Um olhar sobre a Pré-História do Cabo Espichel

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Descrição do Produto

Um Olhar Pela Pré-História do Espichel

Lisboa, Setembro de 2011

Ficha Técnica Coordenação Geral Silvério Figueiredo Mário Nuno Antas Coordenação Científica Silvério Figueiredo Coordenação Museológica Mário Nuno Antas Textos Silvério Figueiredo Mário Nuno Antas José Carvalho Isabel Alexandra Mendes Liliana Faustino Tatiana Iria Colaboração nos textos Pedro Cunha Cristiana Ferreira Pedro Callapez Revisão de textos Fernando Real Manuel Américo Rosa

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Projecto de museografia Mário Nuno Antas Silvério Figueiredo Liliana Faustino Tatiana Iria Produção de materiais educativos Mário Nuno Antas Tatiana Iria Sofia Ferreira Mário Santos Mediação educativa Mário Nuno Antas Sofia Ferreira Tatiana Iria Liliana Faustino Fotografia José L. Guimarães Edmundo Rijo Silvério Figueiredo José Carvalho Liliana Faustino Ana Catarina Ferreira Pós-produção de imagens Ricardo Simões

Formatação / paginação Arlinda Fortes

Luminotecnia Salvador Baptista Luís Antunes

Ana Sofia Vieira Vanessa de Sousa

Pré-impressão e Impressão

Web design Ricardo Simões Desenhos Wilson Balzer Joana Bruno José Carvalho Ana Catarina Ferreira Silvério Figueiredo

Impresso em

Depósito legal nº

ISBN 978 - 989 - 96416 - 1 - 7

Execução da exposição Centro Português de Geo- História e Pré-História

Arqueologia experimental Pedro Cura Tradução Manuel Américo Montagem Silvério Figueiredo Mário Nuno Antas Carlos Diniz Sofia Ferreira Mário Santos Liliana Faustino Tatiana Iria Arlinda Fortes Bruno Azevedo

Aos sócios e colaboradores do CPGP que já faleceram: Vitor Dias Manuel Vitoriano Carminda Figueiredo

“ O Mar Occeano, para a parte do meyo dia da Cidade de Lisboa na diƒtancia de cinco legoas, forma a terra huma rocha eminente, e deƒpenhada, a que os navegantes chamaõ Cabo de Eƒpichel, e os antigos chamaraõ Promontorio Barbarico “

Manuel Teixeira In “Milagre sucedido na tarde de 26 de Maio”

O

s “olhares” que temos sobre as coisas são tantos quanto a capacidade tenhamos de nelas ver realmente visto. Assim é em tudo na vida e também no mais remoto passado humano, que é a Pré-História. Acresce que existem zonas em que, sem sabermos bem porquê, pouco se viu em olhares passados. O termo do Cabo Espichel está neste caso. Inúmeros arqueólogos, sobretudo aprendizes, percorreram as arribas envolventes, encantados pela paisagem e ávidos de passado. Nós próprios o fizemos há décadas que neste momento já temos por longínquas, no âmbito das actividades do Grupo para o Estudo do Paleolítico Português (GEPP), então emergente e dirigido por Vítor Oliveira Jorge. Coleccionávamos “seixos afeiçoados”, recolhidos em echãs de antigas praias marinhas, que logo depois seriam objecto de registo na carta arqueológica do concelho de Sesimbra, dirigida por Eduardo da Cunha Serrão. Falávamos em “estilo micro-lusitânico” e ambicionávamos documentar cronologias vilafranquianas, mais pela análise de atributos, sujeitos a livre combinatória nos primeiros ordenadores, do que por referências a estratigrafias precisas, que aliás não estávamos em condições de procurar e talvez até de positivamente identificar.

Passou o tempo, passaram as décadas. Novas gerações de jovens, ou já hoje menos jovens, organizados em nova estrutura associativa, o Centro Português de Geo-História e PréHistória, regressaram repetidamente ao Cabo Espichel e ousaram dar os passos que nós não demos, entre os quais os da escavação arqueológica e da contextualização geológicas ou paleontológica. É destes passos que se dá conta nesta exposição. Não constituem o fim de nenhuma caminhada. Mas preenchem os mesmos imaginários, dão conta das mesmas motivações descomprometidas e generosas, que são apanágio dos jovens. O Museu Nacional de Arqueologia, casa-mãe da arqueologia portuguesa, abrigo inter-geracional, para o CPGP hoje como ontem para o GEPP, tem grande prazer em receber este novo “olhar sobre a Pré-História do Espichel”, na certeza que de outros se sucederão, numa corrente sem fim.

Luís Raposo

Director do Museu Nacional de Arqueologia

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esde 1998, que o Centro Português de Geo-História e PréHistória (CPGP) tem vindo a desenvolver investigações de paleontologia e de arqueologia na zona do Cabo Espichel. Estes trabalhos enquadram-se num dos principais objectivos aquando da fundação do CPGP : a investigação da Geo-História e da Pré-História em Portugal. No que diz respeito em particular à Pré-História, as investigações no Cabo Espichel têm sido um importante “pilar” da investigação feita pelo CPGP. Com estes trabalhos identificaram-se novos sítios arqueológicos e recolheram-se inúmeros vestígios da ocupação humana daquela zona. Durante estes 13 anos de investigações, o CPGP contou inicialmente com o apoio da C. M. de Sesimbra, com o mecenato, em 2008, da empresa TPF – Planege e, desde 2002, que tem tido o apoio do programa “ocupação de jovens nas férias” da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica. No entanto, nos últimos anos, para além do apoio da Ciência Viva, é o CPGP que tem suportado estes trabalhos, pois a investigação é um dos pontos fundamentais da política que norteou o CPGP, desde a sua fundação. Os trabalhos no Espichel têm contado com a participação de jovens estudantes do Ensino Secundário, enquadrados no programa da

Ciência Viva, atrás referido, alunos universitários e sócios do CPGP. É de realçar que já foram desenvolvidas duas teses de mestrado sobre estas investigações e, na actualidade, estão a ser desenvolvidas outras três, que abordam áreas diversas, como a arqueologia, os SIG´s, a ilustração científica e a geo-arqueologia, numa óptica da transdisciplinaridade, que sempre esteve presente neste projecto. A presente exposição propõe mostrar ao grande público estes trabalhos e os seus resultados, inserindo-se, desta forma, num outro grande objectivo do CPGP, a divulgação da Geo-História e da PréHistória, pois a ciência para se manter “viva” tem de comunicar com as pessoas.

Silvério Figueiredo

Presidente do CPGP

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O

programa da exposição “A Pré-História do Cabo Espichel” tem como objectivo principal apresentar os vários sítios arqueológicos identificados nesta zona, pelo Centro Português de Geo-História e Pré-História, numa óptica de divulgação científica e de valorização do Património. O projecto museológico adopta um discurso marcadamente didáctico, suportado pelo acervo do Centro Português de Geo-História e Pré-História e pelos elementos gráficos e audiovisuais produzidos para esta exposição. Para além da experiencia visual e auditiva, pretende-se criar igualmente uma experiência sensorial através do toque, de modo a dar também, ao visitante, uma dimensão material e de proximidade ao património arqueológico. O plano educativo pensado para esta exposição visa essencialmente atingir um leque diversificado de visitantes com um conjunto de actividades permanentes e outras pontuais. As actividades pensadas para um público escolar foram elaboradas tendo em linha de conta os programas curriculares das diferentes disciplinas; privilegia-se a

aprendizagem pela descoberta, dos quais se destacando-se as oficinas e os jogos didácticos. As actividades educativas pontuais estão essencialmente dirigidas para as famílias. Destacam-se as actividades “Andakatu vem ao Espichel” em parceria com Pedro Cura, do Museu de Mação, e “Das pedras às notas musicais”, em parceria com o projecto Novo Mundo em que os visitantes são convidados a participarem numa visita guiada que se transforma num concerto. Existe ainda um conjunto de iniciativas que contemplam a realização de um seminário, conferências e visitas de estudo guiadas ao Cabo Espichel. Estas iniciativas irão desenvolver-se ao longo do período da exposição.

Mário Nuno Antas

Vice-presidente do CPGP

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Introdução

Introduction

Os primeiros vestígios da ocupação do homem na zona do Espichel remontam ao Paleolítico. As várias estações arqueológicas identificadas atestam a presença de grupos de caçadores-recolectores, que deixaram alguns vestígios. A descoberta de algum material lítico atribuível ao Paleolítico atesta a ocupação humana nesta zona, desde tempos recuados. No Mesolítico, o homem ocupava sazonalmente as zonas costeiras, que continham alimento fácil, à base de moluscos. Existem alguns vestígios identificados de concheiros nesta zona, mas carecem ainda de confirmação por métodos de datação, da sua atribuição cronológica. As primeiras comunidades de agricultores e pastores do Neolítico também procuraram esta zona, o que não é de estranhar, devido à proximidade de outros importantes vestígios, tais como os dos Pinheirinhos e da Roça do Casal do Meio. Com a fixação permanente nesta área e o desenvolvimento da espiritualidade, o homem começa a conferir uma maior importância aos locais de enterramento dos seus antepassados. O Cabo Espichel, pela sua morfologia, pode ter sido utilizado como divisão entre a terra dos vivos e a terra dos mortos. Existem alguns vestígios de práticas funerárias a partir do VI / V milénio. Nas grutas situadas na vertente sul, entre Sesimbra e o Espichel, voltadas para o mar, surgiram vários artefactos funerários simbólicos. As cerâmicas da Lapa do Fumo e os vestígios osteológicos atestam esse universo espiritual. A nova realidade social e a forma de organização da sociedade surgida no Calcolítico levaram o homem a procurar zonas mais elevadas,

que poderiam providenciar uma melhor defesa natural. Os vestígios encontrados na zona do Outeiro Redondo e do Zambujal são bons exemplos das novas preocupações de uma sociedade marcada pelas lutas de poder e pela força das armas. A Idade do Ferro está relativamente bem documentada nas terras do Risco, mais para Oeste do Cabo Espichel, que se constituía como o maior povoado (sem fortificações) que se conhece desta altura. Avieno na Ora Maritima denominou o Cabo Espichel, como Cabo Cêmpsico, provavelmente por ser esse o nome do povo que ai habitava. Mais tarde, o geógrafo latino Estrabão, na sua obra Geographia 1 chamou a este local Promontorium Barbaricum. A presença romana no Cabo é diminuta. Este facto talvez seja explicado pela simbologia que os Romanos conferiam aos Cabos, uma vez que acreditavam que estes sítios seriam sagrados, onde os Deuses se reuniriam à noite. No entanto, existem alguns vestígios do culto imperial romano na Lapa do Bugio, situada no Zambujal, mais próxima de Sesimbra. Até ao momento não foram encontradas, no Cabo Espichel, evidências arqueológicas que comprovem a presença muçulmana, mas na toponímia local existem algumas marcas, como, por exemplo, o nome de Azóia, que deriva de Al Zawiya, que significa ermida. Foram também encontradas algumas moedas muçulmanas cunhadas em Silves, na Lapa do Fumo e algumas cerâmicas atribuídas a anacoretas, na Lapa do Forte do Cavalo e na Lapa do Coelho. 1 Livro III, dedicado à Ibéria

