Um Olhar Sobre o Funcionamento Familiar e Estilos Educativos Parentais: estudo com pais de crianças acompanhadas em consulta de Psicologia

May 25, 2017 | Autor: H. Espirito-Santo | Categoria: Family studies, Children and Families, Family
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INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA Escola Superior de Altos Estudos

UM OLHAR SOBRE O FUNCIONAMENTO FAMILIAR E ESTILOS EDUCATIVOS PARENTAIS Estudo com Pais de Crianças Acompanhadas em Consulta de Psicologia

FILIPA MARINA ALBUQUERQUE FURTADO

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Coimbra, 2015

UM OLHAR SOBRE O FUNCIONAMENTO FAMILIAR E ESTILOS EDUCATIVOS PARENTAIS Estudo com Pais de Crianças Acompanhadas em Consulta de Psicologia

FILIPA MARINA ALBUQUERQUE FURTADO

Dissertação Apresentada ao ISMT para a Obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica Ramo de Especialização em Psicoterapia e Psicologia Clínica Orientadora: Professora Doutora Helena Espírito-Santo, Professora Auxiliar, ISMT

Coimbra, dezembro de 2015

Agradecimentos

A Dissertação de Mestrado representa o culminar de uma etapa repleta de aprendizagens e de experiências pessoais. Para que se tornasse possível, muitas pessoas com as quais me cruzei e me cruzo todos os dias, deram o seu precioso contributo e às quais estou eternamente grata. À minha orientadora, Professora Doutora Helena Espírito-Santo, pelo apoio, disponibilidade e compreensão. Às Professoras Doutoras Joana Sequeira e Sónia Simões pelas sugestões de trabalho e disponibilização de material. À Professora Doutora Mariana Marques pelo apoio psicológico nos momentos de maior dificuldade e que foi fundamental para o meu equilíbrio e bem-estar. À Unidade Local de Saúde da Guarda, por autorizar a realização da investigação e às Psicólogas do Serviço de Psicologia Clínica, Dr.ª Anabela Monteiro, Dr.ª Marta Capelo e Doutora Tânia Prata, pela mediação no contacto com os pais e crianças em consulta. Aos pais e crianças, pela sua colaboração e disponibilidade. À Catarina, amiga dos tempos de Leiria, por tudo o que experienciámos juntas, pelo constante apoio, carinho e pela presença, mesmo com distância que nos veio separar. À Anabela, pelo companheirismo, incentivo, partilha e pela serenidade que sempre me transmitiu. Às minhas "amigas irmãs" Cris e Dulce, simplesmente porque sim! Pelos risos, pelas lágrimas, pela força, pelo "colinho", pelos empurrões e por tudo aquilo que nos une. À minha família, pelo suporte emocional. Ao meu marido e às minhas filhas lindas, pilares da minha existência, pelas razões que as palavras dificilmente explicarão. Por compreenderem as ausências, os choros, a irritabilidade, o cansaço e, acima de tudo, por me ajudarem a transformar todas essas emoções e acontecimentos num Amor que cresce a cada minuto que passa nas nossas vidas! À Vida e ao Universo que me ensinam diariamente que o que efetivamente importa é a viagem... Grata!

I

Resumo

A literatura tem dado ênfase ao impacto do funcionamento familiar nos estilos educativos parentais. Dada a pertinência do tema, esta investigação visa compreender a relação entre o funcionamento familiar e os estilos educativos dos pais com filhos acompanhados em Consulta de Psicologia. A amostra deste estudo abrangeu 50 pais, sendo constituída por 47 mulheres e 3 homens, com uma média de idade de 39,94 (DP = 6,30), e foi recolhida no Serviço de Psicologia Clínica da Unidade Local de Saúde da Guarda. O protocolo de investigação incluiu o Questionário Sociodemográfico, Escala de Adaptabilidade e Coesão Familiar (FACES-IV) e Egna Minnen Besträffende Uppfostran-P (EMBU-P). Os resultados principais deste estudo indicam que a coesão equilibrada, comunicação e satisfação familiar se associam positivamente com o suporte emocional, enquanto a coesão desmembrada se associa de forma negativa com o suporte emocional. Por outro lado, a coesão emaranhada e a adaptabilidade caótica relacionam-se positivamente com a rejeição parental. A tendência das famílias é terem uma coesão equilibrada e uma flexibilidade igualmente equilibrada, demonstrando níveis de comunicação e satisfação positivos. Em relação aos EEP, verificou-se que o suporte emocional é o estilo mais frequente entre os pais. É mais comum as crianças serem acompanhadas em Consulta de Psicologia devido a alterações comportamentais e emocionais, constatando-se que o número de crianças que não toma fármacos é superior e que o EPP é mais rejeitante nos pais com crianças que tomam medicação, sendo exercido sobretudo pelos pais que possuem o ensino secundário. Observouse também que os pais mais novos demonstraram maior capacidade de manter a família coesa. Concluiu-se que um funcionamento familiar equilibrado se associa a uma parentalidade positiva e um funcionamento desequilibrado se associa com uma parentalidade disfuncional. O que pode significar que as famílias têm capacidade de lidar eficazmente com fatores de stresse diário, em particular com os problemas e/ou doenças dos filhos, com os pais a demonstrarem suporte afetivo e aceitação parental. Contudo, também podem demonstrar em momentos críticos falta de adaptabilidade e rejeição.

Palavras-chave: funcionamento familiar, estilos educativos parentais, pais, crianças, psicologia

II

Abstract

The literature has emphasized the impact of family functioning on parental rearing styles. Given the relevance of the theme, this investigation aims to understand the relationship between family functioning and educational styles of parents with children followed in Psychology Consultation. The sample this study included 50 parents, being constituted by 47 women and 3 men, with a mean age of 39.94 (SD = 6.30), and it was collected in the Psychology Service of Guarda Local Health Unit. The investigation protocol included the Sociodemographic Questionnaire, Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale (FACES-IV), and Egna Minnen Besträffende Uppfostran-P (EMBU-P). The principal results of this study indicate that the balanced cohesion, communication and family satisfaction are positively associated with emotional support, while the dismembered cohesion is associated negatively with emotional support. On the other hand, the tangled cohesion and chaotic adaptability is positively related with parental rejection. The tendency of families is having a balanced cohesion and balanced flexibility, demonstrating levels of communication and satisfaction positives. In relation PRS, it was found that the emotional support is the most frequent style among parents. It is more common that children are accompanied in Psychology Consultation due to behavioral and emotional changes, having verified that the number of children who do not take medications is superior and that the PRS is more rejecting parents with children taking medication, being exercised mainly by parents who have secondary education. It was also observed that younger parents demonstrated greater capacity to maintain a cohesive family. It was concluded that a balanced family functioning is associated with positive parenting, and that unbalanced functioning is associated with a dysfunctional parenting. This can mean that families have capacity to deal effectively with daily stress factors, in particular with the problems and/or diseases of children, with parents demonstrating emotional support, and parental acceptance. However, it may also demonstrate in critical moment’s lack of adaptability and rejection.

Keywords: family functioning, parental rearing styles, parents, children, psychology

III

Funcionamento Familiar e Estilos Educativos Parentais | Filipa Furtado

Introdução Funcionamento das Famílias Para se compreender o funcionamento familiar e suas influências, torna-se importante compreender previamente o significado de família. Quando se fala em família, associa-se ao lugar onde se nasce, cresce e morre. Este contexto envolve um conjunto de afetos e relacionamentos que vão dando forma ao sentimento de pertencer a uma determinada família (Alarcão, 2002). Sampaio e Gameiro (1985) definem família como um conjunto de elementos ligados por relações, em contínua interação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao longo de um processo de desenvolvimento. Dadas as trocas que estabelece com o exterior, a unidade familiar é um sistema aberto que faz parte de contextos mais vastos nos quais se integra (Alarcão, 2002). Assim, compreende-se que a unidade familiar não é estática, está em constante mudança, tendo a capacidade de se adaptar e mudar, enquanto mantém a sua continuidade (Minuchin e Fishman, 2003). Relativamente ao funcionamento familiar, Olson (1989) compreendeu que havia uma lacuna entre a teoria, prática e investigação com famílias, por isso desenvolveram o Modelo Circumplexo dos Sistemas Conjugal e Familiar. Este modelo revelou-se particularmente útil para o diagnóstico relacional, uma vez que integra três dimensões fundamentais para compreensão do funcionamento familiar, designadamente a coesão familiar, a adaptabilidade familiar e a comunicação familiar (Olson e Gorall, 2003). A coesão familiar relaciona-se com a forma como os sistemas familiares se organizam entre os dois extremos, podendo variar desde a separação total dos seus membros até a um estado de ligação absoluta. Foca igualmente aspetos específicos da vida das famílias, nomeadamente o laço emocional, barreiras entre subsistemas, coligações, tempo e espaço, processos de tomada de decisão, atividades de interesse e amizades. Nesta conceção de coesão existem as famílias algo ligadas, famílias ligadas e famílias muito ligadas, que correspondem a graus de coesão familiar equilibrados, logo, associados a um funcionamento familiar saudável; enquanto os níveis extremos de coesão familiar, isto é, famílias desagregadas

e

famílias

aglutinadas,

correspondem

a

funcionamentos

familiares

desequilibrados, sendo um potencial condutor de problemas individuais (Olson e Gorall, 2003). No que diz respeito à adaptabilidade familiar, esta dimensão trata a forma como os sistemas familiares se equilibram entre os extremos de estabilidade e mudança, definindo-se

