Uma Aliança entre a Semiótica e a Usabilidade de Interface. Avaliando uma home page através dos Usuários e Designers dos Portais de Informação Brasileiros

May 26, 2017 | Autor: Jacques Chueke | Categoria: Semiotics, User Interface, Charles S. Peirce, Semiotica, Web Portals
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Uma Aliança entre a Semiótica e a Usabilidade de Interface. Avaliando uma home page através dos Usuários e Designers dos Portais de Informação Brasileiros1 An Alliance between Semiotics and Interface Usability. Evaluating a home page through Users and Designers of Brazilian Portals

Jacques Chueke Mestre em Design pelo Departamento de Artes & Design – PUC-Rio

Resumo Este artigo visa demonstrar que um website concebido com a implementação de princípios trazidos pela Semiótica Peirciana, aliados às metodologias da Usabilidade de Interface teria mais sucesso com seu público. É apresentada uma análise semiótica sobre a home page de um portal de informação determinado, em adição aos comentários de alguns respondentes ao formulário colocado on-line e um trecho de entrevista com um designer atuante na criação de portais. Os resultados do levantamento de dados e das análises foram utilizados na criação de recomendações para um design que vislumbre as questões da semiótica e da usabilidade de interface. Palavras-chave: Página Inicial, Semiótica, Usabilidade de Interface.

Abstract This article seeks to demonstrate that a website conceived with the implementation of the principles brought from Peirce Semiotics, allied to Usability Interface methodologies, would become more successful among its public. A semiotic analysis regarding the home page of a specific information portal is presented, in addition to the comments of several users that responded the on-line form and part of an interview with a known designer that creates very popular portals. The results of the data collected and the analysis were used in the creation of advices for a design that glimpses issues from semiotics and interface usability. Keywords: Home page, Semiotics, Interface Usability. 1

Este artigo resume a dissertação de mestrado de Jacques Chueke, denominada Contribuições da Semiótica na Concepção da Página Inicial de Portais de Informação: Uma pesquisa focada no público brasileiro, orientada pela Prof. Vera Nojima (Doutora em Arquitetura e Urbanismo – FAU-USP) e defendida em março de 2005 na PUC-Rio. Esta pesquisa contou com a bolsa de estudos fornecida pelo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Uma nova ecologia dos meios de comunicação está organizando-se em torno da extensão do ciberespaço. Posso agora enunciar seu paradoxo central: quanto mais universal (extenso, interconectado, interativo), menos totalizável. Cada conexão suplementar acrescenta mais heterogeneidade, novas fontes de informação, novas linhas de fuga, de maneira que o sentido global fica cada vez menos legível, cada vez mais difícil de circunscrever, de encerrar, de dominar. Esse Universal dá acesso a um gozo do mundial, à inteligência coletiva em ato da espécie. Faz-nos participar mais intensamente da humanidade viva, mas sem que isso seja contraditório, ao contrário, com a multiplicação das singularidades e a ascensão da desordem. Pierre Lévy, O Universal sem Totalidade, Essência da Cybercultura, 1999: 111-122

A pesquisa realizada teve como escopo verificar, no universo de portais de informação brasileiros de internet, os níveis de satisfação e sucesso na decodificação / fruição dos elementos componentes das páginas iniciais desses portais. Existe um descontentamento evidente dos usuários para com o excesso de informações apresentados nestas. Foi proposto que a ciência da semiótica, associada às metodologias da usabilidade de interface pode aprimorar a avaliação dos elementos de interface destes portais e com isso possibilitar uma criação mais consciente de signos adequados para uma decodificação mais eficiente das mensagens, códigos e tarefas constituintes pelos usuários. Para tal tarefa, foi necessário compreender intrinsecamente as partes envolvidas nesta composição de interlocutores, meio e linguagens.

