Uma colecção de escultura para uma arquitectura perdida: o núcleo altimedieval de Sines

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Descrição do Produto

Ficha técnica Título Colecção Coordenação científica Coordenação editorial Autores

Edição Ano Design e composição Impressão e acabamento Depósito legal ISBN

Imagens e Liturgia na Idade Média Bens Culturais da Igreja, N.º 4 Carla Varela Fernandes Sandra Costa Saldanha Alícia Miguélez Cavero Anísio Franco Carla Varela Fernandes Catarina Fernandes Barreira Jean-Marie Guillouët Manuel Antonio Castiñeiras González Maria Alessandra Bilotta Maria João Vilhena de Carvalho Mário Jorge Barroca Paulo Almeida Fernandes Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja 2015 SNBCI Sersilito 393185/15 978-989-97257-6-8 Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja Quinta do Cabeço, Porta D, 1885-076 Moscavide Tel.: (+351) 218 855 481 | Fax: (+351) 218 855 461 [email protected] | www.bensculturais.pt

ÍNDICE



















Apresentação Carla Varela Fernandes

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Uma colecção de escultura para uma arquitectura perdida: o núcleo altimedieval de Sines Paulo Almeida Fernandes

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Gesto, imagen y liturgia: las representaciones de dolor y lamento en la escultura funeraria portuguesa (siglos XII-XIV) Alícia Miguélez Cavero

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El Apóstol está presente: la estatua de Santiago y sus peregrinos en el siglo XIII Manuel Antonio Castiñeiras González

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Uma imagem de S. Bartolomeu do MNAA: questões em torno da estética, iconografia e importância do culto nos anos do Românico Carla Varela Fernandes e Mário Jorge Barroca

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L’iconographie du travail et la culture de l’alimentation: élaborations figuratives dans la production enluminée liturgique de Émilie-Romagne au XIIe siècle Maria Alessandra Bilotta

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Questões em torno dos Ordinários do Oficio Divino de Alcobaça Catarina Fernandes Barreira

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L’image monumentale et le texte: remarques sur la mécanique épigraphique à la fin du Moyen Âge Jean-Marie Guillouët

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A nova museografia da escultura portuguesa no Museu Nacional de Arte Antiga Maria João Vilhena de Carvalho e Anísio Franco

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UMA COLECÇÃO DE ESCULTURA PARA UMA ARQUITECTURA PERDIDA: O NÚCLEO ALTIMEDIEVAL DE SINES1 Paulo Almeida Fernandes*

O estudo da escultura decorativa de âmbito litúrgico produzida em contextos peninsulares de época visigótica e moçárabe enfrenta numerosos constrangimentos, repetidas vezes difíceis de ultrapassar. Tais dificuldades podem resumir-se a dois grandes blocos de interrogações. Por um lado, a frequente descontextualização dos achados, que caracteriza mais de 90% dos fragmentos escultóricos preservados em museus e igrejas dispersos por uma geografia peninsular tendencialmente meridional, mas que inclui também importantes testemunhos a Norte. Tanto em Portugal, como em Espanha, subsiste uma flagrante falta de informação contextual arqueológica acerca de núcleos maiores e menores deste tipo de peças, fruto de recolhas efectuadas durante a primeira metade do século XX, e mesmo anteriormente, momentos em que o rigor informativo era menor que as actuais exigências científicas. Mas o tempo da arqueologia em que estas peças foram descobertas não explica tudo. Um dado recentemente valorizado pela historiografia é o facto de muitos destes fragmentos terem sido recolhidos em ambientes de sucessivas reutilizações, o que dificulta ainda mais potenciais abordagens acerca de locais e funções originais, ao mesmo tempo que esclarece acerca da potencial inexistência de informação contextual logo nos momentos de recolha. Por outro lado, e em certa medida como consequência da descontextualização arqueológica, verifica-se que, sem dados concretos precisos, os achados tornam-se praticamente mudos em termos cronológicos. Este dado é importante porque, desde há umas décadas, está em marcha um processo revisionista dos contextos civilizacionais em que muitas destas produções escultóricas foram criadas, questionando-se frequentemente se foram geradas em época visigótica (séculos V a VIII) ou, em alternativa, se pertencem a contextos moçárabes (até, sobretudo, ao século X).

*Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património-UC; Instituto de Estudos Medievais - FCSH/UNL 7

PAULO ALMEIDA FERNANDES

Castelo de Sines e Museu Municipal de Sines, instalado na “Casa Vasco da Gama” do Castelo. Foto autor

1. Dúvidas e mais dúvidas sobre um espólio surpreendente O conjunto escultórico de Sines não escapa a estes condicionalismos. É, aliás, um dos núcleos onde os problemas de cronologia e de descontextualização arqueológica mais se fazem sentir, pela relativa heterogeneidade do espólio conservado e pelo grande desconhecimento acerca da evolução regional em que a localidade se insere entre a Antiguidade Tardia e a (re)conquista do território no século XIII. Durante muito tempo, o conjunto escultórico aqui identificado, que ascende a mais de meia centena de peças 2 - constituindo-se, por isso, como um dos mais numerosos em território português -, foi considerado como uma notável manifestação de época visigótica, afirmando-se a sua pretensa homogeneidade material, cronológica e estilística (Almeida, 1968-70:18; Almeida, 1986: 48). Esta atribuição foi efectuada num tempo historiográfico em que, por um lado, não se reconhecia verdadeira vitalidade artística aos núcleos moçárabes, assumindo-se, por princípio, que todas as manifestações artísticas distintas do romano, do românico e do islâmico, eram, por defeito, suevo-visigóticas e, por outro, não haviam indícios de importância efectiva de Sines para os poderes islâmicos. Uma e outra perspectiva alteraram-se em anos recentes.

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Uma colecção de escultura para uma arquitectura perdida

Perspectiva da sala de exposição do “Núcleo Visigótico” do Museu Municipal de Sines. Foto Câmara Municipal de Sines, 2010

A possibilidade de o espólio altimedieval de Sines pertencer a contextos moçárabes tem vindo a ser sustentada por diversos autores, sendo de destacar a recente abordagem efectuada por Manuel Luís Real. Teci já algumas considerações nesse sentido, na medida que, do meu ponto de vista, subsistem peças que apresentam indícios de reutilização, outras que terão sido realizadas em épocas posteriores, e ainda outras que, sendo posteriores, tentaram copiar o estilo e a iconografia de espólio já existente. Renovo, neste momento, o que genericamente escrevi em 2009a a respeito da visibilidade de, pelo menos, três períodos distintos nesta colecção. A maioria das peças data do primeiro período, que pode corresponder ainda à época visigótica, a confirmarem-se as semelhanças para com algumas realizações de Mérida atribuíveis àquele período. Mas em contexto moçárabe / islâmico ocorreram pelo menos duas reconfigurações pontuais do espólio, patentes sobretudo na reutilização de algumas peças e, já num período tardio, novo impulso construtivo levou à realização de uma imposta decorada com motivos enxaquetados e, por isso, catalogável como verdadeiramente pré-românica. A questão cronológica, discutida no ponto 1.1. deste texto, é apenas uma entre outras variáveis que acentuam o desconhecimento, as dúvidas e as repetidas cautelas com que o espólio sineense deve continuar a ser considerado. Porque se a tradicional 9

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atribuição deste núcleo à época visigótica carece de certificação, também a tantas vezes reclamada homogeneidade formal e estilística ou a unitária proveniência são aspectos que merecem maior discussão3. Outro aspecto que deve entrar em linha de conta para atenuar a pretensa homogeneidade deste núcleo é a distinta procedência de materiais: enquanto algumas peças foram realizadas sobre blocos extraídos para o efeito4, outras reaproveitaram materiais romanos que há muito haviam perdido a sua função, em particular as grandes pilastras, que parecem ter sido elaboradas a partir de antigas arquitraves de algum edifício romano. Por outro lado, surgiram recentemente dados que contrariam a recorrente “invisibilidade” de Sines durante o período islâmico. Ainda que a arqueologia tarde em revelar contextos inequívocos de ocupação entre os séculos VIII e XIII, alguns autores sugeriram que Sines possa ter correspondência com Marsa Hashim, o porto Hashim, mencionado em várias fontes islâmicas, em particular no texto de al-Himyari (Torres, Correia, Macias e Lopes, 2007: 180). É um facto que a falta de certificação arqueológica desta hipótese, bem como a ausência de contextos materiais relativos à Alta Idade Média5, deve impor uma prudente avaliação, especialmente quando se confronta estes escassos indícios com a densa ocupação de Sines no período romano6. Em todo o caso, e decaindo Miróbriga de protagonismo ao longo da Alta Idade Média (Quaresma, 2012), é natural que se tivessem gerado novas centralidades regionais na vasta área ocidental do actual Alentejo e que Sines, pela posição estratégica do seu porto, tenha assumido progressiva importância (na linha do que já equacionou Wolfram, 2011, V. 1: 25 e 76). 1.1. Evidências, suposições e hipóteses acerca de uma mais larga diacronia no núcleo sineense Independentemente dos argumentos que situam a constituição deste núcleo preponderantemente em época visigótica ou moçárabe, penso que existe uma conclusão consensual na sua abordagem: a de que a maior parte do espólio ali reunido, ainda que fragmentário, corresponde a um primeiro momento de realização. Com efeito, é possível identificar uma notável semelhança formal e estilística na maior parte das peças que compõem este núcleo, sensação que secundariza e quase torna invisível as ténues evidências de reutilização em épocas posteriores. 10

