (RICHARDS & SCHMIDT, 2010, p. 452). 6 Ou como elucidado por Jacobs (1995), goal e benefactive, referindo-se a to e for, respectivamente. (JACOBS, 1995, p.24/25)

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especificamente to e for, são apresentadas como sendo ornamentos acoplados aos verbos. A exemplo de tal afirmação, o coursebook de uma grande franquia de escolas de idiomas, ao apresentar, por exemplo, os verbos buy (comprar) e sell (vender), traz a seguinte advertência:

Be careful: Who buys  buys something for someone... (quem compra  compra algo para alguém...) Who sells  sells something to someone... (quem vende  vende algo para alguém...)

Não há nenhuma outra informação ou mesmo explicação sobre o porquê especificamente de essas preposições acompanharem esses verbos. Não há espaço para a compreensão e sistematização de tais estruturas, visto que, apenas espera-se que os alunos apreendam tal informação gramatical. Por este motivo, muitos aprendizes brasileiros apresentam dúvidas e incertezas quanto à seleção correta de preposição, considerando que a falta de explicação mais embasada no ensino acaba comprometendo a eficácia do aprendizado de L2. Ademais, as definições previstas nos materiais acima citados, explicam somente uma das funções exprimidas por preposições, a saber, função semântica. Tais funções ajudam no entendimento primário da análise proposta, porém serão complementadas pela função sintática, fornecendo assim um estudo mais diligente e completo em relação ao item gramatical escolhido.

2.2. Marcação de Caso As duas preposições selecionadas como objeto de estudo desta pesquisa, to e for, também terão seus significados analisados à luz de suas funções em determinar caso, isto é, discorrer-se-á sobre a marcação de seus papéis temáticos.

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Celce-Murcia & Larsen-Freeman (1999), tomando por base os estudos desenvolvidos por Fillmore7, elucidam sobre o fato de que uma mesma preposição pode determinar mais de um caso, como acontece com to e for. Jacobs (1995) reitera a afirmação anterior dizendo que “conhecer a relação gramatical que um argumento sintagma nominal ou oração carrega, não quer dizer que seu papel temático seja reconhecido automaticamente8” (JACOBS, 1995, p.22), ou seja, mesmo que to e for estejam presentes em uma determinada sentença, nem sempre os papeis temáticos por elas atribuídos serão os mesmos. Abaixo, exemplos de ambas as preposições com marcações de caso distintas ajudam a ilustrar a afirmação anterior:

(4) a. I bought flowers for Caroline. Eu trouxe flores para Caroline.

b. He manages the house for the Smiths. Ele gerencia a casa para os Smiths.

c. I gave a chocolate box to Hannah. Eu dei uma caixa de chocolate para Hannah.

d. He drove to San Francisco. Ele dirigiu para São Francisco.

Em (4a), a preposição for é usada para determinar caso benefactivo, ou seja, alguém será beneficiado/ presenteado pela ação do sujeito, neste caso, Caroline. Já em (4b), a ideia expressada por for é a de estabelecer um representante, uma autoridade que pode responder em nome de outro alguém. Fica evidente o fato de que a ideia expressa nos exemplos (4a) e (4b) não é a mesma, apesar de em ambos os exemplos a preposição ser a mesma.

Para maior aprofundamento, vide: FILLMORE, C. J. “The Case for case”. In: E. Bach and R. Harms (eds.), Universals in Linguistic Theories. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1968. p. 1-90. 8 Tradução livre da definição original: “Knowing the grammatical relation an argument noun phrase or clause bears doesn’t automatically mean knowing its thematic role.” (JACOBS, 1995, p.22) 7

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O mesmo ocorre em (4c) e (4d), a preposição usada também é a mesma, porém a ideia expressa por ela, não. O motivo pelo qual as preposições to e for não expressam a mesma ideia nos exemplos acima apresentados, pode ser explicado através da alternância dativa, a qual será tratada mais adiante. Torna-se relevante pontuar que para o escopo deste projeto bastará a relação dos papeis temáticos expressos por for em (4a) e to em (4c).

