Uma Breve Investigação sobre as Tendências da Língua Inglesa sob o Prisma do Inglês Como Língua Franca

June 21, 2017 | Autor: Marco Sitta | Categoria: Education, Applied Linguistics, English as a Lingua Franca
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MARCO AURÉLIO MARTINS SITTA Pós-graduação em Ensino de Inglês e Literatura Inglesa e Norte-americana

UMA BREVE INVESTIGAÇÃO SOBRE AS TENDÊNCIAS DA LÍNGUA INGLESA SOB O PRISMA DO INGLÊS COMO LÍNGUA FRANCA Orientador: Prof. Eduardo Henrique Marinheiro

BATATAIS 2015

RESUMO O trabalho que se apresenta teve como principal motivação a falta de contato de professores de língua inglesa com as teorias e os achados de pesquisadores da Linguística Aplicada com relação à língua inglesa no contexto de lingua franca. Foi analisada bibliografia de expoentes dessa corrente de pensamento que, apesar de nova, já é muito frutífera e ganha mais adeptos e outros intervenientes dia a dia. Analisaram-se textos, livros (inclusive didáticos), e sítios digitais que serviram como base para as discussões propostas. Puderam ser notados diversos importantes aspectos da presença da língua inglesa no mundo, da quantidade de usuários competentes dela, de como interagem e criam novas vertentes (ou variantes) da língua para que ela se torne mais adaptada ao ambiente em que está sendo utilizada/inserida e propôs-se a discussão e a tomada de atitude por parte dos professores de inglês, enfatizando o quão importante é o papel deles no processo de adaptação do ensino para se enquadrar em uma nova realidade de ensino, e até mesmo de algo que talvez não seja a língua como estão acostumados. Foi possível concluir que há uma tendência crescente de que os aprendizes de língua inglesa não a queiram mais sem propósito claro, mas sim, precisam se comunicar em contextos diversos com eficiência, deixando de lado a “modelagem” do inglês dessa ou daquela variante em função da necessidade simples de comunicar-se e de inserir-se no mundo em que vivem. Palavras-chave: lingua franca, ensino, inteligibilidade, ensino de inglês, futuro.

Introdução Dentre os diversos (e muitíssimos) aspectos que podem ser estudados a respeito da língua inglesa e seu uso como lingua franca1, talvez um dos mais importantes seja o da inteligibilidade. Segundo David Crystal (2003 apud SEIDLHOFER, 2005), a grosso modo, somente um em cada quatro usuários de inglês é falante nativo da língua e, por isso, a maioria das interações em inglês como lingua franca ocorre entre falantes “não nativos” de inglês. É crucial, portanto, que se investigue como essas pessoas chegam a um ponto comum de compreensão mútua. A autora Marcia Regina Becker explora o tema e alguns de seus desdobramentos no texto O CONSTRUTO “INTELIGIBILIDADE” DA LÍNGUA INGLESA SOB O PARADIGMA DE LÍNGUA FRANCA. O livro de David Graddol, “ENGLISH NEXT”, publicado em 2006, traz, na página 87, uma breve exposição do que é inglês como lingua franca e como essa visão pode influenciar – e tem influenciado – o ensino de língua inglesa ao redor do mundo. O professor David Crystal mostra também, no texto “The future of Englishes: going local”, um interessante panorama do que a apropriação da língua inglesa por indivíduos localizados em diferentes regiões do globo pode fazer por aprendizes da língua. Pessoas cuja L1 2 não é o inglês podem ajudar a “construir” o inglês do futuro, segundo ele, sem que se sintam inferiores ou usuários menos competentes da língua. Por meio da leitura dos textos citados acima, de autoria de estudiosos 1

2

Recentemente o termo “Inglês como Lingua Franca” emergiu como uma forma de referir-se à comunicação em inglês entre falantes com diferentes línguas maternas. (SEIDLHOFER, 2005, p. 339, tradução nossa). Usamos o termo “L1” aqui e doravante para indicar a primeira língua que um falante aprende a partir do seu nascimento, a língua materna.