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Os Trabalhos Arqueológicos no Espichel As primeiras recolhas de materiais pré-históricos no Cabo Espichel foram conduzidas por Carlos Ribeiro, na segunda metade do século XIX. Encontrou aí artefactos nas “praias elevadas”, pleistocénicas, que se estendem desde o Forte da Baralha à Praia dos Lagosteiros e, mais a norte, até à Foz da Fonte. No início dos anos 40 do século XX, foram realizadas prospecções, conduzidas por H. Breuil e G. Zbyszewsky, entre a Boca do Chapim e Areias de Mastro, que incidiram essencialmente em jazidas de superfície, onde foram encontrados “coup de points”, núcleos, lascas, calhaus truncados, bem como instrumentos diversos de quartzo e quartzito. Nos anos 60 e 70, o Museu Municipal de Arqueologia de Sesimbra e o Grupo de Estudos do Paleolítico Português iniciaram novas campanhas de prospecções, descobrindo novas jazidas paleolíticas, publicadas na Carta Arqueológica de Sesimbra. Desde 1998, que o Centro Português de Geo-História e Pré-História tem desenvolvido nesta zona, um conjunto de trabalhos de investigação paleontológica e arqueológica. No que diz respeito especificamente à arqueologia, foi apresentado ao então Instituto Português de Arqueologia (IPA) um projecto no âmbito do Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos (PNTA), designado de “Investigação Arqueológica do Cabo Espichel”, e que foi aprovado em Outubro desse ano e teve a duração de quatro anos. Após a sua conclusão, foram realizados trabalhos esporádicos nas jazidas mais importantes, identificadas durante aquele projecto, de que o Alto da Fonte Nova é exemplo. Esses trabalhos permitiram aprofundar o conhecimento acerca do passado humano no Cabo Espichel. Durante os últimos treze anos de investigação 16

recuperou-se um importante conjunto de materiais arqueológicos, que documentam a presença humana naquela área geográfica, desde o Paleolítico. Dos trabalhos de campo realizados, resultou a identificação de novas jazidas e uma nova abordagem científica às referenciadas na bibliografia existente. Procurou-se, através da realização de trabalhos arqueológicos, obter o contexto estratigráfico das jazidas intervencionadas. A maioria das recolhas é de superfície e, com excepção das estruturas de combustão. Curiosamente, os materiais encontrados em escavação não se encontram in situ, mas distribuídos aleatoriamente, nas suas respectivas camadas de origem, devido a fenómenos secundários de sedimentação. Foram identificados, pela equipa do CPGP, doze novos sítios arqueológicos, alguns dos quais classificados como oficinas de talhe, onde as comunidades pré-históricas fabricavam utensílios e exploravam os recursos naturais. Destes achados destaca-se a descoberta de lareiras pré-históricas e de numerosos materiais líticos da Pré-História antiga e recente.

Fig. 1 – Jazidas pré-históricas do Cabo Espichel, conhecidas em 1998, altura do inicio dos trabalhos da equipa do CPGP (sobre a CMP, folha nº 464).

Introduction

The first collections of prehistoric artifacts in Cabo Espichel are thanks to by Carlos Ribeiro, in the second half of the XIXth century. In the beginning of the 40’s of the XXth century further investigations were carried out by H. Breuil and G. Zbyszewsky, who found “coup de points”, nuclei, flakes, knapped pebbles and several tools of quartz and quartzite. In the 60s and 70s, the Museu Municipal de Arqueologia de Sesimbra and the Grupo de Estudos do Paleolítico Português began new field survey campaigns, having discovered new Paleolithic deposits, published in Sesimbra Archaeological Chart. Since 1998 the Centro Português de Geo-História e Pré-História has developed paleontological and archaeological research. Specifically in archaeology, this research have accounted for a better understanding of the human past in Cabo Espichel. Throughout the last thirteen years of research an important set of archaeological materials was recovered; this set documents human presence in the geographical área since the Paleolythic. These field works resulted in the identification of new deposits a new scientific look towards those reffered in existant bibliography. Through the carrying out of archaeological research the statigraphic context of the deposits already intervened. Most collections are from the surface. Twelve new archaeological sites were identified by the CPGP team.

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English version

Enquadramento geográfico, geológico e paleontológico

Geographic environment,geological and paleontological

O Cabo Espichel tem formações geológicas atribuídas ao Jurássico e ao Cretácico (Mesozóico) e ao Neogénico (Cenozóico). Estas formações, constituídas por sequências sedimentares calcárias (predominantes), margosas e detríticas, afloram em arriba e, para norte, formam o flanco setentrional de um largo anticlinal, em que as inclinações dos estratos vão diminuindo gradualmente até quase à horizontalidade. Na zona do cabo, junto à praia da Foz da Fonte, as sequências sedimentares têm idade mesozóica (Jurássico Superior a Cretácico Inferior). A partir da Foz da Fonte, onde os estratos diminuem de altitude, encontram-se as formações do Miocénico. Em termos geomorfológicos, e incidindo nos depósitos pliopleistocénicos, a Serra da Arrábida e, em particular o Cabo Espichel, foram descritos em várias publicações. No Cabo Espichel podem distinguir-se uma aplanação culminante, aos 150-140m de altitude, e resultante de abrasão marinha pliocénica; uma superfície de aplanamento embutida, posicionando-se aos 80-100m; num plano inferior há terraços marinhos, que correspondem às variações do nível do mar, apresentando enchimento sedimentar. Situam-se, respectivamente, aos 60-50m, 15-12m e de 8-6m de altitude. Recentemente estudaram-se os dois níveis de cota mais baixa presentes na área do Forte da Baralha,

a, respectivamente, 10-11m e a 7m de altitude, que apresentaram datações de carbono 14 (C14), realizadas em conchas, obtendo-se uma idade de cerca de 36Ka antes do presente (BP), para o nível mais baixo, e cerca de 125Ka (BP) para o outro nível. A morfologia em escada de aplanamentos e terraços apresenta-se a diferentes altitudes consoante os locais, provavelmente, devido influenciado por movimentos tectónicos (investigação em curso). As estações arqueológicas identificadas no Cabo Espichel situam-se nos terraços marinhos do Pleistocénico, depósitos eólicos pleistoholocénicos e em aluviões. Estes terrenos são constituídos por areias, arenitos e alguns níveis de balastros marinhos. Os terraços são de génese marinha, por vezes registando sedimentação eólica ou fluvial.

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Fig. 2 – Esboço de reconstituição de um período de transgressão marinha (em cima) e de regressão (em baixo) (desenhos de Joana Bruno). 22

Nas arribas entre o Cabo Espichel e a Aldeia do Meco existem diversos fósseis de organismos que por ali viveram desde o Jurássico até ao Miocénico. Nas arribas localizadas por baixo do santuário, existem vários trilhos de dinossauros saurópodes, que atestam o comportamento gregário destes animais, datados do Jurássico Superior. Estes trilhos estiveram na origem da “lenda da Pedra da Mua”, responsável pelo culto mariano a Nossa Senhora do Cabo. Um pouco mais a norte, no topo das arribas da Praia de Lagosteiros, estão outros trilhos, mais recentes (Cretácico Inferior), atribuídos a dinossauros ornitópodes e a dinossauros terópodes. Desde a Praia de Lagosteiros até à Foz da Fonte existem diferentes formações também do Cretácico Inferior, com vestígios de invertebrados, de vegetais (lignito), de dinossauros, como o Megalosaurus, o Iguanodon o Baryonyx), de tartarugas, de peixes, de crocodilos e de outros répteis. As investigações que a equipa do CPGP tem vindo a desenvolver na Praia das Aguncheiras e na Boca do Chapim, permitiram descobrir novos restos destes vertebrados e de novos grupos agora ali encontrados, como é o caso de um fragmento de crânio do género Camptosaurus (um dinossauro) e de um dente de pterossauro (um réptil voador) (estudos em curso). Para Norte da Foz da Fonte, os terrenos são mais recentes (Miocénico) e possuem também restos fósseis de diversos organismos, tais como invertebrados, peixes, de que se destacam os dentes de tubarão (Megalodon), mamíferos marinhos e aves.

Fig. 3 - Tabela estratigráfica e principais acontecimentos da história da Terra. A azul, os períodos e as épocas que ocorrem na zona do Cabo Espichel (Cabo - Praia da Foz).

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Cf. Coelodus sp.

Invertebrata

Cf. Rosaria sp

Squamata (?)

Sauropoda (+)

Cf. Maniraptora (+)

Tetanurae (+)

Cf. Camptosaurus sp(+)

Ornithopoda (+)

Iguanodon

(+) Grupos extintos

Ornitischia (+) Dinosauria

Theropoda (+)

Arcosauria

Saurischia (+)

Megalosauridae (+)

Crocodylia

Ictiosaurus sp (+)

Sauropterígios

Neodiapsida Diapsida

Sauropsida (répteis)

Tetrapoda

Amniota

Anapsida

Testudinata

Teleostomi

Vertebrata Animallia

Fig. 4 - Principais grupos de vertebrados descobertos no Cabo Espichel.

Fig. 5 - Reconstituição do Camptosaurus (desenho de Wilson Balser).

