Um trabalho para a Psicologia: representações sociais em contexto interdisciplinar

August 21, 2017 | Autor: I. Bonamigo Gaspo... | Categoria: Representações Sociais, Interdisciplinaridade, Psicologia, Mediação De Conflitos
Share Embed


Descrição do Produto

Um trabalho para a Psicologia: representações sociais em contexto interdisciplinar Icaro Bonamigo Gaspodini (1), orientador Luiz Ronaldo Freitas de Oliveira (2) (1) Escola de Psicologia, Faculdade Meridional – IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Escola de Psicologia, Faculdade Meridional – IMED, Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo: O Núcleo de Prática Jurídica (NUJUR) da Faculdade Meridional (IMED) presta serviços e acompanhamentos processuais para a população de Passo Fundo (Rio Grande do Sul, Brasil) e região. Entre os serviços prestados, o projeto dedicado à mediação de conflitos familiares integra o trabalho de acadêmicos/as estagiários/as dos cursos de Direito e Psicologia da instituição, geralmente atendendo casos de divórcio, disputas de guarda e questões de pensão alimentícia. Esses encontros interdisciplinares não apenas propiciam a troca de perspectivas específicas de cada especialidade acadêmica em relação aos casos mediados, como também evidenciam o compartilhamento de representações sociais que traduzem crenças, valores e sentidos relacionados às profissões de psicólogo/a e advogado/a. A partir do relato de experiência de um atendimento de mediação de conflitos familiares no NUJUR, esta revisão narrativa discute o papel das representações sociais da Psicologia em contextos nos quais a ciência-profissão faça parte de um corpo interdisciplinar. Buscou-se investigar se representações tradicionais ou hegemônicas da Psicologia restringem possibilidades interdisciplinares de resolução de conflitos. Representações sociais podem se desdobrar em compreensões sobre a natureza de um conflito e, consequentemente, guiar decisões acerca de sua abordagem e/ou encaminhamento. Problematizar representações sociais da Psicologia compartilhadas em um corpo interdisciplinar é uma forma de exercício crítico da ciência-profissão capaz de abrir caminhos de pensamento e multiplicar a produção de sentidos tradicionalmente cristalizados. Palavras-chave: Mediação de conflitos; Interdisciplinaridade; Representações sociais. Abstract: The Núcleo de Prática Jurídica – NUJUR (legal practice center) of Faculdade Meridional – IMED provides services and legal monitoring for the population of Passo Fundo (Rio Grande do Sul, Brazil) and local region. Amongst these services, the project dedicated to family conflict mediation gathers the work of academics from both Law and Psychology schools, usually dealing with divorce, child custody, alimony, and child support cases. These interdisciplinary encounters not only allow sharing specific perspectives from each academic area concerning the mediated cases, but they also elicit the sharing of social representations that translate beliefs, values and meanings about the professions of psychologists and lawyers. From the report of a family conflict mediation session at NUJUR, this narrative review discusses the role of social representations of Psychology in contexts that the science-profession is part of an interdisciplinary team. We investigated if traditional or hegemonic social representations of Psychology restrict interdisciplinary possibilities of conflict resolution. Social representations may unravel into comprehensions about the nature of a conflict, and consequently, guide decisions concerning its approach and/or referral. Problematizing social representations of Psychology shared among an interdisciplinary team is a form of critical exercise of the scienceprofession that is able to pave the way for multiplying the production of traditionally crystalized meanings. Keywords: Conflict mediation; Interdisciplinarity; Social representations.