2.3. Alternância Dativa Alternância dativa, como o próprio nome sugere, é o fenômeno que dá conta de alternar uma subclasse dos sintagmas preposicionados. No caso da língua inglesa, as construções com sintagmas regidos pelas preposições to e for podem ser alternadas por sentenças construídas com objeto duplo. Como exemplo dessa alternância, as sentenças em (4a) e (4c) poderiam ser reescritas da seguinte maneira: (4) a. I bought flowers for Caroline  a’. I bought Caroline flowers c. I gave a chocolate box to Hannah  c’. I gave Hannah a chocolate box

Em ambos os exemplos, o pronome her poderia ter sido usado no lugar dos nomes próprios, sem que houvesse grande mudança semântica no sentido da sentença. Nota-se, pois, que a tradução para o português das sentenças alternadas é inexistente, como explicitado a seguir: 4 (a’) I bought Caroline flowers. * Eu comprei Caroline flores. (c’) I gave Hannah a chocolate box. *Eu dei Hannah uma caixa de chocolate.

Para que seja possível haver a alternância dativa de uma sentença com sintagmas preposicionais (to e for) para uma sentença com duplo objeto é necessário que o verbo expresse o sentido de meta, beneficiário ou receptor.

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Outro fator determinante, concernente a alternância entre sentenças, pode ser explicado pela relação de posse presente entre os objetos direto e indireto, ou seja, as sentenças cujas construções são feitas com duplo objeto devem apresentar uma relação de proprietário e objeto possuído, como explicitado em (4a’) e (4c’). Portanto, pelas aclarações acima, pode-se perceber que os verbos em (4b) em (4d) não expressam nenhum dos requisitos necessários para que a alternância dativa seja realizada.

2.4. To e For e suas classificações De modo sintético, Heaton (1965) faz a seguinte denominação a respeito das preposições em questão: to expressa a ideia de deslocamento e tem sua ocorrência antes de objetos indiretos (argumentos externos), selecionados por verbos como, bring, give, sell, take, etc. A preposição for, por sua vez, expressa a ideia de benefício/ presente a alguém e tem ocorrência também antes de objetos indiretos (argumentos externos), selecionados por verbos como, buy, save, bake, make, etc. Complementando as ideias trazidas por Heaton, Downing & Locke (2006) afirmam que objetos indiretos, os quais representam as preposições selecionadas sintaticamente, são representados por dois papeis semânticos, a saber: 1. Destinatário (aquele que recebe informações e/ou bens9) e 2. Beneficiário ou ‘destinatário intencionado’.

2.5. Uma interface entre sintaxe e semântica Como salientado por Jacobs (1995), sentenças – produzidas em qualquer língua – são compostas por unidades, as quais são combinadas entre si com a finalidade de promover uma interpretação semântica geral. No caso das sentenças até então exemplificadas, encontra-se objetos indiretos (função sintática) representados por sintagmas nominais 10 (NP). Tais NPs também funcionam como argumentos de seus predicados, os quais desenvolvem uma relação semântica essencial dentro da estrutura linguística.

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Posses e/ou haveres. Sintagma nominal adiante como NP: Nominal Phrase.

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Para que haja entendimento pleno da questão ‘quem faz o que para quem’ expressas nas sentenças a seguir, é recomendável seguir três passos para uma interpretação mais eficaz. São eles:

1. Identificar o predicado e os argumentos encaixados requeridos; 2. Identificar o sintagma nominal ou argumentos da proposição que preenchem tais encaixes; 3. Identificar as relações gramaticais que esses argumentos expressam com a finalidade de identificar seus papeis temáticos, como por exemplo, beneficiários ou destinatários.

