Um grito amazônico de Mário de Andrade (Rafael Voigt Leandro, 2015)

June 24, 2017 | Autor: Rafael Voigt | Categoria: Mário de Andrade, Poesia Brasileira, Modernismo Brasileiro, Seringueiros
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UM GRITO AMAZÔNICO DE MÁRIO DE ANDRADE RAFAEL VOIGT LEANDRO1

As viagens de Mário de Andrade pela Amazônia redefiniram os rumos de sua produção literária. Revelam o choque entre dois mundos brasileiros que orbitam níveis de nacionalidade distintos, geralmente incompatíveis, em suas dimensões socioambiental, cultural, étnica, política ou econômica. Passagens de O turista aprendiz (1927-1929)2 contêm pressentimentos do que estava por vir na poética de Mário. Não apenas pelo monumental Macunaíma (1928), obra definidora de uma visão aberta da nacionalidade brasileira, de fora do eixo centro-sul e mais integradora, condensada no herói de muitos caracteres. Em Clã do Jabuti (1927)3, Mário de Andrade publica “Dois poemas acreanos”, sendo, de fato, um poema em duas partes. A primeira desenvolve-se assim: I – DESCOBRIMENTO Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da Rua Lopes Chaves De supetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! muito longe de mim Na escuridão ativa da noite que caiu Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu.

A voz poética revela um transe provocado por um “friúme por dentro”, em razão de uma descoberta. Fora de qualquer livro (“livro palerma”) há um mundo para além da casa na Rua Lopes Chaves, longe de São Paulo, metrópole que basta por si só, cidade da qual um intelectual não precisa sair para ver o Brasil. É autossuficiente. O Brasil está todo dentro dela. A intelectualidade está toda ali naquele microuniverso de um escritório, de alguém que recosta seu intelecto numa escrivaninha.

Doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB). Professor de Língua Portuguesa no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). 2 ANDRADE, Mário. O turista aprendiz. Estabelecimento do texto, introdução e notas de Telê Porto Ancona Lopes. Belo Horizonte, MG: Itatiaia, 2002. 3 ANDRADE, Mário de. De Paulicéia Desvairada a Café. Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro, 1986. 1

A segunda estrofe é o instante da virada da percepção sobre a realidade brasileira em que se situa este intelectual de São Paulo. Há uma lembrança vaga do norte do Brasil. E esse norte, em vez de fazer parte de um mesmo lugar, encontra-se “muito longe de mim”. Essa lonjura indica o desvão entre dois Brasis, reconhecidos por Mário de Andrade em seu espírito antropossociológico, capaz de juntar todos os pedaços brasileiros em poemas de pulso cosmopolita. “Na escuridão ativa da noite que caiu” é verso que marca uma ligadura existente entre essas duas realidades apresentadas: de centro e de norte. E busca-se, assim, uma amplitude para o sentido de nacionalidade pretendido por esse modernista. Não há um tempo predefinido ou interdito no poema, o que permite fazer uma leitura sobre tempos possíveis. Um primeiro diz respeito ao momento circunstancial ocupado pela voz poética coincidente com a década de 1920. Sabese que, nesse momento histórico, o Brasil amazônico não mais liderava o mercado internacional de borracha, por conta da concorrência do sudeste asiático. Motivo pelo qual havia de se pretender uma proteção ou tutela maior aos problemas enfrentados por um “seringueiro”, um “expatriado dentro da própria pátria”, como bem assinala Euclides da Cunha. “Na escuridão ativa da noite que caiu” pode significar mais do que um processo adstrito à realidade posta e dada a priori. A “escuridão” pode ser o “buraco negro” no qual se encontra o seringueiro marginalizado pela própria nação, construída prioritariamente pelo centro e nunca pelas margens. A característica do seringueiro revela mais a escuridão na qual se embrenha esse trabalhador: “Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos”. A palidez e a magreza são própria de um estado de debilidade e fraqueza, provocadas por um modelo escravagista de trabalho, fundado na lógica da escravidão por dívidas nos seringais: “Depois de fazer uma pele com a borracha do dia/Faz pouco se deitou, está dormindo.” O homem que se deita põe em posição dialética o trabalho e o repouso. E “dormir” é um instante raro de liberdade para um trabalhador que nos seringais “trabalha para se escravizar”, como bem observou Euclides. A voz poética de Mário de Andrade universaliza a noção de brasileiro ao enfeixar o último verso: “Esse homem é brasileiro que nem eu.” Equalizar essas relações