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O espólio reunido em Sines caracteriza-se pela sistemática utilização de elementos vegetalistas e geométricos específicos, porém dotados de incomum variedade compositiva e de qualidade superior a algumas das mais características produções altimedievais de Beja. Os temas e as suas variantes foram objecto de caracterização exemplar por parte de Wolfram, 2011, vol.1: 77-82. É praticamente dominante o recurso a trifólios alongados, arquinhos que enquadram botões florais helicoidais, séries vegetalistas sinusoidais com folhagem disposta alternadamente, rosetas circulares tangentes, medalhões de moldura cordiforme, círculos sobrepostos preenchidos por rosáceas de oito pétalas e cruzes páteas de braços iguais. Este reportório, embora limitado (Real, 2014: 307), foi utilizado de forma bastante livre e versátil, formando, assim, peças que, recorrendo a temas comuns, primam pela variedade de soluções. A par desta versatilidade, deve ainda reconhecer-se a grande qualidade de algumas produções, sobretudo o rigor das séries sinusoidais e o equilíbrio das composições circulares, harmonicamente adaptadas ao espaço disponível. Se estas características se instituem facilmente como imagem de marca da colecção altimedieval de Sines, subsistem outras particularidades que, de forma mais subtil, evidenciam a reutilização de materiais em épocas posteriores e a introdução de novos temas e formas escultóricas. Foi o que aconteceu com uma placa de revestimento do primeiro período que, por duas vezes, foi objecto de reutilização, tendo-se então introduzido novos tipos de escultura e novos temas iconográficos7 (MS 1073). Num primeiro momento de reutilização, esculpiu-se uma ave (águia?) aprisionando um coelho (ou uma lebre). Ambos os animais foram retratados de perfil, com o coelho em posição vertical, MS 1073 (Igreja de Nossa Senhora das Salas, Sines). Pormenor da face lateral, onde se exibe uma águia aprisionando um coelho. Foto autor

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Placa fatímida do Museu de Arte Islâmica do Cairo, séc. X. Publ. Markus Hattstein e Peter Delius - El Islam. Arte y arquitectura. Colónia: Könemann, 2001, p. 156.

indefeso e sujeito por inteiro às garras da águia, que o transporta em voo. Esta apresenta-se em posição majestática, com a cabeça voltada para a esquerda, como que alheada da sua presa. Sobre ela exibe-se um elemento vegetalista de grande exuberância, possível representação estilizada da árvore da vida. Salientei já o facto de esta iconografia ter paralelos com o moçarabismo lisboeta e os guardiães da árvore da vida que são os simorghs dos pilares do mosteiro de Chelas (hoje no Museu Arqueológico do Carmo, Lisboa). Neste caso, através de uma cena em que figura um predador e uma presa, ilustra-se o triunfo do bem sobre o mal, de um elemento celeste sobre outro terrestre, mensagem que se afasta do carácter puramente ornamental com que Almeida, 1986: 68 interpretou esta mesma representação. Embora não tenha sido possível encontrar paralelos formais evidentes, pelo menos ao nível das semelhanças que as realizações moçárabes lisboetas evidenciam em relação a produções têxteis bizantinas e do Mediterrâneo MS 1073 (Igreja de Nossa Senhora das Salas, Sines). Pormenor da face lateral onde se exibem animais inscritos em medalhões. Foto autor

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Placa do Paraíso da Sé de Lisboa. Publ. Lisboa Subterrânea, 1994.

