Um par entre pares: Alexandre Rodrigues Ferreira no contexto do Iluminismo europeu

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Um par entre pares:

Alexandre Rodrigues Ferreira no contexto do Iluminismo europeu

Um par entre pares: Alexandre Rodrigues Ferreira no contexto do Iluminismo europeu ANA MARIA COSTA ARTIS-Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa [email protected]

200 ARF | SEMINÁRIO PERMANENTE DE ESTUDOS RODRIGUES FERREIRA, NCADR-UFPA & CH-FLUL (org.)

SOBRE

ALEXANDRE

FLUL, Lisboa, 1 Junho 2015

A  Arte  na  História  Natural  e     a  História  Natural  na  Arte  (1770-­‐1810).   O  império  da  Natureza  no  desenho  cien@fico  português,  espanhol  e   britânico  numa  perspecGva  ar@sGca  comparada                   !     Financiamento  nacional        

!

Ana Maria Costa, doutoranda

Prof. Dr. Vítor Serrão, orientador

Prof. Dr. Luís Mendonça de Carvalho, orientador





Financiamento  europeu  

Objectivo Reflectir sobre o contributo dado para a Ciência pelo luso-brasileiro naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, comparando-o com outros naturalistas europeus coevos, e propor um programa de restauração historiográfico do sentido unitário da viagem à Amazónia e dos seus principais intervenientes.

CUNHA, O. R. 1991. O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. Uma análise comparativa de sua Viagem Filosófica (1783-1793) pela Amazônia e Mato Grosso com a de outros naturalistas posteriores. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi

“…ainda hoje, [as colecções de Alexandre Rodrigues Ferreira] estão repartidas entre Lisboa, Rio de Janeiro e Paris, à espera que uma reconstituição completa dos fundos faça justiça, em definitivo, à obra do naturalista…” (Faria 2011, p.137)

Carlos Almaça José Vicente Barbosa du Bocage Osvaldo Rodrigues da Cunha Carlos França Américo Pires de Lima William J. Simon Paulo Emílio Vanzolini e outros autores…

Road map

1) Reflecting back

and 2)

looking forward

1) Reflecting

back

Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815)

?

. natural da Bahia, vai aos 14 anos estudar para Coimbra (1770) . aos 18 anos entra no curso de Filosofia Natural da Universidade de Coimbra (1774) . aos 22 anos obtém o grau de bacharel em Filosofia Natural (1778), sendo demonstrador na aula de História Natural dada por Domingos Vandelli [1777 e 1778]

Detalhe de Prospecto das Canoas em que navegarão os Empregados na Expedição Filosofica pelos Rios Cuyabá, S. Lourenço, Paraguay, e Jaurú, anónimo, s/ data, aguarela. ARF 33, MUHNAC.

.

e aos 23 o grau de doutor em

Filosofia (1779)

Entre meados de 1778 e inícios de 1783, enquanto naturalista do Real Gabinete de História Natural da Ajuda, realiza com outros colegas trabalhos de campo em Portugal (e.g. Buarcos e Setúbal) e estuda os exemplares dos três reinos existentes no Real Museu da Ajuda, preparando-se assim para a expedição que estava a ser organizada para o Brasil colónia.

Frontispício da Specimen Florae Americae Meridionalis (1780), vol. 1, RES 2, MUHNAC

Methodo de Recolher, Preparar, Remeter, e Conservar os Productos Naturais (1781), RES 18, MUHNAC

Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) . correspondente da ACL (1780) . de entre 7 manuscritos que redige e/ou coordena antes da viagem à Amazónia destaco: Abuzo da Conchyologia em Lisboa. Para servir de introdução á minha Theologia dos Vermes” (1781)

e Methodo de Recolher, Preparar, Remeter, e Conservar os Productos Naturais (1781)

“Expedição Philosophica do Pará, Rio Negro, Mato Grosso, e Cuyabá” (1783-1792)

Desenho aguarelado Prospecto das Canoas em que navegarão os Empregados na Expedição Filosofica pelos Rios Cuyabá, S. Lourenço, Paraguay, e Jaurú, anónimo, s/ data. ARF 33, MUHNAC