entre diferentes paisagens nacionais faz parte de uma brutal inocência por parte dessa vocalização poética. No fundo, esse brasileiro não é igual a esse intelectual “Abancado à escrivaninha em São Paulo/Na minha casa da Rua Lopes Chaves”. De um lado, tem-se um burguês pertencente ao centro metropolitano do país. De outro, está um ser fragilizado, marginalizado, esquecido, “expulso” da sociedade, em situação amplamente periférica. Essa distância e esse abismo reforça-se com o final da segunda estrofe, com o “muito longe de mim”. Essa distância se reafirma até pelo trabalho desempenhado por cada um, que põe no cerne da questão o problema da liberdade, em sentido amplo e não somente estritamente do ponto de vista do trabalho. Se se levar em consideração que esse seringueiro situa-se em território acreano, vem a pergunta: - Qual o lugar do Acre naquele momento histórico da primeira onda modernizante paulista? É uma parte do Brasil recém anexada ao território nacional, de início do século 20, mas bastante abalada por atravessamentos da máquina capitalista interessada em mais uma mina de ouro, no caso, o ouro do látex. A parte “II – Acalanto do seringueiro” aprofunda a leitura crítica iniciada com a primeira parte: Seringueiro brasileiro, Na escureza da floresta Seringueiro, dorme. Ponteando o amor eu forcejo Pra cantar uma cantiga Que faça você dormir. Que dificuldade enorme! Quero cantar e não posso, Quero sentir e não sinto A palavra brasileira Que faça você dormir... Seringueiro, dorme...

O acalanto é desses gêneros poéticos populares. É um canto para ninar crianças ou embalar o sono. Mas o poeta se vê na impossibilidade de entoar o acalanto: “Ponteando o amor eu forcejo/Pra cantar uma cantiga/Que faça você dormir”. A impossibilidade de acalentar o sono de um insone brasileiro resulta da falta de sensibilidade para uma realidade desconhecida, que carece de um palavra própria para o acalanto: “Quero cantar e não posso,/Quero sentir e não sinto/A palavra brasileira/Que faça você dormir.../Seringueiro, dorme...”. Esse acalanto é quase um canto de morte, que se converte em uma elegia.

O valor negativo da “escureza” persiste na próxima estrofe: Como será a escureza Desse mato-virgem do Acre? Como serão os aromas A macieza ou a aspereza Desse chão que é também meu? Que miséria! Eu não escuto A nota do uirapuru!... Tenho de ver por tabela, Sentir pelo que me contam, Você seringueiro do Acre, Brasileiro que nem eu. Na escureza da floresta Seringueiro, dorme.

Esse filme fotográfico em negativo lança o leitor em um questionamento sobre a realidade brasileira amazônica: “Como será a escureza/Desse mato-virgem do Acre?” Veja que a voz poética não ressalta qualquer cor de nossa nacionalidade, nem mesmo o verde da selva amazônica. A escureza, o impenetrável, o desconhecido, é que dão o tom dessa voz. O eu-poético tenta a sua ligação com aquela realidade distante, em novo questionamento: “Como serão os aromas/A macieza ou a aspereza/Desse chão que é também meu?” Essa tendência ufanista não soluciona o problema posto, por meio da representação do seringueiro que não pode ser acalentado por um canto nacional de voz canora, mas sem o timbre amazônico. “Que miséria! Eu não escuto/A nota do uirapuru!... Tenho de ver por tabela/Sentir pelo que me contam” A voz poética insuspeita revela seu desconhecimento daquela paisagem dos sertões amazônicos. O canto do uirapuru, de beleza inconfundível, não se pode ouvir, diante da miséria da situação existencial do seringueiro. Embora o eu-lírico pretenda colocar o seringueiro em pé de igualdade com o intelectual do sul, essa impossibilidade se condensa: “Você seringueiro do Acre,/Brasileiro que nem eu./Na escureza da floresta/Seringueiro, dorme.” É o que se pode ler na estrofe seguinte: Seringueiro, seringueiro, Queria enxergar você... Apalpar você dormindo, Mansamente, não se assuste, Afastando esse cabelo Que escorreu na sua testa. Algumas coisas eu sei... Troncudo você não é. Baixinho, desmerecido, Pálido, Nossa Senhora! Parece que nem tem sangue. Porém cabra resistente Está ali. Sei que não é

Bonito nem elegante... Macambúzio, pouca fala, Não boxa, não veste roupa De palm-beach... Enfim não faz Um desperdício de coisas Que dão conforto e alegria.