1. INTRODUÇÃO Além de servir como programa de estágio curricular, o Núcleo de Prática Jurídica (NUJUR), da Escola de Direito da Faculdade Meridional (IMED), permite o acesso da população de Passo Fundo e região a consultas jurídicas e acompanhamento processual em diversas áreas do Direito. O programa de Mediação de Conflitos Familiares é um dos serviços oferecidos pela instituição, atendendo geralmente casos de divórcio, questões de pensão alimentícia e guarda compartilhada. O projeto integra as práticas de estágio de futuros/as advogados/as e também de futuros/as psicólogos/as, os/as quais compartilham perspectivas específicas de suas áreas de formação acerca dos casos mediados em conjunto. Não são apenas construtos jurídicos e psicológicos que são compartilhados durante as discussões de caso do NUJUR. Em meio aos diálogos, a comunicação acontece no compartilhamento de representações sociais: assim como representações sociais do Direito são compartilhadas entre acadêmicos/as de Psicologia, representações sociais de Psicologia são compartilhadas entre acadêmicos/as de Direito. Essas representações não são apenas “pano de fundo” dos diálogos, mas na verdade os constituem, o que fica evidente nos momentos em que o grupo discute sobre a natureza do conflito e, consequentemente, sua abordagem e encaminhamento. Este artigo de revisão narrativa (Rother, 2007) parte de um relato de experiência para discutir o papel das representações sociais da Psicologia em contextos nos quais a ciência-profissão faça parte de um corpo interdisciplinar. O objetivo é problematizar as representações sociais da Psicologia compartilhadas em um atendimento de mediação de conflitos familiares no NUJUR. Nesse âmbito específico, é possível que representações tradicionais ou hegemônicas da Psicologia restrinjam possibilidades co-criativas de resolução de conflitos? De que forma novas representações da Psicologia podem desestabilizar rótulos rígidos e contribuir para o trabalho interdisciplinar? 2. MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FAMILIARES Pessoas instalam conflitos ao discordarem acerca de determinado fenômeno. Ao se posicionarem antagonicamente, cada parte tomará a si mesma (e suas percepções e ideias) como critério de certeza e validade. Devido à inevitabilidade do conflito na vida em sociedade, ele “em si, não é patológico nem destrutivo” e, dependendo de suas características, pode prevenir a “estagnação decorrente do equilíbrio constante da concordância” (MOSCOVICI, F., 2010, p. 213). Em busca de estratégias de resolução, o trabalho colaborativo transforma diferenças em resolução de problemas, possibilitando que cada membro encontre seu lugar de reconhecimento e seja capaz de “aceitar as discordâncias como sendo potencialmente vantajosas e enriquecedoras a seus próprios objetivos, ideias e procedimentos” (MOSCOVICI, F., 2010, p. 220). Espaços que se proponham a contribuir na resolução de conflitos interpessoais devem garantir que os sujeitos possam se expressar livres de ameaça – o que “gera defensividade e reduz a tolerância à ambiguidade, à abertura ao novo, ao não familiar” (MOSCOVICI, F., 2010, p. 225). A atuação do modelo jurídico hegemônico, centrado no poder do Estado, que enfatiza o conflito ao invés dos sujeitos envolvidos, começa a abrir espaço para a mediação como estratégia de resolução diferente do estilo “ganha-perde”, tradicionalmente adotado (ALBERTON, 2009). Trata-se de um “processo de facilitação de diálogo assistido, no qual um terceiro imparcial, com competência técnica e eleito pelas partes, auxilia na identificação de interesses comuns visando à construção de acordos” (FIRMEZA, 2011, p. 5). Em todo o mundo, diversos programas de mediação abordam, basicamente, questões relativas à comunicação. Estratégias de negociação são frequentemente empregadas, por exemplo, destacar as semelhanças das duas partes em conflito, apontar quando os mediandos não estão sendo cooperativos, desvelar os desejos subjacentes nas

acusações, focar nos interesses, ter em vista os aspectos práticos do acordo e manter o equilíbrio das negociações (FIORELLI; FIORELLI; MALHADAS, 2008). Embora utilizada em uma diversidade de contextos (familiar, escolar, empresarial, etc.), a mediação como estratégia de abordagem de conflitos familiares contribui para a formulação e manutenção de acordos, a superação do conflito, a promoção de diálogo entre as partes e o reestabelecimento de vínculos afetivos (OLIVEIRA; RAMIRES, 2011). Em processos de divórcio, a mediação sempre estará centrada nas demandas das crianças, quando essas estiverem envolvidas. Em situações mais extremas, ou seja, na alienação parental, crianças terão a tendência de proteger a parte aparentemente mais abalada, internalizando a imagem distorcida da parte alienada, passando a duvidar de seu amor por ela. De acordo com Trindade (2007, p. 290) a criança terá dificuldade com a verdade, “pois sendo constantemente levada a um jogo de manipulações, acaba por aprender a conviver com a mentira e a expressar falsas emoções”. 3. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A formação de consensos em torno de um tema central, produzidos e repetidos pelas conversações ao longo do tempo, criam um fenômeno denominado representação social: “o que nós percebemos e imaginamos, essas criaturas do pensamento, que são as representações, terminam por se constituir em um ambiente real, concreto” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 40, grifo do autor). Ao se esquecerem das origens dessas convenções, as pessoas progressivamente as ignoram, conferindolhes um caráter fossilizado: “o que é ideal, gradualmente torna-se materializado” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 41). Todas as representações sociais que fazemos e mantemos tem “a finalidade de “tornar familiar algo não familiar”, ou seja, fazer com que a própria não familiaridade se torne familiar (MOSCOVICI, S., 2013, p. 54). Elas são geradas por dois processos: a) Ancoragem, que é basicamente associar o novo ao pré-existente, nomeando o que se está conhecendo no momento a partir do que já foi nomeado – rotulação, descrição, classificação; b) Objetivação, quando aquilo que era abstrato se materializa, se concretiza, e por isso pode ser controlado (MOSCOVICI, S., 2013). O conceito de representações sociais pretende fornecer outras dimensões a "conceitos anteriores, como opinião pública, atitude, representação coletiva, mito, estereótipo, cognição social, teoria dos esquemas, teoria da atribuição e mesmo de ideologia" (GUARESCHI, 2002, p. 193). Estudos em representações sociais apresentam diferenças em linhas de pensamento, como a estruturalista, a sociogenética e a processual, esta última mais próxima às propostas de Moscovici (JODELET, 2011). Interessa-nos, neste breve estudo, problematizar as representações sociais de modo processual, presentes em um recorte contextual: a mediação de conflitos familiares, especificamente o trabalho realizado por estagiários/as e supervisores/as do NUJUR. Ao estudarmos representações sociais, estamos dando “voz à espontaneidade, ao sentido comum e a tudo o que eles trazem de contato com o saber sistematizado ou espontâneo, normatizado ou livre" (LOBATO-JUNIOR, 2013, p. 292, tradução nossa). 4. REPRESENTAÇÕES DA PSICOLOGIA EM CONTEXTO INTERDISCIPLINAR O relato de experiência que potencializou este trabalho se refere a um atendimento de mediação de conflitos no NUJUR, no qual estavam presentes acadêmicos/as dos cursos de Direito e Psicologia. A mediadora, o comediador e os/as observadores ouviram, primeiramente, um homem, e em seguida, uma mulher, que estavam em processo de divórcio litigioso, no qual uma criança estava envolvida – consequentemente tornando-se o centro da preocupação daquele processo de mediação. Após os dois atendimentos individuais, o mediando e a medianda foram

