Uma \"casa comum\" entre os cristãos

May 28, 2017 | Autor: Moisés Sbardelotto | Categoria: Ecumenism, Iglesia Católica, Igreja Católica, ECUMENISMO, Papa Francisco
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Religião Francisco

UMA “CASA COMUM” Na declaração conjunta, Francisco e Welby (foto) também reiteram que a fé que as duas Igrejas compartilham e a alegria comum no Evangelho são mais amplas e profundas do que as divergências que as dividem Moisés Sbardelotto *

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ois aniversários de grande relevância histórica para o cristianismo foram celebrados no último mês, na presença do papa Francisco, em dois encontros diferentes. Um deles marcou os 50 anos do primeiro encontro entre um papa católico e um primaz anglicano. O segundo recordou os 500 anos do início da Reforma Protestante, movimento impulsionado pelo então monge católico Martinho Lutero (1483-1546). Am-

bas as comemorações apontam para o desejo de construir aquela “casa comum” (oikos-umene, ecumenismo) que corresponde à oração do próprio Jesus: “Que todos sejam um” (Jo 17,21). No dia 5 de outubro, o papa Francisco e o arcebispo de Canterbury e primaz anglicano, Justin Welby, reuniram-se em Roma para um momento de oração. Assim, recordaram o encontro entre o papa Paulo VI e o primaz anglicano Michael

Ramsey, em 1966, um momento histórico em que os dois líderes cristãos estabeleceram a Comissão Internacional Anglicano-Católica, para promover um diálogo teológico voltado à construção da unidade entre as duas tradições cristãs. Depois de meio século de trabalhos da comissão, Francisco e Welby agradeceram os resultados alcançados, principalmente em torno das doutrinas de ambas as Igrejas que criaram divisões ao longo da novembro de 2016 57

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Cruz símbolo do encontro comum luterano-católico que marca os 500 anos da Reforma Protestante

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Francisco e Welby, em declaração conjunta

Primaz anglicano Michael Ramsey e o papa Paulo VI, em 1966, estabelecem comissão para promover um diálogo voltado à unidade entre as duas tradições cristãs

História. Dentre estas, encontram-se a ordenação de mulheres, algumas questões relativas à sexualidade humana e o modo de exercer a autoridade na comunidade cristã. O bem de todos – Diante desses desafios, Francisco e Welby afirmaram: “Embora, assim como os nossos antecessores, nós também ainda não vemos soluções para os obstáculos à nossa frente, não nos desencorajamos. Com confiança e alegria no Espírito Santo, confiamos que o diálogo e o compromisso recíproco tornarão mais profunda a nossa compreensão e nos ajudarão a discernir a vontade de Cristo para a sua Igreja. (…) As divergências mencionadas não podem nos impedir de nos reconhecermos reciprocamente como irmãos e irmãs em Cristo, em virtude do nosso Batismo comum”. 58 revista família cristã

Um sinal concreto desse desejo de unidade foi o presente de Welby a Francisco, uma cruz peitoral, que o papa logo colocou sobre o seu pescoço. O gesto remetia a outros sinais concretos, de 50 anos atrás, quanto Ramsey se ajoelhou diante de Paulo VI, e quando o então bispo de Roma tirou o seu anel e o colocou no dedo do então arcebispo de Canterbury, como sinal de unidade. Na declaração conjunta, Francisco e Welby também reiteram que a fé que as duas Igrejas compartilham e a alegria comum no Evangelho são mais amplas e profundas do que as divergências que as dividem. Segundo eles, o mundo deve ver, mediante o testemunho conjunto e a ação compartilhada, a fé comum em Jesus. Por isso, afirmam: “Estamos unidos na convicção de que hoje ‘os confins da terra’ não representam apenas um

termo geográfico, mas um chamado a anunciar a mensagem salvífica do Evangelho de modo particular àqueles que estão nas margens e nas periferias das nossas sociedades”. Uma dessas margens reconhecidas pelos dois líderes cristãos é a ecologia. Por isso, salientam que católicos e anglicanos podem e devem “trabalhar unidos para proteger e preservar a nossa casa comum: vivendo, instruindo e agindo de modo a favorecer um rápido fim da destruição ambiental (…) e gerando modelos de comportamentos individuais e sociais que promovam um desenvolvimento sustentável e integral para o bem de todos”. A casa comum, assim, torna-se a “causa comum” de ambas as Igrejas hoje, possibilitando um impulso de unidade a partir da defesa da dignidade da Criação.

Perdão pela divisão – Por outro lado, no dia 31 de outubro, o papa Francisco participou da Comemoração Comum Luterano-Católica da Reforma, em Lund e Malmö, na Suécia. Trata-se de um fato sem precedentes: um papa católico junto com os irmãos luteranos para “comemorar” a Reforma Protestante, como diz o próprio nome do evento. Com Francisco, estiveram o bispo luterano Munib Younan e o reverendo Martin Junge, respectivamente presidente e secretário-geral da Federação Luterana Mundial (FLM), que reúne e representa 145 Igrejas luteranas do mundo inteiro. Outra presença foi a da arcebispa Antje Jackelén, líder da Igreja Luterana da Suécia, a primeira mulher a se tornar a principal liderança de uma Igreja luterana nacional. Mas o que a Igreja Católica tem a “comemorar” com a Reforma? Como explicou uma nota divulgada pela Santa Sé, emitida em nome da FLM e da Igreja Católica, o evento quis evidenciar o “contínuo diálogo ecumênico entre católicos

e luteranos e os dons resultantes dessa colaboração. A comemoração católico-luterana dos 500 anos da Reforma – prossegue a nota – centrase nos temas da ação de graças, do arrependimento e do compromisso no testemunho comum. O objetivo é expressar os dons da Reforma e pedir perdão pela divisão perpetuada pelos cristãos das duas tradições”. O próprio evento na Catedral Luterana de Lund foi sinal disso, ao usar o guia litúrgico católicoluterano intitulado Oração Comum. Esse, por sua vez, se fundamenta no documento Do conflito à comunhão, preparado pela Comissão Luterana – Católico-Romana para a Unidade, sendo a primeira tentativa histórica de descrever a história da Reforma conjuntamente, de analisar os argumentos teológicos que estavam em jogo, de traçar os desenvolvimentos ecumênicos entre as duas Igrejas e de identificar a convergência alcançada e as diferenças ainda persistentes. Junto com a oração e o testemunho, como revelam esses dois aniversários, há principalmente uma missão co-

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‘“Os confins da terra’ não representam apenas um termo geográfico, mas um chamado a anunciar a mensagem salvífica do Evangelho”

mum entre as Igrejas cristãs. E o papa Francisco já destacava isso na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium(EG), no início do seu pontificado: “A credibilidade do anúncio cristão seria muito maior, se os cristãos superassem as suas divisões” (no 244). Na visão do papa, os gestos de encontro com os irmãos e irmãs cristãos separados não são mera diplomacia nem a busca de uma união forçada, mas “um caminho imprescindível da evangelização” (EG 246). * Moisés Sbardelotto é jornalista, mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, e La Sapienza, em Roma. É também autor de E o Verbo se Fez Bit (Editora Santuário). novembro de 2016 59

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