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pela qualidade de expressão da liderança, da forma como os membros se organizam, como se dão os seus processos de negociação, como definem os seus papéis e regras relacionais (Olson, 2011). Esta dimensão pode variar dentro de cinco níveis distintos: famílias rígidas (flexibilidade extremamente baixa), famílias algo flexíveis (flexibilidade baixa a moderada), famílias flexíveis (flexibilidade moderada), famílias muito flexíveis (flexibilidade moderada a elevada) e famílias caóticas (flexibilidade extremamente elevada) (Olson e Gorall, 2003). Para avaliar as dimensões coesão e adaptabilidade foi desenvolvido o instrumento Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale (FACES), que atualmente se encontra na quarta versão (FACES IV) (Olson, 2011), apresentando algumas inovações face às versões anteriores, dado que acede de um modo mais fiel ao funcionamento dos sistemas familiares, tendo igualmente uma boa consistência interna (e.g Pereira e Teixeira, 2013). De acordo com Kouneski (2000), verifica-se que os instrumentos FACES e o Modelo Circumplexo Familiar são ferramentas validadas para a investigação do funcionamento familiar. Surgem em diversos campos do saber, sendo publicados estudos em centenas de revistas, com temáticas relacionadas com psicologia, ciências sociais da família, medicina, terapia familiar e de casal, psiquiatria, serviço social e educação, entre outros. Segundo Olson e colaboradores (1989, p. 66), a hipótese principal do Modelo Circumplexo é: "Os casais/famílias com coesão e adaptabilidade equilibradas geralmente funcionam de forma mais adequada em todo o ciclo de vida familiar do que aquelas com níveis extremos destas dimensões". Neste sentido, existem inúmeros estudos que demonstram que as famílias com níveis equilibrados de coesão e flexibilidade funcionam melhor, comparativamente a famílias com níveis extremos. A capacidade da família para se adaptar à mudança é fundamental, devendo adotar padrões transacionais alternativos suficientemente flexíveis para mobilizá-los (Minuchin, 1988). O que significa que a habilidade para desenvolver estratégias de adaptação adequadas e funcionais é influenciada pela qualidade das relações afetivas, coesão familiar, segurança, organização e ausência de conflitos (Dessen e Polonia, 2007). Além disso, haver uma comunicação assertiva e eficaz entre os membros da família é um mediador importante para a transmissão de regras e valores e, consequentemente, na capacidade de adaptação à mudança (Kreppner, 2000 tal como citado em Dessen e Polonia, 2007). Outro aspeto determinante no processo de adaptação às mudanças está relacionado com a resiliência. A resiliência consiste na capacidade para prevenir, minimizar ou ultrapassar os efeitos prejudiciais da adversidade (SeokHoon, 1997). Neste campo, a resiliência familiar, quando baseada em pontos fortes (e.g relações calorosas, apoio 2

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emocional, habilidades, capacidades e recursos) pode auxiliar na adaptação e gestão de situações básicas ou complexas de vida, promovendo também a resiliência individual (Walsh, 2003). Neste sentido, Petrowski, Brähler e Zenger (2014) referem que o comportamento parental influencia a força da resiliência. Sublinham ainda que a rejeição e a punição estão claramente associadas a uma capacidade de resiliência menor, tendo igualmente uma forte ligação com sintomas de ansiedade e depressão.

Estilos Educativos Parentais Os Estilos Educativos Parentais (EEP) têm sido objeto de estudo na área da Parentalidade, destacando-se as investigações levadas a cabo por Diana Baumrind (1967; Baumrind e Black, 1967). Estes estudos davam particular ênfase à influência que os EEP têm no desenvolvimento individual de cada sujeito, bem como os aspetos comportamentais e afetivos, bem-estar e harmonia psicológica das crianças (Grusec, 2002; Patterson e Fisher, 2002). Segundo o modelo integrativo de Darling e Steinberg (1993), os EEP distinguem-se das práticas educativas parentais, sendo caracterizados por comportamentos específicos dos pais, realizados com o intuito de apoiar os filhos ao nível da adaptação social. Por outro lado, os EEP são constituídos por um conjunto de atitudes parentais realizadas pelos pais em diversos contextos, nomeadamente no meio académico, no desenvolvimento da autonomia e autoestima, entre outros aspetos inerentes às relações entre pais e filhos. Os estudos realizados por Darling e Steinberg (1993) demonstram igualmente que as crenças e valores que os filhos herdam dos seus pais são adquiridos através dos comportamentos expressos, através dos EEP e das práticas parentais. Para a conceptualização dos EEP, diversos autores têm feito menção às abordagens tipológica e dimensional. A abordagem tipológica identifica os tipos de estilos educativos parentais, tendo por base os trabalhos de Baumrind, bem como o modelo bidimensional de Maccoby e Martin (1983), segundo o qual foi possível identificar os diferentes tipos de EEP: responsividade, autoritarismo, indulgência e negligência. Quanto à abordagem dimensional, Maccoby e Martin (1983) definiram os EEP como Demandingness (Controlo/Exigência) e Responsiveness (Suporte Emocional). Em específico, a dimensão Suporte Emocional relaciona-se com um conjunto de características que os pais demonstram em interação com os filhos, nomeadamente o suporte parental, expressões de afeto, tom emocional positivo, disponibilidade afetiva, sensibilidade para os estados psicológicos da criança e respetivas respostas, proporcionando-lhes assim maior conforto emocional. Já a dimensão Controlo 3

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mede o interesse demonstrado pelos pais no que concerne aos agentes de socialização dos filhos, assim como o controlo parental, no qual estão inseridas as regras às quais os filhos deverão obedecer e a intrusão versus respeito dos pais pela vida privada dos filhos (Canavarro e Pereira, 2007a; Darling e Steinberg, 1993). A influência dos EEP tem sido alvo de diversas investigações. Concretamente, a qualidade dos cuidados parentais, no contexto das relações precoces, tem sido apontada como fundamental para o desenvolvimento das crianças, em particular ao nível da adaptação psicológica, social e académica (e.g., Cardoso e Veríssimo, 2013). Por exemplo, Sroufe (2002) refere que a qualidade dos cuidados parentais tem maior relevância no desenvolvimento saudável da criança, referindo que a qualidade da vinculação está diretamente relacionada com os EEP, ou seja, os EEP de suporte, que envolvem afeto e aceitação associam-se ao estabelecimento de uma vinculação segura (Baumrind, 1991; Michiels, Grietens, Onghena e Kuppens, 2010). Os EEP caracterizados por suporte e afeto também promovem maior competência social e cognitiva da criança, maior autoestima, menos problemas de comportamento e melhor desempenho escolar (Baumrind 1991; Michiels et al., 2010). Por oposição, os EEP mais rejeitantes, incluindo comportamentos parentais ansiosos, associam-se a níveis mais elevados de preocupação nas crianças e à vinculação ambivalente ou insegura. O que poderá significar que o ambiente familiar, nomeadamente o EEP e o tipo de vinculação contribuem para a gravidade dos sintomas de ansiedade das crianças (Brown e Whiteside, 2008). Além do ambiente familiar ter impacto no desenvolvimento e ajustamento individual, o ambiente familiar negativo (baixa coesão, elevado conflito familiar e baixa expressividade) está igualmente associado a sintomas psicológicos, nomeadamente os depressivos (George, Herman e Ostrander, 2006). Recentemente foi realizada uma investigação com famílias de crianças com perturbação de ansiedade, de forma a testar se estas se caracterizam por um aumento de ansiedade na parentalidade e no funcionamento familiar. Analisaram igualmente se a terapia cognitivo-comportamental para famílias ou a terapia focada nas crianças com perturbações de ansiedade ajuda a diminuir o aumento de ansiedade nos pais e a melhorar o funcionamento familiar. Avaliaram os sintomas de ansiedade nas crianças e nos pais, os comportamentos parentais (autonomia, concessão, superproteção e rejeição) e o funcionamento familiar (funcionamento relacional e controlo familiar). Os resultados revelaram que o bom funcionamento relacional em família, após o tratamento, reflete melhorias ao nível da ansiedade a longo prazo para os adolescentes, mas não para crianças em idade escolar. Neste estudo é realçado que ambas as terapias, seja a focada na família ou na criança, ajudam na 4

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redução da ansiedade em crianças, mas também na melhoria da parentalidade e no funcionamento da família (Jongerden e Bögels, 2015). No que concerne ao papel da criança, Gallito (2015) descreve que as disposições temperamentais precoces representam antecedentes importantes sobre o futuro ajustamento psicossociais das mesmas. Neste sentido, realizou um estudo onde examinou o temperamento da criança e os efeitos no estilo parental, bem como os comportamentos de externalização e internalização das crianças. Verificou que a exposição a uma parentalidade mais positiva reduz problemas de comportamento em crianças com temperamentos difíceis e/ou inadaptáveis. Estes resultados servem sobretudo para destacar o papel central dos aspetos positivos do ambiente familiar educacional, ao funcionarem como estímulos para uma adaptação bem-sucedida de crianças com temperamentos difíceis. A modelagem serviu igualmente para enfatizar a importância de se considerar que os fatores que provocam mais distanciamento familiar podem afetar a adaptação comportamental das crianças (Gallitto, 2015). Ainda no que respeita aos comportamentos dos filhos, vários estudos têm mostrado que até 20% dos adolescentes europeus escolarizados revelam pensamentos e comportamentos autodestrutivos (Cruz, Narciso, Muñoz, Pereira e Sampaio, 2013). O estudo de Cruz e colaboradores (2013) refere que tanto a família, como as variáveis individuais predizem estes comportamentos nos filhos. Os autores analisaram os EEP, vinculação dos pais, funcionamento familiar, satisfação com as relações familiares, autoestima e sintomas de internalização e externalização. Após a análise compreenderam que a perceção de uma qualidade decrescente do vínculo emocional com os pais e da coesão familiar, o controlo e rejeição paterna, bem como o aumento da perceção de controlo materno, aumenta a probabilidade dos filhos fazerem relatos associados a pensamentos e comportamentos autodestrutivos. Todavia, um nível elevado de inibição da exploração e individualidade materna, um nível superior de rejeição paterna e baixa satisfação com as relações familiares, aumenta a probabilidade dos filhos pertencerem ao grupo clínico. O que sugere que o aumento da qualidade de vínculo emocional e coesão familiar, assim como a diminuição do controlo parental promove a diminuição da probabilidade dos filhos terem relatos sobre pensamentos e comportamentos autodestrutivos. Prata, Barbosa-Ducharne, Gonçalves e Cruz (2013) realizaram uma investigação que incide na análise dos preditores familiares e individuais no rendimento escolar de adolescentes. Os resultados sugerem que o nível de escolaridade apresentado pelas mães, a monitorização parental e o investimento vocacional são fulcrais para os filhos obterem 5

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sucesso e um bom rendimento escolar. Os valores individuais, metas e práticas educativas utilizadas pelos pais na educação dos seus filhos também são importantes na sua aprendizagem, desenvolvimento e interações sociais, sobretudo em famílias com baixo nível socioeconómico. Alonso de Bem e Wagner (2006) sublinham que a forma de pensar, bem como a forma de promover o desenvolvimento e a educação das crianças estão relacionadas com o contexto socioeconómico e cultural no qual as famílias estão inseridas.

