Um panorama da publicação em Gestão de Design no Brasil entre 1993 e 2014
Fabiane Wolff Uniritter Laureate International Universities
[email protected] Andréa Capra Uniritter Laureate International Universities
[email protected] Flávia Pimentel Dutra Uniritter Laureate International Universities
[email protected]
WOLFF, Fabiane; CAPRA, Andréa; DUTRA, Flávia Pimentel. Um panorama da publicação em Gestão de Design no Brasil entre 1993 e 2014. Revista D.: Design, Educação, Sociedade e Sustentabilidade, Porto Alegre, v. 8 n.1, 64-83, 2016.
Editora UniRitter Laureate International Universities 2016 © Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0.
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Um panorama da publicação em Gestão de Design no Brasil entre 1993 e 2014 RESUMO O presente artigo apresenta a atualização do estudo anterior, de Wolff, Capra, Szabluk e Amaral (2010) com um panorama sobre a publicação em Gestão de Design no Brasil, de 1993 a 2014 nas principais fontes de publicação: a Revista Estudos em Design e o Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Partindo dos resultados anteriores, retomados aqui, que apresentam os dados até 2009, o painel se completa até o final do ano de 2014, incluindo os resultados das últimas publicações, nas duas fontes de pesquisa. O estudo apontou para o aumento do número de trabalhos publicados e para o crescimento não só do interesse, como também do número de pesquisadores e estudantes envolvidos no estudo do tema. Palavras-chave: Gestão de Design, Estratégia em Design, Análise Sistemática.
Design Management in Brazil: an overview of the publication between 1993 and 2014 ABSTRACT This article presents an updating of Wolff, Capra, Szabluk and Amaral (2010) previous study. It presents an overview of the publication in Design Management in Brazil, from 1993 to 2014 on the main sources of publication: "Estudos em Design" Journal and the Brazilian Congress of Research and Development in Design. Based on the previous results, reproduced here, which present the data until 2009, the panel is completed by the end of 2014, including the results of the latest publications in both research sources. The study pointed to the increase in the number of published works and the growth not only of interest, but also of the number of researchers and students involved in the study of the subject. Keywords: Design Management, Design Strategies, Systematic Analysis.
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Um panorama da publicação em Gestão de Design no Brasil entre 1993 e 2014
1 INTRODUÇÃO Da consolidação do uso do design como função nas empresas européias e americanas entre as décadas de 1940 e 1950, passando pelas discussões sobre design thinking do final da primeira década dos anos 2000, até as discussões sobre valor do design e métricas, mais frequentes nos dois últimos anos, o papel do design modificou-se e evoluiu em importância, sendo inserido nas estratégias empresariais. Do mesmo modo, a Gestão de Design evolui de um simples modo de gestão de projetos para uma filosofia que visa não somente gerenciar o design nas empresas, mas também organizar e implantar um novo modelo de negócios, no qual o design e sua lógica auxiliam as organizações a diferenciar-se e competir estrategicamente por maior e melhor valor (BORJA DE MOZOTA; KIM, 2009). No Brasil, a Gestão de Design vem sendo pesquisada com maior ênfase nos últimos quinze anos. O interesse do empresariado pelo tema, influenciado pelos estudos internacionais e pela crescente competição de mercado, o fez emergir através de práticas de gestão. Ao mesmo tempo, algumas universidades vêm estudando os aspectos teóricos de Gestão de Design através de teses e dissertações e, naturalmente, por meio de publicações sobre o tema. Ainda tímidas quando comparadas às americanas, asiáticas e européias, as publicações acadêmicas e gerenciais sobre Gestão de Design no Brasil levantam, nos últimos anos, a questão acerca do que já foi publicado no país neste tema. Pouco se sabia sobre a evolução brasileira do conhecimento científico nesta área até a publicação, em 2010, do artigo de Wolff, Capra, Szabluk e Amaral que apresentou um panorama sobre a publicação na área nas principais fontes de publicação: a Revista Estudos em Design e o Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. O estudo apontou para o aumento do número de trabalhos publicados e para o crescimento não só do interesse, como também do número de pesquisadores e estudantes envolvidos no estudo do tema. O presente artigo apresenta a atualização do estudo anterior até o presente momento. Partindo dos resultados anteriores (WOLFF; CAPRA;
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SZABLUK; AMARAL, 2010), retomados aqui, que apresentam os dados até 2009, o painel se completa até o final do ano de 2014, incluindo os resultados das últimas publicações, nas duas fontes de pesquisa. Apresenta-se, assim, neste artigo, o método de trabalho e os resultados obtidos, bem como discute-se os resultados.