Através desses passos apresentados, pode-se afirmar a importância, bem como a relevância de se promover a interface entre sintaxe e semântica no entendimento do que esta pesquisa se propõe a responder. Como forma de exemplificar as aclarações acima, torna-se pertinente apresentar algumas sentenças:

(5) a. The twins showed the new toy to me. Os gêmeos mostraram o brinquedo novo para mim.

b. Mark bought a new toy for his sons. Mark comprou um brinquedo novo para seus filhos. Nas sentenças acima há ocorrência de sujeitos gramaticais11, como the twins em (5a) e Mark em (5b), e objetos gramaticais, como the new toy to me em (5a) e a new toy for his sons em (5b). Ambos os sujeitos e objetos foram posicionados nas sentenças a partir dos verbos. É possível notar que nas duas sentenças apresentadas há a ocorrência de dois tipos de objetos: diretos e indiretos. A seguir, há a exemplificação da afirmação anterior:

Sentença

Sujeito

Objeto direto

Objeto indireto

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Sujeitos gramaticais são aqueles posicionados antes do verbo enquanto objetos gramaticais são aqueles posicionados após o verbo.

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(4a)

The twins

the new toy

to me

(4b)

Mark

a new toy

for his sons

Nota-se, pois, que em ambos os objetos indiretos há ocorrência de preposição, sendo to utilizada em (5a) e for em (5b). Antes de prosseguir com a análise proposta, é válido explicitar o que denomina um objeto indireto. Para tal, Celce-Murcia & Larsen-Freeman observam que gramáticas tradicionais definem um objeto indireto como um segundo objeto nominativo que nos diz para quem (to whom) ou para quem (for whom) a ação expressa no verbo é executada. Esse segundo objeto nominativo ocorre em adição ao objeto direto, o qual identifica a coisa ou pessoa que está sendo efetada 12. (CELCE-MURCIA & LARSENFREEMAN, 1999, p. 361)

Ainda se referindo aos exemplos acima, é plausível afirmar que somente verbos bitransitivos são capazes de selecionar dois objetos, isto é, são verbos “duas vezes transitivos, os quais exigem dois NPs à sua direita13”. (MILLER, 2002, p. 51) Esses NPs são exemplos de argumentos internos e correspondem à função de complemento verbal, ou seja, objetos direto e indireto. Jacobs (1995) explica que “um argumento de um predicado é um sintagma nominal ou oração a qual é exigida por aquele predicado (na ausência de informação contextual) e para a qual o predicado atribui um papel temático.”14 (JACOBS, 1995, p.22)

2.6. Papeis temáticos Para todo sintagma nominal há um papel temático sendo atribuído. Considerando os exemplos abaixo, tal afirmação será mais explicativa: (6) a. Paul took the letters to Mary’s house. Paul levou as cartas para a casa da Mary.

Tradução livre da definição original: “Traditional grammars define an indirect object as a second noun object that tells us to whom or for whom the action expressed in the verb is being carried out. This second noun object occurs in addition to the direct object, which identifies the thing or person being acted upon. (CELCE-MURCIA & LARSEN-FREEMAN, 1999, p. 361) 13 Tradução livre da definição original: “Ditransitive Verb [‘twice transitive’] requires two noun phrases to its right.” (MILLER, 2002, p. 51) 14 Tradução livre da definição original: “[...]: An argument of a predicate is a noun phrase or clause that is required by that predicate (in the absense of contextual information) and to which the predicate assigns a thematic role.” (JACOBS, 1995, p.22) 12

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b. Jenny bought a new Lego box for her daughter. Jenny comprou uma caixa de Lego nova para sua filha.

Os papeis temáticos levados em consideração aqui nesta pesquisa serão aqueles realizados pelas preposições presentes nos argumentos externos das sentenças acima. No caso de (6a), o papel temático atribuído a to Mary’s house (para a casa da Mary) é o de destino15 (alvo). Em sentenças ativas, como a usada no exemplo em questão, a preposição to é responsável por atribuir tal papel temático. Já em (6b), o papel temático atribuído a for her daughter (para sua filha) é o de beneficiário, ou seja, alguém que recebe ou usufrui de algo. Geralmente esse papel temático é introduzido pela preposição for16.