Funcionamento Familiar e Estilos Educativos Parentais As perceções dos filhos sobre a parentalidade e as relações familiares são variáveis importantes para a identificação dos mecanismos envolvidos na forma como as crianças adquirem valores, e como esses valores são transmitidos através das famílias. Prioste, Narciso, Gonçalves e Pereira (2015) destacam a importância da perceção dos adolescentes relativamente à qualidade das práticas parentais, mostrando que a família e os pais podem ter um papel fundamental na transmissão de valores, particularmente nos valores coletivistas na adolescência. Contudo, referem que as práticas parentais influenciam tanto a aquisição de valores coletivistas, como individualistas, permitindo que os adolescentes se adaptem melhor às exigências da sociedade. Consideram igualmente que o relacionamento familiar pode proteger a identidade e coesão familiar, bem como a manutenção do status quo. Todas as famílias crescem e se ajustam em resposta a acontecimentos desafiadores ao longo do tempo. Este processo de ajustamento pode variar, dependendo dos potenciais riscos que podem estar presentes, bem como dos recursos disponíveis da família. Por exemplo, uma família que tenha um filho com atrasos de desenvolvimento pode experienciar e responder positiva ou negativamente às mudanças da vida familiar. Neste âmbito, Pedersen, Crnic, Baker e Blacher (2015) referem que os processos de adaptação variam entre o índice de adaptação, o nível de desenvolvimento da criança e o género dos pais. Foi realizado um estudo por Tsibidaki e Tsamparli (2009), cujo objetivo foi comparar a capacidade de adaptação e de coesão de 30 famílias com uma criança com deficiência grave e 30 famílias com crianças sem deficiência. Para a recolha de dados utilizaram a Escala de Adaptabilidade e Coesão Familiar (FACES-III) e entrevistas semiestruturadas. Os resultados sugerem que as famílias que educam uma criança com uma deficiência grave apresentam certas especificidades no seu funcionamento, que as distingue das famílias com crianças sem deficiência, mas essas diferenças não as torna disfuncionais. A maioria das famílias demonstram uma coesão e adaptabilidade regular no seu funcionamento familiar. A avaliação familiar realizada através da FACES-III corroborou esse resultado, mostrando que os pais de 6

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ambos os grupos classificam a sua família como tendo um funcionamento na “zona de saudável” (Tsibidaki e Tsamparli, 2009). A literatura refere que o comportamento parental influencia a força da resiliência. Em concreto, a rejeição está significativamente associada a uma capacidade de resiliência menor (Petrowski, Brähler e Zenger, 2014), podendo afetar a adaptabilidade familiar, assim como a gestão e a capacidade para dar resposta às adversidades. Por outro lado, a literatura sublinha que o aumento da qualidade de vínculo emocional e coesão familiar, assim como a diminuição do controlo parental promove a diminuição da probabilidade dos filhos terem sintomas de internalização e externalização (Cruz et al., 2013). Recentemente Matejevic, Jovanovic e Lazarevic (2014) realizaram uma pesquisa que teve como objetivo avaliar a relação entre os padrões de funcionamento familiar, EEP e problemas de abuso de substância dos adolescentes (alcoolismo e toxicodependência), usando para o efeito a FACES III e o EMBU. Os resultados da pesquisa mostraram que o padrão de funcionamento familiar desligado, os estilos parentais baseados na rejeição e na sobreproteção, tal como a presença significativa de sistemas familiares incompletos são mais predominantes para adolescentes com dependência. Além disso, os resultados mostraram que há uma correlação entre o funcionamento familiar, o EEP e a presença de doenças de abuso de substâncias, mostrando a necessidade de apoio familiar com práticas parentais adequadas. Ao finalizar a revisão da literatura, conclui-se que os pais que investem nos filhos, que valorizam o envolvimento do parceiro com as crianças e que comunicam entre si, respeitando a opinião um do outro, tendem a desenvolver práticas parentais positivas. Encorajam a troca de ideias com os filhos, fazendo uso do seu poder parental de uma forma racional e não punitiva (Esteves, 2010). Deste modo, também se verifica que as famílias com níveis equilibrados de coesão e flexibilidade funcionam melhor, comparativamente a famílias com níveis extremos (Olson et al., 1989). O aumento da qualidade de vínculo emocional e coesão familiar também diminui a probabilidade dos filhos terem sintomas de internalização e externalização (Cruz et al., 2013).Por contraste, padrões de interação familiar que inibem o desenvolvimento psicológico dos filhos apresentam um risco particular para o aparecimento de problemas de internalização (Barber, 1994). Educar é uma tarefa bastante complexa e, por vezes, é difícil para os pais optar por um EEP. As práticas parentais desajustadas podem colocar em perigo o sucesso do desenvolvimento futuro dos filhos, ao passo que outras se associam positivamente ao funcionarem como fatores protetores (Esteves, 2010).

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Objetivos Dada a pertinência do estudo, o objetivo principal deste estudo visa compreender a relação entre o funcionamento familiar e os estilos educativos dos pais com filhos acompanhados em Consulta de Psicologia. Os objetivos específicos são: 1) Analisar se há diferenças no funcionamento familiar (coesão, adaptabilidade, comunicação e satisfação) em função de variáveis sociodemográficas. 2) Analisar se há diferenças nos estilos educativos parentais (suporte emocional, rejeição, tentativa de controlo) em função de variáveis sociodemográficas. 3) Testar as associações entre coesão, adaptabilidade, comunicação, satisfação, suporte emocional, rejeição e tentativa de controlo.

Materiais e Métodos Procedimentos Depois de definido o tema geral para o estudo, procedeu-se ao pedido de autorização à Unidade Local de Saúde da Guarda (ULSG), para efetuar a recolha da amostra em pais e crianças acompanhadas nas Consulta de Psicologia Clínica daquele Serviço (Apêndice 1). Após análise do pedido, a Comissão de Ética para a Saúde solicitou o protocolo de investigação e o consentimento informado. Em consonância com o solicitado e após reavaliação das possibilidades de estudo, foi efetuada uma reformulação do pedido, onde se redefiniu a temática e o protocolo a administrar, tendo-se decidido aplicar aos pais o Questionário Sociodemográfico (Apêndice 4), a FACES IV (Anexo 1), o EMBU-P (Anexo 2) e às crianças, as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR), embora, para o presente estudo se tenham utilizado apenas os resultados obtidos com a FACES IV e o EMBU-P, dado que as MPCR não apresentaram resultados estatisticamente significativos, não sendo objetivo dedicar este estudo somente a um não-resultado, por isso avançou-se para a análise de outras variáveis. Procedeu-se de seguida ao pedido de autorização dos autores dos instrumentos para a sua administração (Apêndice 2), sendo posteriormente definidas as datas para a recolha de dados com os profissionais do Serviço de Psicologia da ULSG. A recolha decorreu durante os meses de março e abril de 2015, aquando das Consultas de Psicologia Clínica. Antes do preenchimento do protocolo, foi explicado a cada participante o objetivo do estudo e solicitado que lesse e assinasse (caso aceitasse participar) o “Consentimento

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Informado” onde constava uma breve explicação sobre a investigação, bem como, a garantia da livre participação, do anonimato e, ainda, da confidencialidade dos dados recolhidos (Apêndice 3). Seguiu-se a administração do protocolo em formato de papel, na presença do investigador (para esclarecimento de eventuais dúvidas) em sala cedida pela ULSG para o efeito.

Participantes Foi utilizada uma amostragem não-probabilística acidental, dado que a amostra foi selecionada pela sua conveniência (Marôco, 2010). O total da amostra foi de 50 pais (n = 50), sendo constituída por 47 mulheres (94,9%) e 3 homens (6,0%), com idades compreendidas entre os 28 e os 62 anos (M = 39,04; DP = 6,30), sendo mais predominante os pais terem idades entre os 36 e 43 anos (n = 23; 46,0%). Relativamente ao estado civil, é mais comum os pais encontrarem-se casados ou a viverem como companheiro (n = 40; 80,0%). Quanto ao nível da escolaridade é mais frequente terem o ensino superior (n = 10; 20,0%).Sobre a distribuição da sua situação profissional, existem mais pais empregados (n = 30; 60,0%), mostrando igualmente que a sua zona de residência de eleição é a aldeia (n = 22; 44,0%). No que respeita ao número de filhos, os pais assinalam que é mais frequente terem 2 filhos (n = 31; 62,0%). Os dados sociodemográficos da amostra podem ser consultados na Tabela 1.