Características do Objeto e da Amostra Para melhor compreender o universo da internet e dos portais brasileiros de informação, foi necessário buscar informações sobre os mesmos em websites como o IBOPE (http://www.ibope.com.br), empresa especialista em pesquisas de mercado, mídia e opinião. Segundo o IBOPE (em notícia de 01/10/2003: http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect? temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Notícias&docid =FE850DB928FDE56A83256ECA00657ACD) os maiores domínios em setembro de 2003 podem ser visualizados na tabela abaixo:

Tabela 1 – Ranking de Domínios em Setembro de 2003. Fonte: Nielsen//NetRatings Acesso em 05 de janeiro. 2004.

Pode-se verificar na tabela, que os três domínios mais acessados em setembro de 2003 (últimas informações até a data de entrega desta dissertação) foram o internet Group (mudou seu nome em setembro de 2004 para internet Generation, que tem como principais acionistas a Brasil Telecom e a Telemar (Grupo Opportunity – GP Partners), ver a notícia no link: (http://www.clientesa.com.br/?sp=Materia_integra.asp&secao=112&Co digo=5394), o Universo On Line (associados à Portugal Telecom e da Folhapar - controladora do jornal Folha de S. Paulo) e o Terra. Estes foram os portais mais visitados em 2004, seguidos de perto pelo MSN Brasil e o Globo.com. Com esses dados, ficou claro para o pesquisador que o objeto de estudo mais adequado para esta pesquisa eram os dois portais mais acessados e populares: O iG e o UOL. Dentro de uma ordem lógica, após a seleção dos portais supracitados, mostrou-se necessário verificar as características do público que os utiliza. Questões relacionadas à renda, posição social e educação não foram vislumbradas em profundidade, apesar de serem possíveis variáveis intervenientes sobre a questão proposta. As características escolhidas como representativas do público que acessa a web e, portanto, potencial usuário de um portal foram: Ser alfabetizado (não seriam verificados indivíduos analfabetos uma vez que outras dificuldades entrariam em cena). Estar compreendido na faixa etária que refletisse os resultados da combinação de idade dos portais UOL e Terra - de 11 a 65 anos de idade, com foco na faixa de 28 a 34 anos, aonde se encontra a maior parte do público (fatores como desconhecimento da língua portuguesa e imaturidade no que se refere à cultura visual adquirida com o passar dos anos, bem como diminuição da acuidade

visual entre outros fatores provenientes da velhice não foram vislumbrados). Ser brasileiro (residente ou não no país de origem), pois os portais estudados têm conteúdo voltado para o público falante de língua portuguesa do Brasil. Por fim, que tivesse acesso à internet (sem discriminação do local de acesso). Questões sobre a velocidade de acesso e como esse fator afeta a recepção e decodificação da mensagem não foram investigadas em profundidade, mas foi questionada no formulário on-line qual a velocidade utilizada pelo respondente, com o intuito de traçar um perfil representativo do público que acessa a internet e tendências da qualidade do acesso para o futuro.

Criação e Implementação do formulário on-line Depois de realizadas as entrevistas e questionários preliminares direcionados aos usuários, além das entrevistas com designers de portais de informação brasileiros e avaliadas as respostas e sugestões obtidas, foi possível construir o formulário colocado on-line (na internet) nos endereços abaixo: http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/labcom/jacques/formulario.htm http://www.jchdesign.com.br/pesquisa/formulario.htm O formulário buscou verificar as impressões dos usuários sobre os portais de informação mencionados e levantar o grau de experiência destes com a internet e o universo de portais de informação brasileiros. O formulário coletou respostas de março a junho de 2004. O público respondente do qual foi obtida a colaboração é proveniente dos usuários de vinte e quatro grupos de discussão encontrados nas páginas “Grupos.com (http://www.grupos.com.br)” e “Yahoo! Grupos (http://br.groups.yahoo.com/)” e dos integrantes da pós-graduação em design da PUC-Rio do ano de 2003.