2.7. Inventários A fim de auxiliar aprendizes de inglês como L2 a selecionar corretamente uma das preposições aqui estudadas após determinados verbos, torna-se necessário e relevante desenvolver um pequeno inventário sobre quais verbos são sucedidos pela preposição for e quais pela preposição to. Tal levantamento foi realizado a partir da gramática organizada por Leech & Svartvik (2003), mais especificamente na seção ‘Verbos com dois objetos (verbos bitransitivos)’17:

Verbos sucedidos por TO

Verbos sucedidos por FOR

Bring, give, grant, hand, lend, offer, owe, Bake, build, buy, cook, find, get, leave, promise, read, sell, send, show, take, make, order, peel, save, spare, throw. teach, tell, write.

Pensando também em uma forma de auxiliar os professores brasileiros de língua inglesa, os quais deveriam buscar subsídios teóricos para lidar com as possíveis

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Relacionar com a ideia de goal. Para mais, vide: JACOBS, R. A. English Syntax: A Grammar for English Language Professionals. USA: Oxford University Press, 1995. p. 24/25. 17 Tradução livre do original: Verbs with two objects (ditransitive verbs). 16

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dificuldades advindas dos aprendizes acerca das duas preposições selecionados nesta pesquisa, criou-se a necessidade de construir um outro inventário, o qual apresenta as principais características das duas preposições aqui analisadas tanto em nível sintático quanto em nível semântico. O levantamento a seguir foi desenvolvido a partir da leitura e sistematização de toda a literatura utilizada na composição desta análise:

Preposição

Nível Sintático

Nível Semântico

To:

- Posição: pós-verbal;

- Manifestação em PB: para.

Exemplo:

- Função: objeto indireto (to + - Papel temático expresso pela

I sold my house to Bill.

NP) de verbos bitransitivos;

(Eu vendi minha casa para Bill).

preposição to: Destinatário/ Alvo (goal).

- Possibilidade de promover alternância dativa: I sold Bill my house.

For

- Posição: pós-verbal;

- Manifestação em PB: para.

Exemplo:

- Função: objeto indireto (for + - Papel temático expresso pela

Bill bought a house for his NP) de verbos bitransitivos;

preposição for: Beneficiário

family.

(benefactive).

(Bill comprou uma casa para - Possibilidade de promover sua família).

alternância dativa: Bill bought his family a house.

3. Retomando as questões de pesquisa Após as análises e explicações acima, torna-se indispensável retomar as questões usadas para nortear a presente pesquisa. Ambas as preposições são traduzidas como para no PB, o que já pode ser considerado um fator de dificuldade para falantes não nativos de inglês como L2.

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Além disso, ao constatarmos que to e for estão ligados a semântica de papeis temáticos diferentes, é possível se concluir que diferentes interpretações de papeis temáticos em PB são feitas a partir da mesma preposição. Considerando que esse dado não é apresentado dessa forma a um aprendiz de L2, ele – o aprendiz – tende a classificar todas as interpretações semânticas, aqui referindose especificamente a beneficiário e alvo, dentro de uma mesma preposição, para, sem a necessidade de duas formas que exprimam a diferença. Esta diferença entre as duas realizações de papel temático é concebida em inglês através de duas preposições distintas, for e to, respectivamente. Ademais, tanto os professores de escolas de idiomas quanto os materiais didáticos por eles utilizados durante os muitos anos de curso não trazem nenhum tipo de informação mais completa, isto é, informações com respaldos semânticos e sintáticos, acerca destas duas preposições da língua inglesa. É sabido, pois, que as escolas de idiomas apresentam um cronograma muito curto por módulo, fazendo com que o próprio professor de línguas não obtenha tempo hábil para abordar a interface entre sintaxe e semântica durante as aulas. Porém, essa omissão no ensino acaba por comprometer a eficácia do aprendizado futuramente. Como foi possível analisar aqui, apesar de ambas as preposições serem traduzidas pelo mesmo termo em PB, elas possuem caráteres distintos em relação aos seus papeis temáticos. Os papeis temáticos atribuídos pelas preposições aqui analisadas são o de alvo/destinatário18 e o de beneficiário19, os quais são expressos por to e for respectivamente. Caso o aluno de inglês como L2 tivesse algum tipo de ilustração simples, como o exemplo a seguir, em seus materiais didáticos, ele talvez viesse a compreender melhor o porquê de alguns verbos selecionarem a preposição to ao invés de for e vice-versa: TO: em direção a  Destinatário/ Alvo (goal)