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Tabela 1 Caracterização sociodemográfica da amostra Sexo Masculino Feminino Total Idade 28-35 Anos 36-43 Anos 44-62 Anos Ausência de resposta Total Total+Ausência de resposta Estado civil Casado/companheiro Divorciado/separado Viúvo Total Escolaridade Ensino básico (1º ao 3º ciclo) Ensino secundário Ensino superior Total Situação profissional Empregado Desempregado Total Residência Aldeia Vila Cidade Total Número de filhos 1Filho 2Filhos 3Filhos Total

n (%)

Medidas descritivas

3(6,0%) 47(94,9%) 50(100,0%)

Mo: Feminino

14(28,0%) 23(46,0%) 12(24,0%) 1(2,0%) 49(98,0%) 50(100,0%) 40(80,0%) 8(16,0%) 2(4,0%) 50(100,0%) 5(10,0%) 8(16,0%) 10(20,0%) 50(100,0%) 30(60,0%) 19(38,00%) 50(100,0%) 22(44,0%) 8(16,0%) 19(38,0%) 50(100,0%) 11 (22,0%) 31 (62,0%) 7 (14,0%) 50(100,0%)

M = 39,04 DP = 6,30 Mo: 36-43 anos

Mo: Casado/companheiro

Mo: Ensino superior

Mo Empregado

Mo: Aldeia

M = 7,78 DP = 1,12 Mo: 8-10 anos

Notas: Mo: moda, M = média, DP = desvio-padrão

Instrumentos

Questionário Sociodemográfico Este questionário foi desenvolvido especificamente para esta investigação, sendo constituído por duas secções. A Secção I envolve questões acerca de si próprio(a), tais como: quem responde (pai, mãe, padrasto, madrasta, tutor, tutora); idade; estado civil (solteiro/nunca me casei, 10

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casado/vivo com o companheiro, divorciado/separado, viúvo, outro); escolaridade (sem escolaridade, saber ler mas não tem escolaridade, 1º ciclo do ensino básico, 2º ciclo do ensino básico, 3º ciclo do ensino básico, ensino secundário, curso superior); profissão; situação perante o trabalho (empregado, desempregado e há quanto tempo); e residência (aldeia, vila, cidade). A Secção II é composta por perguntas relativas ao seu(sua) filho(a) mais novo(a) (desde que tenha mais de 6 anos de idade) e compreende as seguintes questões: quantos filhos tem; idades; o(a) seu(sua) filho(a) mais novo(a) vive consigo; se não com quem vive e há quantos anos).

Escala de Avaliação da Adaptabilidade e Coesão Familiar (FACES IV) A Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale (FACES IV) foi desenvolvida por Gorall, Tiesel e Olson (2004, 2006) e utilizada por Rolim, Rodrigues, Coelho e Lopes (2005, 2006) na validação para a população portuguesa. O instrumento é composto por uma escala de autoavaliação, administrada a um ou vários elementos da família com idade superior a 12 anos, cujo objetivo visa a caracterização da família quanto à sua adaptabilidade (refere-se à flexibilidade, mudança e capacidade de ajuste da família em diferentes situações) e coesão (refere-se à ligação de cada elemento aos restantes, a capacidade de auxílio e mobilização e a autonomia vivida e facultada pela família). As respostas pontuam-se numa escala tipo Likert de 5 pontos, na qual o 1 corresponde a “quase nunca” e 5 a “quase sempre”, sendo respondidas de acordo com a ocorrência dos comportamentos. A escala é constituída por 30 itens 16 itens desses itens estão relacionados com a dimensão coesão. A coesão familiar pode ser quantificada através de cinco níveis que variam entre desmembrada/desligada (muito baixo), de algum modo conectada (baixo a moderado), conectado (moderado), muito conectado (moderado a alto) e emaranhado/demasiado conectado (extremamente elevado). Os níveis extremos de coesão, desmembramento e emaranhadamento, são classificados como desequilibrados e considerados potencialmente problemáticos para o funcionamento familiar. Os outros níveis são considerados níveis intermédios, mais comuns em famílias saudáveis, com mecanismos saudáveis para lidarem com os movimentos de aproximação e afastamento dos seus elementos. Os 14 itens restantes são relativos à adaptabilidade, sugerindo, assim, cinco categorias da adaptabilidade familiar: rígida/inflexível (extremamente baixo), de algum modo flexível (baixo a moderado), flexível (moderado), muito flexível (moderado a alto) e

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caótico/extremamente flexível (extremamente alto), sendo atribuídos os níveis rígida e caótica, a famílias disfuncionais, sendo os outros níveis conotados como normais. Para se obter o resultado correspondente à coesão são realizados os seguintes passos: 1) soma-se os itens 3, 9, 15, 19, 25 e 29; 2) subtrai-se ao valor anterior 36; 3) soma-se os restantes itens de coesão identificados anteriormente; 4) soma-se o resultado do passo 2 e passo 3. Para obter o resultado que corresponde à adaptabilidade, realizam-se novamente os 4 passos: 1) soma-se os itens 24 e 28; 2) subtrai-se ao valor inicial 12; 3) soma-se os restantes itens de adaptabilidade; 4) soma-se o passo 2 e o passo 3. Seguidamente os resultados brutos de coesão e adaptabilidade são convertidos (Tabela 2), caracterizando os diferentes níveis de coesão e adaptabilidade que varia, entre 15 e 80 para a coesão e 15 e 70 para a adaptabilidade. Para finalizar, os resultados individuais de coesão e adaptabilidade são somados e é calculada a média final que corresponde aos dos tipos de família previstos (Olson, Bell e Portner, 1982, 1992). Assim, verifica-se que a família pode ser classificada em quatro tipos diferentes: extrema, meio-termo, moderadamente equilibrada, e equilibrada (Tabela 2). Os tipos moderadamente equilibrada e equilibrada correspondem a um melhor funcionamento familiar, enquanto os tipos extremo e meio-termo se associam a maiores níveis de disfunção.

Tabela 2 Pontuação Linear da FACES Coesão 8 7 6 5 4 3 2 1

80 74 73 71 70 65 64 60 59 55 54 51 50 35 34 15

Adaptabilidade 8

Muito Ligada 7 6 Ligada 5 4 Separada 3 2 Desmembrada 1

70 65 64 55 54 50 49 46 45 43 42 40 39 30 29 15

Tipo de Família 8

Muito Flexível

Equilibrada 7 6

Flexível

Moderadamente Equilibrada 5 4

Estruturada

Meio-termo 3 2

Rígida

Extremo 1

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A componente inovadora da FACES IV foi o desenvolvimento de seis possíveis tipos de famílias, utilizando para tal as pontuações obtidas (Olson, Gorall e Tiesel, 2006). O tipo de famílias pode variar entre a mais saudável e a mais problemática, sendo descritas pelos autores da seguinte forma:  Equilibradas (Balanced): Caracterizam-se por pontuações elevadas nas subescalas equilibradas e baixas pontuações nas subescalas desequilibradas. A combinação dos valores obtidos é usada para aferir a tipologia da família em estudo, bem como o seu funcionamento saudável ou problemático, e a capacidade de lidar eficazmente com fatores de stresse diário e mudanças relacionais ao longo da vida.  Rigidamente coesas (Rigidly Cohesive): Caracterizam-se por apresentarem resultados médios, com exceção da subescala rígida que apresenta um valor elevado. Pode afirmar-se que estas famílias têm um bom funcionamento a maior parte do tempo, devido ao nível de proximidade existente entre os seus membros, embora possam também apresentar dificuldades devido à sua rigidez, podendo repercutir-se em problemas em realizar mudanças necessárias ao seu desenvolvimento.  Médias (Midrange): Caracterizam-se por valores moderados em todas as subescalas, à exceção da subescala rígida, na qual os valores podem surgir muito elevados ou muito baixos. As famílias que apresentam estes resultados têm um funcionamento adequado, não apresentando níveis extremos de fatores de força, ou seja, de risco.  Flexivelmente desequilibradas (Flexibly Unbalanced): Esta dimensão é a mais difícil de caracterizar devido ao fato de apresentar elevadas pontuações em todas as subescalas, à exceção da coesão, na qual são característicos resultados moderados ou baixos. Os valores obtidos sugerem um funcionamento familiar problemático, no entanto, os resultados elevados na subescala flexibilidade são indicadores do sucesso que estas famílias têm ao conseguir alterar as dimensões problemáticas quando necessário, devido à facilidade na mudança e ajustes que possuem.  Caoticamente desligadas (Chaotically Disengaged): Caracterizam-se por valores baixos nas subescalas equilibradas e nas subescalas emaranhada e rígida, mostrando valores altos nas subescalas desmembrada e caótica. As famílias que se enquadram nesta dimensão, apresentam problemas associados à falta de proximidade emocional e às dificuldades em promover a mudança.  Desequilibradas (Unbalanced): Caracterizam-se por baixas pontuações nas subescalas equilibradas e elevados nas subescalas desequilibradas. São as famílias

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mais problemáticas quanto ao seu funcionamento geral, tendo por isso maior probabilidade de necessitar de terapia. Seguidamente, apresentam-se os valores relativos à consistência interna da FACES IV, avaliada pelo alfa de Cronbach, na versão original de Gorall, Tiesel e Olson (2004, 2006) e na presente investigação (Tabela 3). Os valores relativos à versão portuguesa não constam da tabela por ainda não terem sido publicados. Assim, pode verificar-se que os valores de alfa na versão original são mais elevados, comparativamente ao presente estudo. Contudo, os nossos resultados são considerados satisfatórios, à exceção da dimensão “desequilibradaemaranhada“ (Pestana e Gageiro, 2008). Tabela 3 Consistencia Interna das Dimensões da FACES IV – Versão Original e Presente Estudo Versão original (Gorall, Tiesel e Olson, 2004, 2006)