A Semiótica de Peirce Lucia Santaella2 analisa as bases da teoria semiótica desenvolvida pelo matemático, lógico e filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914) e a ciência componente da tríade das ciências normativas - estética, ética e lógica (ou semiótica). A lógica pode ser entendida como a teoria geral, formal e abstrata dos métodos de investigação utilizados nas mais diversas ciências. Busca explicar e interpretar todo o domínio da cognição humana, também fornecendo categorias para a análise da cognição já realizada: as classes de signos como ferramentas para a realização de análises de signos empíricos. Santaella explica as bases fenomenológicas da semiótica, como 2

Lucia Santaella é professora titular na PUC-SP, com doutoramento em Teoria Literária pela PUC-SP e livre-docência em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. É diretora do CIMID, Centro de Investigação em Mídias Digitais, do programa de pósgraduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP.

uma investigação dos modos como apreendemos qualquer coisa que aparece à nossa mente (processo sígnico): contemplar, discriminar e por fim generalizar. O modelo triádico é perscrutado minuciosamente, sendo demonstrado ontologicamente o percurso do Representamen (com seu caráter de qualidade, reação e mediação), o Objeto (com seu caráter de qualia, relação e representação) e o Interpretante (com seu caráter de sentimento sensação e concepção). Todos os exemplos em paralelo com as categorias Faneroscópias como base geral para sua doutrina lógica (Peirce3, 1902) da Primeiridade, Secundidade e Terceiridade - ou seja, Qualidade, Existência e a Mente propriamente dita, em direção ao significado - como experiência colateral, sempre variável, mutável, dependendo intimamente do repertório e códigos conhecidos pela mente específica do então interlocutor. Esclareçamos: o signo é uma manifestação que representa algo que lhe deu origem. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir um outro difrente dele. Ora, o signo não é o algo representado, ainda segundo Santaella: só está em seu lugar. Portanto, ele só pode representar esse algo de um certo modo e numa certa capacidade. (...) Ora, o signo só pode representar algo que o gerou para um intérprete, e justo porque o representa, produz na mente desse intérprete algo diferente (um signo ou quase-signo) que também está relacionada àquilo representada não diretamente, mas pela mediação do signo. Niemeyer (2003: 32) “O signo corresponde ao resultado da relação entre três elementos correlatos: uma manifestação perceptível, o objeto que é por ela representado e uma determinação mediadora como forma ordenada de um processo lógico.” Nojima (2005: no prelo) Para melhor compreender os tipos de signo segundo suas características referenciais e fenomenológicas, Peirce desenvolveu classes ou categorias, organizadas em tricotomias (taxonomias tríadicas). Abaixo pode ser vista uma composição simplificada do signo triádico e uma definição das partes que o compõem:

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Charles Sanders Peirce (1839 - 1914): Matemático, cientista, lógico e filósofo NorteAmericano. Pierce trouxe importantes contribuições para o pensamento referente à lógica simbólica, metodologia científica e semiótica. É considerado o criador do Pragmatismo, uma das correntes mais importantes surgidas na América do Norte. Explicita o princípio pragmático, como sendo a forma através da qual o significado de algo é dado pelo conjunto de disposições para agir que tal coisa produz. Este significado só pode ser dado na relação com o homem, pois advém da experiência em relação ao mundo de ação humana. Para Peirce, o mundo esta na condição de um devir constante, o que faz com que seu significado esteja sempre em modificação. A verdade está no futuro, o que possibilita pensar o seu pragmatismo como um empirismo.

Gráfico 1 – Signo Triádico Peirciano.

Quadro 1 – Categorias dos Signos propostas por Peirce.

Avaliação Semiótica e de Usabilidade das Respostas Devido ao limitado número de páginas para o artigo, destacou-se apenas a análise semiótica e de usablidade da questão “2” do formulário on-line, com respostas referentes apenas ao portal iG (internet Group) como visto abaixo: Questão 2: Cite as três primeiras coisas que você percebeu na home page. E por que chamaram sua atenção?