chave que tratam do assunto, é possível criar uma ideia generalista do que se estuda a respeito da inteligibilidade nas interações entre os falantes não nativos de língua inglesa e das implicações desses estudos no ensino-aprendizagem de língua inglesa, bem como as alterações que poderiam ou deveriam advir de tais descobertas. Localizar o elo que conecta as ideias desses autores e de alguns outros também citados adiante é um dos mais importantes objetivos deste trabalho. Ainda, com a revisão bibliográfica, é possível que se entenda melhor o que está, atualmente, sendo estudado e, talvez, acrescentar opiniões e interpretações que possam ser úteis no cotidiano de professores e outros pesquisadores. Foram utilizadas, para a construção deste artigo, fontes como livros didáticos impressos, textos de fontes digitais confiáveis e anais de eventos relacionados ao tema, dentre outras.

Inglês como Lingua Franca Uma ótima definição do termo “inglês como lingua franca” pode ser a seguinte,

encontrada

no

sítio

eletrônico

do

Vienna-Oxford

International Corpus of English, de Barbara Seidlhofer (com tradução nossa) : Inglês como lingua franca (ILF) pode ser percebido como “qualquer uso do inglês entre falantes de diferentes línguas maternas para quem o inglês é o meio de comunicação escolhido, e frequentemente a única opção” (SEIDLHOFER, 2011, p. 7). ILF é atualmente a mais comum forma de uso da língua inglesa no mundo. Milhões de falantes de diveras origens culturais e linguísticas usam o ILF de forma cotidiana, frequente e bem sucedida em suas vidas profissionais, acadêmicas e pessoais.3 3

English as a lingua franca (ELF) can be thought of as "any use of English among speakers of different first languages for whom English is the communicative medium of choice, and often the only option." (Seidlhofer 2011: 7). ELF is currently the most common use of English world-wide. Millions of speakers from diverse cultural and linguistic backgrounds use ELF on a daily basis, routinely and successfully, in their professional, academic and personal lives. Disponível em acesso em 19 out. 2015.

Tão importante como definir o termo propriamente dito é perceber que há problemas resultantes do uso por tantos indivíduos e que são tão diferentes entre si. É possível afirmar que a habilidade de comunicação em língua inglesa é crucial para pesquisadores, agentes de comércio, para os que se ocupam na indústria do entretenimento e tantas outras áreas da atividade humana. Ter contato, independentemente do motivo, com pessoas de outros países é rápido, fácil e quase gratuito. Por motivos que, hoje, talvez não sejam tão óbvios, mas principalmente devido à grande infiltração dessas culturas (estadunidense e inglesa) em outras, a língua inglesa tem se mantido como a preferida entre falantes que não poderiam se comunicar em outra língua que fosse comum a ambos, somente pelo fato de ser muito menor o leque de opções. Há, ainda, questões históricas e econômicas que certamente causam grande impacto no momento da escolha da língua para comunicação, mas que não serão aqui tratadas devido à limitação do escopo deste trabalho. A questão mais relevante que este texto pretende levantar, porém, jaz na possibilidade de haver dificuldades para a inteligibilidade de enunciados orais por usuários competentes da língua inglesa que a utilizam como língua de contato, ou seja, que permite que a comunicação ocorra por meio de uma língua conhecida por ambos, mas que não é língua materna de nenhum. Para

tanto,

utilizamo-nos

de

pesquisa

bibliográfica,

como

dito

anteriormente, a respeito do tema. Os autores citados anteriormente trazem fundamentos para que a discussão seja iniciada.