Presente estudo

Equilibradas Coesão Flexibilidade

0,89 0,84

0,65 0,62

Desequilibradas Desmembrada Emaranhada Rígida Caótica

0,87 0,77 0,82 0,86

0,72 0,57 0,70 0,64

Egna Minnen Besträffende Uppfostran-P (EMBU-P) A perceção dos seus estilos educativos parentais foi avaliada pelo Egna Minnen Besträffende Uppfostran – P (EMBU-P) instrumento desenvolvido por Castro, Pablo, Gómez, Arrindel e Toro (1997) e validado para a população portuguesa por Canavarro, Pereira e Canavarro (2005). A versão portuguesa do EMBU-P é composta por 42 itens, organizados numa escala ordinal tipo Likert com quatro opções de resposta (1: “não, nunca”; 2: “sim, às vezes”; 3: “sim, frequentemente”; 4: “sim, sempre”). Nas instruções é solicitado à mãe ou ao pai que identifique as atitudes e comportamentos que tem tido em relação ao seu filho, escolhendo a resposta que melhor reflete o comportamento que teve ou tem para com o seu filho. O instrumento é constituído por três subescalas: 1) suporte emocional (itens 1, 10, 16, 20, 21, 22, 27, 28, 30, 32, 36, 40, 41, 42) que avalia os estilos educativos que reflete a expressão verbal e física de suporte afetivo dos pais, disponibilidade física/psicológica e a

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aceitação parental; 2) rejeição (itens 2, 4, 5, 8, 11, 12, 13, 14, 17, 18, 25, 31, 33, 34, 35, 37, 38) que avalia os estilos educativos em que os pais manifestam não-aceitação da criança, bem como hostilidade/agressão verbal e física; 3) tentativa de controlo (itens 3, 6, 7, 9, 15, 19, 23, 24, 26, 29, 39) que avalia os estilos educativos em que os pais tentam controlar o comportamento dos filhos, demonstrando exigência e uma preocupação significativa em relação ao bem-estar dos mesmos (Canavarro e Pereira, 2007 a,b). Quanto ao estudo da fidedignidade do EMBU-P para a população portuguesa (Canavarro e Pereira, 2005) foram encontrados valores de alfa de Cronbach de 0,82 para o fator suporte emocional; 0,87 para o fator rejeição e 0,73 e para o fator tentativa de controlo, o que revela uma boa consistência interna. No presente estudo também se examinaram as propriedades psicométricas, nomeadamente da consistência interna através do alfa de Cronbach, para os três fatores do EMBU-P.O valor de alfa de Cronbach para o fator suporte emocional foi de 0,80, para o fator rejeição 0,70 e para o fator tentativa de controlo 0,73, o que significa que houve uma boa consistência interna (Pestana e Gageiro, 2008).

Análise Estatística Para a análise e tratamento dos dados utilizou-se o programa informático Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS Statistics, versão 21.0 para Windows). Foi efetuado o cálculo da normalidade da distribuição da amostra, através do teste Kolmogorov-Smirnov, que indicou que as variáveis em estudo não apresentavam uma distribuição normal. Também foram calculados os índices de assimetria (Sk) e curtose (Ku) e sua conversão em pontuações z (divisão do valor do teste pelo seu erro padrão), verificandose que estes valores se situavam no intervalo -1 e 1 (Pallant, 2007) e, por isso, não indicavam violações à distribuição da amostra. Assim, optou-se pela utilização de testes não paramétricos, dado que os grupos tinham dimensões reduzidas. Primeiramente, as análises basearam-se na estatística descritiva dos instrumentos FACES IV e do EMBU-P, bem como das variáveis diagnóstico da criança e se a criança toma medicação, incluindo frequências, médias e desvios-padrão. Para analisar as diferenças nas dimensões da FACES IV e do EMBU-P em função das variáveis se a criança toma medicação e idade da criança, calculou-se o Teste U de Mann-Whitney. Enquanto o Teste H de Kruskall-Wallis foi usado para analisar as diferenças nas dimensões da FACES IV e do EMBU-P em função das variáveis diagnóstico da criança, idade dos pais e escolaridade dos pais.

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Por fim, realizou-se a análise correlacional através do coeficiente de correlação de Spearman para testar as associações entre as dimensões da FACES IV e do EMBU-P, tendose por base os critérios de Pestana e Gageiro (2008) para as correlações: baixas entre 0,20 e 0,39; moderadas entre 0,40 e 0,69; altas entre 0,70 e 0,89; muito altas acima de 0,90. Na avaliação da magnitude das correlações optou-se pelos critérios de Cohen (citado por Pallant, 2011): 0,10 (baixa), 0,30 (moderada); 0,50 (elevada).

Resultados Na Tabela 4 encontra-se o estudo descritivo do funcionamento familiar (FACES IV) e dos EEP (EMBU-P). Ao nível do funcionamento familiar, constata-se que a tendência das famílias é terem uma coesão equilibrada (M = 27,44; DP = 3,51) e uma flexibilidade igualmente equilibrada (M = 26,16; DP = 3,77), bem como comunicação (M = 38,24; DP = 6,81) e satisfação familiar (M = 24,68; DP = 7,14). No que respeita aos EEP, verificou-se que o suporte emocional é o estilo que apresenta uma média mais elevada (M = 45,08; DP = 5,32), distinguindo-se claramente da rejeição (M = 30,80; DP = 4,66) e da tentativa de controlo (M = 28,50; DP = 4,11).

Tabela 4 Estatística Descritiva das Dimensões da FACES IV e do EMBU-P

FACES IV Coesão Equilibrada Desmembrada Emaranhada Flexibilidade Equilibrada Rígida Caótica Comunicação Satisfação EMBU-P Suporte emocional Rejeição Tentativa de controlo

n

Intervalo (min e max)

M

DP

50 50 50

15-35 8-27 16-28

27,44 14,78 21,72

3,51 4,15 2,80

50 50 50 50 50

9-34 10-30 7-26 17-50 10-40

26,16 21,56 16,00 38,24 24,68

3,77 4,65 3,88 6,81 7,14

50 50 50

30-55 20-40 15-36

45,08 30,80 28,50

5,32 4,66 4,11

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Procedeu-se à análise descritiva do diagnóstico da criança para se compreender quais as principais problemáticas e/ou doenças mais frequentes nas crianças. Neste âmbito, pode observar-se na Tabela 5 que as crianças apresentam mais alterações comportamentais e emocionais (PHDA, PHDA e comportamentos de oposição, alterações comportamentais, mutismo seletivo, depressão e ansiedade), revelando uma percentagem de 58,0% (n = 29). Seguem-se as alterações fisiológicas (obesidade e diabetes) nas crianças com uma percentagem de 20,0% (n = 10) e as dificuldades de aprendizagem (dislexia e dificuldade de aprendizagem) com uma percentagem de 16,0% (n = 8). O facto de a criança tomar medicação está intimamente relacionado com o seu diagnóstico. Mesmo a distribuição sendo semelhante, verifica-se que o número de crianças que não toma fármacos é superior (n = 27; 54,0%).

Tabela 5 Frequências dos Diagnósticos e da Toma de Medicação nas Crianças Diagnóstico da criança Dificuldades de aprendizagem

n (%) 8 (16,0%)

Alterações comportamentais e emocionais

29 (58,0%)

Alterações fisiológicas

10 (20,0%)

Total

47 (94,0%)

Ausência de resposta Total + Ausência de resposta Se a criança toma medicação

3 (6,0%) 50 (100,0%) n (%)

Sim

23 (46,0%)

Não

27 (54,0%)

Total

50 (100,0%)

De seguida, analisou-se se existiam diferenças no funcionamento familiar e EEP em função da toma de medicação nas crianças, utilizando-se para o efeito o teste U de MannWhitney. Conforme se pode observar na Tabela 6, os resultados sobre os EEP revelaram que há diferenças estatisticamente significativas na rejeição (p = 0,04), onde se constata que o estilo parental é mais rejeitante nos pais com crianças que tomam medicação (M = 32,35; DP = 4,05), comparativamente com as crianças que não tomam medicação (M = 29,48; DP = 4,81).

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Não foram encontradas diferenças no funcionamento familiar e EEP em função da idade das crianças. Por este motivo, os resultados não se apresentaram em tabela.

Tabela 6 Análise de Diferenças nas Dimensões da FACES IV e do EMBU-P em função da Toma de Medicação nas Crianças Sim (n = 23)

Escalas

Não (n = 27)

U

p

M

DP

M

DP

53,48 25,65 47,30

20,58 12,20 13,30

57,81 23,22 43,15

22,34 11,33 9,67

273,00 277,00 249,00

0,46 0,51 0,22

FACES IV

Coesão Equilibrada Desmembrada Emaranhada Flexibilidade Equilibrada Rígida Caótica Comunicação Satisfação

67,61 47,52 27,83 37,43 23,39

19,50 15,73 13,41 6,52 7,48

66,00 44,41 26,85 38,93 25,78

14,12 17,44 9,46 7,10 6,77

289,50 276,50 288,00 258,00 251,00

0,68 0,50 0,65 0,30 0,24

EMBU-P

Suporte emocional Rejeição Tentativa de controlo

45,17 32,35 29,17

4,17 4,05 4,52

45,00 29,48 27,93

6,22 4,81 3,71

300,50 206,00 239,00

0,84 0,04* 0,16

Notas: U = Teste U de Mann-Whitney; p (valor de significância) * p< 0,05

Através do teste H de Kruskal-Wallis analisou-se se existiam diferenças no funcionamento familiar e EEP em função da idade dos pais (Tabela 7). No que respeita ao funcionamento familiar, pode observar-se que a dimensão coesão revela um resultado estatisticamente significativo (p = 0,01), onde os pais mais novos, com idades compreendidas entre os 28 e 34 anos apresentam uma média mais elevada (M = 63,50; DP = 15,25), comparando com os pais com idades entre os 36 e os 43 anos (M = 60,50; DP = 22,48) e os pais com idades entre os 44 e os 62 anos (M = 39,75; DP = 17,95). Não se encontraram diferenças no funcionamento familiar e EEP, dependendo do diagnóstico da criança. Por isso, os resultados não se apresentaram em tabela.