Gráfico 2 – Lista das primeiras coisas percebidas na hp do portal iG.

Figura 1 – Internet Group “iG” e elementos percebidos em destaque. Acesso em 06 de março. 2004.

Figura 2 – Internet Group “iG” e ordem de leitura predominante, sugerida a parir dos elementos percebidos em destaque. Acesso em 06 de março. 2004.

Comentários dos respondentes (período de 06/03 a 19/06/2004): “O banner que surgiu na minha tela: uma mulher linda, semi nua...”. “bagunça! não da pra ver nada!”. “Uma bagunça completa. Quando abriu e uma poluição visual. Um monte de coisas vc perde a vontade de olhar e ler o site”. “Muito movimento, poluição visual, aspecto desagradável. Chamaram a atenção pq esse conjunto não permitiram que eu visse algo que realmente pudesse me interessar”. O cachorro porque é bonitinho e está bem visível, a cor por estar em toda a página, o campo email por motivos pessoais (haja vista que uso com freqüência). Os critérios que definem as tarefas de maior prioridade na hp devem ser uma fusão do que os proprietários do site e as equipes de finanças e conteúdo desejam vender com o que os usuários que freqüentem portais desejam ver e acessar com maior freqüência. Seria ingenuidade afirmar que os websites de cunho comercial deveriam ser feitos para o usuário somente. Muitos interesses estão envolvidos no produto apresentado, como colocado por Justice (2001: 63 - 68), a grande proeza é unificar os interesses dos stakeholders (usuários, desenvolvedores, decisores e especialistas avaliadores): Usuários nem sempre são capazes de expressar as razões pelas quais não apreciaram positivamente determinada interface e muitas vezes as mudanças só são implementadas após a vinculação do website ou sistema no mercado. Segundo a autora, “deve existir o equilíbrio entre o aspecto estético, apelativo, emocional e o aspecto funcional, estrutural e acessível do Web site, para que as metas e objetivos de todos os envolvidos (desenvolvedores, especialistas e público) sejam satisfeitas”.

Nielsen4 (2002: 10) afirma: “Coloque essas tarefas (nota do pesquisador: tarefas de maior prioridade) em um local de destaque, como na metade superior da página e não atribua a essas tarefas uma enormidade de outras chamadas visuais. Em outras palavras, se você enfatizar tudo, nada ficará destacado. Restrinja ao mínimo (1 a 4) o número de tarefas básicas e mantenha limpa a área ao redor delas. (Nielsen, 2002: 10)

Foi perguntado ao diretor de arte do iBest (respostas cedidas por email em 12.04.2004) se existe a preocupação com a ordem de como os componentes da página inicial são descarregados: “Existe. O iBest é um dos únicos portais brasileiros que utiliza um software específico para esta função. Nosso portal é carregado em blocos, por prioridade. Utilizamos o SmartCode, programa da SmartLab (www.smartlab.com.br) que tem como função reduzir o peso das páginas e permitir o carregamento dinâmico das áreas”. A pergunta foi feita com o intuito de averiguar se existe essa preocupação de cunho estratégico. Uma vez que uma hp de portal em poucos segundos estará repleta de informações (estáticas e dinâmicas), um artifício inteligente seria apresentar os elementos mais críticos naquele momento (baseado numa estratégia de negócios que visaria uma comunhão entre os interesses do usuário e do setor comercial da suposta empresa) de forma hierárquica – do mais importante ao menos importante; guiando, portanto o olhar do usuário e apresentando a ele opções de destaque, a marca e o recado da empresa, tarefas mais importantes, etc. Sua liberdade reside nas suas escolhas dentro desse contexto criado por outrem – é fundamental, entretanto, manter em foco que uma operação comercial deste porte, pode e deve fazer uso de quantos recursos houver disponíveis para promover da melhor forma seus anunciantes e produtos – além da comodidade ao usuário, sua própria existência está envolvida. O banner reach media 5 rotativo do iG (localizado na lateral esquerda, porção superior) cumpre seu papel em atrair a atenção com chamadas rotativas, ou seja, apresenta vários conteúdos em seqüência em “loop” (repetição ad infinitum) e é o elemento mais notado pelos respondentes (44 de 65) devido a sua proporção, cores dinâmicas e chamadas em movimento. Porém, a presença de outras publicidades “animadas” satura a percepção do usuário. Nielen (2002: 29) comenta que dentre os três elementos mais notados no seu website, caso dois sejam publicidade e não o seu conteúdo e serviços, então a publicidade está chamando mais atenção do que deveria. Um elemento de publicidade externa (atraindo a atenção) seria o aceitável, segundo este. 4

