Um olhar quantitativo sobre a situação da disciplina Percepção Musical nos cursos de graduação em música: respostas dos professores atuantes na área

July 25, 2017 | Autor: Cristiane Otutumi | Categoria: Música, Educação Musical, Percepção Musical
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XVII ENCONTRO

NACIONAL

IMPRIMIR DIVERSIDADE MUSICAL E COMPROMISSO SOCIAL

DA ABEM

O PAPEL DA EDUCAÇÃO MUSICAL

SÃO PAULO, 08 A 11 DE OUTUBRO DE 2008 FECHAR

Um olhar quantitativo sobre a situação da Percepção Musical nos cursos de graduação em música: respostas dos professores atuantes na área Cristiane Hatsue Vital Otutumi [email protected]/[email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Norte Ricardo Goldemberg [email protected] Universidade Estadual de Campinas Resumo. Este artigo tem como finalidade apresentar os pontos de destaque colhidos nos questionários de 60 professores da disciplina Percepção Musical de diferentes Instituições de Ensino Superior – IES localizadas nas cinco regiões geográficas brasileiras. Tais dados fazem parte da seção quantitativa da dissertação ‘Percepção Musical: situação atual da disciplina nos cursos superiores de música’, defendida na Unicamp no início do ano (2008). Através desse contato pudemos averiguar as condições em que a matéria é oferecida, sua estrutura nas IES, bem como opiniões sobre seu ensino, o perfil dos alunos entre outros aspectos. Isso veio confirmar fatos e queixas costumeiramente ditas pelos docentes, mas também revelou novos elementos, possibilitando, em síntese, bases para reflexões e ações que contribuam para a otimização nesse campo. Palavras-chave: percepção musical, ensino superior, música no Brasil.

Introdução Com o intuito de apresentar um panorama da disciplina Percepção Musical na graduação, oferecendo um espectro de dados concretos, que contribuíssem para o avanço nas reflexões, em nossa pesquisa, optamos por unir duas linhas de abordagem: a qualitativa e a quantitativa. Embora a tendência ainda hoje seja a da escolha por uma delas, Neves (1996) enfatiza que elas não se excluem mas, ao contrário, complementam-se e podem colaborar para melhor compreensão do fenômeno estudado (GÜNTHER 2006, LAVILLE; DIONE 1999). Assim, com o público alvo de professores atuantes na área, foram utilizadas duas ferramentas principais, a saber: 1. os Questionários, recebidos de 60 docentes, representantes de 52 IES (públicas e particulares de todo o país) e 2. as Entrevistas, realizadas com 5 docentes (4 de IES de destaque e 1 sem vínculo acadêmico, mas professor de curso preparatório para vestibular em música). Para fins dessa exposição concisa apresentaremos apenas dados da seção quantitativa. O norte no processo de tratamento e análise das informações foi Bardin (2002, p.38) e a análise de conteúdo, no qual diz a autora ser “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo 1

das mensagens”. Apesar de ser mais evidente na parte onde constam as entrevistas, aspectos da análise de conteúdo foram também utilizados na organização dos questionários.

Objetivo

ƒ

Expor os principais resultados obtidos na seção quantitativa da dissertação ‘Percepção Musical: situação atual da disciplina nos cursos superiores de música’, defendida na Unicamp no início do ano (2008).

Metodologia A primeira etapa foi a delimitação do universo da pesquisa. Assim, definimos que o critério seria a participação de instituições que oferecessem cursos de bacharelado e/ou licenciatura em música, e que tivessem cadastro no Ministério da Educação – MEC. Portanto, fizemos várias buscas ao portal do MEC, pelas cinco regiões geográficas brasileiras, listando as universidades presentes e, ainda, atualizando alguns dados (principalmente de contato) que estavam ultrapassados. Chegamos então a 58 IES registradas no MEC em 2007, sendo que em nossa pesquisa alcançamos um percentual de 89,65% de participação:

Região Sul IES cadastradas no MEC IES participantes questionários % Percentual representativo no total das IES

IES PARTICIPANTES DA PESQUISA Região Região Sudeste Norte-Nordeste1

Região Centro-Oeste

Total

16

29

10

3

58

14

25

10

3

52

87,50%

86,20%

100%

100%

89,65%

27%

48%

19%

6%

100%

Os questionários foram enviados por e-mails em ‘cartas-convite’, numa mensagem explicativa com objetivos e justificativa da pesquisa. Pela grande receptividade, houve

1

Optamos por unir região Norte e Nordeste pelo fato da região Norte ter apenas 01 IES cadastrada em 2007 com curso de bacharelado e /ou licenciatura em música.