Geographic environment, geological and paleontological

The Cabo Espichel shows geological formations attributed to the Jurassic, to the Cretaceous (Mesozoic) and to the Neogene (Cenozoic). This formations are mostly made of calcareous sedimentary sequences, marly and detrital, that outcrop in cliff. In geomorphological terms, in Cabo Espichel one can distinguish: applanation peak, at 150-140m of height, an embedded surface flattening, at 80-100m, and at an inferior level there are marine terraces, which correspond to the sea level variations. The morphology in stairs of flattenings and terraces occurs at different altitudes depending on the local. In the cliffs between Cabo Espichel and Aldeia do Meco there are several fossils of organisms that lived there from the Jurassic to the Miocene. On the cliffs below the sanctuary there are several trails of sauropod dinosaurs footprints, dating from the Upper Jurassic that led to the “legend of Pedra da Mua”. A bit further north, on the top of the cliffs of Praia de Lagosteiros, other more recent (Lower Cretaceous) trails also exist, attributed to ornithopods and theropods. From Praia de Lagosteiros to Foz da Fonte different formations also exist, dated from the Lower Cretaceous, with remains of invertebrates, of vegetation (lignite), of dinosaurs (Megalosaurus, Iguanodon, Camptosaurus), of turtles, of fish, crocodiles and other reptiles. To the north of Foz da Fonte lands are more recent (Miocene) and also hold fossils of several organisms, such as invertebrates, fish – among them shark teeth (Megalodon), sea mammals and birds.

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English version

A Pré-História do Espichel

The Prehistory of Espichel

Contextualização arqueológica No Espichel existiram condições naturais propícias à fixação das primeiras comunidades humanas, confirmadas pelos dados geológicos, malacológicos (do concheiro identificado na Ribeira do Chapim) e palinológicos, que permitiram contextualizar estas ocupações humanas com as condições naturais da zona; essas populações viveram da recolecção de marisco, da pesca e da caça de pequenos animais. Assim, na zona do cabo Espichel estão identificadas várias jazidas que abraçam todos os períodos da Pré-História, desde o Paleolítico Inferior ao Neolítico.

Da análise destas jazidas verificou-se que o quartzo leitoso (principalmente seixos rolados de quartzo recolhidos em cascalheiras de antigos rios do Cretácico, que actualmente afloram em algumas zonas do Espichel) é a matéria-prima mais utilizada, em especial nas jazidas situadas a norte do Cabo Espichel. O quartzito representa a segunda matéria-prima mais utilizada, aparecendo, por fim, o sílex e, mais raramente, a calcedónia.

Fig. 6 – Enquadramento das jazidas pré-históricas do Cabo Espichel na cronologia arqueológica.

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Descrição das estações

A.M. Cha 99 - 3A -1

Fig. 7 – Desenho de um núcleo levallois de quartzito.

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5 Cm

Areias de Mastro: Estação arqueológica de superfície, situada a 64m de altitude, com utensílios sobre lasca, núcleos, lascas, esquírolas e restos de talhe. Estes materiais foram atribuídos ao Paleolítico Inferior e Médio e à Pré-História indeterminada. Nos trabalhos efectuados foram recolhidos 67 materiais arqueológicos.

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Ribeira dos Caixieiros: Estação arqueológica de superfície, onde foram recuperados vários materiais atribuíveis ao Paleolítico Médio. Neste local, a 67m de altitude, dominam grandes lascas e alguns núcleos de quartzito. Nas prospecções recolheu-se cerca de meia centena de artefactos líticos: 11 lascas; 14 fragmentos identificáveis; 15 esquírolas; 5 utensílios e 7 núcleos.

Boca do Chapim (Norte): estação arqueológica de superfície, atribuída à Pré-História Recente. Situa-se a uma altitude entre os 55 e os 64 metros. Este local forneceu um conjunto artefactual constituído, maioritariamente, por restos de talhe, em que abunda o quartzo, o que demonstra uma aptidão para o aproveitamento da matéria-prima local, nomeadamente o quartzo leitoso proveniente de cascalheiras de antigos cursos de água cretácicos, que afloram em algumas zonas do Espichel. Foram também encontrados existam artefactos de quartzito e sílex. Esta foi uma das jazidas mais intervencionadas, onde se realizaram várias campanhas de prospecções e de sondagens em três zonas da área da estação arqueológica. Nestes trabalhos recolheram-se algumas centenas de peças arqueológicas e identificou-se o nível estratigráfico de proveniência desses materiais: a camada superficial das areias da zona superior da estação, com uma espessura de cerca de 1m. Foram recolhidos vários tipos de materiais líticos talhados: fragmentos, lascas, núcleos, esquírolas, e utensílios (buris, raspadores, furadores, lascas retocadas).

Fig. 8 – Panorâmica geral do sítio arqueológico da Boca do Chapim (Norte) (Fotografia: Silvério Figueiredo)

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Boca do Chapim (Sul): Esta jazida, com uma classificação cronológica-cultural atribuída ao Mesolítico e, provavelmente, ao Neolítico, apresenta uma concentração de artefactos à superfície, numa zona mais baixa, perto da arriba. Estes materiais resultam da erosão de depósitos arenosos, situados imediatamente acima, a uma altitude entre 54 e 60 metros. O conjunto de artefactos é constituído, maioritariamente por lascas, núcleos e fragmentos. Foram encontrados poucos utensílios, de onde se destaca uma ponta de seta de retoque convergente, em quartzo leitoso.

Fig. 9 – Panorâmica geral do sítio arqueológico da Boca do Chapim (Sul). (Fotografia de S. Figueiredo) 32

Fig. 10 – Perfil da estratigrafia (Desenho de Mário Santos)

Ribeira da Fonte Nova: No ano de 2009 foram identificadas, nos cortes desta ribeira, três estruturas de combustão: duas neolíticas, em camadas sedimentares arenosas, a cerca de 45m de altitude, idênticas às do sítio do Alto da Fonte Nova, e uma paleolítica, encontrada numa outra zona e numa camada inferior, mais argilosa. As neolíticas são estruturas em cova, enquanto a paleolítica é uma estrutura redonda delimitada por seixos de quartzo e quartzito.

Fig. 11 – Uma das lareiras holocénicas identificadas na Ribeira da Fonte Nova (fotografia de S. Figueiredo).

Ribeira do Chapim: Nesta jazida foram encontrados alguns materiais talhados pré-históricos, constituídos por lascas e núcleos em quartzo e quartzito. Na foz desta ribeira, na margem norte, foi descoberto um pequeno concheiro, sem a presença de artefactos. Devido à grande concentração de conchas e pela sua localização (a cerca de 10m de altitude e em sedimentos arenosos), esta acumulação de conchas parece ser de origem antrópica.

2cm

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2cm

Chã dos Navegantes: Nesta zona foram encontrados vários materiais líticos talhados, espalhados por vários terraços, entre os 30 e os 70 metros de altitude, e constituídos por lascas, núcleos e seixos talhados, alguns deles com poucos levantamentos. A maioria dos artefactos apresenta-se muito rolada. Tipologicamente, estes materiais sugerem o Paleolítico. As matérias-primas são o quartzo leitoso e o quartzito, sendo este último dominante.

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Fig. 12 – À esquerda: lascas de quartzito; à direita: um seixo talhado, também em quartzito, provenientes das prospecções realizadas na Chã dos Navegantes. (desenhos de Ana Catarina Ferreira).

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Forte da Baralha: Nesta jazida foram encontrados poucos materiais, nomeadamente alguns fragmentos, lascas, núcleos e poucos utensílios. A matéria-prima dominante é o quartzo, mas também foram encontrados alguns artefactos de quartzito e de sílex a uma altitude de cerca de 100m. Dos artefactos encontrados destaca-se a descoberta de uma lasca final de tipologia levallois, em sílex, o que aponta para uma cronologia do Paleolítico Médio. Porto da Baleeira: Neste sítio, já identificado em trabalhos anteriores, foram feitos poucos trabalhos pela equipa do CPGP. Talvez por essa razão apenas se encontraram alguns achados avulsos de material lítico, talhado em quartzo e quartzito (fragmentos, lascas e núcleos), de PréHistória indeterminada, a cerca de 30m de altitude. Alto da Fonte Nova: De todos os sítios, este foi o mais intervencionado e estudado e alvo de várias intervenções de campo desde 1998. Localiza-se nas proximidades das arribas com estratos do Cretácico, a 50m de altitude, entre duas linhas de água de regime torrencial: a Ribeira da Fonte Nova, a Sul e a Ribeira do Chapim, a Norte. As intervenções arqueológicas, sondagens de diagnóstico (12m²), permitiram identificar um nível arqueológico (camada A1 e A2) nas areias eólicas de cobertura, bem como uma estrutura habitacional – uma lareira. A estrutura de combustão caracteriza-se por uma depressão em fossa, aberta nas areias, com cerca de 60cm de profundidade e 1,30m de largura, não apresentando qualquer tipo de revestimento ou empedrados, estando apenas presentes no depósito carvões e artefactos líticos.

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Contextos e evidências arqueológicas, análise tecnológica e funcionalidade do Alto da Fonte Nova

A indústria lítica é apenas constituída por pedra lascada, elaborada principalmente em quartzo leitoso local (71%), sob a forma de pequenos seixos (facto que pode explicar a raridade de elementos macrolíticos),sílex (23%), de tonalidades acinzentadas, provavelmente, recolhido nas proximidades, e quartzito (6%). As cadeias operatórias, no quartzo e no sílex demonstraram um talhe local, visando a produção de lascas e também de lamelas. Os utensílios retocados sobre lasca, de pequenas dimensões (≤ 30mm), apresentam, na esmagadora maioria, retoques marginais/traços de uso, estando presentes, embora em menor escala, buris, furadores, denticulados e raspadores. O único elemento com retoque abrupto nos produtos alongados proveio da superfície: uma lamela de bordo abatido em quartzo. A cerâmica manual, embora presente à superfície, não foi detectada em estratigrafia. Trata-se, no entanto, de um pequeno fragmento com uma cozedura redutora, pasta grosseira com elementos não plásticos em quartzo, sem decoração. Funcionalmente, o carácter expedito da indústria lítica (quartzo de má fractura concoidal), a baixa percentagem de matérias-primas alógenas e a ausência, até ao momento, de elementos faunísticos sugerem um modelo económico sazonal e de curta duração. Do ponto de vista cronológico, o domínio de produtos leptolíticos, com larguras menores ou iguais a 12mm, a identificação da técnica de talhe por pressão nas lamelas, a reduzida dimensão dos eixos morfológicos dos utensílios, bem como a implantação do sítio

nas proximidades de recursos marinhos, sugerem a hipótese do estabelecimento de um grupo do Neolítico Antigo. A hipótese de um grupo já neolítico, evidenciado através da estratigrafia, paleotecnologia lítica e do modelo de povoamento característico destas sociedades, relaciona-se, como se verá, seguidamente, com a análise palinológica, pois foram identificados pólenes de cereais nas amostras retiradas do nível de ocupação humana, evidenciando que a agricultura podia ser uma prática já em uso e contemporânea do grupo humano que terá frequentado o local em análise, embora não a possamos relacionar directamente (faltam factos materiais).