Oriental, salientei já a ocorrência de semelhante iconografia numa cancela bizantina do British Museum, datada do século X (do século XI para Martínez de Lagos, 1997: 321), e numa placa fatímida datada do século X e conservada no, hoje, muito danificado Museu de Arte Islâmica do Cairo (Egipto). Esta última realização, aparentada com a produção têxtil bizantina, encontra também eco na arte produzida à época na Península Ibérica. De acordo com Loverance, 1994: 140, o tema da águia e da lebre (ou da águia com a cobra) é muito frequente em contextos médiobizantinos, remetendo iconologicamente para a dualidade predador-presa, transposta para cenários do Paraíso. Na face oposta à cena da águia aprisionando o coelho, a placa de revestimento apresenta dois medalhões sobrepostos com animais inscritos em círculos. Seguindo a hierarquia tradicional, o animal terrestre (cordeiro?) está num plano inferior ao das aves. Aquele é representado de perfil, voltando a cabeça bruscamente para trás, como se o artista o tivesse captado em movimento. Estas aparecem também de perfil, afrontando-se, mas parecendo partilhar algo ao nível dos respectivos bicos, que praticamente se tocam entre si. Tal solução é a que mais estreitos contactos apresenta em relação à arte moçárabe lisboeta. Tanto o cordeiro como as aves parecem decalcados da Placa do Paraíso da Sé de Lisboa, apesar de as realizações sineenses praticamente não terem qualquer tratamento anatómico dos corpos e, mais importante, não ostentarem a sugestão da árvore da vida. A presença do círculo 13

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protector, diferenciador dos mundos celeste e terrestre, recorda a solução dos pilares de Chelas, mas também os frisos de Quintanilla de las Viñas, entre outras representações já solidamente consideradas pós-visigóticas. Proponho que as duas representações atrás descritas (águia aprisionando um coelho e medalhões que enquadram animais posicionados de perfil) sejam o resultado de aproveitamento da placa de revestimento, diferindo do que argumenta Real, 2014: 309, pelos seguintes motivos: em primeiro lugar, pela posição secundária destas escultu- MS 1043. Museu Municipal de Sines. Pilastra de encaixe para formar possível cancela. ras na lógica geral do conjunto Foto autor - elas ocupam as laterais de uma placa, com cuja face principal nada têm em comum, nem do ponto de vista compositivo, nem de talhe escultórico; em segundo lugar, e conhecendo-se o carácter repetitivo, porém versátil, do espólio de Sines, estas discretas representações são únicas em todo o conjunto, quando a poderosa mensagem que pretendem transmitir as deveria catapultar para contextos de protagonismo ou, pelo menos, para várias representações, como acontece com outras aves do conjunto; finalmente, ambas as representações são distintas do talhe e rigor que caracteriza sistematicamente o núcleo sineense – na representação da águia que aprisiona o coelho, denota-se mesmo uma certa despreocupação na definição da cena, desproporcionadas as figuras e assimétricas as folhas das árvores; já quanto aos medalhões que enquadram animais de perfis, e conhecendo-se como esse elemento foi utilizado em contextos moçárabes sobretudo influenciados pela estética difundida em tecidos bizantinos, estes são os únicos das várias representações animalistas que se identificam no conjunto sineense, sendo certo que aquele espólio apresenta numerosos círculos que enquadram motivos vegetalistas ou geométricos, mas não animalistas. Um último argumento diz respeito ao talhe utilizado nestes medalhões, 14

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propositadamente para evidenciar dois planos, por oposição aos restantes círculos da produção sineense, onde não existe sugestão de profundidade ou perspectiva; a maior parte dos círculos contém também dupla moldura ou circunferência cordiforme, elementos flagrantemente ausentes nestes dois pequenos e discretos medalhões. Outra peça alvo de reaproveitamento (ou realização integral num momento avançado da igreja) foi um possível elemento de cancela (MS 1043). Uma das faces, e não obstante o seu mau estado de conserMS 1041 (Museu Municipal de Sines). vação, apresenta uma decoraPilastra de encaixe. ção substancialmente diferenFoto autor te da que é comum em Sines, sendo ainda possível reconhecer a representação de uma árvore, com tronco axial vertical, a partir do qual arrancam quatro níveis de hastes floridas. Manuel Luís Real chamou recentemente a atenção para a ocorrência deste tipo de decoração no mundo asturiano-leonês, em concreto numa cancela da igreja de San Adrián de Boñar (Real, 2014: 308). Uma terceira peça que terá sido reaproveitada é um fragmento de cancela ou de friso (Almeida, 1968-70, fig. 21) (MS 1041), decorado em duas secções: ao centro, aves de perfil, entre figuras geométricas preenchidas com “folhas triangulares e estriadas”; numa das extremidades, exibem-se motivos vegetalistas algo confusos, em torno de um círculo central imperfeito. Manuel Luís Real chamou já a atenção para a possibilidade de a peça pertencer a horizontes moçárabes, evidenciando analogias com materiais do Castro da Cola e de Santiago do Cacém (Real, 1995: 52-53 e 2728, figs, 17, 18 e 20). Eu próprio ampliei essas analogias às folhas triangulares das placas geométricas do Museu Arqueológico do Carmo e do Palácio do Chafariz del’Rey, em Lisboa (Fernandes, 2009a: 92). Já quanto aos animais, o tratamento é sumário, que muito se diferencia das produções cuidadas de Lisboa, onde as 15

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MS 1064 (Museu Municipal de Sines). Possível pilastra da eikonostasis. Foto autor

MS 1064 (Museu Municipal de Sines). Possível pilastra da eikonostasis. Pormenor da destruída cruz que se exibia em destaque na parte superior da face principal. Foto autor.