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Tabela 7 Análise de Diferenças nas Dimensões da FACES IV e do EMBU-P em função da Idade dos Pais

Escalas

FACES IV

Coesão Equilibrada Desmembrada Emaranhada Flexibilidade Equilibrada Rígida Caótica Comunicação Satisfação

EMBU-P

Suporte emocional Rejeição Tentativa de controlo

28-34 Anos (n = 14)

36-43 Anos (n = 23)

44-62 Anos (n = 12)

M

DP

M

DP

M

DP

63,50 22,36 44,50

15,25 6,60 1,83

60,43 24,43 47,52

22,48 12,63 11,75

39,75 25,67 40,17

70,93 44,64 23,86 38,57 26,86

16,05 19,64 6,49 5,63 6,97

67,09 48,96 28,04 39,65 25,57

14,86 16,49 11,49 6,12 7,17

46,36 29,93 28,00

4,56 5,15 4,01

45,96 31,09 28,96

5,13 4,73 3,56

H

p

17,95 14,90 10,22

8,90 0,15 3,30

0,01* 0,92 0,19

61,33 40,08 28,00 34,92 20,92

20,83 12,19 13,97 8,79 6,37

1,26 2,30 0,81 3,58 4,34

0,53 0,31 0,66 0,16 0,11

41,92 30,83 27,75

5,85 4,13 5,17

4,45 0,84 0,82

0,10 0,84 0,82

Notas: H = Teste H de Kruskal-Wallis; p (valor de significância) * p< 0,05

Na Tabela 8 procedeu-se novamente ao cálculo do teste H de Kruskal-Wallis para analisar as diferenças no funcionamento familiar e EEP em função do nível de escolaridade dos pais. Apenas se encontrou um resultado estatisticamente significativo nos EEP, em concreto na rejeição parental (p = 0,03). Neste caso, os pais que possuem o ensino secundário apresentam um comportamento parental mais rejeitante para com os seus filhos (M = 34,25; DP = 4,62), quando comparados com os pais que apenas têm o ensino básico (M = 28,80; DP = 3,27) e os pais que possuem o ensino superior (M = 29,20; DP = 4,13).

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Tabela 8 Análise de Diferenças nas Dimensões da FACES IV e do EMBU-P em função da Escolaridade dos Pais Ensino básico (n = 5)

Escalas

FACES IV

Coesão Equilibrada Desmembrada Emaranhada Flexibilidade Equilibrada Rígida Caótica Comunicação Satisfação

EMBU-P

Suporte emocional Rejeição Tentativa de controlo

Ensino secundário (n = 8)

Ensino superior (n = 10)

H

p

M

DP

M

DP

M

DP

48,00 27,20 46,40

12,55 5,02 9,71

49,13 30,00 52,00

17,89 13,12 15,77

61,56 22,33 42,44

24,25 11,78 10,33

0,15 2,54 1,24

0,92 0,28 0,53

71,60 49,20 18,60 38,00 21,60

10,73 13,62 2,19 2,00 6,73

64,25 51,38 35,88 39,38 24,38

20,37 15,28 17,84 2,50 6,27

65,63 44,74 26,26 37,00 25,37

18,77 18,14 26,26 8,17 7,20

0,59 1,60 5,73 1,70 0,74

0,74 0,44 0,05 0,42 0,68

41,60 28,80 26,60

7,02 3,27 4,39

45,13 34,25 31,38

6,15 4,62 3,15

45,40 29,20 29,80

6,05 4,13 4,59

0,88 6,56 3,80

0,64 0,03* 0,14

Notas: H = Teste H de Kruskal-Wallis; p (valor de significância) * p< 0,05

Seguidamente, na Tabela 9, foram estudadas as associações entre as dimensões da FACES IV e do EMBU-P, através do coeficiente de correlação de Spearman. Os resultados da análise correlacional indicam que a coesão equilibrada tem uma correlação negativa de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a coesão desmembrada (r = -0,49; p = 0,001). Apresenta igualmente correlações de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a adaptabilidade equilibrada (r = 0,53; p < 0,001), comunicação familiar (r = 0,52; p = 0,001), satisfação familiar (r = 0,60; p = 0,000) e, uma correlação baixa de magnitude moderada e estatisticamente significativa com o suporte emocional (r = 0,37; p = 0,007). No que respeita à coesão desmembrada, esta revela correlações de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a coesão emaranhada (r = 0,43; p = 0,002), adaptabilidade rígida (r = 0,29; p = 0,039) e adaptabilidade caótica (r = 0,47; p = 0,006). Também demonstra uma correlação negativa baixa de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a adaptabilidade equilibrada (r = -0,38; p = 0,006), o mesmo se verifica com a comunicação familiar (r = -0,43; p = 0,002), satisfação familiar (r = -0,51; p = 0,000) e suporte emocional (r = -0,34; p = 0,015).

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A coesão emaranhada tem uma correlação de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a adaptabilidade rígida (r = 0,57; p = 0,001), apresentando igualmente uma correlação baixa de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a rejeição parental (r = 0,38; p = 0,006). Relativamente a adaptabilidade equilibrada, esta tem uma correlação negativa de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a adaptabilidade caótica (r = -0,42; p = 0,002). Por outro lado, também revela correlações moderadas de magnitude elevada e estatisticamente significativa com a comunicação familiar (r = 0,51; p = 0,001) e satisfação familiar (r = 0,63; p = 0,001). Já a adaptabilidade rígida não estabelece correlações estatisticamente significativas com nenhuma dimensão. A adaptabilidade caótica apresenta uma correlação negativa baixa de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a satisfação (r = -0,30; p = 0,032) e uma correlação baixa de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a rejeição (r = 0,34; p = 0,015). Na comunicação familiar encontram-se correlações de magnitude elevada e estatisticamente significativa com a satisfação familiar (r = 0,77; p = 0,001), bem como correlações de magnitude moderada e estatisticamente significativa com o suporte emocional (r = 0,50; p = 0,001). Já a satisfação familiar apresenta uma correlação de magnitude moderada e estatisticamente significativa com o suporte emocional (r = 0,49; p = 0,001). Por fim, a rejeição parental estabelece uma correlação de magnitude moderada e estatisticamente significativa com a tentativa de controlo (r = 0,49; p = 0,001).

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Tabela 9 Correlações entre as dimensões da FACES IV e do EMBU-P FACES –IV

EMBU-P

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1. Coesão equilibrada

-0,49**

-0,08

0,53**

-0,06

-0,22

0,52**

0,60**

0,37**

-0,03

0,09

2. Coesão desmembrada

-

0,43**

-0,38**

0,29*

0,47**

-0,43**

-0,51**

-0,34*

0,24

0,04

3. Coesão emaranhada

-

-

-0,05

0,57**

0,21

0,04

-0,01

-0,02

0,38**

0,18

4. Adaptabilidade equilibrada

-

-

-

-0,03

-0,42**

0,51**

0,63**

0,18

-0,04

0,05

5. Adaptabilidade rígida

-

-

-

-

-0,01

-0,04

-0,10

-0,10

0,23

0,25

6. Adaptabilidade caótica

-

-

-

-

-

-0,19

-0,30*

-0,25

0,34*

0,02

7. Comunicação

-

-

-

-

-

-

0,77**

0,50**

-0,12

0,19

8. Satisfação

-

-

-

-

-

-

-

0,49**

-0,04

0,13

9. Suporte emocional

-

-

-

-

-

-

-

-

-0,08

0,20

10. Rejeição

-

-

-

-

-

-

-

-

-

0,49**

Discussão e Conclusão Conforme anteriormente referido, o presente estudo teve como objetivo geral compreender a relação entre o funcionamento familiar e os estilos educativos dos pais de crianças acompanhadas em Consulta de Psicologia. Os resultados principais desta investigação indicam que a coesão equilibrada, comunicação e satisfação familiar se associam positivamente com o suporte emocional, enquanto a coesão desmembrada se associa de forma negativa com o suporte emocional. Por outro lado, a coesão emaranhada e a adaptabilidade caótica relacionam-se positivamente com a rejeição parental. Assim, verificou-se que um funcionamento familiar equilibrado se associa a uma parentalidade positiva e um funcionamento desequilibrado se associa a uma parentalidade disfuncional. O que pode significar que as famílias têm capacidade de lidar eficazmente com fatores de stresse diário, e mais concretamente com os problemas e/ou