Fig. 13 - Perfil estratigráfico (Sul) do nível arqueológico detectado na camada A2 no Alto da Fonte Nova (desenho de J. Carvalho).

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5cm

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5cm

Fig. 14 – À esquerda: núcleos em quartzo leitoso, verificando-se, em cima, levantamentos bifaciais para lascas e, em baixo, um esboço de núcleo (camada A2, 2008). À direita: produtos alongados, em sílex, detectados nas sondagens efectuadas no Alto da Fonte Nova (desenhos de J. Carvalho).

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Contexto Paleoecológico A evolução morfológica do Espichel foi marcada pelo eustatismo. Foi nos períodos de transgressão, originados pelo aquecimento nos interestádios glaciários, que se formaram os terraços marinhos/ praias elevadas, que contêm vestígios de ocupação humana, quer em superfície, quer em estratigrafia. Registos sedimentares de períodos frios também estão representados no Cabo Espichel, nomeadamente, areias eólicas do provável Pleistocénico final. No corte em Areias de Mastro, onde aparece um nível estratigráfico de cor escura, foi realizado um estudo paleopalinológico a três amostras sedimentares (uma na base, outra a meio do nível e a restante na camada sobre esse nível). A metodologia de análise palinológica aplicada foi a mesma que a empregue nas amostras provenientes do sítio arqueológico do Alto da Fonte Nova (ver mais à frente). Os resultados das amostras do sítio Areias de Mastro foram escassos, permitindo, no entanto, concluir que o entorno do sítio de Areias de Mastro, aquando da formação daquele nível, poderia ser constituído por prados, tendo em conta a presença de algumas gramíneas silvestres (poáceas) e outras herbáceas, mas o valor desta presença não permite uma reconstituição paleoecológica mais aprofundada.

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Fig. 15 – Corte esquemático da estratigrafia em Areias de Mastro, com a identificação do nível cinzento contendo palinomorfos (desenho de S. Figueiredo).

O concheiro Como foi referido, na foz da Ribeira do Chapim foi identificado um concheiro, onde foi identificada uma associação de invertebrados subfósseis constituído por nove espécies aquáticas, das quais duas de moluscos bivalves, seis moluscos gastrópodes e um crustáceo cirrípede. Não obstante a diversidade deste conjunto ser moderada, é-nos possível tecer as seguintes considerações de ordem ecológica e paleoambiental: (a) A ocorrência de Thais haemastoma sugere uma idade tardia para o concheiro, claramente pós-glaciar e compatível com o Mesolítico, Neolítico Antigo, ou mesmo posterior. Com efeito, a biogeografia actual desta espécie é anfiatlântica e mediterrânica, em águas temperadas/ quentes e litorais rochosos e pouco profundos. Ocorre, presentemente, nos Açores, Madeira e Costa Ocidental de África. A Costa Vicentina parece constituir, presentemente, o seu limite norte de distribuição em águas europeias. A partir daí a dispersão larvar será ocasional, pelo que é possível que possam vir a ser encontrados indivíduos no litoral da Arrábida-Espichel e do Cabo Raso – Cabo da Roca. Nesta última área e em contextos ligados a depósitos assentes sobre a plataforma de abrasão, por vezes com materiais líticos, já pudemos observar também fragmentos de conchas desta espécie, sugerindo que a sua migração para norte, em função do aquecimento pós-glaciar das águas superficiais, terá atingido a barreira do Cabo da Roca. (b) A presença de Cerastoderma edule, molusco bivalve bastante comum em concheiros portugueses, aponta para recolecção em área lagunar/estuarina, com fundos areno-lodosos, salinidade variável e fraca coluna de água. Este tipo de meio, hoje bem representado pelo

ecossistema da Lagoa de Albufeira, poderá ter estado mais representado a Norte do Espichel, há vários milénios atrás, nomeadamente em ligação com a actual Ribeira das Lajes. (c) As restantes espécies identificadas são bastante comuns na actual costa portuguesa (Nobre, 1941), sendo que se associam vulgarmente a substratos rochosos do andar litoral ou parte superior do andar infralitoral. Desta forma, são facilmente acessíveis durante os ciclos de maré, facto que permite a sua recolha intensiva, embora com recurso a utensílios no caso das lapas (Patella). Os hábitos de recolecção destas espécies de moluscos (mexilhão, berbigão, lapa, burrié, búzio) e de crustáceos (perceve) são muito antigos na pré-história portuguesa e europeia, onde aparentam recuar, pelo menos até ao Paleolítico Médio. Na vizinha Arrábida, encontram-se bem documentados no espólio malacológico da Gruta da Figueira Brava. É também interessante notar que a colheita para fins alimentares era, muitas vezes, acompanhada pela recolha de conchas para posterior utilização como adornos ou utensílios. Deve ser encarada, desta forma, como uma estratégia de subsistência com carácter ocasional a moderadamente intensivo, complementar às actividades de caça e pesca, efectuadas por grupos ou pequenas comunidades locais ou sazonais. Não obstante, o litoral do Cabo Espichel estaria, à época, praticamente intocável do ponto de vista da sua biomassa, pelo que a grande abundância de moluscos e de crustáceos, facilmente acessíveis durante a baixa-mar, terá constituído um argumento muito favorável à fixação humana, mesmo que com carácter estival.

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Fig. 16 - Alguns exemplares da fauna malacológica do concheiro da Foz da Ribeira do Chapim: 1 – Thais haemastoma; 2 e 3 – Pattela intermedia; 4 - Patella ulissiponensis; 5 – Monodonta lineata

Estudo palinológico do Alto da Fonte Nova Foi realizado um estudo paleopalinológico em cinco amostras sedimentares recolhidas num dos perfis da escavação no Alto da Fonte Nova, em 2008, tendo-se recolhido amostras com um intervalo estratigráfico de cerca de 10cm. As amostras foram submetidas a um processo de tratamento químico, para que fosse possível isolar o resíduo polínico, tendo-se obtido dois tipos de resultados, um estritamente polínico e outro que faz referência aos palinomorfos não polínicos. Este estudo permitiu obter alguns dados acerca da vegetação da zona do Espichel, aquando da formação da camada sedimentar analisada. As árvores presentes na paisagem vegetal eram o carrasco (Quercus coccifera), a azinnheira (Quercus ilex) Quercus caducifólios e o pinheiro (Pinus). No que toca a táxones arbustivos encontravam-se as Erica spp. e as cistáceas, enquanto entre as herbáceas se contavam as gramíneas silvestres (poáceas), gramíneas cultivadas (tipo Cerealia), asteráceas de tipo tubuliflora e liguliflora (margaridas, dente-de-leão), Plantago (tanchagens) e apiáceas (funcho). No caso do Alto da Fonte Nova, os escassos resultados polínicos que dispomos indicam que os arredores do Alto da Fonte Nova podiam ser constituídos por prados, tendo em conta a presença de gramíneas silvestres (poáceas), talvez campos de cultivo e pastoreio, justificando assim a presença de pólenes de cereais. Ai encontravam-se também outras espécies, tais como as asteráceas (tubulifloras e ligulifloras), os plantagos e as esporas monoletes e triletes, matagal, tendo por base a presença do carrasco (Quercus coccifera) da azinheira (Quercus ilex) e

das ericáceas e bosques, onde então estariam os Quercus caducifólios e os pinheiros (Pinus). Estes táxones termófilos presentes nestas amostras também podem levar a pensar que poderíamos estar perante um clima temperado. Relativamente aos palinomorfos não polínicos presentes neste estudo, o mais representativo é o grupo Fungi, o que é indicativo de matéria orgânica em decomposição, e que estão também relacionados com carvões, o que vai ao encontro da existência da estrutura de combustão presente neste sítio arqueológico. Estes também se relacionam com condições de humidade, da qual necessitam para poderem proliferar, tal como os restos de algas que estão presentes em todas as amostras do Alto da Fonte Nova. Pode afirmar-se o mesmo com respeito aos zoorestos, os animais, essencialmente insectos, existentes pela presença de resíduos de matéria orgânica dos quais se alimentam e não apenas pela humidade. Nas duas amostras mais superficiais, identificou-se um palinomorfo não polínico indefinido, a Pseudoschizaea, este está relacionado com fases de erosão e de deposição rápida de sedimento. No caso do Alto da Fonte Nova, estaríamos perante uma deposição rápida, atendendo ao facto de serem estas duas amostras as mais ricas em termos polínicos e palinomorfos não polínicos, pois possibilitou que estes tivessem melhores condições de conservação. As análises polínicas de sedimentos arqueológicos têm limitações, derivadas de vários factores. No caso das estações arqueológicas ou sítios ao ar livre, como sucede com os sítios presentes neste estudo, os pólenes e esporos encontram-se expostos à oxidação e à acção microbiológica, que implica um menor grau de conservação.

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Devido a este facto, pode-se explicar a pobreza das amostras aqui estudadas e os resultados não suficientes para que se possa fazer uma reconstituição paleoambiental fiável.

Fig. 17 – Jazidas Pré-Históricas do Cabo Espichel, identificadas em 2007, após 9 anos de trabalhos da equipa do CPGP (sobre a CMP, folha nº 464), in Figueiredo & Carvalho, 2007. 40

The Prehistory of Espichel

The archaeological research carried out by the CPGP at Cabo Espichel include field work (surveys and samplings), laboratory (palynology, malacology and sedimentology) and office work. At Espichel there were natural conditions favorable to the establishment of the earliest human communities, as confirmed by geological data, as well as malacological (shell mound identified at Ribeira do Chapim) and palynological, that allowed to contextualize these human occupations. These populations lived from the gathering shellfish, fishing and hunting small animals. Artifacts were studied that can be assigned to the Lower Paleolithic until recent Prehistory. From the analysis of the deposits, it could be asserted that milky quartz (mainly pebbles from Cretaceous formations) is the most commonly used raw material used in knapping processes and formatting of artifacts, particularly in the deposits to the north of Cabo Espichel. Quartzite is the second most used raw material, and only then flint and, more seldom, chalcedony. For a better frame of the deposits, two areas are defined, one to the north of the cape, the west coast, the other being the south coast, to the east of the cape. Here we will refer some 20 archaeological sites, of which twelve new.