Preferimos, nesse ponto, não utilizar os termos “inglês como segunda língua” e nem “inglês como língua estrangeira” porque tais termos, à medida que a pesquisa sobre a língua inglesa utilizada como lingua franca avança, tendem a cair em desuso, devido ao impacto negativo na autoestima dos usuários de inglês e a questões políticas ligadas às ideias de dominação, imperialismo, metrópole versus colônia, e mesmo a questões culturais como a superexposição a ícones culturais e à desvalorização da cultura local pela adoção de representações da cultura “dominante”). As palavras de Jennifer Jenkins (2000, apud BECKER, 2013) corroboram essas ideias: ELF enfatiza o papel do inglês na comunicação entre falantes de diferentes L1s, isto é, a razão primária para se aprender inglês hoje em dia; sugere a ideia de comunidade em oposição a estrangeirismo; enfatiza que as pessoas têm algo em comum ao invés de suas diferenças; implica que a “mistura” de línguas é aceitável [...] e que, portanto, não há nada inerentemente errado em manter certas características da L1, tal como o sotaque; finalmente o nome latino simbolicamente remove a propriedade da língua inglesa dos anglos [...] Esses efeitos são todos altamente apropriados para uma língua que tem uma função internacional. (JENKINS, 2000, p. 11).

O próprio termo lingua franca (sem acento agudo na palavra “lingua”) é grafado em latim, já como indício de que não há propriedade, nem posse, nem detentores de “direitos” sobre as regras que a regem, mas sim, uma disseminação da língua sobre o globo. Em inúmeros contextos, a língua inglesa está sendo utilizada para realizar a comunicação entre pessoas que seriam incapazes de se comunicar em suas próprias línguas maternas. Não sendo esses atores falantes nativos da língua, como podem eles assegurar-se que compreenderam e se fizeram compreender num contexto em que não há a quem recorrer para julgar a inteligibilidade do que falam e ouvem? Como ocorre a influência das L1 em falantes não nativos de língua inglesa? É possível que a inteligibilidade de seus enunciados não seja afetada?

A Evolução à Lingua Franca É possível perceber que o mais acentuado processo de dispersão da língua inglesa teve início no período do pós-guerra, com o incentivo de ações financiadas – tanto pelos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido quanto pela iniciativa privada sediada nesses países – que ocorreram na Europa e na América com o intuito de superar uma barreira de comunicação, que à época era tida como uma das causas dos conflitos que acabavam de assolar aquele continente. Antes disso, ainda, o advento da língua inglesa pôde ser notado na grande expansão do Império Britânico, notadamente sobre a África e a Ásia, onde há muitos países que mantém a língua inglesa como língua oficial. Também a expansão tecnológica e científica que adveio durante e depois das grandes guerras favoreceu o contato internacional de pesquisadores “aliados”, sempre em busca de melhorias no aparato bélico em tentativas de assegurar a vitória às nações que se opuseram ao regime do III Reich. Temos então um panorama propício à utilização de uma língua que carrega em si e empresta ao seu usuário toda uma carga de poder e força que não se viu igual até os dias de hoje, mesmo quando comparada à língua latina na época do império romano, que talvez seja a maior representação de imposição linguística vista até aquele tempo. Hoje, mais ainda, percebemos o domínio que a língua inglesa exerce sobre os meios de comunicação, no meio acadêmico, na cultura de massa, no campo dos negócios (cada vez mais descentralizados em suas bases ou sedes), mas cada vez mais presentes no cotidiano de tantos povos ao redor do globo.

As afirmações expostas seguem a linha de raciocínio presente no artigo de Gimenez, Serafim e Alonso (2006), que expõe análise a respeito da influência da língua inglesa sobre alguns aspectos da cultura de países como o Japão, Itália, França, Portugal, Finlândia e Macedônia. Assim, temos uma lingua franca instalada, sendo utilizada por bilhões de pessoas ao redor do planeta, em sua grande maioria usuários competentes de inglês, mas não falantes nativos, ou seja, pessoas que não nasceram em países que tem a língua inglesa como língua usada no cotidiano. Então, lançando mão de modelos estatísticos apropriados e interpretandoos com a cautela necessária à importância do tema e ao risco de incursão na “futurologia” leviana, pode-se afirmar que há uma tendência do uso da língua inglesa de forma global, em que todos, independentemente de sua história pessoal, origem, etnia, status social, religião etc. falem inglês. Como diz Graddol (1997, 2000, tradução nossa): Tudo indica que o inglês gozará de uma posição especial na sociedade multilingual do século XXI: ele será a única a figurar no mix de línguas em todas as partes do mundo. Isto, no entanto, não enseja uma celebração isenta de problemas pelos falantes nativos de inglês. Ontem era o pobre que era multilingual; amanhã será também a elite global. Então não podemos ficar hipnotizados pelo fato de que essa elite falará inglês: o fato mais significante pode ser que, ao contrário da maioria dos atuais falantes nativos de inglês, eles também falarão pelo menos uma outra língua – provavelmente mais fluentemente e com maior lealdade cultural.4