Dr. Jakob Nielsen, Ph.D. ,diretor do Nielsen Normam Group, já foi um engenheiro respeitado na Sun Microsystems. A coluna Alertbox de Nielsen, sobre a usabilidade da Web, é publicada na internet desde 1995 (www.useit.com). Nielsen, autor de Projetando Websites, publicado pela Editora Campus, é aclamado como “o maior especialista mundial em usabilidade da Web” (U.S. News e World Report) 5 Reach Media: Tecnologia que permite a vinculação de movimento, tempo, profundidade e interatividade em diferentes manifestações na web, como em banners e propagandas animadas (Nota do pesquisador).

O apelo sexual, inegável no portal do iG, é um elemento poderoso de promoção (apresentado em vários formatos além do banner rotativo) que poderia mudar o interesse inicial no portal (principalmente com relação ao público masculino, de acordo com os comentários coletados). Goldsmith (1998: 18), afirma que estudos de movimentos dos olhos provam que a figura humana é aquela que mais atrai o olhar, e que o observador tende a acompanhar o olhar da figura representada (...). Ou seja, olhos atraem olhos – na maioria dos casos apresentados os olhos das belas mulheres estão voltadas para o expectador, “convidando” ao “clique”. O acesso à pornografia na WWW (World Wide Web) tornase cada vez mais presente e de difícil rastreio ou censura.

Figura 3 - Banner reach media rotativo do portal iG. 04 de agosto de 2004.

Os conceitos utilizados para avaliação dos resultados e dos elementos de interface discriminados estão presentes no conceito do signo triádico, representativo da semeiose, ou semiose (representando o pensamento humano), dentro da teoria de Peirce.

Quadro 2 – Considerações sobre a questão 2, dentro das Categorias do Signo.

Os elementos que receberam maior atenção (segundo os usuários) são de alta pregnância - seu Representamen e as características de seu fundamento, em específico Quali-sígnicas (fisiológicas) e Sinsígnicas (existenciais) buscam o olhar do usuário, devido as suas cores, localização dentro das áreas de leitura mais proeminentes (segundo Collaro6, estariam situados na zona ótica primária e terminal), contraste, 6

Antônio Celso Collaro: Consultor e técnico da Confederação Nacional da Indústria para as áreas de Artes Gráficas e Produção Visual Gráfica, Antônio Celso Collaro. Callaro também é autor do livro “Projeto Gráfico - Teoria e Prática da Diagramação”.

movimento e proporção em relação ao conjunto. Os usuários encontraram, porém, problemas na decodificação de vários dos elementos que se destacaram, ou seja, o Legi-signo e as lógicas de leitura pictóricas (analógicas) e digitais (texto tipográfico) são apresentadas em profusão e desarmonia. Verificam-se problemas também no Fundamento do signo com o Interpretante: Interpretante Imediato, Dinâmico e Final. Os elementos de alta pregnância podem ser destacados e apreendidos imediatamente, porém não interpretados corretamente, nas instâncias de terceiridade. Encontram dentro do interpretante dinâmico o nível emocional, porém em diversos casos não podem ser generalizados e categorizados. Por tal, na representação do signo com o interpretante permanecem na esfera do Rema, não podendo ser denotados com segurança.