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características anatómicas dos animais foram tratadas com esmero. Tal não é suficiente, todavia, para menosprezar o carácter orientalizante que se sente nesta peça, sensação reforçada por um certo “horror ao vazio”, tão contrastante com o restante espólio sineense e que pode mesmo indicar uma realização em época islâmica. Que esta peça estava destinada a fazer parte de uma cancela não há dúvidas, pois uma das suas faces laterais ainda exibe o sulco para encaixe. No longo tempo em que os muçulmanos dominaram a região, o conjunto pétreo cristão da Sines altimedieval foi seguramente reaproveitado, pelo menos de forma parcial. Não é possível perceber o contexto dessa reutilização (se civil ou militar), mas é certo que parte do espólio foi incorporado para permanecer visível e, o mais provável, em posição de destaque. É o que se depreende de uma grande pilastra rectangular, provida de capitel, cuja face principal era decorada com uma cruz de braços iguais, com as extremidades mais largas, em torno da qual se exibiam duas aves afrontadas (pombas) e os símbolos do alfa e do ómega: Δ e Ω (MS 1064). Da cruz, resta apenas o negativo, porque ela foi apagada em época islâmica, possivelmente em contexto tardio, de perseguição dos moçárabes.

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Um pormenor que atesta a reutilização da peça em local de grande visibilidade e, por isso, importante, é o facto de apenas a cruz ter sido eliminada, mantendo-se o alfa e o ómega, as aves afrontadas e duas outras cruzes na parte inferior da peça que, por estarem incluídas em círculos e, por isso, sobressaírem “mais pelo seu geometrismo ornamental (…) que pela respectiva natureza simbólica, (…) não foram afectadas“ (Real, 2014: 307). Sobre a simbologia desta peça e sua relação com a iconografia do paraíso que percorre parte considerável do moçarabismo ocidental, tive já ocasião de me pronunciar (Fernandes, 2015, no prelo). Datará também deste período a curiosa solução lateral do capitel integrado, que ostenta um elemento circular de dupla moldura, a partir do qual se desenvolve uma densa folhagem radial, de que se conserva apenas uma folha. O talhe deste tipo de decoração e a sensação de “horror ao vazio” que exprime contextualiza-se bem com a peça anterior, sugerindo-se que ambas possam ter sido realizadas em idêntico momento. Também tardia é uma imposta decorada com séries horizontais de enxaquetados (Almeida, 1968-70, fig. 25; Almeida, 1986: 51, fig. 2A). Ela situa-se em pleno compartimento artístico proto-românico, na linha do que Real, 2000: 66 admite para a cronologia a atribuir à própria igreja de Santo Amaro de Beja8. Já uma segunda imposta (Almeida, 1968-70, fig. 24; Almeida, 1986: 51, fig. 1A) parece ser ligeiramente anterior, integrando outra poderosa corrente artística, fortemente vincada no século X. A sua face principal apresenta uma cruz axial, de braços iguais, ladeada por dois motivos vegetalistas, trifoliados, enquanto uma das faces

Museu Municipal de Sines. Imposta decorada com enxaquetados. Foto autor

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Museu Municipal de Sines. Imposta decorada com segmentos laterais trifoliados e cruz axial. Foto autor

laterais exibe um motivo classicizante, em forma de cornija9. Manifesta-se, aqui, uma vertente artística classicizante que não tem paralelo no restante núcleo sineense e cuja cronologia exacta a atribuir merece maior prudência. Sem o fulgor iconográfico ou formal das peças anteriormente mencionadas, estas impostas representam um importante indicador da diversidade (também cronológica) do conjunto sineense. Esta segunda imposta em concreto parece ter paralelo com outra peça do núcleo de Sines que se conserva em área reservada, que também apresenta uma cruz de braços iguais, ladeada por motivos vegetalistas trifoliados, sendo assim de supor que, em determinado momento, tenha feito composição com a anterior, eventualmente como impostas de um arco do interior ou exterior do templo. Até aqui, salientei os sintomas que apontam para parcelares reconfigurações (novas realizações e reaproveitamentos) do espólio sineense ao longo de uma Alta Idade Média sem referentes cronológicos precisos sobre o aglomerado urbano de Sines. Do que não parecem restar dúvidas é que a maior parte das peças correspondem a um só momento de constituição, anterior às primeiras modificações que, por analogia estilística com peças vinculadas aos ciclos asturiano-leonês e moçárabe, podem situar-se pelos séculos IX e X. Tal significa que o primeiro momento de constituição do espólio, coincidente com a construção do edifício que o albergou, terá de ser necessariamente anterior. A catalogação de parte importante do núcleo de Sines como produto da época visigótica radica no reconhecimento de afinidades estilísticas para com peças de Mérida e Beja. Em particular, 18