English version

West coast Areias de Mastro: Archaeological surface site, where flake tools, nuclei, flakes, splinters and debris are to be found. These materials were assigned to the Lower and Middle Paleolithic and also to undetermined Prehistory. Baía de Aguncheiras: From this deposit, where only a few surveys were carried out, several loose findings were collected, assigned to the Middle Paleolithic. The technological and typological categories identified are manly flakes and splinters. Flake tools were also found, among them a Mousterian point. Ribeira dos Caixieiros: Archaeological surface sitefrom which several materials assigned to the Middle paleolithic were recovered. Here great flakes and quartzite nuclei are the mostly found. Boca do Chapim (Norte): Archaeological surface site assigned to recent Prehistory. The artifactual set consists mainly of debris, which show up at surface level. Boca do Chapim (Sul): This deposit, assigned to the Mesolithic and probably Neolithic, presents a concentration of artifacts at surface level. This set consists mainly of flakes, nuclei and fragments. Few tools were found, among which na arrow head with convergent retouch, of milky quartz.

Ribeira da Fonte Nova: Three combustion structures were identified, two neolithical, in sedimentary sandy layers identical to those on the site of Alto da Fonte Nova, and one paleolithical, found in another zone in a lower layer, more clayish. The neolithic ones are pit structures, whereas the paleolithic one is a round structure, limited by quartz and quartzite pebbles.

Alto da Fonte Nova: This has been the most intervened site since 1998. The archaeological interventions, diagnostic polls, allowed the identification an archaeological level in the eolic coverage sands, as well as an habitational structure: a fireplace. Lithic industry is mainly flintstone, mostly local milky quartz (71%), flint (23%) and quartzite (6%). From the analysis of the lithic material found and because of the absence – until now – of faunistic elements a short-term seasonal economic modal can be suggested, for a neolithic human group.

Ribeira do Chapim: Several knapped prehistoric materials were found in this deposit, mainly of flake, nuclei in quartz and quartzite. At the mouth of this stream, in the north bank, a shell mound was found, without artifacts.

Terras do Areeiro: Archaeological recent prehistoric site with much surface lithic industry, mostly splinters, fragments, flakes, nuclei, tools, bladelets. The main raw material is milky quartz for knapping processes.

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Cabo Espichel: Loose findings, among them a scrapper, a sidescrapper, flakes and a plunger. Every material is made of quartzite. Praia dos Lagosteiros: Archaeological surface deposit assigned to the Lower and Middle Paleolithic where several materials were collected. South coast On the south coast only surveys have been carried out, in the six sites previously identified. Chã dos Navegantes: Several knapped lithic materials were found: flakes, nuclei and pebbles. Most artifacts are very polished. Tipologically they suggest the Paleolithic. Raw materials are milky quartz and quartzite, mostly this last one. Forte da Baralha: Few materials were found here: some fragments, flakes, nuclei and a few tools. Predominant raw material is the quartz, but there were also found some flint and quartzite artifacts. A flake of levallois typology ought to be noted, for it points out to Middle Paleolithic. Porto da Baleeira: Few works were carried out by the CPGP team. Maybe that is the reason why so few loose lithic artifacts of quartz and quartzite were found: fragments, flakes and nuclei of undetermined Prehistory.

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Espichel Mítico

Mythical Espichel

Fig. 18 -Panorâmica da vertente Norte do Cabo numa manhã de verão, onde o nevoeiro aparece e contribuí para a construção da auréloa mística do Cabo. (Fotografia de José L. de Guimarães).

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O planalto do Cabo Espichel exerceu desde sempre grande atracção no imaginário das populações. Talvez por ser marcado pela erosão e a vegetação escassa composta por carrasco, tojo e esteva. Este ambiente desolador atinge a sua máxima expressão nas proximidades do Cabo, tal como descreve Orlando Ribeiro: “ Muito antes que a vista dê a noção de promontórios, vai-se fazendo sentir o isolamento finis-terra. O ar carrega-se de humidade; no solo, varrido pelos ventos impetuosos, a vegetação rareia e faz-se em tufos esparsos cosidos com o chão. As marcas da ocupação tornam-se mais ténues e raras, como se esta se degradasse antes de atingir os limites impostos pela natureza; casais isolados povoações muito rústicas, leiras cultivadas entre muros de pedra solta (...) Mulheres de campónios – pescadores das proximidades do cabo Espichel, à soleira das pobres casas de pedra solta, disseram numa grande tristeza, que ali era um dos cabos do mundo.”

No imaginário colectivo existem várias lendas associadas ao Cabo Espichel. Um delas relacionada o Cabo com primórdios da nacionalidade, assumindo claramente uma vertente “política” de justificação dos feitos gloriosos do jovem reino. De acordo coma lenda, supostamente, no dia 29 de Julho de 1180, ao largo do Cabo Espichel terá ocorrido um confronto naval que opôs a armada portuguesa comandada por Dom Fuas Roupinho à armada árabe liderada por Bem Jami. Dom Fuas Roupinho terá conseguido a primeira vitória naval do recém criado reino de Portugal.

As lendas relacionadas com culto de Nossa Senhora da Cabo têm várias versões, algumas delas mesmo contraditórias, pelo que situar cronologicamente o culto no tempo, acaba por ser complicado. É possível que o culto a Nossa Senhora do Cabo resulte de uma cristianização de outros cultos anteriores, que desde a pré-história até ao domínio muçulmano tinham sacralizado local. Tal como foi anteriormente mencionado a presença de anacoretas mouros e as antigas peregrinações ao túmulo de um homem santo, podem estar na génese deste culto cristão. O Cabo é sem dúvida alguma um lugar místico de sacralização continuada.

O culto a Nossa Senhora do Cabo é certamente medieval, provavelmente do século XIII, mas a primeira fonte histórica escrita sobre este culto data do século XIV, mais propriamente de 1366 e trata-se de uma carta régia de D. Pedro I. Outra lenda medieval sobre o cabo conta que em 1215 uma embarcação que seguia em direcção a Lisboa, foi apanhada numa grande tempestade que levou a tripulação ao desespero. O capelão da embarcação de seu nome Haildebrat decidiu rezar a uma imagem que tinha no camarote quando verificou que mesma tinha desaparecido.

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Desesperado pede ajuda divina e de repente toda a tripulação vê no alto do Cabo uma luz tendo a tempestade amainado. Depois de terem alcançado terra decidiram investigar a proveniência da luz que tinham interpretado como um sinal divino. Quando chegam ao local espantam-se ao ver nesse local a imagem desaparecida do barco. Deram graças ao Senhor e à Virgem pelo milagre. Haildebrant e D. Bartolomeu o fidalgo que seguia também na nau com ajuda de esmolas e autorização do Bispo de Lisboa, decidiram erguem nesse local uma ermida onde passam o resto dos seus dias em solidão. As fontes históricas relatam ainda outras variantes da origem da lenda de Nossa Senhora do Cabo. Uma lenda, descrita por Frei Agostinho de Santa Maria no seu “Santuário Mariano” (17, Tomo II, p. 474) do início do século XVIII, refere que a descoberta da imagem foi feita por homens da Caparica que iam a este local cortar lenha. Já no século XIX, Frei Cláudio da Conceição na “Memória da Prodigiosa Imagem de Nossa Senhora do Cabo”, atribuí a descoberta da imagem a um velho de Alcabideche e a uma velha da Caparica, localidades que acabam por representar a margem Norte e Sul do Tejo, onde o culto virá a adquirir forte expressão popular. Esta lenda acaba por ser a mais conhecida e referida em várias publicações sobre o Cabo Espichel. De acordo com esta lenda o culto de Nossa Senhora do Cabo remonta a cerca de 1410, ano em que terá sido descoberta a venerada imagem de Nossa Senhora do Cabo. Segundo a lenda, um velho de Alcabideche observou, em noites sucessivas, uma luz misteriosa sobre o cabo. Pediu à virgem que lhe explicasse tais visões. Em sonhos, Nossa Senhora disselhe para se dirigir ao Espichel, onde encontraria uma imagem Sua. No caminho para o Cabo, encontrou uma velha do lugar da Caparica, 46

Fig. 19 - Painel da Ermida da Memória no Cabo Espichel, representando a lenda da Pedra da Mua. Pode ler-se na legenda segurada pelos dois anjos, na parte debaixo do painel: «Chegando aeste sitio vem com admiraçaõ N. Sra. pela Rocha» (Chegando a este sítio vêem, com admiração, Nossa Senhora pela rocha) (Fotografia do S. Figueiredo).

que teve a mesma visão. Chegados ao destino, viram Nossa Senhora a sair do mar, subindo a falésia da Pedra da Mua, na praia dos Lagosteiros, montada sobre uma mula ou “jumentinha”, cujas pegadas, assinaladas pelos crentes, eram efectivamente marcais deixadas por patas, mas de dinossauros. A lenda da Pedra Mua, na origem da fundação do Santuário da Senhora do Cabo, revela um interessante caso de recuperação, pela religiosidade da gente do povo, de um fenómeno natural, estranho à cultura popular, os trilhos de pegadas de dinossauros, que estão na origem num culto cristão. A Ermida da Memória, construída provavelmente no século XV, era o local por excelência onde começaram a realizar-se grandes romarias para ver a imagem de Nossa Senhora do Cabo. Estas peregrinações populares iniciadas em 1430, são conhecidas como os famosos círios da Sra. do Cabo. Eram organizadas por peregrinos de 30 freguesias da região saloia e depois reduzidas a 262 , no início do século XVIII, por terem saído 4 freguesias3 . A Ermida tornou-se pequena para acolher os peregrinos. Como eram, 2 S. Vicente de Alcabideche, S. Romão de Carnaxide, S. Julião do Tojal, S. Pedro de Penaferrim, Nª Srª da Misericórdia de Belas, Stª Maria de Lourdes, S. Lourenço de Carnide, S. Pedro de Barcarena, S. Pedro de Lousa, Stº Antão do Tojal, Nª Srª da Purificação de Oeiras, Nª Srª do Amparo de Benfica, S. Domingos de Rana, S. João das Lampas, Nª Srª da Purificação de Montelavar, Nª Srª de Belém de Rio de Mouro, Nª Srª da Ajuda de Belém, Ascensão e Ressurreição de Cascais, Santíssimo Nome de Jesus de Odivelas, S. Martinho de Sintra, S. Pedro de Almargem do Bispo, Stº Estêvão das Galés, Nª Srª da Conceição da Igreja Nova, S. João Degolado da Terrugem, S. Saturnino de Fanhões, Stª Maria e S. Miguel de Sintra. 3 Nossa Senhora da Purificação de Bucelas em 1709, São Silvestre de Unhos em 1711, São Lourenço do Arranhol em 1716 e Santo André de Mafra em 1722.

inicialmente, 30 as freguesias, só de 30 em 30 anos cabia a cada uma a “sua festa”, e a organização das festividades e do culto. Antes da construção da actual igreja (1707), as casas para os romeiros disponham-se em torno do primitivo templo (datado de finais do séc. XV). O grande interesse dos saloios das 30 freguesias dos arredores de Lisboa, que acorriam às romarias, trazendo um círio – daí o nome de “Círio dos Saloios”, veio a contribuir para a edificação deste conjunto arquitectónico, composto de hospedarias, casa dos círios, aqueduto e casa de fresco, construído no séc. XVIII, de tipologia maneirista e barroca, concebido para acolher os romeiros satisfazendo as necessidades exigidas. A maioria dos peregrinos pertencia ao povo, e ergueram pouco a pouco com o auxílio de alguns donativos importantes, os diversos edifícios que ainda hoje constituem o santuário. Após a conclusão do templo, foram acrescentados os dois extensos corpos laterais, ficando assim delimitado um vasto terreiro, em forma de U, aberto a nascente e denominado o “arraial”.