2

prontidão na entrega das respostas, possibilitando a coleta de 60 questionários em dois meses (setembro e outubro de 2007). Algumas das falas: [...] Nem só é um prazer participar de sua pesquisa, como saber que ela está acontecendo, visto que esta é uma área de fundamental importância na formação de qualquer musicista profissional, e parece, às vezes, não receber tanta atenção quanto deveria. Assim, coloco-me à disposição para o que for necessário. Saudações. [...] Terei o maior prazer em participar da tua pesquisa. É sempre interessante saber de pesquisas e pessoas interessadas nesta disciplina que é tão importante, às vezes, tão árida e muitas outras deixada de lado nas grades curriculares. [...] Encontramos muitos problemas com os alunos, devido à deficiência dos mesmos com relação à referida disciplina. Aceitaria trabalhar com o seu questionário e se você me permitir vou passá-lo aos professores da área.

Na elaboração do questionário tomamos cuidados específicos buscando clareza e objetividade nas questões, boa formatação visual e brevidade no tempo de preenchimento, estimulando a participação do público alvo, segundo recomendações de Pádua (2000). Para as dezesseis perguntas foram oferecidas respostas de múltipla escolha (de a – d), porém, seguindo a orientação de Barros e Lehfeld (1990), acrescentamos uma alternativa mais flexível permitindo a inserção de breves respostas na última opção. Ex: questão 1 – Qual o nome da disciplina que ministra? a) Percepção Musical ( ) b) Teoria e Percepção Musical ( ) c) Treinamento Auditivo ( ) d) Outro ( ) Citar: _________________ Na fase de análise reorganizamos as perguntas de acordo com o caráter: Institucional2 (I) e Pessoal (P); e, num segundo momento, por categorias temáticas como: 1. Estrutura da disciplina nas IES (perguntas 1, 4, 5, 8, 3, 7 e 6); 2. Aspectos técnicos e pedagógicos da atuação dos professores (2, 15, 9, 13, 12, e 16) e 3. Opiniões sobre o ensino (10, 11, 14). Principais resultados

2

Em algumas universidades mais de um professor respondeu ao questionário, dessa forma, foi preciso definir um deles como representante da IES; porém, nas demais perguntas, de caráter pessoal, todos os docentes participaram das respostas.

3

Vejamos a seguir as respostas de maior índice, organizadas pelas três temáticas já citadas. As questões em que os índices de destaque foram menos expressivos serão comentadas brevemente.

DADOS QUANTITATIVOS DA PERCEPÇÃO MUSICAL NO BRASIL QUESTIONÁRIOS TEMÁTICA

Estrutura da disciplina nas IES

Aspectos técnicos e pedagógicos da atuação dos docentes

QUESTÕES

RESPOSTAS DE MAIOR ÍNDICE

%

Nome da disciplina

Percepção Musical

65,4%

Obrigatoriedade

Em todo curso / modalidade

86,5%

As frentes trabalhadas

Melódica, Rítmica e Harmônica

88,5%

Horas semanais de aula

Duas horas

26,9%

Quantidade de docentes por IES

Dois professores

40,4%

Quantidade de alunos na turma

Em torno de vinte alunos

40,4%

Quantidade de classes por professor

Duas classes

45,0%

Titulação3

Mestres

53%

Tempo de atuação docente

Cinco a nove anos

23,3%

Linha metodológica

Tradicional contextualizada

55,0%

Instrumento referencial mais utilizado

Piano

68,3%

Materiais de apoio

CD de áudio ou gravações diversas

61,7%

3

DEMAIS % 19,2% Teoria e Percepção Musical; 5,8% Treinamento Auditivo; 9,6% Outro 0% Não obrigatória; 7,7% Obrig. com carga horária maior para bacharelado; 5,8% Outro 5,8% Melódica e Harmônica, sendo Rítmica separada; 0% apenas Melódica; 5,8% Outro 1,9% 1h; 23,1% 1h30min. a 1h40min.; 48,1% Outro 25% um professor; 19,2% três professores; 15,4% Outro 25% dez a quinze alunos; 13,5% vinte e cinco a trinta alunos; 21,2% Outro 30% Três classes; 6,7% Quatro classes; 18,3% Outro 17% Doutores; 15% Grad.; 12% Esp. e 3% Pós-doutores 20% até dois anos; 16,7% três a quatro anos; 40% Outro 16,7% Tradicional; 10% Diferente da Tradicional, com material próprio e ênfase no criativo; 18,3% Outro 15% Teclado; 0% Violão; 16,7% Outro 5% Softwares especializados; 3,3% CD-ROM; 30% Outro

Aproveitamos o cabeçalho do questionário para solicitar dados da titulação dos docentes, portanto, não foi propriamente uma questão; porém, achamos interessante agregá-los à tabela.