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as grandes pilastras de faces decoradas com motivos geométricos, cruzes de braços iguais inseridas em círculos e, principalmente, sucessões sinusoidais vegetalistas e coroamento em capitéis de dois registos, revelam semelhanças com peças daquelas duas cidades, a que se juntam materiais mais modestos, como pilastrinhas, impostas e capitéis que repetem composições características do espólio altimedieval emeritense e bejense. Em todo o caso, devem salientar-se sintomáticas distinções, em particular a forma dos trifoliados vegetalistas, bastante alongados verticalmente em Sines (MS 1050) e tão contrastantes com as formas mais harmoniosas de semelhante motivo em Beja10. As rosáceas de oito pétalas são também um motivo que apresenta substanciais diferenças em relação a Beja – enquanto na capital do Baixo Alentejo estas rosáceas são invariavelmente inseridas em molduras quadrangulares, em Sines inscrevem-se em círculos de rigorosa geometria. O mesmo sucede em relação às cruzes páteas, sintomaticamente enquadradas por molduras quadrangulares em Beja e em círculos em Sines. Mais recentemente, Jorge Feio chamou a atenção para um possível paralelo da pilastra MS 1064 com a inscrição funerária de Taumasius (Alvito), que possuía também os símbolos Δ e Ω, datada de 622 (Feio, 2010: 108), mas tendo em consideração que a inscrição desapareceu no século XIX, não é possível avaliar de possíveis analogias formais, e há que ter ainda em consideração a importante ocorrência de cruzes ladeadas por alfas e ómegas no mundo asturiano-leonês e mesmo no moçárabe, a comprovar-se que quer a peça de Sines, quer a placa de São Miguel da Mota tenham sido realizadas para os cristãos de al-Andaluz. O mesmo se diga da placa de Alfundão (Feio, 2010: 324), cuja cronologia visigótica não está demonstrada. A provar-se que as analogias em relação a Beja e Mérida são suficientes para admitir uma contemporaneidade de MS 1050 (Museu Municipal de Sines). Pormenor do típico trifoliado verticalizante de Sines. Foto autor

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cronologia visigótica, então não restarão dúvidas acerca da existência de um edifício cristão de interior co mp a rt im e nt a d o , esteticamente actualizado com o que se fazia em duas das principais cidades do Sudoeste peninsular durante o reino de Toledo e catapultando Sines para o estatuto de referência incontornável para a caracterização da arte de época visigótica. Esta perspectiva carece, todavia, de um estudo tipológico mais vasto que estamos a realizar com vista à edição da monografia acerca deste núcleo. Admiti já tratar-se de espólio de cronologia visigótica, pelas relações com os núcleos de Beja e de Mérida. No entanto, a revisão de grande MRB 1.68. Igreja de Santo Amaro de Beja. parte do espólio esPilar decorado com composições trifoliadas que cultórico pétreo do caracterizam o emprego deste motivo na colecção Sudoeste peninsular, de escultura altimedieval daquela cidade. Foto autor actualmente em curso, ditará novos caminhos de abordagem a este conjunto. Foi o que fez Manuel Luís Real, que considera todo o núcleo de cronologia moçárabe. É um facto que parte substancial do espólio reunido na Igreja de Santo Amaro de Beja datará de contextos pós-visigóticos (Real, 2000: 65-67; Torres, Correia, Macias e Lopes, 20