2 MÉTODO O presente estudo desenvolveu uma Análise Sistemática sobre a publicação em Gestão de Design nos dois principais fóruns de publicação de artigos do país, elencando quantidade de publicações, origem das mesmas e tópicos de debate; desvendando a produção teórica brasileira neste campo. Foram analisados todos os artigos publicados em todas as edições do Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design - P&D - maior congresso da América Latina na área do design, e da Revista Estudos em Design, primeira publicação de natureza acadêmica e científica sobre Design do Brasil, e a melhor qualificada pelo sistema QUALIS, da Capes. Não foram coletados dados referentes a teses e dissertações por dois motivos: a) as bases de dados que disponibilizam as mesmas não são atualizadas e completas como seria esperado para garantir a validade deste estudo e b) muitos dos trabalhos apresentados nas fontes escolhidas são frutos de teses e dissertações e seria necessário aplicar mais um filtro para evitar a duplicidade nos resultados deste estudo, inviabilizando o bom andamento do mesmo. Assim, a Análise Sistemática (AS) aqui procedida coletou, selecionou e analisou todos os artigos publicados sobre o tema nas duas mais significativas vias de produção cientifica do design brasileiro: o Congresso Brasileiro de Pesquisa e Design (P&D) e a Revista Estudos em Design. O estudo foi conduzido através de etapas de seleção e classificação distintas para as duas publicações, atendendo suas características específicas. No caso da Revista Estudos em Design, todas as edições da revista, de 1993 a 2014, foram coletadas e revisadas, sendo que os quatorze artigos que abordavam Gestão de Design foram selecionados para leitura (Tabela 1). As edições especiais da Revista Estudos em Design que apresentavam os melhores artigos do P&D não foram analisadas para evitar duplicidade.
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Data de Publicação
Total de Artigos
Artigos de Gestão de Design
1993
16
0
1994
14
1
1995
20
1
1996
11
0
1997
12
0
1998
11
1
1999
15
1
2000
15
0
2001
10
2
2002
10
2
2003
10
1
2004
10
0
2005
10
0
2006
10
0
2007
10
0
2008
5
0
2009
8
0
2010
20
0
2011
11
1
2012
13
1
2013
20
3
2014
32
0
TOTAL
293
14
TABELA 1 Publicações e quantidade de artigos da Estudos em Design. Fonte: Coleta de dados.
No caso do P&D, em função da quantidade de volumes e artigos (tabela 2), as etapas de seleção e análise foram: (a) listagem das edições do evento, (b) obtenção dos anais e seleção dos artigos classificados no tema Gestão de Design, (d) leitura dos resumos artigos classificados, (e) triagem dos artigos que realmente pertenciam ao tema, (f) leitura do artigo e resumo dos seus dados e (g) análise de dados. Os procedimentos de coleta, triagem, seleção e leitura foram acompanhados por uma planilha de dados, na qual foram registrados ano/volume da publicação, autor, instituição de origem,
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título do trabalho, palavras-chave e um resumo desenvolvido pelos pesquisadores.
1994
55
0
Artigos de Gestão de Design Considerados 0
1996
55
6
3
1998
121
5
5
2000
139
2
2
2002
301
22
13
2004
301
25
19
2006
650
27
20
2008
550
9
8
2010
528
20
13
2012
876
34
32
2014
322
26
26
TOTAL
3898
176
141
Data de Publicação
Total de Artigos P&D
Artigos de Gestão de Design
TABELA 2 Publicações e quantidade de artigos do P&D. Fonte: Coleta de dados. .