Será o rei D. Pedro II, devoto de Nossa Senhora do Cabo, a mandar edificar a actual igreja barroca de Nossa Senhora do Cabo através da Casa do Infantado, de que era senhor seu irmão o Infante D. Francisco, e à qual então pertencia a propriedade. O projecto foi iniciado em 1701, com direcção do arquitecto real João Antunes; em 1707, a imagem primitiva de Nossa Senhora - que desde sempre se conservara na Ermida da Memória - foi daí transferida para o novo templo.

Ao longo do século XVIII, o planalto do Espichel altera-se com sucessivos programas de ampliação e redecoração da Igreja de Nossa Senhora do Cabo.

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Já no reinado de D. José I é construído um aqueduto no Cabo Espichel ligando a localidade vizinha da Azóia ao promontório, uma Casa da Água de desenho palaciano e de uma horta murada, para abastecimento exclusivo dos peregrinos e outros edifícios de apoio, tais como um Teatro de Ópera. O Espichel tornava-se ainda mais místico, pois a cenografia barroca tornava o local ainda mais visível à distância. O esplendor máximo foi atingido em dois momentos: - No ano de 1770, em que se realizaram no Espichel monumentais celebrações, a que assistiram a família real e toda a grande nobreza do reino. - Em 1784 com a deslocação da Rainha a D. Maria I ao santuário. As festas da Sra. do Cabo, tendo tido grande participação das gentes da região lisboeta, foram famosas até finais do séc. XIX, altura em que entraram em decadência. Desde 1887, que a Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Cabo passou a ser entregue directamente entre as freguesias. Terminava assim, a tradição de as freguesias se deslocarem em peregrinação anual ao Cabo Espichel, atravessando o rio Tejo entre Belém e Porto Brandão, e daí seguindo pelas praias ou por terra até ao santuário, onde decorriam as cerimónias de entrega ou recepção da Imagem Peregrina. Outra romaria, que mobilizava, no início do séc. XX, quase toda a população da antiga aldeia piscatória da Costa de Caparica, deixou de se realizar em 1950. Os círios saíam da mais antiga igreja da Costa de Caparica, acompanhada por marchas tocadas pela Banda dos Pescadores. Actualmente, realiza-se uma festa anual, no último 48

domingo de Setembro, frequentada principalmente pela comunidade dos pescadores de Sesimbra, os seus últimos devotos. Com as transformações sociais e mudanças de mentalidade do nosso século as festas de religiosidade popular parecem ter perdido o fulgor de outros tempos. No entanto o Espichel numa relação peculiar entre o espaço sagrado e profano que faz perdurar a sua auréola mística.

Neste território agreste e marcado pelo vento, releva-se um Património rico e diverso, que testemunha deste tempos imemoriais a ocupação humana deste local.

Fig. 20- Panorâmica geral do Santuário de Nossa Senhora do Cabo (Fotografia José L. Guimarães).

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English version

Mythical Espichel Cabo Espichel’s Plateau has captivated the populations minds for centuries. Several legend dating from the Middle Ages are known, among them the Legend of “Pedra da Mua”, which refers that Our Lady was transported by a little female donkey, from the sea below up to the top of the cape’s cliff, through what is known as “Pedra da Mua”. It is one of those cases where icnofossil records (dinosaur footprints) found an explanation in popular traditions, trying to express their faith. An hermitage was even built in the XVth century, which soon became too small to accommodate every pilgrim who came to worship the image. Annual pilgrimages were carried out building up for the formal cult of the Cape imagery, which was instituted in 1697. The construction of Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel was an initiative of the Portuguese Royal House, in the begining of the XVIIIth century, namely of Rei D. Pedro II, devoted to Nossa Senhora do Cabo. The great interest of the peasants from the 30 comunes around Lisbon, with came in pilgrimage, bringing a taper candle – hence the name of “Peasants Taper” – contributed to the edification of the architectural set, comprising an inn, taper-house, aqueduct, etc, in the XVIIIth century, in a mannerist and baroque style, conceived to accommodate the pilgrims.

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Considerações Finais

O Cabo Espichel possui um elevado potencial arqueológico, atestado pelos abundantes materiais arqueológicos recolhidos em vários trabalhos arqueológicos já realizados naquela zona. Nos últimos doze anos, os trabalhos desenvolvidos pelo Centro Português de GeoHistória e Pré-História, constituem-se como os que maior contributo trouxe para o conhecimento da pré-história local. Foram identificados, estudados e preservados materiais provenientes de cerca de duas dezenas de jazidas, que abarcam um horizonte cronológico que vai desde o Paleolítico Inferior até à Pré-História Recente, sendo que as conclusões actuais se baseiam, essencialmente, no estudo tipológico dos materiais arqueológicos e a sua respectiva contextualização estratigráfica. Contudo, está já a ser planeada a amostragem para uma detalhada datação por luminescência. Partindo destas evidências materiais, fica igualmente demonstrado que na zona do Espichel existiam condições naturais propícias à fixação das primeiras comunidades humanas, confirmadas pelos dados geológicos, malacológicos (do concheiro identificado na Ribeira do Chapim) e palinológicos, que permitiram contextualizar estas ocupações humanas com as condições naturais da zona.

O Cabo Espichel possui um conjunto de jazidas, com materiais atribuíveis a quase todos os períodos da Pré-história. Destacam-se as jazidas do Paleolítico Médio com indústrias mustierenses, de provável idade Plistocénico médio, tais como a Praia dos Lagosteiros, a Baía de Aguncheiras e a Ribeira dos Caixieiros, e as que têm indústrias de provável idade holocénica, de que a Boca do Chapim Norte e o Alto da Fonte Nova são exemplos. Estas duas últimas podem-se ter constituído locais de oficina de talhe. As análises polínicas de sedimentos arqueológicos em estações arqueológicas ou sítios ao ar livre têm grandes condicionantes. No entanto, o Alto da Fonte Nova podia ser constituído no Neolítico por prados, tendo em conta a presença de gramíneas silvestres e talvez campos de cultivo e pastoreio e com zona de bosques onde estariam Quercus caducifolios e Pinus.

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Anexos

Geologia do Espichel O cabo Espichel é caracterizado, litologicamente por rochas carbonatadas: calcários, arenitos e margas do Jurássico, do Cretácico, do Miocénico e do Quaternário; geomorfologicamente está marcado pelo monoclinal do Espichel, que se estende desde o Espichel até à zona do Meco. O Quaternário do Espichel, onde se encontram os vestígios da ocupação humana préhistórica, é constituído por formações produzidas por antigas praias pleistocénicas, que originaram terraços e tufos calcários: • Na Costa Oeste (Entre a Foz da Fonte e o cabo Espichel) existem terraços de areias com calhaus rolados, localizados entre os 50 a 90 metros de altitude; • Na Costa Sul dominam as praias elevadas do Plistocénico, entre os 8 e os 60 metros de altitude; • No Cabo Espichel existem retalhos de formações quaternárias de areias com calhaus rolados e fragmentos de conchas, entre os 130 e os 150 metros de altitude; • Na zona da Azóia ocorrem areias plistocénicas com seixos rolados, resultantes da lavagem de formações detríticas mais antigas, localizadas entre os 120 e os 140 metros de altitude

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Paleontologia do Espichel

As Formações geológicas da zona do Cabo Espichel datam do Jurássico, do Cretácico e do Miocénico, esta ultima, a partir da Praia da Foz. Nestas formações ficaram registados vários fósseis e icnofósseis (marcas fossilizadas) de vertebrados e invertebrados que ali viveram: • Do Jurássico há a destacar as pegadas de saurópodes, da Pedra da Mua e alguns invertebrados fossilizados nos Calcários existentes na vertente Sul do Espichel. • Do Cretácico destacam-se as pegadas de terópodes e ornitópodes de Lagosteiros. Na Boca do Chapim foram encontrados vários fósseis de vertebrados e invertebrados, destacando-se os dinossauros (Iguanodon e Barionyx, p. e.). Na praia das Aguncheiras foram encontrados também fósseis dinossauros dinossauros (Iguanodon e Camptosaurus, p. e), Pterossauros, crocodilos, peixes e tartarugas. Nos calcários das arribas a norte dos Espichel são frequentes fósseis de invertebrados, como o gastrópode Tylostoma.e restos de madeira carbonizada. • Do Miocénica destacam-se os dentes de Tubarão (Charcarodon), cetáceos, aves, tartarugas, gastrópodes, bivalves e equinodermes, encontrados na Praia da Foz, Praia do Penedo Norte e Praia das Bicas.

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1 4-5

6

2 7

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1 - Fragmento distal de ulna de Maniraptora (ind) (Praia das Aguncheiras)

2 - Metade lateral de vértebra caudal de dinossauro Saurópode (?) (Praia das Aguncheiras) 3 - Dentes de Peixe (Praia das Aguncheiras)

4 e 5 - Dentes de Crocodilo (cf. Goniopholis sp –dta - e cf. Machimosaurus sp- esq.) (Praia das Aguncheiras) 6 – Gastrópodes (gén. Natica) 7 - Fragmento de tronco 8 - Dente de Pterossauro (Praia das Aguncheiras)

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Os primeiros primatas, surgidos no final do Cretácico, sobreviveram à grande extinção em massa, do fim do Mesozóico e evoluíram durante o Cenozóico. No Miocénico, apareceram os primeiros hominídeos, em África.