orientados para aguardassem até que o grupo deliberasse sobre o encaminhamento. Nesse momento, durante a discussão, o grupo passa a entrar em consenso sobre a natureza daquele caso, classificando-o como um “trabalho para a Psicologia”, definindo como melhor solução o encaminhamento do pai e da mãe ao SINAPSI (Serviço Integrado de Atendimento em Psicologia), para “ajudar a resolver” algumas questões da criança envolvida. Existem diferentes maneiras de conceitualizar o que seria uma perspectiva ou abordagem interdisciplinar (SANTOS; INFANTE-MALACHIAS, 2008). Interdisciplinaridade, da forma como entendemos, é um conjunto de práticas interligadas ao conceito de reflexividade, pois as pessoas estão dispostas a analisarem seus pontos focais iniciais a partir do encontro com outros pontos de vista (ROMM, 1998). Ao considerarmos os atendimentos de mediação de conflitos familiares como um trabalho interdisciplinar, podemos levantar uma primeira questão relacionada à operação de objetivação, quando um conceito é materializado em forma de imagem, através de um núcleo figurativo (MOSCOVICI, S., 2013), o que seria exatamente “um trabalho para a Psicologia”? E o que se entende por “ajudar a resolver” psicologicamente um problema? Se “comparar é já representar” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 72), em que medida a ciência-profissão da Psicologia foi (ou continua sendo) comparada à noção de ajuda? Essa reprodução de pensamento em núcleos figurativos (paradigmas), quando aceitos por uma sociedade, facilitará que se fale sobre qualquer coisa relacionada a esse paradigma, “e devido a essa facilidade as palavras que se referem ao paradigma são usadas mais frequentemente” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 73). Chamase “efeito paradigma” o fenômeno de filtrarmos o que percebemos a partir de expectativas que criamos (VASCONCELLOS, 2012). Não apenas nesse contexto específico, mas em toda a história da Psicologia, as representações sociais permitem entender as demandas que se formam em relação à profissão. Somos representados/as (e muito frequentemente nos apresentamos) como profissionais da ajuda. Basicamente, o/a psicólogo/a “é” alguém capaz de ajudar a resolver problemas emocionais (LAHM, BOECKEL, 2008; MORE, LEIVA, TAGLIARI, 2001). As representações das práticas psicológicas revelam um foco individualista, centrado no sujeito, excluindo as dimensões sociais, históricas e culturais envolvidas nos processos de subjetivação (PRAÇA; NOVAES, 2004). Também a escolha da profissão está pautada na vontade de ajudar as pessoas (MAGALHÃES, 2001), o que indica que nós mesmos/as representamo-nos como esse/a tipo de profissional. O senso comum, ao contrário do que se pode imaginar, não tem nada de irracional; ao transformar conhecimento científico em conhecimento comum, não opera como pensamento primitivo, mas como “algo muito moderno, originando-se parcialmente da ciência, como a configuração que assume quando se torna parte e parcela da cultura” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 311). Trata-se de uma ideia totalmente contrária a de que o povo não é capaz de pensar (MOSCOVICI, S., 2013). No atendimento em questão, o que aparentemente pode ser visto como um procedimento que seguiu passos determinados e uma metodologia de trabalho específica, alguns pressupostos, quando questionados, podem revelar motivações para determinadas escolhas e decisões – motivações intrinsecamente relacionadas às representações sociais compartilhadas entre o grupo. A representação do/a profissional da ajuda precisa ser problematizada para que ser revelem suas finalidades. As possibilidades de abordagem de um conflito familiar durante a mediação são inúmeras, incluindo o encaminhamento para tratamento psicológico. Levanta-se aqui um questionamento dos pressupostos que definem esse encaminhamento, e a relação com as representações sociais da ciência-profissão psicológica. Em que medida “um trabalho para a Psicologia” deveria/poderia ter sido resolvido pela mediação (um trabalho interdisciplinar), e ainda, que critérios tornaram necessário o encaminhamento ao SINAPSI? Obviamente, os argumentos foram discutidos e acordados entre estagiários/as e supervisora, e não interessa aqui analisar se a decisão foi “certa ou errada”’. O objetivo é trazer à tona a importância do conhecimento popular (através das representações sociais) para o entendimento das interrelações humanas – o que seria, para Serge Moscovici (2013), o real objetivo de uma Psicologia Social. No