Somaram-se 176 artigos classificados como Gestão de Design nos anais do P&D e, quando lidos os resumos destes artigos, constatou-se que 141 artigos efetivamente tratavam de temas relacionados à Gestão de Design, segundo critérios de classificação teórica e aderência à área. Assim, estes foram os artigos considerados nesta análise sistemática para leitura e discussão do panorama da publicação em Gestão de Design no Brasil. A partir da classificação, a leitura, resumo dos artigos a análise dos dados observados foi desenvolvida, elencando as questões apresentadas a seguir. É interessante lembrar que no primeiro estudo, desenvolvido em 2010, somaram-se 96 artigos classificados como Gestão de Design nos anais do P&D e, quando lidos os resumos destes artigos, constatou-se que 70 artigos efetivamente tratavam de temas relacionados à Gestão de Design. Assim, estes foram os artigos considerados para análise sistemática atualização do
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panorama da publicação em Gestão de Design no Brasil. Avançando o estudo, as últimas 3 edições do evento, nos anos de 2010, 2012 e 2014, apresentam 80 artigos seguindo a mesma classificação, sendo 71 realmente aderentes ao tema. Nestas edições mais modernas, para que análise pudesse ser mais completa e nenhum artigo relacionado ao tema fosse ignorado a busca foi complementada em relação à primeira busca desenvolvida. Foi realizada também uma busca com as expressões “gestão do design”, “gestão de design” e “design estratégico” no corpo do texto e os artigos em que essas expressões foram encontradas foram incluídos na seleção inicial para serem lidos e classificados posteriormente. No ano de 2014, o evento contou com uma área específica para gestão de design e design estratégico e, deste modo, todos os artigos classificados nesta área entraram neste estudo. Com isso, os antes 96 artigos, transformaram-se em 176 artigos. A partir da classificação, leitura e resumo dos artigos a análise dos dados observados foi desenvolvida, elencando as questões apresentadas a seguir.
3 RESULTADO DA ANÁLISE SISTEMÁTICA Considerando os 141 artigos selecionados que efetivamente tratam de temas relacionados à Gestão de Design para leitura e discussão do panorama da publicação em Gestão de Design no Brasil, foi possível tecer análises acerca do volume de publicações, do seu conteúdo e dos temas abordados ao longo dos anos. Em primeiro lugar, observou-se a participação deste tema nas publicações. Percebeu-se que tal fato não é expressivo, sendo que na Revista Estudos em Design limita-se a 4,77% da produção total da revista no período estudado, que é de 193 artigos em 44 volumes ao longo dos anos. No P&D, o volume de artigos é maior (3898), sendo 176 artigos cadastrados no tema e 141 efetivamente pertinentes, porém o percentual aproxima-se dos 4%, similar a Revista Estudos em Design. Na figura 1 apresenta-se um gráfico com número de artigos relativos ao tema publicados em cada edição do P&D e da Revista.
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FIGURA 1 Número de artigos x Ano de publicação. Fonte: Análise de dados.
Percebe-se que, ao analisar o gráfico, na Revista Estudos em Design o tema teve quatro ondas de publicação: entre 1994 e 1995, entre 1998 e 2000, entre 2001 a 2003 e entre 2010 e 2014. Já no P&D, percebe-se um crescimento intenso na quantidade de publicações ao longo dos anos. Somente no ano de 2008 um decréscimo se apresenta sobre o qual não se pode especificar a razão, especialmente porque no exterior o tema continuou em crescimento neste período. O período de tempo que apresenta o início do crescimento das publicações no P&D é também um dos mais férteis nas discussões e publicações no exterior, tanto em livros quanto no surgimento de seminários, congresso, journals e até mesmo de programas de pós-graduação na área. Duas especificidades desta pesquisa devem ser ressaltadas neste ponto: a atualização de dados aqui proposta, a partir de 2010, buscou palavras mencionadas no texto e em maior quantidade, de modo condizente com as novas realidades dos anais do evento e das pesquisas. Assim sendo, elencou uma quantidade maior de artigos para leitura e consideração no estudo. Do mesmo modo, vale ressaltar que em 2012, por decisão do comite científico, o evento foi bastante amplo com 876 artigos aprovados o que inseriu na pesquisa