A Evolução Humana

Definição de Pré-História

Os primeiros representantes do género Homo surgem no registo fóssil há cerca de 2,5 Ma. São fósseis atribuídos a Homo habilis (ao qual estão associadas primeiras indústrias líticas) e a Homo rudolfensis. Por volta dos 2Ma, os seus descendentes saem de África. A expansão para fora de África coincide com o aparecimento de uma nova espécie: o Homo erectus, que apresentam uma compleição física e proporções corporais modernas.

Na Pré-História o homem desenvolveu o fabrico de instrumentos, a linguagem, dominou o fogo, começou a enterrar os mortos e desenvolveu a arte e o espiritualismo. A Pré-História é dividida em Paleolítico (Inferior, Médio e superior), Mesolítico, Neolítico e Idade dos Metais. As indústrias de pedra lascada evoluíram no Paleolítico, em que de simples seixos lascados, se evoluiu para o fabrico de machados, a partir de grandes lascas, e bifaces. No Paleolítico Médio desenvolveu-se a indústria sobre lascas pré-definidas e os utensílios retocados, como os raspadores e os furadores. No Paleolítico Superior, as lâminas são a base das indústrias líticas. No Mesolítico surgem os geométricos e no Neolítico começase a fazer recipientes em cerâmica e descobre-se uma nova metodologia: o polimento da pedra.

A pré-história estuda a origem e a evolução física e tecnológica do homem, através do registo arqueológico. No entanto, outras ciências contribuem para o conhecimento pré-histórico: a paleontologia (das faunas quaternárias) e a arqueozoologia, a palinologia e a paleobotânica, a geologia e também as ciências físico-quimicas (para as datações absolutas). Por vezes, é referido que os fósseis são estudados pelos arqueólogos. Na verdade, são os paleontólogos que estudam os fósseis, enquanto a Arqueologia estuda apenas os vestígios materiais deixados pelo Homem. Apesar de estar fora da temática pré-histórica serão aqui apresentados também elementos fósseis da zona do Cabo Espichel, para que se tenha um enquadramento dos tempos anteriores à pré-história do Espichel.

A partir de cerca de 500Ka, da evolução local de populações europeias tardias de H. erectus, começam a surgir na Europa, os percursores do Homem de Neandertal, os Homo heidelbergensis. Por volta dos 180Ka apareceram os Neandertais, que ocuparam quase toda Europa, parte ocidental da Ásia e o Próximo Oriente. Viveram durante cerca de 150 mil anos. Terão sido formas mais evoluídas de H. erectus que deram origem ao homem moderno. Existem duas teorias que tentam explicar a nossa origem: a Hipótese Multirregional e a hipótese da origem geográfica restrita. A primeira defende que o homem moderno teve uma origem mais ou menos simultânea nas várias regiões do Mundo a partir das populações locais de H. erectus, a segunda considera uma população africana de Homo sapiens arcaicos se dispersou pelo mundo e substituiu todas as populações locais.

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Paleolítico

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3 6 13

5 – Seixo Talhado em quartzito (Areias de Mastro)

4 – Seixo Talhado em quartzito (Cabo)

1 a 3 – Lascas de quartzito (Boca do Chapim - Sul)

13 – Lasca Levallois de sílex (Forte da Baralha)

12 – Núcleo Levallois de sílex (Aguncheiras)

11 – Lasca de quartzito (Aguncheiras)

9 e 10 – Pontas de quartzito (Aguncheiras)

7 e 8 – Lascas de sílex (Boca do Chapim - Norte)

6 – Percutor de quartzito (Cabo)

O Paleolítico é o maior e o mais antigo período da história da humanidade. Começou há cerca de 2.5 milhões de anos, com o aparecimentos das primeiras indústrias produzidas pelos Homens (H. habilis e H. rodulfensis)e terminou há cerca de 10 mil anos, com o fim da última grande glaciação. Decorreu durante o período geológico do Pleistocénico. Foi caracterizado pela origem e evolução do género Homo, pela evolução das indústrias de pedra lascada e por sociedades de caçadores-recolectores. No Cabo Espichel existem várias estações com materiais deste período: Aguncheiras, Areias de Mastro, Ribeira dos Caixeiros, Ribeira da Fonte nova, Porto da Baleeira, Forte da Baralha, Chã dos Navegantes e Espichel.

7

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A palavra “Neolítico” foi usada pela primeira vez por J. Lubbock em 1865 e significa literalmente “nova pedra” (do grego neos=novo e lithos=pedra). É neste período que o Homem desenvolveu uma economia produtiva, através da domesticação dos animais e das plantas. Foi também no neolítico que se constituíram as primeiras comunidades sedentárias. Ao conjunto destes desenvolvimentos tecnológicos designou-se por “revolução neolítica”.

Neolítico

O Mesolítico é o período da história do Homem que faz a transição das sociedades caçadoras-recolectoras, do Paleolítico, para as sociedades agro-pastoris do Neolítico. O Mesolítico, situa-se no início do período geológico do Holocénico e é composto por sociedades que ocupavam locais de forma permanente e exploravam regiões definidas. Neste período, verifica-se uma crescente importância dos micrólitos nas indústrias líticas. Na zona do cabo Espichel foram identificados materiais atribuíveis ao Mesolítico na Boca do Chapim Sul, Barraca do papo Seco e nas Aguncheiras 1.

Mesolitico

Foi no neolítico que se começou a construir grandes monumentos megalíticos (do grego mega=grande e lithos=pedra), como as antas, com funções funerárias, os cromeleques e os menires, provavelmente ligados a cultos religiosos. Tecnologicamente começou a polir-se a pedra e a fabricar-se recipientes em barro. Mais tarde (Idade do Cobre, do Bronze e do Ferro) houve uma mudança nas matérias-primas utilizadas, passando-se para os metais. No Cabo Espichel existem várias estações com materiais deste período, tais como, Boca do Chapim Norte, Alto da Fonte Nova, Ribeira da Fonte Nova e barraca do Papo-Seco.

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1 – Fragmento de quartzito (Terras do areeiro) – Mesolítico (?)

2 – Lasca de quartzito (Boca do Chapim-Norte) – Mesolítico

3 – Lasca de quartzo (Boca do Chapim-Sul) – Mesolítico

4 – Lamela de sílex (Boca do Chapim-Sul) – Neolítico

5 e 6 – Lascas de sílex retocadas (Boca do Chapim-Norte) – Neolítico

7 – Lamela de quartzo (Boca do Chapim-Sul) – Neolítico

8 a 10 – Lascas de sílex (Boca do Chapim-Norte) – Neolítico

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11 – Furador (?) de sílex (Boca do Chapim-Sul) – Neolítico 12 e 13 - Lamelas de sílex. 14 e 15 - Núcleos de lamelas de sílex. 16 – Buris de quartzo. 17 e 18 – Furadores de quartzo. 19 – Raspador de quartzito.

20 e 21 – Fragmentos proximais de lâminas. Sílex, à dta. E de quartzo à esq. (Boca do Chapim-Sul) – Neolítico

22 – Furador de sílex (Boca do ChapimNorte) – Neolítico

23 e 24 – Lascas de sílex.

25 e 26 – Raspadeiras de sílex.

Espichel Mítico O planalto do Cabo Espichel exerceu desde sempre grande atracção no imaginário colectivo das populações.A existência de várias lendas comprova a atracção que este sítio exerce sobre as pessoas. Uma lenda com uma mensagem política associa o cabo á fundação da nacionalidade. De acordo com a lenda, a 29 de Julho de 1180, ao largo do Cabo Espichel, Dom Fuas Roupinho terá conseguido a primeira vitória naval do recém criado reino de Portugal sobre os mouros. As lendas relacionadas com culto de Nossa Senhora da Cabo têm várias versões, algumas delas mesmo contraditórias, pelo que situar cronologicamente o culto no tempo, acaba por ser complicado. É possível que o culto a Nossa Senhora do Cabo resulte de uma cristianização de outros cultos anteriores, que desde a pré-história até ao domínio muçulmano tinham sacralizado local. O culto a Nossa Senhora do Cabo é certamente medieval, provavelmente do século XIII, mas a primeira fonte histórica escrita sobre este culto data do século XIV, mais propriamente de 1366 e trata-se de uma carta régia de D. Pedro I. Outra lenda medieval sobre o cabo conta que em 1215 uma embarcação que seguia em direcção a Lisboa, foi apanhada numa grande tempestade que levou a tripulação ao desespero. Haildebrat (capelão da embarcação) decidiu rezar a uma imagem que tinha no camarote quando verificou que mesma tinha desaparecido. Desesperado pede ajuda divina e de repente toda a tripulação vê no alto do Cabo uma luz tendo a tempestade amainado. Mais tarde, quando chegaram a terra encontraram a imagem desaparecida do barco. As fontes históricas relatam ainda outras variantes da origem da lenda de Nossa Senhora do Cabo. Uma lenda, descrita por Frei Agostinho de Santa Maria em “Santuário Mariano” do início do século XVIII, refere que a descoberta da imagem foi feita por homens da Caparica que iam a este local cortar lenha. Já no século XIX, Frei Cláudio da Conceição na “Memória da Prodigiosa Imagem de Nossa Senhora do Cabo”, atribui a descoberta da imagem a um velho de Alcabideche e a uma velha da Caparica. De acordo com esta lenda o culto de Nossa Senhora do Cabo remonta a cerca de 1410, ano em que terá sido descoberta a venerada imagem de Nossa