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2007: 173-175, Real, 2014: 296-306, entre outros) e o mesmo sucede com um crescente número de peças de Mérida (Cruz Villalón, 1985: 428-429; Mateos Cruz e Sastre de Diego, 2004, entre outros). A Badajoz visigótica é algo cada vez mais difícil de aceitar, sobretudo tendo em atenção o protagonismo da cidade em época islâmica, pela acção de Ibn Marwan11 e da comunidade moçárabe aí estabelecida. Em território português, teci já comentários sobre a possibilidade de o conjunto escultórico reaproveitado na actual igreja de Vera Cruz de Marmelar poder datar de época moçárabe (Fernandes, 2009b: 255-257) e Manuel Luís Real tem vindo a desenvolver pesquisas um pouco por todo o Alentejo que apontam precisamente para a vitalidade artísticas das comunidades moçárabes, desde o Castro da Cola (que tantas ligações tem com Sines) até São Miguel da Mota12 e Campo Maior. Mesmo em relação a Silveirona, cujo material aí resgatado tem sido longamente considerado como referencial para o período visigótico e de onde procede uma imposta (ábaco para Fernando de Almeida) decorada com cruzes de braços iguais inscritas em círculos - que Wolfram, 2011, vol.1: 82 e 86 aproxima do conjunto sineense -, a estação dificilmente terá apenas contextos de época visigótica e é de admitir que, pelo menos, a célebre fivela zoomórfica seja de cronologia posterior a 71113. Mélanie Wolfram, 2011, vol. 1: 85 admitiu já que a ocorrência de alguns motivos em Sines se deva mais a eventuais relações com Santa Lucía del Trampal (igreja catalogada como moçárabe, do século VIII) ou com as Astúrias. Com isto, quero indicar que subsiste já extensa matéria para ponderar que a construção da igreja altimedieval de Sines possa ter ocorrido em época moçárabe e não visigótica. Infelizmente, os paralelos formais mais próximos carecem de certificação cronológica, em especial alguma escultura decorativa de Beja e a placa de São Miguel da Mota. Por outro lado, os animais inseridos em medalhões, que se aproximam tematicamente de obras moçárabes lisboetas e asturiano-leonesas, parecem-me que ocorrem em Sines em contexto de reutilização de espólio. Quanto à tradicional atribuição deste conjunto ao século VII (Almeida, 1968-70: 18; Almeida, 1986: 51) é de duvidar abertamente, tendo em consideração que cada vez são menos frequentes as atribuições de espólio àquela centúria. Por um lado, o último século de domínio visigótico peninsular caracteriza-se por uma progressiva decadência das instituições de poder, facto que se testemunha na própria arqueologia de algumas cidades, que parecem muito dinâmicas nos séculos V e VI, mas que enfrentam dados de caracterização 21

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concretos relativos ao século VII (Fernandes, 2009b). Por outro lado, a já tradicional sistematização da época visigótica em dois grupos - grandes construções arquitectónicas religiosas no século VI e concentração de escultura decorativa na centúria seguinte - não resiste à moderna historiografia. 2. Dimensão litúrgica do espólio sineense. Uma colecção de escultura à procura do seu espaço Não obstante os impasses na avaliação cronológica desta colecção, existe uma segunda conclusão consensual que pode ser extraída: a de que se trata de um conjunto de peças de índole litúrgica destinadas a compartimentar o espaço de um templo altimedieval. É um facto que se trata de espólio fragmentário, a que faltam numerosos elementos para que se possua uma visão sequer aproximada da totalidade do registo escultórico que pertencia ao templo. Já foi salientada, por exemplo, a total ausência de pilares (Real, 2014: 307), facto que constitui mais um argumento que afasta Sines de Beja, na medida em que na Igreja de Santo Amaro desta última cidade conservam-se ainda 2 grandes pilares certamente procedentes de uma igreja altimedieval. O que a seguir se fará neste trabalho é um ensaio reconstitutivo do espaço compartimentado do perdido templo altimedieval de Sines. Estou consciente do carácter inventivo deste exercício e da crítica fácil a que ele se presta. Penso, no entanto, que existem elementos suficientes para tentar uma aproximação, sempre cautelosa, à disposição espacial da igreja, com base na tipologia e decoração do espólio escultórico remanescente. O ponto de partida para este exercício é uma determinação constante do canon 18 do IV Concílio de Toledo (celebrado em 633) - várias vezes repetida pela moderna historiografia - pela qual se estipula que o bispo e o levita comunguem diante do altar, o clero no coro e o povo fora do coro, na nave. Esta separação não era nova e tinha antecedentes na Igreja primitiva, pois já Eusébio de Cesareia, no século IV, havia noticiado a colocação de uma eikonostasis (“cancela lígnea”) na catedral de Tiro, para separar o povo comum do altar, zona a que apenas deveriam ter acesso os “superiores y la totalidad del clero” (Arbeiter, 2003: 177). Alguns concílios peninsulares foram também determinando a restrição progressiva de acesso da comunidade de crentes ao sanctuarium altaris. Creio que esta organização genericamente tripartida foi mantida pelas liturgias peninsulares até à entrada da liturgia 22