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doenças dos filhos, em que os pais demonstram suporte afetivo, disponibilidade física/psicológica e aceitação parental. Contudo, também demonstram em momentos mais críticos falta de adaptabilidade e rejeição parental. Neste âmbito, Olson e colaboradores (1989, p. 66) referenciam que os casais/famílias com coesão e adaptabilidade equilibradas geralmente funcionam de forma mais adequada em todo o ciclo de vida familiar, comparativamente a famílias com níveis extremos. Ainda de acordo com a abordagem sistémica da família, pode afirmar-se que os padrões disfuncionais de funcionamento familiar se refletem numa parentalidade disfuncional (Matejevic, Jovanovic e Lazarevic, 2014). Ambas as conceções dos autores apoiam de alguma forma os nossos resultados. De um modo geral, no nosso estudo, a tendência das famílias é terem uma coesão equilibrada e uma flexibilidade igualmente equilibrada, demonstrando também níveis de comunicação e satisfação positivos. Em relação aos EEP, verificou-se que o suporte emocional é o estilo mais frequente entre os pais com filhos que frequentam a Consulta de Psicologia. Neste contexto, Olson e Gorall (2003) referem que a coesão e a adaptabilidade familiar têm sido consideradas dimensões cruciais no funcionamento da família, sendo particularmente importantes em contextos de adversidade e de doença. Segundo Olson (1988), uma família funcional, ao nível da coesão, será aquela em que cada pessoa da família é simultaneamente autónoma e íntima dos familiares. Já ao nível da adaptabilidade, a família deve ter flexibilidade e/ou capacidade de alterar a sua estrutura de poder, as regras de funcionamento e os papéis relacionais em resposta a uma situação de stresse (Olson, 2000). O que indica que a habilidade para desenvolver estratégias de adaptação adequadas pode ser influenciada pela qualidade das relações afetivas, coesão familiar, segurança, organização e ausência de conflitos (Dessen e Polonia, 2007). Outro aspeto determinante no processo de adaptação às mudanças está relacionado com a resiliência. Neste campo, a resiliência familiar, quando baseada em apoio emocional, capacidades e recursos, pode auxiliar na adaptação e gestão de situações complexas de vida, por exemplo, em caso de problemas e/ou doenças nos filhos, promovendo também a resiliência individual (Walsh, 2003). Além disso, a presença de uma comunicação assertiva e eficaz entre os elementos da família é um mediador importante para a adaptação à mudança (Kreppner, 2000, tal como citado em Dessene Polonia, 2007). Ter conhecimento sobre o diagnóstico das crianças foi fundamental para compreender quais as problemáticas e/ou doenças mais frequentes nas mesmas. Neste âmbito, os resultados revelam que é mais comum as crianças serem acompanhadas por um Psicólogo, 23

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em consultas, devido a alterações comportamentais e emocionais (PHDA, PHDA e comportamentos de oposição, alterações comportamentais, mutismo seletivo, depressão e ansiedade), apresentando uma percentagem de 58,0%. A literatura referencia que os problemas de desenvolvimento infantil, além de interferirem com o funcionamento da criança, envolvem igualmente a família e a escola. Por norma, os pais sentem-se perdidos ao lidar com os filhos, precisando de intervenções que os capacitem na gestão da relação paisfilhos. Este tipo de intervenção é fundamental, dado que o modo como os pais irão relacionar-se com os filhos faz a diferença no prognóstico da doença (Bignotto, 2000). Compreende-se que a educação dos filhos é uma tarefa complexa para os pais, e, quando a criança tem problemas de comportamento é ainda mais difícil. A relação familiar é um dos fatores mais importantes em termos de prognóstico, bem como o modo como se manifestam os sintomas e os problemas que estão associados aos mesmos. Por isso, a família pode ter um papel de proteção e apoio, mas também pode potenciar dificuldades e stresse nos filhos (Bargas e Lipp, 2013). Na presente investigação, a família mostrou ter um papel de proteção e apoio ao considerarem importante que os filhos usufruíssem de um apoio especializado, através da intervenção do Psicólogo, de forma a minimizar, reduzir ou eliminar os seus problemas, seja de ordem emocional ou comportamental. Neste sentido, Gallitto (2015) também refere que a exposição a uma parentalidade mais positiva reduz problemas de comportamento nas crianças, enquanto a rejeição e comportamentos parentais ansiosos contribuem para a gravidade da sintomatologia ansiosa das crianças (Brown e Whiteside, 2008). Ainda no que respeita aos problemas de comportamento dos filhos, em particular, os pensamentos e comportamentos autodestrutivos, Cruz e colaboradores (2013) revelam que a perceção de uma qualidade decrescente do vínculo emocional com os pais e da coesão familiar, o controlo e rejeição paterna, assim como o aumento da perceção de controlo materno, aumenta a probabilidade dos filhos fazerem relatos associados a pensamentos e comportamentos autodestrutivos. Contudo, um nível elevado de rejeição paterna e baixa satisfação com as relações familiares agrava ainda mais a situação ao aumentar a probabilidade dos filhos pertencerem a um grupo clínico. Estes dados sugerem que o aumento da qualidade do vínculo emocional e coesão familiar diminui a probabilidade dos filhos terem pensamentos e comportamentos autodestrutivos. O facto de a criança tomar medicação está intimamente relacionado com o seu diagnóstico. Mesmo assim, verifica-se que o número de crianças que não toma fármacos é superior (54,0%). Assim, compreende-se que a intervenção psicoterapêutica nas crianças 24

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produz resultados mais positivos, comparativamente à intervenção farmacológica. Sobre este aspeto, o recente estudo de Jongerden e Bögels (2015) corrobora os nossos resultados ao analisar se a terapia cognitivo-comportamental para famílias ou a terapia focada nas crianças com perturbações de ansiedade ajuda a diminuir o aumento de ansiedade nos pais e a melhorar o funcionamento familiar. Os resultados indicaram que o bom funcionamento relacional em família, após o tratamento, refletiu melhorias nos filhos. Neste estudo é realçado que ambas as terapias ajudam na redução da ansiedade em crianças, mas também na melhoria da parentalidade e no funcionamento da família. Verificou-se que o estilo parental é mais rejeitante nos pais com crianças que tomam medicação. O EEP rejeição é igualmente exercido sobretudo pelos pais que possuem o ensino secundário. Dados literários suportam a ideia de que o comportamento parental influencia a força da resiliência, perante situações geradoras de stresse, como no caso de problemas e/ou doenças nos filhos. O facto de haver rejeição por parte dos pais, seja porque a criança toma medicação ou pelo seu baixo nível de escolaridade, diminui a capacidade de resiliência (Petrowski, Brähler e Zenger, 2014), influenciando a adaptabilidade familiar, assim como a capacidade para responder às adversidades e fazer a gestão das mesmas. Relativamente ao nível de habilitações literárias dos pais, a bibliografia ressalva que os pais com baixa escolaridade são mais vulneráveis a situações indutoras de stresse e, por isso, tendem a avaliar de modo negativo o comportamento dos filhos, exercendo um controlo excessivo, aplicando estratégias mais punitivas (Custódio e Cruz, 2008). Matejevic, Jovanovic e Lazarevic (2014) também referem nos resultados da sua pesquisa que nas famílias com filhos com problemas de abuso de substâncias, o EEP dominante é a rejeição. Estas famílias tendem a apresentar um nível mais elevado de disfunção, refletindo a presença de ações educativas baseadas na rejeição. Pode-se concluir que os EEP mais rejeitantes, incluindo comportamentos parentais ansiosos, associam-se a níveis mais elevados de preocupação nas crianças, podendo igualmente contribuir para a gravidade dos sintomas de ansiedade nas mesmas (Brown e Whiteside, 2008). O ambiente familiar negativo caracterizado pela baixa coesão, elevado conflito familiar e baixa expressividade, está igualmente associado a sintomas depressivos (George, Herman e Ostrander, 2006). Observou-se também que os pais mais novos, com idades compreendidas entre os 28 e 34 anos, demonstraram maior capacidade de manter a família coesa. Neste sentido, a literatura diz-nos que a coesão familiar é descrita como uma ligação emocional que deve ser estabelecida entre todos os elementos de uma família (Olson e Gorall, 2003), e essa ligação é expressa principalmente nos pais mais novos deste estudo. Alguns estudos também 25

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demonstram que o aumento da qualidade do vínculo emocional e da coesão familiar diminui a probabilidade dos filhos apresentarem sintomas de internalização e externalização (Barber, 1994; Cruz et al., 2013). Uma hipótese explicativa para este resultado, pode dever-se ao facto de os pais mais novos terem mais habilitações literárias, ou seja, se existem associações entre um funcionamento familiar equilibrado e uma parentalidade positiva, verificando-se também que os pais com uma escolaridade mais baixa apresentaram mais rejeição, pode pressupor-se que os pais mais novos tendem a ter mais habilidade para manter um bom funcionamento familiar e, possivelmente, uma parentalidade mais positiva. Assim, pode concluir-se que os pais que investem nos filhos e que comunicam entre si tendem a desenvolver práticas parentais mais positivas (Esteves, 2010), tal como níveis mais equilibrados de coesão e flexibilidade, dado que funcionam melhor (Olson et al., 1989). Todavia, os estilos e práticas parentais podem tornar-se disfuncionais na tentativa de gerir os comportamentos problemáticos dos filhos, podendo até manter ou agravar as dificuldades dos mesmos (Patterson, DeBaryshe e Ramsey, 1989). O funcionamento familiar disfuncional pode igualmente colocar em perigo o sucesso do desenvolvimento futuro dos filhos e do equilíbrio familiar. Ao refletir sobre os resultados da presente investigação, é essencial sublinhar que existem relações bidirecionais entre as variáveis, ou seja, nem sempre é possível determinar se perante um funcionamento familiar desequilibrado os pais desenvolvem determinados estilos educativos ou se são os estilos educativos dos pais que influenciam o desenvolvimento de um determinado funcionamento familiar. Contudo, sendo este um estudo de carácter exploratório, forneceram-se evidências sobre o funcionamento familiar e os EEP. Deste modo, e tendo em conta as características da população em estudo, será importante continuar a implementar a programas de educação parental, seja em Instituições ou em contexto Clínico, e cujo objetivo se centre no desenvolvimento de competências parentais, e de resiliência para que, quando confrontados com situações ativadoras de sofrimento consigam ter estratégias de coping adaptativas e funcionais, promovendo um alívio emocional e tornando a situação mais compreensível para a família. A replicação deste estudo em amostras representativas poderá contribuir para um melhor conhecimento sobre a influência do funcionamento familiar nos estilos educativos dos pais com filhos que frequentam a Consulta de Psicologia. Além disso, o uso de uma entrevista estruturada para a avaliação do funcionamento familiar também poderá permitir uma avaliação mais fidedigna e aprofundada, podendo fornecer mais dados. Seria igualmente interessante efetuar pesquisas para identificar se a falta de estratégias de coping dos pais se 26