Senhora do Cabo. Segundo a lenda uma “jumentinha” terá saído das águas do mar e subido até ao planalto carregando ás suas costas a imagem de Nossa Senhora, facto que explicaria as pegadas de dinossauro. A lenda da Pedra Mua, na origem da fundação do Santuário da Senhora do Cabo, revela um interessante caso de recuperação, pela religiosidade da gente do povo, de um fenómeno natural, estranho à cultura popular, os trilhos de pegadas de dinossauros, que estão na origem num culto cristão. A ermida da Memória, construída provavelmente no século XV, era o local por excelência onde se começaram a realizar grandes romarias para ver a imagem de Nossa Senhora do Cabo. A pequena ermida foi-se tornando pequena para tantos romeiros que se deslocavam ao local. No século XVIII, o planalto do Espichel altera-se com sucessivos programas de ampliação e redecoração da Igreja de Nossa Senhora do Cabo, promovidos no reinado de D. Pedro II (Devoto da Senhora do Cabo) e por D. José. O Espichel tornava-se ainda mais místico, pois a cenografia Barroca tornava o local ainda mais visível à distância. O esplendor máximo das festividades do Cão Espichel ocorreu no final do século XVIII, mais propriamente em 1770 em que se realizaram no Espichel monumentais celebrações, a que assistiram a Família Real e toda a grande nobreza do Reino e em 1784 com a deslocação da rainha a D. Maria I ao santuário. As festas da Sra. do Cabo, tendo tido grande participação das gentes da região lisboeta foram famosas até finais do Séc. XIX, altura em que entraram em decadência. Em 1887 terminou a tradição de as freguesias se deslocarem em peregrinação anual ao Cabo Espichel, atravessando o rio Tejo entre Belém e Porto Brandão, e daí seguindo pelas praias ou por terra até ao santuário, onde decorriam as cerimónias de entrega ou recepção da Imagem Peregrina. Outra romaria, que mobilizava, no início do séc. XX, quase toda a população da antiga aldeia piscatória da Costa de Caparica, deixou de se realizar em 1950. Com as transformações sociais e mudanças de mentalidade do nosso século as festas de religiosidade popular parecem ter perdido o fulgor de outros tempos. No entanto o Espichel numa relação peculiar entre o espaço sagrado e profano que faz perdurar a sua auréola mística. Neste território agreste e marcado pelo vento, releva-se um Património rico e diverso, que testemunha deste tempos imemoriais a ocupação humana deste local.

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Caminhos futuros de investigação Os trabalhos arqueológicos na zona de Espichel, realizados pela equipa do CPGP, já têm mais de uma década. No entanto e depois de passado tanto tempo, a certeza que a equipa de trabalho tem é que estamos apenas no início. Ao longo destes anos contactos com a colaboração de várias dezenas de alunos, investigadores, arqueólogos, professores que nos ajudaram a compreender a complexidade de interpretação deste local. A existência de várias estações de superfície atribuíveis ao Paleolítico, na sua maioria e outras de pré-história recente apenas atesta a potencialidade da zona para a fixação de grupos humanos desde tempos muito recuados (Paleolítico). Os caminhos de investigação futura passarão pela realização de datações absolutas em algumas das estações e da continuação da investigação científica com recurso a colegas numa perspectiva de multidisciplinaridade, em especial nos campos da palinologia, sedimentologia e da geologia, que nos permita ter uma leitura mais abrangente possível para melhor reconstituirmos a pré-história deste local e o de um projecto de valorização deste arqueossítios, no sentido de (re)valorizar este património.

Trabalhos do CPGP Desde 1998 que o CPGP tem vindo a desenvolver trabalhos de investigação de campo nas áreas de paleontologia e da arqueologia. Os trabalhos de paleontologia têm-se focado no estudo dos vertebrados cretácicos, da zona entre a Boca do Chapim e a praia das Aguncheiras. As investigações de arqueologia desenvolvem-se na área que vai da Serra da Azóia ao Cabo Espichel (na vertente virada a sul) e do Cabo Espichel à Praia da Fonte (na vertente vira da Oeste). Estes trabalhos de arqueologia permitiram relocalizar estações já conhecidas e identificar novas. Recolheram-se milhares de peças pré-históricas, que permitiram compreender melhor a ocupação humana deste território. Com os trabalhos conseguiu-se identificar estratigraficamente vários materiais, já que até então os trabalhos têm sido essencialmente sobre materiais de superfície.

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1 - Pormenor dos trabalhos na Ribeira dos Caixeiros em 2011 (Fotografia: José L. Guimarães).

Índice

Bibliografia

Glossário

Índice

Introdução Os Trabalhos Arqueológicos no Espichel Introduction Enquadramento geográfico, geológico e paleontológico Geographic environment, geological and paleontological A Pré-História do Espichel Descrição das estações Contextos e evidências arqueológicas, análise tecnológica e funcionalidade do Alto da Fonte Nova Contexto Paleoecológico O concheiro Estudo palinológico do Alto da Fonte Nova The Prehistory of Espichel Espichel Mítico Mythical Espichel Considerações Finais Anexos Bibliografia Glossário

Lista de Abreviaturas

MNA – Museu Nacional de Arqueologia CPGP – Centro português de Geo-História e Pré- História Ka – Milhares de anos Ma – Milhões de anos BP – Antes do presente 1 (do inglês before present)

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1 O “presente” é definido pela data de 1950, altura anterior às experiências nucleares, que alteraram a quantidade de 14C, na atmosfera

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Glossário

Anticlinal – Termo usado em geologia estrutural, que define uma dobra convexa de estratos geológicos mais antigos, na direcção dos estratos mais recentes.

Balastros marinhos – Seixos erodidos pelo mar, que têm uma forma chata, em que a espessura é substancialmente mais pequena que a largura e o comprimento.

Biface – Utensílio lítico paleolítico fabricado, sobretudo, na cultura Acheulense (Paleolítico Inferior), embora tenha uma cronologia muito mais longa, chegando ao início do Paleolítico Médio. O seu talhe é, geralmente, bifacial (nas duas faces), de morfologia amendoada e tendente à simetria segundo um eixo longitudinal e segundo um plano de lascamento.

Carbono 14 (datação) – Método de datação absoluta descoberta nos anos 40 do século XX por Willard Libby e desenvolvida nos anos 50. Este método baseia-se no princípio de que a quantidade de 14C dos tecidos orgânicos mortos vai diminuindo para metade a um ritmo constante com o passar do tempo (num período de cadência de 5720 anos). Assim, a medição dos valores de 14C num objecto orgânico antigo (madeira, conchas, ossos, etc) indica os anos decorridos desde sua morte do organismo. O Método do 14C, só data elementos até cerca de 35ka, uma vez que os restos com idade superior têm uma quantidade de 14C tão pequena, que não é detectável.

Círio – Vela de cera de grandes dimensões, em serviço da igreja ou círio pascal. Porém, era costume as romarias levarem círios aos santos que festejavam e daí passarem a designar-se também por círios os próprios cortejos de romeiros.

Cretácico – Período geológico da era mesozóica, que começou há cerca de 145Ma e terminou há cerca de 65Ma;

Depósitos plio-pleistocénicos – Depósitos sedimentares que se formaram durante o Pliocénico (5-2,5Ma) e o Pleistocénico (2,5Ma-10ka).

Depósitos sedimentares – Local onde os sedimentos se acumularam e onde sofrem os processos de diagénese (conjunto de transformações químicas e físicas que transformam um sedimento numa rocha) gerando uma rocha sedimentar. Os depósitos sedimentares

são organizados em sistemas deposicionais, de acordo com os ambientes nos quais foram depositados. Dinossauros ornitópodes – Grupo (subordem) de dinossauros herbívoros, pertencente à ordem dos ornitísquios (dinossauros com a cintura pélvica idêntica à das aves) e que tinham os pés com uma fisionomia semelhantes aos das aves. Atingiram o seu auge no Cretácico e a sua maior vantagem evolutiva foi o desenvolvimento progressivo do aparelho mastigatório, que se tornou o mais sofisticado e em que as mandíbulas possuíam “baterias” de dentes, que eram substituídos à medida que se gastavam. Dinossauros terópodes – Grupo (subordem) de dinossauros bípedes, pertencente à ordem dos saurísquios, constituído essencialmente por espécies carnívoras (apesar de também existirem algumas espécies omnívoras e muito poucas espécies herbívoras). Apesar de terem quatro dedos nas patas traseiras, as suas pegadas são tridáctilas, pois só assentavam três dedos no chão. Foi um grupo destes dinossauros (os maniraptora), que deu origem, no Jurássico, às aves. Esquírola – Resto de talhe inferior a 3cm (para o Paleolítico Médio) e a 1cm (para o Paleolítico Superior). Gregário (Comportamento) – Modo de vida em grupo. Holocénico – Época geológico do período neogénico, que começou há cerca de 10ka. É a actual época geológica. Jurássico – Período geológico da era mesozóica, que começou há cerca de 199Ma e terminou há cerca de 145Ma; Lâmina – Artefacto de pedra lascada, em que o comprimento é substancialmente maior que a largura. Começaram a ser feitas a partir do Paleolítico Superior. Lasca – Artefacto resultante do lascamento dos líticos, a partir das quais se faziam utensílios, através do retoque.

Miocénico – Época geológico do período neogénico, que começou há cerca de 23Ma e terminou há cerca de 5Ma.

Neogénico – Período geológico da era cenozóica, que começou há cerca de 199Ma e terminou há cerca de 145Ma. É o período geológico em que vivemos.

Núcleo – Resto lítico, a partir do qual se obtinham as lascas, lâminas (núcleo de lâminas) ou lamelas (núcleo de lamelas).

Pleistocénico – Época geológico do período neogénico, que começou há cerca de 2,5Ma e terminou há cerca de 10ka.

Quartzito – Rocha metamórfica, cujo componente principal é o quartzo. Para além deste mineral são também constituintes do quartzito a moscovite, a biotite, a sericita, a turmalina e a dumortierita. Apesar de ter outras origens, o quartzito pode ser formado a partir de arenitos quartzosos. A sua formação é, normalmente, a partir de produtos de segregação metamórfica.

Quartzo – Mineral, pertencente ao grupo dos tectossilicatos. É o segundo mais abundante na Terra, seguindo-se aos feldspatos. Possui estrutura cristalina trigonal composta por tetraedros de sílica (dióxido de silício, SiO2).

Setentrional – Do latim: septentrionale, é uma qualificação que abrange tudo o que se refere a norte ou boreal. Raramente usada em inglês, a palavra setentrional é muito comum nas línguas latinas e nas românicas.

Sílex – Rocha sedimentar silicatada, muito dura, constituída de quartzo criptocristalino e com densidade elevada. Apresenta-se de várias cores (cinzenta, castanha, negra, entre outras) e é geralmente compacta. Fractura-se de forma concoidal (por isso muito utilizada no fabrico de utensílios pré-históricos). Ocorre sob a forma de nódulos ou massas em formações de giz ou calcário. Pode apresentar impurezas várias como argilas, carbonato, silte, pirite e matéria orgânica.

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