Objectivos da expedição

…examinar e descrever tudo o que houver nesse Estado [Pará] relativo à História Natural… (Carvalho 1987, p. 99) Este empreendimento, embora fruto do espírito iluminista, tinha também “interesses relacionados com a colonização, com a economia e com a geografia” (Brigola 2003, Domingues 1991)

“É óbvio que Alexandre tinha recebido instruções de duas ordens, política e técnica.” (Vanzolini 1996, p. 195)

Equipa da expedição philosophica do Pará, Rio Negro, Mato Grosso, e Cuyabá” (1783-1792) Alexandre Rodrigues Ferreira, naturalista, com 27 anos José Joaquim Freire (1760-1847), desenhador, com 23 anos Joaquim José Codina (act. 1780-1794), desenhador Agostinho Joaquim do Cabo (act. 1783-1789), jardineiro + 2 “índios cristianizados” (Cunha 1991) Cipriano de Souza (act. 1873-act.1793), preparador José Silva (act. 1873-act.1793), preparador

“Expedição Philosophica do Pará, Rio Negro, Mato Grosso, e Cuyabá” (1783-1792) Da viagem resultou uma Coleção inicialmente composta por: herbário de plantas “herbário” de animais animais vivos plantas vivas sementes e frutos animais mortos e peles (BNRJ, 1794) minerais artefatos locais desenhos, prospectos e mapas.....................1015 e manuscritos (e.g. relatórios, memórias, roteiros de viagem, descrições de espécies, diários de viagem).

#?

Outros aspectos

. + de 39000 Km percorridos e + de 500 colaboradores intermitentes . vasto material colectado nos 9 anos de expedição, impossível de quantificar hoje . produção de textos de cariz científico e oficial . manutenção de contactos com a sua instituição científica, a tutela e os governadores locais . actualmente a Colecção está repartida por Portugal, Brasil, França, Espanha … e….

. o seu único reconhecimento público foi a condecoração atribuída com o hábito da Ordem de Cristo [1794] . obras impressas pelo naturalista depois da viagem = O . discípulos como legado = O . o trabalho realizado e o material coligido serviu de base à produção científica de diversos naturalistas franceses, alemães, entre outros, não lhe tendo sido reconhecido qualquer mérito quando da descrição dos espécimes

“…o mais notável de todos os observadores e pesquisadores da América portuguesa no domínio da História Natural.” (Carvalho 1987, p. 97) Ou

“…[Goeldi] disse que a produção científica de Alexandre é de ”pequeno calado científico”.” (Goeldi 1895 in Vanzolini 1996, p. 200)



“Esta utilidade a têm sentido as mais nações, mandando, nestas e noutras ocasiões, em companhia de matemáticos, naturalistas inteligentes. Assim o tem praticado a czarina de Moscóvia, os franceses, ingleses e dinamarqueses, que sabem tirar das ciências naturais todo o proveito que são capazes de produzir.”



(Carta de Domingos Vandelli ao Marquês de Angeja, 1777, in Kury 2011, p.1)

Fonte: http://www.geographicus.com/P/AntiqueMap/TotiusMundi-lotter-1775



“Esta utilidade a têm sentido as mais nações, mandando, nestas e noutras ocasiões, em companhia de matemáticos, naturalistas inteligentes. Assim o tem praticado a czarina de Moscóvia, os franceses, ingleses e dinamarqueses, que sabem tirar das ciências naturais todo o proveito que são capazes de produzir.” (Carta de Domingos Vandelli ao Marquês de Angeja, 1777, in Kury 2011, p.1)

Alexandre Rodrigues Ferreira em contexto...