A inteligibilidade dos Enunciados de Falantes Não Nativos de Inglês Possivelmente um dos problemas mais investigados quando se fala em 4

The indications are that English will enjoy a special position in the multilingual society of the 21st century: it will be the only language to appear in the language mix in every part of the world. This, however, does not call for an unproblematic celebration by native speakers of English. Yesterday it was the world's poor who were multilingual; tomorrow it will also be the global elite. So we must not be hypnotised by the fact that this elite will speak English: the more significant fact may be that, unlike the majority of present-day native English speakers, they will also speak at least one other language – probably more fluently and with greater cultural loyalty.

inglês como lingua franca é o da inteligibilidade. Apesar de ser uma questão muito complexa ainda, com diversos estudos sendo conduzidos a respeito inclusive de sua definição (BECKER, 2012, p. 2), a inteligibilidade poderia ser, de forma bastante simplificada, definida como “[…] ser entendido por seu ouvinte interlocutor num dado tempo e numa dada situação” (KENWORTHY, 1987, p. 13, apud BECKER, 2012). Como não há ainda consenso bem estabelecido a respeito da inteligibilidade dos enunciados de usuários competentes da língua inglesa em contextos em que ela é utilizada como lingua franca, há então uma importante possibilidade de pesquisa aprofundada e questionamentos a serem respondidos, antes de se aventurar pelo caminho da definição carente de bases, ou mesmo da postulação de definições que possam parecer definitivas a respeito desse assunto. Cabe ainda salientar que há muitos termos e definições que, apesar de parecerem os mesmos, não são. Há termos numerosos para definições próximas, como os apontados por Cruz (2004 apud BECKER, 2012, p. 3) em sua tabela com dez termos que em um artigo ou outro tocam a inteligibilidade em sua definição. Portanto, há que se certificar que o escopo de pesquisas nesse sentido deixem claro qual a definição de inteligibilidade está sendo levada em consideração, para que não haja risco de os resultados sejam invalidados ou desacreditados (BECKER, 2012, p.4).

Inglês como Lingua Franca e o Ensino-Aprendizagem de Língua Estrangeira Apesar de os inúmeros estudos realizados e em andamento sobre a língua inglesa e sua posição no mundo como lingua franca, e a respeito da inteligibilidade dessa língua, ainda há consideravelmente pouco avanço notado na sala de aula de língua inglesa. Não por falta de embasamento teórico para

contrapor ideias talvez antiquadas de que o aprendizado da língua inglesa tenha que necessariamente passar pela assimilação de pequenos sons típicos do idioma, por exemplo, é constante a presença de material didático que traz o ensino de pronúncia como fundamental para que o usuário seja “bem-sucedido” na comunicação com outros falantes da língua anglo-saxônica. Contrariando o que se tem estudado até o momento, a esmagadora maioria dos livros ainda traz exercícios de compreensão oral e repetição para a “modelagem” da pronúncia, fazendo com que o progresso medido pela avaliação tradicional pareça mais lento e desencorajador, ensejando grande número de evasões das escolas de línguas à medida que os alunos avançam no programa didático tradicionalmente proposto. Uma das implicações dessa forma antiquada de ensino de língua inglesa pode ser notada quanto ao mercado existente para esse tipo de ensino. Apesar de haver no Brasil um número incrível de grandes redes de escolas de idiomas, ainda assim apresentamos desempenho insatisfatório quanto à quantidade de usuários que são brasileiros e quanto à qualidade do inglês que podem produzir/compreender. Em estudo publicado em 2015 a respeito do panorama da língua inglesa no Brasil, o British Council, citando pesquisa realizada pelo instituto Data Popular (2012), afirma que o setor de ensino de línguas cresceria entre 30 e 40% nos quatro anos seguintes no país. Mesmo assim, o Brasil figura como o 41º no EPI 2015 (English Proficiency Index 2015), estudo realizado pela empresa Education First que avalia 70 países quanto à qualidade do inglês da população testada. Há que se quebrar o paradigma do “modelo” de língua inglesa ensinado. É necessário dar mais atenção à real finalidade do inglês que é ensinado. Como