Por falta de luz, em meio à “escureza”, nossos binóculos sociais não vislumbram a vida do seringueiro: “Seringueiro, seringueiro,/Queria enxergar você.../Apalpar você dormindo,/Mansamente, não se assuste/Afastando esse cabelo/Que escorreu na sua testa.” Esses versos amansam um seringueiro brutalizado pelas condições opressoras encontradas em terras amazônicas. Essa falsa mansidão, ofertada pelo acalanto, é fruto de uma tentativa de domesticação poética de uma realidade fora de ordem. “Algumas coisas eu sei.../Troncudo você não é./Baixinho, desmerecido/Pálido, Nossa Senhora!/Parece que nem tem sangue.” Essa descrição de um ser humano decrépito, digno de comiseração, enfraquece a figura do seringueiro, sem sangue, mas que sangra as árvores dos seringais. E sua palidez reflete-se na cor do sangue com o qual ele mais convive. Mesmo quando a voz poética procura defender a força do seringueiro, só o que sabe destacar é sua fraqueza: “Porém cabra resistente/Está ali. Sei que não é/Bonito nem elegante.../Macambúzio, pouco fala/Não boxa, não veste roupa/De palm-beach... Enfim não faz/Um desperdício de coisas/Que dão conforto e alegria.” Esses últimos versos acentuam o contraste lançado ainda na primeira parte dos “Dois poemas acreanos”. É contrastante a vida cosmopolista versus a vida no meio da escuridão das matas do Acre. Essa persuasão de fundo antropológico põe um modus vivendi em confronto. Mas não só. O país se desvela e se desata nesse contraste. É a nação dos contrastes. Às vezes, escondido no olhar de intelectuais que deslindam não o Brasil, mas o Brasil por trás de um “livro palerma”. Não se pode alçar a condição de vida do seringueiro a alguém do sul, da capital paulista, interessado em vestir a última roupa da moda (de “palm-beach”). Sequer se pode pretender ao luxo dos desperdícios e dos gozos mais mundanos. O seringueiro não faz parte do centro do mundo. E é necessário que esteja muito, muito, longe, para não desestabilizar uma ordem presumida como a suma teologicae de um universo capitalista acirrado, interessado na lógica do trabalho escravo e do trabalho calado, dormido, insone, escuro, negro, do seringueiro.

No entanto, persiste o desejo da voz poética em alinhar os contrastes em sinal de igualdade: Mas porém é brasileiro, Brasileiro que nem eu... Fomos nós dois que botamos Pra fora Pedro II... Somos nós dois que devemos Até os olhos da cara Pra esses banqueiros de Londres... Trabalhar nós trabalhamos Porém pra comprar as pérolas Do pescocinho da moça Do deputado Fulano. Companheiro dorme! Porém nunca nos olhamos Nem ouvimos e nem nunca Nos ouviremos jamais... Não sabemos nada um do outro, Não nos veremos jamais!

A instabilidade discursiva distorce o gênero poético do acalanto. O acalanto marioadradiano fica acâmato. O sinal de igualdade continua a desestabilizar a ordem social, pretendendo colocar dois níveis de nacionalidade em uma ágil e perigosa receita de completude: “Mas porém é brasileiro,/Brasileiro que nem eu.../Fomos nós dois que botamos/Pra fora Pedro II...” Essa primeira tentativa de reconciliação histórica inexiste. É fictícia, no sentido mais baixo do termo. Essa força burguesa não se confunde com os músculos do seringueiro. E em seguida: “Até os olhos da cara/Pra esses banqueiros de Londres...” Também não pode se colocar na conta do intelectual essa dívida em condições de equivalência socioeconômica.

É

ingenuidade

demais.

E

continua:

“Trabalhar

nós

trabalhamos/Porém pra comprar as pérolas/Do pescocinho da moça/Do deputado Fulano.” Não se pode mesmo acreditar nesse jogo ilusório de dois pedaços da nação representados por seres tão contrastantes, como um intelectual metropolitano e um seringueiro da periferia mais periférica da nação brasileira. “Companheiro, dorme!/Porém nunca nos olhamos/Nem ouvimos e nem nunca/Nos ouviremos jamais.../Não sabemos nada um do outro,/Não nos veremos jamais!” Esses versos persistem na desestabilização. Se, em algum momento, haveria uma chance de conciliação entre os dois níveis de nacionalidade em disputa, o intelectual representante da voz poética torna-se inconstante. E reconhece a falta de alteridade, o desconhecimento mútuo de realidades distantes.