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relacionam com o stresse dos filhos face ao seu problema e/ou doença, e se contribui para o aparecimento, agravamento e manutenção de problemas comportamentais e emocionais. Algumas limitações podem ser apontadas a este estudo. Uma delas prende-se com a carência de trabalhos empíricos acerca da relação entre os constructos do nosso estudo, o que dificulta a comparação dos resultados. Porém, este aspeto denota a pertinência e importância do mesmo. Outra limitação existente está relacionada com a dimensão reduzida da amostra, não sendo representativa da população. De mencionar também que o desenho deste estudo e o tipo de análises realizadas não possibilitam o estabelecimento de relações causais, pelo que futuramente estudos de carácter longitudinal poderão clarificar a ligação entre o funcionamento familiar e os EEP, e que contributo poderá dar para o aumento da compreensão da dinâmica familiar face às adversidades, EEP e a necessidade de acompanhamento psicológico infantil. Apesar das limitações, este estudo foi fundamental para explorar as associações entre o funcionamento das famílias e os estilos educativos dos pais, oferecendo dados relevantes sobre o seu impacto na estrutura e dinâmica familiar. Compreendeu-se igualmente a necessidade de existir em contexto clínico, uma intervenção psicoterapêutica direta e focada nas crianças e também nos pais, baseadas por exemplo na Terapia Centrada na Solução de Sheizer ou mesmo na Terapia Cognitivo-Comportamental (Jongerden e Bögels, 2015). Assim, as crianças poderão ser capacitadas de forma a entenderem o seu problema e a perceberem melhor as emoções a ele associadas, bem como os pais, para processarem as suas emoções e aprenderem a lidar e a aceitar o problema dos filhos, adquirindo capacidades para se adaptarem à situação, reajustando papéis na família, se necessário. Finalmente, consideramos que esta investigação deu um contributo importante para a compreensão da temática em estudo, sendo uma mais-valia para a comunidade científica. Dada a sua pertinência, acreditamos igualmente que se deve valorizar a prevenção e intervenção precoce nas crianças e suas famílias (e.g., Conroy & Brown, 2004), para a melhoria da qualidade de vida familiar.

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APÊNDICES E ANEXOS

Apêndice 1 – Resposta ao Pedido de Autorização

Apêndice 2 – Autorização para uso da Escalas

Apêndice 3 – Consentimento Informado

Consentimento Informado

Vamos pedir-lhe que leia este pequeno texto. Antes de ceder a sua autorização para participar neste estudo, sinta-se à vontade para colocar as questões que entender. Esta investigação decorre no âmbito do Mestrado em Psicologia Clínica (Ramo de Especialização em Psicoterapia e Psicologia Clínica) do Instituto Superior Miguel Torga em Coimbra e tem como objetivo estudar a associação entre a perceção que os pais têm acerca dos seus estilos educativos parentais e o funcionamento familiar. Pretendemos que participem neste estudo pais e os respetivos filhos, com idades compreendidas entre os 6 e os 11 anos de idade, a serem acompanhados no Serviço de Psicologia Clínica da Unidade Local de Saúde da Guarda. Para que o estudo seja possível, necessitamos que preencha dois questionários de resposta rápida e um breve questionário sociodemográfico. Relativamente ao seu filho, fará uma breve prova de inteligência. Finalmente, necessitamos que nos dê autorização para consultar os dados relativos ao encaminhamento, e diagnóstico no processo do seu filho. A sua participação é muito importante, no entanto ela é voluntária e a sua recusa em participar, não lhe trará (a si e ao seu filho) qualquer prejuízo. Todos os dados recolhidos têm garantia de confidencialidade e servem somente para investigação científica. O investigador está disponível para qualquer esclarecimento acerca do estudo. Eu, ________________________________________________________________________ li a informação apresentada e concordo em participar neste estudo.

________________________, _____ de _______________ de ______ Contactos Filipa Furtado [email protected] 964160377

Apêndice 4 – Questionário Sociodemográfico

Questionário Sociodemográfico Secção I – Estas questões são acerca de si próprio/a

1. Quem responde: Pai

Padrasto

Mãe

Madrasta

2. Idade: _______

3. Estado Civil: Solteiro/ Nunca me casei Casado/ Vivo com o companheiro Divorciado/ Separado/ Viúvo Outro, qual? ________________

4. Escolaridade Sabe ler, mas não tem escolaridade 1º, 2º e 3º Ciclo do ensino básico Ensino Secundário (10º ao 12º ano) Curso superior (bacharelato, licenciatura, mestrado ou doutoramento)

5. Profissão: ________________________________

6. Situação perante o trabalho Empregado Desempregado

7. Residência Aldeia

Vila

Cidade

Secção II – Esta secção é composta por perguntas relativas aos seus/sua filha/filho mais novo/a (desde que tenha mais de 6 anos de idade) 1. Quantos filhos tem? _______ 2. Idade(s) ____ / ____ / ____ / ____ / ____ 3. O seu/sua filho/a mais novo/a vive consigo? Sim Não 3.1 Com quem vive? _______________________________ 3.2 Há quantos anos?______________

Anexo 1 – Escala de Adaptabilidade e Coesão Familiar (FACES-IV)

FACES IV Versão original: Gorall, Tiesel e Olson, 2004, 2006 Versão portuguesa: Sequeira, Cerveira, Neves, Silva, Espírito-Santo, Guadalupe e Vicente, 2015

Leia cuidadosamente cada afirmação e assinale com uma cruz (x) no quadrado respetivo, a opção de resposta que está mais de acordo com a perceção que tem da sua família. Não há respostas “certas” ou “erradas” nem respostas para causar uma boa impressão. Por favor, não deixe nenhuma questão em branco. Em que medida está de acordo com cada uma das seguintes afirmações.

Discordo totalmente 1. Os elementos da família envolvem-se na vida uns dos outros. 2. A nossa família procura novas maneiras para lidar com os problemas. 3. Damo-nos melhor com pessoas fora da família do que entre nós. 4. Passamos muito tempo juntos. 5. Quando se quebram as regras da família há consequências graves. 6. Na nossa família parece que nunca nos organizamos. 7. Os elementos da família sentem-se muito próximos uns dos outros. 8. Na nossa família os pais partilham a liderança de um modo equilibrado. 9. Quando estão em casa, os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros. 10. Os elementos da família sentem-se pressionados para passar a maioria do tempo livre juntos. 11. Existem consequências claras quando um elemento da família faz algo errado. 12. É difícil perceber quem é o líder na nossa família. 13. Nos momentos difíceis os elementos da família apoiam-se uns aos outros. 14. As regras são justas na nossa família. 15. Na nossa família sabe-se muito pouco acerca dos amigos uns dos outros. 16. Na nossa família somos muito dependentes uns dos outros.

Discordo

Indeciso

Concordo

Concordo totalmente

17. A nossa família tem uma regra para quase tudo.

18. Na nossa família não conseguimos concretizar as coisas 19. Os elementos da família consultam-se sobre decisões importantes. 20. A minha família é capaz de se ajustar às mudanças quando é necessário. 21. Quando há um problema para ser resolvido cada um está por sua conta. 22. Os elementos da família têm pouca necessidade de ter amigos fora da família. 23. A nossa família é extremamente organizada. 24. É pouco claro quem é responsável pelas tarefas e atividades na nossa família. 25. Os elementos da família gostam de passar parte do seu tempo livre juntos. 26. Alternamos entre nós as responsabilidades domésticas. 27. Na nossa família raramente fazemos coisas em conjunto. 28. Sentimo-nos muito ligados uns aos outros. 29. Na nossa família ficamos frustrados quando há uma alteração nos planos ou rotinas estabelecidas 30. Não há liderança na nossa família. 31. Apesar dos elementos da família terem interesses individuais, continuam a participar nas atividades familiares 32. Na nossa família temos regras e papéis claros. 33. Os elementos da família raramente dependem uns dos outros. 34. Ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família. 35. É importante seguir as regras na nossa família. 36. Na nossa família temos dificuldades em saber quem faz o quê nas tarefas de casa. 37. Na nossa família existe um bom equilíbrio entre a separação e a proximidade. 38. Quando os problemas surgem nós comprometemonos. 39. Geralmente os elementos da família agem de forma independente.

40. Sentimo-nos culpados quando queremos passar algum tempo longe da família. 41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil alterá-la. 42. A nossa família sente-se caótica e desorganizada. 43. Na nossa família sentimo-nos satisfeitos com a forma como comunicamos uns com os outros. 44. Os elementos da família são muito bons ouvintes. 45. Na nossa família expressamos afeto uns pelos outros. 46. Os elementos da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem. 47. Na nossa família podemos discutir calmamente os nossos problemas. 48. Os elementos da família debatem as suas ideias e convicções. 49. Quando colocamos questões uns aos outros recebemos respostas honestas. 50. Os elementos da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros. 51. Quando nos zangamos raramente dizemos coisas negativas uns aos outros. 52. Os elementos da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros.

Insatisfeito 53. O grau de proximidade entre os membros da família. 54. A capacidade da família lidar com o stress. 55. A capacidade da família para ser flexível. 56. A capacidade da família para partilhar experiências positivas. 57. A qualidade da comunicação entre os elementos da família. 58. A capacidade da família para resolver conflitos. 59. O tempo que passamos juntos enquanto família. 60. A forma como os problemas são discutidos. 61. A justiça das críticas na família. 62. A maneira como os elementos da família se preocupam uns com os outros.

Geralmente satisfeito

Muito satisfeito

Totalmente satisfeito

Anexo 2 – Egna Minnen Besträffende Uppfostran-P (EMBU-P)

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