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uma série de artigos teóricos. Ao contrário de 2014, ano no qual o evento foi enxugado, priorizando artigos com pesquisa de campo, em menor quantidade, Quanto à análise dos conteúdos dos artigos selecionados, percebe-se, entre os quatorze artigos publicados pela revista Estudos em Design, cinco com caráter teórico, seis como estudos de caso e dois relatos de pesquisas quantitativas e um relato de pesquisa qualitativa, em uma perspectiva um pouco diferente da encontrada no primeiro estudo de panorama de Wolff, Capra, Szabluk e Amaral (2010). Naquele momento, a maioria dos artigos era estritamente teórico, seguido pelos estudos de caso e uma minoria de enfoques de pesquisas quantitativas, sem nenhum estudo qualitativo. O aumento de estudos de caso expõe a necessidade por exemplificar percepções e teorias ao passo que a não existência de nenhum estudo quantitativo desde de 2003 é preocupante para uma área de conhecimento que se propõe a desenvolver pesquisa científica. A origem destes artigos é variada e os autores são provenientes de instituições do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo os estados do sul fonte da maioria dos artigos publicados em Gestão do Design na Revista Estudos em Design. Na análise do conteúdo dos artigos selecionados nesta revista, é possível perceber que os artigos abordam estudos de caso, ou pesquisa qualitativa, detalham experiências específicas de empresas que incorporaram práticas da Gestão de Design ao seu processo produtivo ou de marcas e serviços sobre os quais se pode fazer uma apreciação prática de pressupostos teóricos. Porém, é interessante notar que apenas um dos artigos se detém no papel do designer dentro da empresa estudada, enquanto os demais expõem os resultados referentes aos métodos de integração entre diversos profissionais e setores. Já os artigos com abordagem teórica são unânimes em defender a importância do design no processo de desenvolvimento de produto e sua força
como diferencial competitivo, analisando conceitos e
metodologias relativas à Gestão de Design. Um dos artigos teóricos aborda a relação de Gestão de Design com Gestão de Conhecimento, em uma interessante abordagem, embora a relação entre os temas seja delicada. Os
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artigos que abordaram pesquisas de caráter quantitativo buscaram verificar o grau de conhecimento e a aceitação do Design nas empresas, focando somente uma faceta da Gestão de Design. Ao contrário da Revista Estudos em Design, que publicou artigos sobre o tema em edições específicas, gerando ondas de publicação, o P&D apresente publicação contínua na área. Após um início tímido de publicações, um pico de interesse pela área surgiu entre 2002 e 2006. Analisando os artigos por edições pode-se perceber a evolução do interesse pelo tema tanto pela quantidade de artigos como pela sua característica. Na primeira edição do P&D, em 1994, nenhum artigo sobre Gestão de Design foi apresentado, mas já na edição seguinte, em 1996, três autores apresentam suas considerações, basicamente relacionadas ao design inserido no ambiente empresarial, nas estratégias de inovação pelo design e na relação entre design, marketing e engenharia. No ano de 1998, cinco artigos são publicados na sessão de Gestão de Design incluindo autores de instituições como a UFRGS (PPGEP), a PUC-RIO e a UFP. Os temas abordados pelos artigos focam o design e sua importância para as empresas nos ambientes competitivos e de inovação, mas somente tangenciam a questão da Gestão de Design. Todos os artigos apresentados são de cunho teórico, sendo que dois apresentam estudos de caso e um artigo apresenta resultados de pesquisa quantitativa. Em 2000, dois artigos relacionados à Gestão de Design foram publicados. O primeiro descreve o desenvolvimento de um sistema de navegação para portadores de deficiência física. Nele, a Gestão de Design é desenvolvida estritamente para o produto, onde sua principal função é coordenar esforços, tarefas e recursos para o processo de ciclo de vida do produto, nesse artigo a relação do designer com a empresa e sua importância não são abordadas. O outro artigo é teórico e trata do “espírito do design”, passando brevemente por conceitos de Gestão de Design, sendo o foco principal a gestão de organizações.