disse Gimenez, já em 2001 (com tradução nossa): Como professores dessa língua, precisamos fazer escolhas pedagógicas relacionadas às razões pelas quais é importante aprendê-la. Eu tenho insistido, vejo essas razões mais relacionadas a criar cidadania planetária do que à aquisição de uma commodity.5

O Futuro do Ensino de Língua Inglesa Quando se percebe a amplitude da questão imanente ao estudo da língua inglesa como lingua franca, é possível afirmar que mudanças inúmeras e de magnitude proporcional se fazem necessárias. O professor David Crystal (2012) toca em importante questão quando faz referência à importância da contribuição que usuários da língua inglesa inseridos em contextos nem sempre de uso “nativo” fazem quando, por exemplo, compilam um simples glossário de termos locais de que não se tem conhecimento prévio disponibilizado em dicionários comuns de inglês. Um usuário da língua vindo de fora do local onde a lista tenha sido criada certamente precisaria de uma cópia dela para que a comunicação ocorresse de forma mais eficaz. Seria com grande satisfação, provavelmente, que o usuário responsável por tal criação ficasse muito orgulhoso do resultado de seu trabalho. Esse tipo de exemplo demonstra que é possível restringir, ou mesmo eliminar a “posse” da língua e de suas regras. O grande quebra-cabeças compreendido na língua inglesa tem, assim, diversos atores que a modificam de acordo com suas próprias necessidades. Tem-se, então, a visão mais clara do inglês sendo utilizado como lingua franca. Não há autoridade que possa afirmar que este termo ou aquela construção é errada, imprópria, ou que não se enquadra à norma culta (standard English), simplesmente porque aqueles que 5

As teachers of this language we have to make pedagogical choices related to the reasons why it is important to learn it. I have argued, I see these reasons more related to creating planetary citizenship than to acquiring a commodity.

acreditam serem autoridades na língua jamais haviam se deparado com a situação existente que demandou a criação daquele termo ou construção. A autoridade passa a ser quem criou aquele termo e iniciou sua difusão, até que o indivíduo desapareça completamente e reste somente a criação, novo vocábulo que deverá fazer parte da língua. Atualmente é possível verificar que, sistematicamente, os mantenedores dos padrões da língua inglesa tem perdido prestígio e é possível inferir de um estudo conduzido por Smith (1992 apud GRADDOL, 1997, p. 56) que os “falantes nativos” sequer são os melhores comunicadores em sua língua, quando os inserimos em um contexto em que a língua inglesa é usada como lingua franca. Graddol (Op. cit.) até sugere que se acompanhe a evolução do mercado editorial do ensino de língua inglesa para que seja possível perceber a alternância que poderá ocorrer entre as preferências entre padrões diferentes. Isto posto, pode-se afirmar que o ensino de língua inglesa deve passar por mudanças drásticas, profundas e renovadoras, para que se estabeleça realmente a comunidade global falante de inglês, como lingua franca.