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FOR:

benefício a alguém 

Beneficiário

(benefactive)

Termo em inglês: Goal. Termo em inglês: Benefactive.

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A

A

B

A

B

A

A

He took the books to her.

They built the house for me.

Ele levou os livros para ela.

Eles construíram a casa para mim.

4.Considerações finais A presente pesquisa teve como um de seus objetivos oferecer um suporte teórico àqueles que possam, por ventura, apresentar dúvidas e questionamentos tratando-se do uso especifico de duas preposições da língua inglesa, to e for. Torna-se relevante salientar o fato de que, por muitas vezes, o aprendiz pode não ter êxito no aprendizado de determinadas estruturas pertencente a uma L2 por falta de esclarecimento mais embasado. Isso não significa que seja necessário fazer uma análise complexa e linguística para o aprendiz, mas o professor, sim, em posse desse conhecimento, poderia direcionar a aprendizagem de forma que o aprendiz fosse percebendo as diferenças e nuances de significado exprimidos pelas preposições to e for, ambas muito recorrentes na língua inglesa. Para que tais equívocos em relação ao uso impreciso das preposições estudadas sejam, na medida do possível, menos ocorrentes, é necessário haver um estudo da língua alvo mais abrangente por parte dos professores de língua, que possivelmente também não detêm esse conhecimento. Consequentemente, o aprendizado será mais efetivo por parte dos alunos também. Uma língua, seja ela qual for, não deve ter seus princípios apresentados somente como itens a serem reproduzidos, não contemplando um entendimento concernente aos seus usos, formas e significados por parte dos aprendizes. Tal prática, não se mostra eficaz para o entendimento pleno das funções exprimidas por toda e qualquer língua, fator este que pode explicar a falta de competência do falante de L2 ao selecionar erroneamente as preposições selecionadas como objeto de estudo desta pesquisa.

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5.Referência bibliográfica CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. CELCE-MURCIA, Marianne & LARSEN-FREEMAN, Diane. The Grammar Book: An ESL / EFL Teacher’s Course. 2. ed. USA: Heinle & Heinle, 1999. CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Gramática do português contemporâneo. 6. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2013. DOWNING, Angela & LOCKE, Philip. English Grammar: A University Course. 2ed. Abingdon: Routledge, 2006. HEATON, J. B. Prepositions and Adverbial Particles. London: Longman, 1965. HORNBY, A. S. Oxford advanced learner’s dictionary of current English: International Student’s Edition. 6th Edition. London: Oxford University Press, 2000. JACOBS, R. A. English Syntax: A Grammar for English Language Professionals. USA: Oxford University Press, 1995. LEECH, Geoffrey & SVARTVIK, Jan. A Communicative Grammar of English. 3 ed. Abingdon: Routledge, 2003. RICHARDS, Jack C. & SCHMIDT, Richard. Longman Dictionary of Language Teaching & Applied Linguistics. Great Britain: Pearson, 2010. MARQUES, Amadeu. On stage: ensino médio. Vol. 3. São Paulo: Ática, 2010. p. 131. MILLER, Jim. An Introduction to English Syntax. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2002.

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