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A edição de 2002 do P&D demonstra um aumento da produção de artigos relacionados à Gestão de Design, com treze artigos publicados. Grande parte tem caráter teórico, apresentando a importância da gestão nos processos de design e começando a apresentar o designer como o profissional capaz de atuar nesse sentido. Os artigos seguem uma linha bastante semelhante ao criticar a relação entre o designer e as organizações, pois, embora teoricamente seja clara a função do designer como gestor, na prática isso não acontece. A informação de que a prática de design não existe nas empresas não é bem fundamentada nos artigos revisados, pois não há apresentação de estudos que possam confirmar concretamente como isso ocorre. Alguns artigos citam o papel e as atividades que o designer deveria exercer enquanto gestor e são baseados em modelos de gestão citados por Wolf (1998) e pelo Centro Português de Design (1998), mas não comparam estes modelos à prática empresarial do momento. Dois artigos apresentam, além da parte teórica, um estudo de caso, mas confundem a função do designer como gestor com a função do designer no desenvolvimento de novos produtos. Embora teoricamente Gestão de Design seja consolidada como fundamental ao desenvolvimento da empresa, na relação prática ainda é muito focada no desenvolvimento de novos produtos, ficando toda a parte estratégica da empresa fora do processo. No P&D 2004 os dezenove textos classificados como pertinentes ao campo de Gestão de Design são, em sua maioria, centrados em pesquisas em fase inicial. Um fenômeno interessante se apresenta nesta edição do congresso: a bibliografia utilizada nos artigos apresentados é, em boa parte, proveniente de artigos anteriores do próprio P&D ou de teses e dissertações dos programas aos quais os autores estão vinculados. O conjunto de artigos do P&D 2004 apresenta estudos diversos que, em relação às edições anteriores, são mais focados no tema, apresentando tentativas iniciais de pesquisas de campo em empresas, na busca de consolidar a presença da Gestão de Design no ambiente empresarial brasileiro. No ano de 2006, vinte artigos foram publicados sob o tema Gestão de Design, dos quais cinco são estritamente teóricos, nove expõem estudos de
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caso e seis abordam simultaneamente pesquisas de caráter quantitativo e qualitativo, revisões bibliográficas e estudos de caso. Em uma análise dos artigos teóricos, é possível perceber que a Gestão de Design é abordada parcialmente, no que se entende por sua definição, ficando o foco voltado a temas relacionados, como o papel do designer dentro das indústrias, sustentabilidade na Gestão de Design, metodologias no processo produtivo e até mesmo conceitos de branding. Tratando-se dos artigos focados em estudos de caso, há ocorrência de relatos de experiências de inserção do design estratégico em pequenas e médias empresas, através de parcerias com o meio acadêmico, inserções de novas tecnologias no processo produtivo das indústrias,
metodologias
para
aprimoramentos
no
processo
de
desenvolvimento de produtos e certificação e normatização de produtos em empresas específicas. Como nos artigos dos anos anteriores, a Gestão de Design é abordada de forma deslocada do período histórico da data de publicação, segundo o modelo de evolução da disciplina de Borja de Mozota e Kim (2009). Segundo o qual, os artigos representariam o pensamento das décadas de 1980 e 1990 e não dos anos 2000. Os demais artigos publicados no P&D 2006 conciliam aspectos teóricos com relatos de pesquisas de caráter qualitativo e estudos de caso. Nestes artigos, são discutidos temas como a aproximação das Universidades com o mercado para disseminação do design, levantamentos de conceitos e metodologias de Gestão de Design a partir de pesquisas com empresas de determinados segmentos, a percepção do designer sobre a Gestão de Design nas empresas e outros assuntos. Mesmo assim, poucos destes artigos detalham aspectos da Gestão de Design como nos fundamentos teóricos. Um artigo em especial chama a atenção neste conjunto, por fazer uso da meta-análise para explorar o campo da Gestão de Design. Neste artigo, os autores analisam os artigos publicados na Design Management Review, publicação do Instituto de Gestão de Design (DMI), órgão Americano que congrega professores, pesquisadores e gestores de design. Para este trabalho, com parâmetros diferentes dos aqui apresentados, os autores contam palavras e classificam assuntos mais discutidos na publicação, dando um indicativo dos caminhos da disciplina no ambiente internacional.