Conclusão Tentamos esclarecer, ou melhor, mostrar nesse artigo alguns tópicos expoentes na pesquisa da língua inglesa no que toca sua presença no mundo atual, algumas implicações de seu uso por um número de pessoas que cresce muito rapidamente, e como diversos pesquisadores tentam problematizar e definir rumos para o ensino, aprendizado, e evolução da língua. Percebemos que a predominância da língua inglesa na comunicação é inconteste nas mais diversas esferas do convívio humano. Cerca de três quartos

da comunicação em língua inglesa ocorre atualmente entre falantes não-nativos de inglês, ou seja, tem uma língua diferente como língua materna. Isso nos mostra que não há mais academias, filólogos ou instituições de qualquer natureza capazes de parar o avanço da língua inglesa e suas especializações que nascem das necessidades dos usuários no nível local. No ritmo em que toda essa expansão tem ocorrido, em breve não haverá padrão preferido pelo restante do mundo, nem esta ou aquela variante de mais prestígio, a não ser para fins pitorescos. Sempre haverá, mesmo assim, diversos “majores Policarpo Quaresma” defendendo a manutenção da língua pura e imaculada, ignorando fatos como o de que até a língua latina precisa ser adaptada para, no mínimo, expressar o que o mundo atual impõe. Perceba-se que o Lexicon recentis Latinitatis (PAVANETTO, 2015), ou “léxico latino recente” (tradução nossa), é uma importante publicação que tenta atualizar a língua latina, adicionando neologismos ao seu vocabulário, para que ela não morra. (Não podemos nos esquecer que a língua oficial do Vaticano é o latim, e é nessa língua que os documentos oficiais daquele país são redigidos). Não há língua que não evolua e que não se altere, portanto. O ensino de língua inglesa deve ser o setor, dentre todos os estudados, que mais deve sofrer o impacto do aumento do número de usuários competentes de inglês. Digo “deve sofrer” porque ainda não é possível notar significantes transformações no modo como se ensina inglês ao redor do mundo, mesmo com tão frutíferas discussões sobre como uma língua tão disseminada sofre a influência mais que oportuna de seus usuários. Existe a impressão de que há uma força oculta tentando manter a língua inglesa o mais próximo possível de seu núcleo fundamental. Essa força tem sua

origem um tanto indefinida, mas é percebida quando são analisados livros didáticos que praticamente nada mudam em seu conteúdo quanto à gramática e ao vocabulário (STEVENS, 1992 apud GRADDOL, 1997, p. 56). Enquanto livros didáticos que “puxam” os modos retóricos da língua para um ponto central, regulando, unificando e centralizando o modo como a usamos, forem a maioria absoluta, teremos somente o desequilíbrio entre as forças centrípeta (já explicada) e a força centrífuga, que é seu oposto, fazendo com que os elementos da língua sejam empurrados para longe do centro, criando multiplicidade e estratificação de todo esse poder. A língua flui nessa diferença, mas é necessário que haja certo equilíbrio, pelo menos (CUDDON, 2013). É necessário que haja ação da parte dos que talvez sejam os mais bem preparados para implementar tal diálogo, os professores. É necessário que, além do rápido aumento no número de usuários competentes da língua inglesa, aumente o número de profissionais do ensino de língua inglesa preparados para enfrentar a nova realidade posta pelos diversos ventos que regem todos os movimentos citados ao longo desse texto. Deve o professor facilitador do aprendizado de língua estrangeira “empurrar” seu orientando para o lugar de dono também da língua que ele está usando e aprendendo. Se aprendemos outra língua para que nos comuniquemos melhor com o mundo todo, é necessário que nos coloquemos nesse mundo com intenção de mostrar que há lugar para todos, e que podemos ocupar nosso próprio espaço individual sem que tomemos por força o lugar de ninguém. Portanto, devemos tomar como nosso o lugar de cocriadores dessa língua mundial que não é somente a língua inglesa tal e qual. Somos colaboradores da

evolução da língua tanto ou mais que os “falantes nativos”, pois a contribuição deles fica restrita devido a já terem feito o trabalho mais longo de manter e fazer evoluir a língua enquanto o mundo em que estão inseridos evoluiu. A língua que era deles evoluiu também, ultrapassou suas fronteiras e todos nós usufruímos dela hoje em dia, mas nem tudo que há aqui há lá, portanto é necessário que eu crie meu léxico próprio para que possa expressar o que existe aqui.

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