Recomendações A pesquisa propôs como recomendação principal, a utilização da matriz triádica concebida por Peirce, como metodologia de avaliação de interface de artefatos hipertextuais e multimidiáticos. Após a avaliação dos resultados obtidos com o formulário on-line e checagem com os comentários registrados nos pré-testes e entrevistas, além do referencial teórico multidisciplinar e transdisciplinar, tornou-se possível propor algumas recomendações para o design de interface da página inicial de grandes portais. Tais recomendações não têm caráter restritivo e não possuem a pretensão de serem apresentadas como postulados dos aspectos que deveriam ser vislumbrados e implementados na interface não somente de páginas da WWW, mas aplicáveis em várias outras manifestações através de artefatos interativos e de interface digital – a importância de uma ou outra recomendação será ditada pelas características do usuário, do contexto, do suporte tecnológico e da situação de uso. 1. Promover a remoção do banner pop-up e apresentar propagandas flutuantes em formato reach media (menos irritante para o usuário); 2. Oferecer a opção de acionar / desativar publicidade em outros formatos (banner reach media, extended graphics, floater, etc); 3. Oferecer a possibilidade de fechar alguns banners e área de compras na própria hp; 4. Remover a caixa de Índice (pouco utilizado e desaprovado pelos usuários); 5. Oferecer mais pistas visuais do que é link; 6. Apresentar buscas frequentes em evidência (depende de intervenção do usuário); 7. Apresentar os links mais clicados em evidência (depende de intervenção do usuário); 8. Possibilitar que o último login possa ser mantido no campo (opção de manter / não manter login);

9. Oferecer a opção de ligar / desligar explicação instantânea (como um “help”, os ícones, serviços e opções de menu dúbios poderiam apresentar uma pequena explicação); 10. As notícias apresentadas na hp só poderiam ser atualizadas com a intervenção do usuário (a não ser que este opte por refresh automático); 11. A página inicial só poderia ser atualizada com a intervenção do usuário (a não ser que este opte por refresh automático); 12. Todas as opções acima podem ser ativadas / desativadas na área do usuário (página que reuniria todas as opções de configuração de experiência deste com a interface).

Considerações Finais Os resultados obtidos com o formulário on-line e as entrevistas com os designers de interface de portais brasileiros de informação foram avaliados e transformados em gráficos - e checados com o referencial teórico desta pesquisa, que teve como base a semiótica classificatória peirciana, dentro da Gramática Especulativa e a Usabilidade de Interface, dentro do domínio da Interação Humano-Computador. A usabilidade de interface é demonstrada em suas variantes de cunho primordialmente sintático e heurístico. Considera-se que as metodologias da usabilidade de interface, aliadas as questões primordiais da semiótica que tem seu cerne na subjetividade da mente humana e na semântica de suas relações de significação consolidam uma análise formidável, pois os aspectos formais do representamen em seus mínimos detalhes seriam dissecados em profundidade pela usabilidade de interface e suas metodologias prescritivas. A semiótica, segundo as palavras de Ferrara (2003: ) proferidas em sua palestra de abertura do 1º Encontro de Semiótica Aplicada ao Design (PUC-Rio), deve ser vista como um “olhar”, uma rede contínua do “pensar” – interpretativa do mundo dos fenômenos; evitando as explicações limitadas e asfixiantes. O signo triádico peirciano compreende as esferas do representamen (que poderia ser entendido como as características formais do signo e por tal as regras de leitura do objeto), a esfera do objeto (material ou conceitual) e a esfera do interpretante (a mente propriamente dita). Por tal, pode-se afirmar que os interlocutores (designers e usuários) da esfera dos portais de informação estudados estão compreendidos no modelo triádico de Peirce: A lógica de leitura (criada pelos designers), o objeto (a interface como veículo dos códigos significantes) e o usuário (a mente receptora, o decodificador da interface). Devemos levar em conta dois aspectos imprescindíveis e inerentes das mídias digitais interativas – aspectos de presença constante e inegável no decorrer desta pesquisa (além da própria atenção aos usuários): No que se refere à internet e seus websites, é condição imperativa e primária, compreender que o dinamismo é o conceito motriz dessa mídia. Verificar que o contexto e a situação de uso são determinantes