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Na edição de 2006 é interessante notar que boa parte das referências utilizadas nos artigos é voltada para temas específicos mencionados no decorrer do texto ou para teorias do design, mas poucas são focadas especificamente em Gestão de Design. Há recorrência de diversos autores, mas, ao contrário da edição de 2004, poucos são provenientes de artigos publicados em edições anteriores dos anais do congresso, ampliando o escopo de pesquisa na área. Novamente, as publicações de Instituições de Ensino do Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina são a maioria, apresentando-se também Rio Grande do Sul e Minas Gerais. No P&D de 2008 somente oito artigos aparecem na sessão de Gestão de Design em um notável decréscimo de publicações no tema, na contramão da evolução da disciplina e das publicações no mundo. Neste conjunto de artigos observa-se a percepção dos autores sobre Gestão de Design voltada para a estratégia das empresas e para a inserção do design no processo organizacional e seu impacto na cultura das empresas. São apresentados dois estudos de caso em indústrias e uma pesquisa quantitativa. Pela primeira vez no P&D um artigo aborda as questões do ensino da Gestão de Design nas faculdades de design, com uma pesquisa quantitativa que oferece um panorama preliminar da situação brasileira. Mais uma vez, as publicações provenientes do Paraná e de Santa Catarina são maioria, o que indica estes dois estados e o Rio de Janeiro, como centros de pesquisa no tema. Os Anais do Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design no ano de 2010, na sua 9a. edição, são compostos de 528 artigos no total, dentre esses, 38 artigos apresentam entre as suas palavras-chave os termos: Gestão de design, Gestão do design, Gestão estratégica e/ou Estratégia de design. Desses 38 artigos, 20 deles apresentaram relação com o tema proposto nessa análise, a partir da leitura de seus resumos e na etapa seguinte, onde os artigos foram lidos na sua totalidade, concluiu-se que 13 artigos efetivamente fazem parte do estudo proposto. Dos artigos selecionados, grande parte trata do design gráfico e tem o intuito de elucidar a importância da definição da identidade visual para o posicionamento e
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fortalecimento da marca de produtos. Ainda podem ser vistos muitos artigos voltados para preservação do meio ambiente e projetos de produtos a partir de conceitos de desenvolvimento sustentável. A gestão de design é entendida como a resposta para a inserção adequada e melhor condução da atividade de design nas empresas, sendo também capaz de ações de desenvolvimento sustentável junto às comunidades. Podem ser percebidos artigos que tratam das forças do design, sua história e desenvolvimento, a condução do pensamento em design para uma visão sistêmica e a importância de dashboards adequados às reais necessidades das empresas. Em 2012 não houve qualquer classificação que buscasse diretamente os artigos de gestão de design, portanto, recorreu-se ao método já explicado anteriormente, buscando as palavras-chave designadas pelos próprios autores. Os artigos publicados em 2012 são, em sua maioria, provenientes apenas de Universidades do Sul do país. Mesmo que a região sul apresente um desenvolvimento quando se buscam pesquisas sobre o assunto, é curioso o fato de apenas 6, dos 32 artigos selecionados, serem oriundos de outras regiões. Seis artigos apresentam o resultado da colaboração entre duas universidades. Em relação ao tipo de pesquisa, os estudos se dividem entre teóricos e qualitativos, grande parte apresentando estudos de caso. Sobre os temas analisados em cada trabalho, não há um consenso. Alguns estudos são realizados em empresas de design gráfico, apresentando um campo não tão explorado da gestão de design. De forma geral, os artigos não aprofundam conceitos e alguns não apresentam relação direta com a gestão de design no desenvolvimento
prático.
Tópicos
como
inovação,
aprendizagem
e
metodologias de projeto também são abordados nos trabalhos publicados em 2012. É importante ressaltar que metade dos artigos não apresentam metodologia, em alguns deles, na introdução é explicado o que foi feito e como, mas em grande parte não é claro o processo de pesquisa e até o objetivo do estudo, principalmente nos trabalhos teóricos. Em relação ao número de autores, a maioria dos artigos tem em média dois e três pesquisadores, variando entre mestres, doutores e graduandos.