momento em que se define um conflito como “um trabalho para a Psicologia”, está em operação a finalidade principal de toda representação social – tornar familiar o não familiar. As implicações da representação do profissional da ajuda podem se relacionar às decisões sobre o rumo de uma mediação. Se, em determinado espaço compartilha-se a crença de que psicólogos/as “ajudam indivíduos”, uma das consequências pode ser a criação do pressuposto que, para melhor funcionamento de determinado sistema grupal, o indivíduo seja “retirado e tratado” para posterior retorno. São resquícios de uma psicologia que foi adaptativa em seus primórdios e cujas representações resistiram ao tempo através das conversações. Serge Moscovici (2013, p. 125) fala de uma “concepção individualística, [...] que considera tudo o que acontece em termos de escolhas e decisões individuais”. Transformações do paradigma da ciência-profissão psicológica a partir de 1990 se referem a uma “quebra da perspectiva tradicional que prioriza o indivíduo”, o que traz mudanças progressivas na identidade da profissão (MAZER; MELO-SILVA, 2010, p. 292). Em um contexto de biopoder, as ciências-profissões fazem parte do jogo de verdades das relações sociais: práticas e discursos psi não estão apenas nas mãos de especialistas, mas são “aplicados por cidadãos para entender e dirigir suas vidas. O eu tornou-se uma mercadoria a ser trabalhada. O especialismo psi é central na elaboração de formas de trabalhar sobre o eu” (PERRONE; SANTOS; SOBROSA, 2013, p. 6). Quando nos indagamos sobre transformações nas representações sociais mediante o contato das mesmas com uma realidade que a questione ou desestabilize, precisamos nos lembrar de que “os universos consensuais são locais onde todos querem sentir-se em casa, a salvo de qualquer risco, atrito ou conflito” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 54). Se os/as próprios/as acadêmicos/as de Psicologia tomarem as representações sociais de sua profissão como uma verdade inquestionável, ou mesmo como um lugar de conforto, é possível que estejam buscando o reconhecimento de seu lugar (mesmo que de maneira acrítica). “Espera-se que sempre aconteçam, sempre de novo, as mesmas situações, gestos, ideias” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 54-55), e quando isso não acontece, o que se percebe é a “sensação de incompletude e aleatoriedade” (p. 55) que será a motivação da geração de representações sociais, no processo de familiarização com o desconhecido. O que acontece é que nós, geralmente, “selecionamos uma característica aleatoriamente e a usamos como uma categoria” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 65), por exemplo, psicólogo/a, advogado/a, professor/a, etc. Nesse processo, “a característica se torna, como se realmente fosse, coextensiva a todos os membros dessa categoria. Quando é positiva, nós registramos nossa aceitação; quando é negativa, nossa rejeição” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 65). As decisões apressadas geralmente são conduzidas por duas formas: “generalizando ou particularizando” (MOSCOVICI, S., 2013, p. 64). Levar em conta que representações sociais são a familiarização com o desconhecido e a manutenção de uma rede de significados que possibilitam o próprio pensamento (MOSCOVICI, S., 2013) permite, entre outros, o afastamento dos lugares-comuns, dos rótulos, das cristalizações. Compartimentalizar uma situação conflituosa em especialidades que irão tratar, cada uma por sua vez, de um “pedaço” do conflito pode ser uma atitude que limita a criatividade de soluções pensadas em conjunto. Se uma mediação de conflitos se pretende interdisciplinar, deve investir no diálogo integrador e sistêmico para relacionar as especialidades em um trabalho comum. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Investigar representações sociais da Psicologia em contextos de trabalho interdisciplinar possibilita o levantamento de questões que se referem ao próprio trabalho do grupo. Em um processo de mediação de conflitos familiares, por exemplo, a participação da Psicologia está imbricada em um diálogo de representações sociais: representações da Psicologia compartilhadas entre acadêmicos/as de Direito; representações da Psicologia compartilhadas entre acadêmicos/as