O intelectual se revela incapaz de apreender o universo dos seringais: Seringueiro, eu não sei nada! E no entanto estou rodeado de livros, Estes mumbavas que vivem Chupitando vagarentos O meu dinheiro o meu sangue E não dão gosto de amor... Me sinto bem solitário No mutirão de sabença Da minha casa, amolado Por tanto livros geniais, “Sagrados” como se diz... E não sinto os meu patrícios! E não sinto os meus gaúchos! Seringueiro, dorme... E não sinto os seringueiros Que amo de amor infeliz

Os livros são representações da metrópole burguesa, da média ou alta sociedade, pouco interessada no livro da vida do seringueiro. Enquanto isso, o seringueiro lê o mundo a partir de páginas de um drama pessoal inescapável, como um Sísifo. Para além da fantasia dos livros, o intelectual burguês encontra-se entre aproveitadores, parasitas (“mumbavas”). São sanguessugas não só de sangue, mas de dinheiro. Essa viravolta discursiva desenha para o leitor a figura de um ser isolado em sua nacionalidade, estagnado, empoçado, numa solitária sede de identidade sem o Outro: “Me sinto bem solitário/No mutirão de sabença/Da minha casa, amolado/Por tantos livros geniais,/ “Sagrados” como se diz...” Tão rico, de forturna e intelecto, mas incapaz de reconhecer seus mais longínquos irmãos de nacionalidade: “E não sinto os meus patrícios!/E não sinto os meus gaúchos! Seringueiro, dorme.../E não sinto os seringueiros/Que amo de amor infeliz...” O amor ao seringueiro talvez seja semelhante ao que os mumbavas lhe ensinam: “E não dão gosto de amor...” E o eu-lírico reconhece sua incapacidade de compaixão, de sentir o amor de frátria, expresso no “amor infeliz”. O poeta se preocupa com a diferença de níveis nacionais entre ele e o seringueiro. Prefere pensar na indiferença do tratamento dado ao seringueiro: Nem você pode pensar Que algum outro brasileiro Que seja poeta no sul Ande se preocupando Com o seringueiro dormindo, Desejando pro que dorme O bem da felicidade... Essas coisas pra você Devem ser indiferentes, Duma indiferença enorme... Porém eu sou seu amigo Eu quero ver si consigo Não passar na sua vida Numa indiferença enorme. Meu desejo e pensamento (... numa indiferença enorme...)

Ronda sob as seringueiras (... numa indiferença enorme...) Num amor-de-amigo enorme... Seringueiro, dorme! Num amor-de-amigo enorme Brasileiro, dorme! Brasileiro, dorme. Num amor-de-amigo enorme Brasileiro, dorme. Brasileiro, dorme, Brasileiro... dorme... Brasileiro... dorme...

A indiferença é o sinal dessa conta da nacionalidade ao final: “Nem você pode pensar/Que

algum

outro

brasileiro/Que

seja

poeta

no

sul/Ande

se

preocupando/Com o seringueiro dormindo,/Desejando pro que dorme/O bem da felicidade...” A revelação do poeta abisma a verdadeira dupla dimensão do real. O diálogo com o seringueiro, como recado e não acalanto, perturba. É um diálogo forjado, mas que assusta, porque possível e desumano. E ameniza: “Essas coisas pra você/Devem ser indiferentes,/Duma indiferença enorme.../Porém eu sou seu amigo/E quero ver si consigo/Não passar na sua vida/Numa indiferença enorme.” Mais uma das falsas promessas, como tantas outras, escutadas e vividas pelo seringueiro. O poeta não pode ser o salvador da pátria. Não seria capaz de consertar, no quadro de um poema, a rejeição da sociedade burguesa a um ser braçal como o seringueiro, sem nome, sem rua, mas como uma estrada a percorrer no seringal. A amizade impossível, a indiferença escancarada, o desejo reprimido, o pensamento solto, estampam a falsidade desse ser tutelar e poético, como um anjo, procurando salvar o que não tem salvação pelo poema: “Meu desejo e pensamento/(.... numa indiferença enorme...)” Ainda mais quando a indiferença governa essas relações de distância. A insistência, nos últimos versos, para que o seringueiro durma revela o tanto que uma realidade amazônica, selvagem, incomoda a nacionalidade estável ao centrosul do país. Por que cargas d’água um intelectual burguês paulista - o da voz poética - deveria se preocupar com um seringueiro? É preferível não saber que esse trabalhador brasileiro, amazônico ou nordestino, existe. Que ele trabalha, que ele serve. Que ele está na escuridão. Que ele aparece. Que ele, enfim, é real. Porque incomoda bastante, quase um século depois, saber que os povos

ribeirinhos e outros povos brasileiros possuem uma nacionalidade sem direitos, sem lugar, sem destino, sem acalanto. Mário acentuou esses desníveis ou desigualdades num “grito épico”4 em “Dois poemas acreanos”. Setembro de 2015.

4 No estudo “Mario e o Cabotismo”4, Anatol Rosenfeld faz menção ao “Acalanto do seringueiros”, como “grito

épico”, aproveitando expressão de Florestan Fernandes. Suplemento literário de O Estado de São Paulo, de 27.02.1960.

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