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Na última edição do P&D analisada, do ano de 2014, 26 artigos estão publicados nos anais sob a classificação de design estratégico, e sub divididos em quatro áreas:estratégias de design e desenvolvimento de novos produtos e serviços; inovação orientada pelo design; organização e gestão de design; e trabalho em equipe, networking e cooperação. Os artigos são provenientes de diversas IES, com destaque para o sul do país. Programas de Mestrado em Design do Rio Grande do Sul e Santa Catarina respondem, em conjunto, por mais da metade dos artigos publicados. Quando somados os dois artigos provenientes do Paraná tem-se 18 dos 26 trabalhos apresentados e a consolidação do sul do Brasil como pólo de estudos nesta área. Entre os artigos apresentados percebe-se crescimento dos esforços de pesquisa de campo, especialmente as de caráter qualitativo, embora muitos artigos ainda sejam restritos à revisão teórica. Percebe-se também um crescimento dos temas ligados ao design estratégico, e ao metaprojeto, bem como ao design de serviços. Estudos sobre gestão de design e sustentabilidade, competências e gestão de projetos também aparecem nesta edição do P&D. Para finalizar a análise, buscou-se uma visão geral dos assuntos tratados nos artigos de ambas as publicações. Para tanto, foi realizada uma análise direta através da compilação das palavras mais freqüentes na forma como são citadas (tabela 3) como palavras-chave.
Palavras chave mais citadas
78
TABELA 3
Design
47
Palavras mais citadas.
Design Estratégico
29
Gestão de Design
29
Fonte: Coleta de dados.
Gestão do Design
26
Gestão
12
Inovação
10
Competitividade
8
Desenvolvimento de produtos
6
Estratégia
6
Qualidade
6
Metodologia de Projeto
5
Sustentabilidade
5
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Percebe-se, pela frequência de citação das palavras design e gestão aliadas à Gestão de Design, a intenção dos autores no que se refere a contextualizar o tema como comum ao design em si e as atividades de gestão. A frequência de termos ligados às teorias de gestão e administração de empresas como competitividade, estratégia e qualidade corroboram para esta percepção. Se somadas as expressões Gestão DE Design e Gestão DO Design tem-se 55 incidências. Somadas às incidencias da expressão Design Estratégico estas compõem maioria absoluta. Parece importante salientar a diferença existente entre os três termos, ainda que ela não esteja clara no discurso dos autores. Este ponto, do artigo anterior para este, não muda. ‘Gestão de Design’ refere-se ao corpo teórico que compreende a implementação do design como um programa formal de atividades dentro de uma corporação e todos os seus desdobramentos. ‘Gestão do Design’ é um termo comumente usado para designar o mesmo corpo teórico, embora se possa argumentar que ‘do’ design prevê algo muito mais restrito ao projeto em si do que ao seu uso estratégico, sua intenção e integração nas empresas. Design estratégico, embora inserido na Gestão de Design, tem corpo teórico específico e referese ao uso do design como estratégia empresarial e de metaprojeto. A nuvem de palavras abaixo apresenta a distribuição dos temas encontrados nesta pesquisa como palavras chave dos artigos considerados.
FIGURA 2 Palavras-chave mais citadas. Fonte: Coleta de dados.
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Diversas palavras historicamente relacionadas à administração de empresas aparecem conectadas à Gestão de Design no grupo de palavras mais citadas mas, ao observar a nuvem de palavras gestão, design desenvolvimento de produto e inovação compõe o panorama de palavras aliadas. Pode-se, também, observar a participação das instituições de ensino no volume de
publicações em Gestão de Design no P&D, conforme a tabela 4, abaixo.
Posição
IES
N
1
UFSC
27
2
Unisinos
25
3
UFRGS
13
4
UFPR
11
5
PUC RIO
10
6
UEL
8
7
UFRJ
8
8
UniRitter
6
9
UEMG
5
9
UFMG
5
9
USP
5
9
UTFPR
5
10
UERJ
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TABELA 4 Participação no P&D por universidade. ** A tabela considera ponto para a IES a participação de um autor, portanto um artigo publicado em coautoria entre duas IES pontua para as duas. .
A Universidade Federal de Santa Catarina lidera a produção científica publicada no P&D ao longo da sua história com 27 artigos publicada, seguida de perto pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, com 25 artigos. Mais importante do que descrever quantos artigos cada universidade já publicou é perceber a concentração da publicação e, obviamente, das pesquisa no tema, na região Sul do Brasil. Das 10 instituições que mais publicam artigos no P&D, sete estão no Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As
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motivações para este fato são de natureza diversa e pouco pode-se afirmar sobre isso além de o fato de muitas empresas desenvolvedoras de produto brasileiras concentrarem-se nesta região, interessando os pesquisadores da área.