4

Bibliografia

Aliam autores nacionais e estrangeiros

76,7%

Esforços extraclasse

Preparação das aulas

40,0%

Tem dificuldades já que não tiveram boa formação anterior

60,0%

Maior dificuldade encontrada

Nível heterogêneo dos estudantes

71,7%

Maior obstáculo no rendimento dos alunos

Pouco estudo

75,0%

Perfil dos alunos

Opiniões sobre o ensino

6,7% Adotam um livro específico; 3,3% Dão ênfase às publicações nacionais; 13,3% Outro 21,7% Pesquisa em Percepção; 13,3% Aulas de reforço; 25% Outro 3,3% Não tem grandes dificuldades; 5% Tem dificuldades com rendimento insatisfatório; 31,7% Outro 1,7% Grande número de alunos na turma; 1,7% Falta de material didático; 25% Outro 3,3% Falta de infra-estrutura; 0% Ausências; 21,7% Outro

De acordo com as informações colhidas é possível ver com clareza que alguns pontos foram trazidos com destaque sobre os demais como, por exemplo, o nome Percepção Musical (65,4%), a sua obrigatoriedade na maioria dos cursos (86,5%), as três frentes trabalhadas (88,5%), o piano como instrumento mais utilizado (68,3%), o CD como material de apoio (61,7%), bibliografia diversificada (76,7%), bem como opiniões quanto à má formação de base dos estudantes (60,0%), a heterogeneidade como maior dificuldade (71,7%) e o pouco estudo influenciando negativamente o rendimento dos alunos (75,0%). Todos aspectos que obtiveram percentual elevado, com índice igual ou maior que 60%. Ao contrário disso, duas questões (horas semanais de aulas e tempo de atuação dos docentes) foram as de maior diversidade, com índice relevante no item Outro (igual ou maior que 40%). O que podemos ressaltar dentro desses valores é que cerca de 30% das IES têm aulas semanais de 3h a 4h e aproximadamente 36% dos professores são novatos no meio acadêmico com experiência de até 4 anos de atuação. No entanto, nesse item é importante evidenciar que outros 30% têm de 11 a mais de 20 anos de casa. Numa média de percentual dos 40% a 55% estão pontos como esforços dos docentes na preparação das aulas (40,0%), dois professores por IES e cerca de 20 alunos na turma (ambos 40,4% cada); bem como duas classes por professor (45,0%), docentes mestres (53,0%) e aqueles que utilizam linha metodológica tradicional, mas fazendo contextualização com outras disciplinas (55,0%). Apesar de terem índices relativamente elevados, achamos necessário detalhar alguns pontos: ƒ

Esforços extraclasse – dos 21,7% que dizem fazer pesquisa: 6,7% têm atividades registradas, 8,3% referem-se a suas buscas e estudos pessoais e 6,7% não especificaram 5

sua rotina; – dos 25% em ‘Outro’, há pequenos índices que mesclam as atividades citadas em todas as alternativas. ƒ

Alunos nas turmas – dos 21,2% em ‘Outro’, cerca de 8% têm menos de 10 alunos e os valores restantes variam de 25 a 50 alunos.

ƒ

Professores nas IES – dos 15,4% em ‘Outro’, cerca de 12% têm 4 e 5 professores e os índices restantes têm 6 e 7 docentes.

ƒ

Classes por professor – 18,3% em ‘Outro’, cerca de 10% têm apenas 1 classe, 5% têm 5 classes e o restante de 8 a 10 classes.

ƒ

Linha metodológica – dos 18,3% em ‘Outro’, cerca de 10% dizem unir as três alternativas citadas, e pequenos índices detalham elementos como improvisação, dó móvel, entre outros.

Considerações finais Primeiramente, foi possível verificar que dentre as 16 questões 9 delas mostraram alto índice de concordância entre professores, e isso representou pontos de homogeneidade na estrutura das IES e na opinião dos docentes sobre os tópicos abordados. Podemos observar que tais aspectos expressos são muito evidentes no ensino da disciplina, talvez por serem problemáticos ou até mesmo antigos no âmbito da Percepção Musical. Notemos que docentes mais recentes e os mais experientes, nesses casos, têm pensamentos similares. Os demais índices encontrados, embora não tão expressivos também contribuíram à diversidade e precisão nos dados. Dessa forma, falas cotidianas e queixas conhecidas são aqui confirmadas, bem como resultados reveladores, que expõem as condições de trabalho e as ações dos docentes nesse campo. Por último, enfatizamos que a maior dificuldade eleita (heterogeneidade) está ligada às demais problemáticas citadas (falta de base e pouco estudo dos alunos) e, certamente, vinculada à etapa anterior à graduação. Ou seja, a reflexão sobre a disciplina na graduação vai além dela mesma e está estreitamente unida às questões básicas do ensino em música. Referências BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: edições 70, 2002.

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BARROS, Aidil de Jesus Paes; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. Petrópolis: Vozes, 1990. GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Revista Psicologia: teoria e pesquisa, Brasília, UnB, vol. 22, n.2, p.201-210, 2006. LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Trad. Heloísa Monteiro e Franscico Settineri. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. NEVES, José Luis. Pesquisa qualitativa – características, usos e possibilidades. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, USP, vol. 1, n.3, 2º semestre de 1996. Disponível também: acesso 12/06/2008. PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Metodologia da pesquisa: abordagem teóricoprática. 9ª ed. Campinas: Papirus, 2000.

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