na fruição de qualquer manifestação humana, seja qual for o seu suporte, seja qual for o potencial proficiente de seus interlocutores. Na situação de uso de uma interface web de um portal de informação, não seria recomendável, sob circunstância alguma, perder de vista os aspectos comerciais que influenciam a concepção da mídia em foco – uma mídia que busca a todos, sem distinção de faixa etária, proficiência, renda ou preferência sexual. Porém, no intuito de agradar a todos, pode cometer erros – pecar pelo excesso. Tenta ofertar na sua página inicial todos ou quase todos (por falta de espaço físico) os recursos diversos disponíveis para gostos e “bolsos”. Portanto, nem sempre a interface idealizada que deveria como condição sinequanon agradar ao máximo seu usuário (uma utopia talvez), estaria cumprindo seu papel mercadológico, de lidar com as diferentes expectativas de “gregos e troianos”, ou melhor, clientes, associados, parceiros, anunciantes, concorrentes e por fim, usuários. Numa página web de cunho comercial, aonde anunciantes brigam para ter seus produtos e serviços anunciados em locais de destaque visual (e pagam caro por isso) não existe o real interesse em disponibilizar toda e qualquer informação requisitada pelo usuário somente através da primeira página. Diz-se que para se chegar ao “paraíso” é necessário passar pelo “purgatório”. Poderíamos considerar que o conceito: várias páginas para vários anúncios, é bastante eficiente – e muito mais interessante para anunciantes e proprietários. O acesso fácil dessa informação pela página inicial evitaria a visualização de muitas propagandas e promoções, o que seria desinteressante para os mesmos. Evitemos essa ingenuidade gratuita a todo custo – as coisas não funcionam assim, e generalizações nesse universo são perigosas, devem sempre ser reavaliadas e baseadas em contexto, uso e suporte, além das características de quem faz uso e das características do objeto utilizado.

Referências AUMONT, Jacques (1993). A Imagem. São Paulo: Papirus Editora. GOLDSMITH, Evelyn. Research into Illustration; an approach and a review. Cambridge: University Press, 1984 JUSTICE, Loraine. (2001). Predicting the Success of your Web site. Design Management Journal, Summer of 2001, Pages 63-68. LÉVY, Pierre. (1999). O Universal sem Totalidade, Essência da Cybercultura. Trecho da obra «Cybercultura» publicada a 21 de novembro pela editora Odile Jacob (frança). NIELSEN, Jakob (2000). Designing Web Usability. Rio de Janeiro: Campus. ___________, Tahir, Marie (2002). Homepage Usability: 50 websites Desconstructed. Rio de Janeiro: Campus. SANTAELLA, Lúcia (2001). Matrizes da Linguagem e do Pensamento. São Paulo: Iluminuras. _____________ (2002). Semiótica Aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.

Jacques Chueke

Graduou-se em Desenho Industrial – habilitação em Comunicação Visual, na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica), Rio de Janeiro, RJ, Brasil, em dezembro de 1998. Especializou-se em Usabilidade de Interfaces, Ergonomização da Interação Homem-Computador, pelo CCE – PUC-Rio, em dezembro de 2002. Integrou o Programa de Mestrado em Design da PUC-Rio em março de 2003, tendo sido contemplado com a bolsa de estudos do CNPq. E-mail: [email protected]

Vera Nojima Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, Brasil. 1992. Mestre em Engenharia (Pesq. Operac. e Gerenc. de Produção), Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro. 1983. Graduada em Desenho Industrial. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUC-PR, Paraná. 1978. Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Design do Departamento de Artes e Design – Centro de Teologia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio. Coordenadora do Laboratório de Comunicação no Design. E-mail: [email protected]

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