4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SORBE OS RESULTADOS DESTE ESTUDO A análise sistemática das publicações brasileiras em gestão do design permitiu planilhar a produção científica da área, quantificando-a e estabelecendo suas bases e conexões com outras áreas. Ao identificar temas, autores e procedência dos estudos, buscou-se apresentar bases e direções do estudo brasileiro sobre este tema nos últimos vinte anos. Cabem, neste momento, algumas observações sobre a análise aqui apresentada e sua relação com os achados de Wolff, Capra, Szabluk e Amaral (2010) que este artigo pretendeu atualizar. Especialmente em três pontos: quantidade de artigos e evolução dos estudos, característica e profundidade dos artigos, e sincronicidade com os estudos internacionais. O estudo conduzido entre 1993 e 2008 mostrou que a evolução dos estudos em Gestão de Design era lenta e não gradual, com perspectiva de diminuição, dado o resultado do P&D de 2008 e das últimas edições da Estudos em Design disponíveis naquele momento. Felizmente essa perspectiva não se confirmou e a área cresceu entre 2009 e 2014. Pode-se atribuir este crescimento à fatores diversos, desde a abertura de programas de pós graduação até ao natural aumento da pesquisa em design como um todo, passando pela atenção à area, considerando sua importância na perspectiva contemporanea do que se entende por design. Fator este no qual preferimos acreditar. É uma boa perspectiva, especialmente quando percebe-se que os artigos são provenientes majoritariamente das mesmas instituições de ensino, da mesma região do país, indicando a presença e esforço de consolidação de grupos de pesquisa.
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Extremamente importante se torna este esforço ao analisarmos as características dos artigos apresentados. Todas as áreas do saber científico lutam pelo seu estabelecimento através de pequenas (grandes) batalhas que, superficialmente falando, vão do estabelecimento das fronteiras deste saber e sua relação com outros saberes, até o avanço da ciência em si, passando pela descrição de eventos para a prescrição de procedimentos e voltando à descrição de resultados. Em Design e Gestão de Design não seria diferente. A preocupação surge quando observa-se que, majoritariamente temos produção teórica (estabelecendo bases), timidamente pesquisa de campo qualitativa (descrevendo) e praticamente nenhuma pesquisa quantitativa ou qualitativa avançada, que permitiriam também prescrever ou até descrever a segunda fase de realidades observadas e modificadas. A comparação dos resultados do estudo anterior aos destes não apresentam a evolução que se esperaria da área e a profundidade tampouco aumentou. Por fim, sobre o último ponto de análise, pode-se perceber que a sincronicidade com os estudos internacionais evoluiu timidamente. As temáticas tratadas nos fóruns internacionais sobre Gestão de Design, já fortemente ligadas ao valor do design nas empresas, à estratégia, às métricas e a sustentabilidade como forma de valoração (e não unicamente conectada com a ecologia) não encontram eco nas publicações brasileiras. Por outro lado, estes fatores nos impulsionam a pesquisar e qualificar a área, buscando estudos mais fortes, profundos e qualificados. A lacuna exposta na construção teórica sobre Gestão de Design no Brasil, similar a encontrada no estudo anterior, aponta caminhos para a construção teórica pela perspectiva brasileira, tanto na compreensão do tema quanto na sua aplicação e mensuração.
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Agradecimento Agradecemos ao Prof. Dr. Fernando Gonçalves Amaral e a Prof. Daniela Szabluk, autores da primeira versão deste artigo que, mesmo sem participar desta versão, contribuem para o estudo.
REFERÊNCIAS BORJA DE MOZOTA, B.; KIM, B. Y.. Managing Design as a Core Competency: Lessons from Korea. Design Management Review; Volume 20, number 2, 2009. Manual de Gestão do Design. Centro Português de Design. Porto - Portugal, 1998. WOLF, B. O Design Management como fator de sucesso comercial. Florianópolis: FIESC/IEL, ABIPTI, Programa Catarinense de Design, SEBRAE, CNPq, 1998. WOLFF, Fabiane; CAPRA, Andrea; SZABLUK, Daniela; AMARAL, Fernando G. Uma Revisão Sistemática das Publicações em Gestão de Design no Brasil. Anais do IX Congresso Brasileiro de Pesquisa e Design – P&D – Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010.
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