ARF

Martín Sessé y Lacasta e José Mariano Mociño Joseph Banks [ Alexander von Humboldt ]

Fonte: http://www.geographicus.com/P/AntiqueMap/TotiusMundi-lotter-1775

Real Expedição Botânica ao Vice-reinado da Nova Espanha (1787-1803) Martín Sessé y Lacasta (1751-1808), naturalista que dirigiu a expedição, com 38 anos José Mariano Mociño (1757-1820), botânico, natural da Nova Espanha (México), com 30 anos

Atanasio Echeverría y Godoy (act. 1771-1803), desenhador e Juan Vicente de la Cerda (act. 1771-1803), desenhador e outros…

. Percorreram cerca de 30000km . Colectaram cerca de 20000 espécimes . Produziram cerca de 1830 desenhos de flora, mas também cerca de 200 de fauna . Igualmente esta colecção se dispersou… para EUA e França

ARJB-CSIC, Div V/018

MNCN-CSIC, Ref.4718

“A diáspora documental foi enorme. Pensando no

esforço institucional que foi posto em marcha e na extraordinária qualidade dos trabalhos realizados, a escassa repercussão que teve a expedição no panorama científico e intelectual no seu tempo só pode qualificar-se de autêntico fracasso. É importante observar que a dita diáspora, esta espécie de ocultamento e fragmentação dos materiais, terminou por afectar inclusivamente a restauração historiográfica da sua imagem,..., as biografias dos seus intervenientes e os seus trabalhos.” (Pimentel 2001, p. 43)

Expedição ao Sul do Pacífico ou viagem do HMS Endeavour (1768-1771) Objectivo principal: observar o trânsito de Vénus no Pacífico Sul

Fonte: http://www.nhm.ac.uk/nature-online/art-nature-imaging/collections/endeavour-botanical/

. Joseph Banks (1743-1820), naturalista da expedição, com maior interesse na botânica; com 35 anos . Daniel Solander (1733-1782), botânico, discípulo de Carl von Linné . Sidney Parkinson (1745?-1771), único desenhador após o falecimento de Alexander Buchan (?-1769) e Herman Spöring (1733?-1771) . ?????? km percorridos . 30000 espécimes vegetais e 1000 animais colectados . diversos manuscriptos produzidos Retrato de “Joseph Banks”, 1773, Benjamin West, National Portait Gallery

2) Looking

forward

A compreensão que temos da obra e da vida do naturalista na sua total dimensão é limitada pelo facto de estar fragmentada por diversas instituições em diferentes países, não permitindo ainda uma “visão global e objectiva do que foi a expedição em termos científicos” e do real “valor” científico, biológico, artístico e económico deste espólio.

A Coleção ARF: uma coleção para o futuro 1) Portal

digital de toda a Coleção ARF Reunir cópias digitais de todos os objectos que chegaram até aos nossos dias e que constituíam originalmente a Coleção, compilando a informação para cada objeto e relacionando as sub-coleções de forma dinâmica. Com acesso livre à obra na sua “totalidade”.

2) Exposição

internacional itinerante da vida e obra de ARF A evocação da vida e obra de ARF ficaria mais valorizada com uma exposição que circulasse em diversos países da Europa e do continente americano, revelando a importância deste valioso Património para a humanidade. (Costa et al 2014, pp. 208-209)

Ideias a reter…

•  Com maior ou menor recursos financeiros

todos os naturalistas viajantes europeus de finais de setecentos dedicaram grande esforço para melhorar as condições económicas dos seus países, através dos recursos científicos que dispunham. •  Alexandre Rodrigues Ferreira, tal como os

seus colegas espanhóis, não alcançou o reconhecimento mundial durante a sua vida como tiveram Joseph Banks e Alexander von Humboldt.

(cont.)

•  Considerando o legado que chegou até aos

nossos dias, resultado desta viagem, cabe-nos iniciar o processo de restauro historiográfico desta expedição e dos seus intervenientes numa perspectiva global, multidisciplinar, integradora e comparatista com as suas congéneres europeias, para “percebermos hoje como encaixam as peças deste grande quebracabeças” (Pimentel 2001, p. ) •  Permitindo-nos assim, avaliar o contributo

real directo e indirecto de ARF para a Ciência portuguesa, brasileira e europeia.

200 anos passados, é agora a altura de se exigir um “acto de justiça pela memória” do notável naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, de modo a que este possa, finalmente, “ocupar um lugar proeminente na Ciência” (Lima 1953)

Muito obrigada pela V. atenção

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