de Psicologia; representações compartilhadas naquele momento entre os grupos de diferentes formações, em um universo consensual produzido naquele momento – o que fica evidente nos instantes em que o grupo discute sobre a natureza do conflito e, consequentemente, sua abordagem e encaminhamento. Uma forma de exercício crítico da profissão pode ser possibilitada pelo estudo de representações sociais da Psicologia em contextos em que faça parte de um corpo interdisciplinar. Ampliar a compreensão da natureza das demandas de intervenção desta ciência-profissão impede a cristalização de crenças, opiniões, estereótipos que limitam as possibilidades do pensamento psicológico e permite produções criativas no trabalho interdisciplinar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTON, G. S. Repensando a jurisdição conflitual. Revista da AJURIS, v. 36, n. 115, set. 2009. FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.; MALHADAS JÚNIOR, M. J. O. Mediação e solução de conflitos: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2008. FIRMEZA, V. de M. O efeito transformador da mediação em busca da superação da cultura do litígio em direção a uma cultura de paz. Revista Eletrônica Díke, v. 1, n. 1, jan./jul. 2011. GUARESCHI, P. A. "Sem dinheiro não há salvação": ancorando o bem e o mal entre neopentecostais. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOWITCH, S. (Orgs.). Textos em representações sociais, 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. JODELET, D. Ponto de vista: Sobre o movimento das representações sociais na comunidade científica. Temas em Psicologia, v. 19, n. 1, p. 19-26, 2011. LAHM, C. R.; BOECKEL, M. G. Representação social do psicólogo em uma clínica-escola do município de Taquara/RS. Contextos Clínicos, v. 1, n. 2, p. 79-92, jul./dez. 2008. LOBATO-JUNIOR, A. Representaciones sociales y didáctica: construcción teórica de un espacio común. Magis - Revista Internacional de Investigación en Educación, v. 5, 277-295, jan./jul. 2013. MAGALHÃES, M. et al. Eu quero ajudar as pessoas: a escolha vocacional da psicologia. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 21, n. 2, jun. 2001. MAZER, S. M.; MELO-SILVA, L. L. Identidade profissional do psicólogo: uma revisão da produção científica no Brasil. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 30, n. 2, p. 276-295, 2010. MORE, C. O. O.; LEIVA, A. C.; TAGLIARI, L. V. A representação social do psicólogo e de sua prática no espaço público-comunitário. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 11, n. 21, p. 85-98, 2001. MOSCOVICI, F. Energia no grupo: tensão e conflito interpessoal. In: MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 19. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. p. 212-227. MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. OLIVEIRA, L. R. F.; RAMIRES, V. R. Avaliação de um programa de mediação de conflitos. Contextos Clínicos, São Leopoldo, v. 4, n. 2, p. 99-112, jul./dez. 2011. PERRONE, C. M.; SANTOS, A. S. dos; SOBROSA, G. M. R. Saúde e psicologia em tempos biopolíticos: novas questões. Mudanças – Psicologia da Saúde, v. 21, n. 1, p. 1-7, 2013. PRAÇA, K. B. D.; NOVAES, H. G. V. A representação social do trabalho do psicólogo. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 2, p. 32-47, 2004. ROMM, N. Interdisciplinary practice as reflexivity. Systemic Practice and Action Research, v. 11, n. 1, p. 63-77, 1998. ROTHER, E. T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 2, abr./jun. 2007.

SANTOS, S.; INFANTE-MALACHIAS, M. E. Interdisciplinaridade e resolução de problemas: algumas questões para quem forma futuros professores de ciências. Educação & Sociedade, v. 29, n. 103, p. 557579, 2008. TRINDADE, J. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. VASCONCELLOS, M. J. E. de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. 9. ed. Campinas: Papirus, 2012.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.