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romano-cluniacense e da arte românica, na segunda metade do século XI (Bango Torviso, 1997: 83; Arbeiter, 2003: 187-188), sendo observada tanto no ciclo asturiano-leonês, como no moçárabe. Tal não significa que tenha existido unidade litúrgica entre aquele concílio do século VII e os ciclos moçárabes e as vagas de colonização asturiana e leonesa. Ainda que as fontes para o conhecimento dos fenómenos litúrgicos hispânicos altimedievais sejam escassas, e particularmente tardias, não restando uma única relativa ao período visigótico (como advertiu Godoy Fernández, 1995: 37-38), a diversidade de soluções parece ter sido uma constante, razão pela qual existem tantas diferenças entre templos daquelas épocas em solo peninsular e tantas opções planimétricas. Entre os muitos eixos de análise e de ponderação, há ainda que ter em conta que muitos edifícios eram apenas monacais (o que, à partida, levaria a uma sobrevalorização da cabeceira em detrimento do corpo) e outros acumulavam distintas funções, como espaços martiriais, baptismais, áulicos, etc. Neste cenário de grande diversidade e complexificação (a que não associo exemplos para não multiplicar as referências e tornar esta parte do texto excessivamente técnica), assumo, portanto, que, de forma genérica, o templo altimedieval de Sines, não obstante a incerteza sobre a sua cronologia, deveria ter uma organização tripartida. Até ao momento, não se identificaram materiais que apontem para a existência de um baptistério, a relação eventualmente martirial com o culto a S. Torpes não está provada e não existem também indícios de que se tenha tratado de um templo monacal, embora esta última seja uma ideia que possa vir a fazer o seu caminho para explicar a ocorrência destes materiais em Sines. Finalmente, há que ter em atenção que a estrutura espacial tripartida, apesar de genericamente comum, tinha múltiplas variantes, havendo sobretudo um quarto espaço a Ocidente, conhecido por narthex, por vezes dotado de câmaras penitenciais ou de conteúdo funerário, e, mais raramente, uma ou duas tribunas no interior das igrejas, a poente e a nascente, espaços que continuam a merecer amplo debate por parte dos especialistas. A documentação refere, finalmente, elementos que, tendo conteúdo vertical, possivelmente no coro, não é fácil de identificar, como os púlpitos e os tribunais, espaços utilizados pelos sacerdotes em alguns momentos das cerimónias religiosas para a transmissão de passagens da Escritura ou outros actos (Bango Torviso, 1997: 98-101). Deveriam situar-se acima das cancelas, mas pouco ou nada é o que se pode dizer sobre eles, nem se a sua inclusão era 23

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geral em todas as igrejas do espaço peninsular entre os séculos IV e XI. A compartimentação do espaço, impedindo a passagem mas não a visão dos vários âmbitos da igreja nem a propagação acústica das cerimónias, fazia-se através de barreiras de pedra, mas não só. Foi comum utilizarem-se outros dispositivos, alguns bastante mais móveis que as pesadas placas de pedra, como tecidos (tão claramente evocados na pintura mural classicizante da igreja de Santullano, em MS 1077 (Igreja de Nossa Senhora das Salas, Oviedo) e, eventualmente, Sines). Pé de altar, face principal. Foto autor portadas de superfícies pintadas. Se a separação das ábsides para o coro ou nave transversal era importante, mais relevante era a separação deste último espaço das naves. A eikonostasis demarcava os âmbitos sagrado e mundano da comunidade de fiéis: para nascente, os religiosos e os oficiantes; para MS 1077 (Igreja de Nossa Senhora das Salas). poente, os homens comuns Pormenor da parte superior do pé de altar, da comunidade, chamados dotada de cavidade para depósito de às cerimónias e atraídos lipsanoteca com relíquias. Foto autor pelo carácter misterioso dos rituais. É por essa razão que as eikonostakis assumiram maior protagonismo arquitectónico, decorativo e simbólico que as cancelas das ábsides e transformaram-se em verdadeiros diafragmas ópticos (Rivera Blanco, 2000: 67), abertos ou vedados consoante os ritos em uso, ou vedada a maior parte do tempo e aberta apenas durante a eucaristia. 24

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Do espólio conservado no Museu Municipal de Sines o que é possível dizer a este respeito? Em primeiro lugar, há que ter em consideração que só se identificou um pé de altar, dotado de cavidade para conter lipsanoteca de relíquias (MS 1077). De igual forma, também até agora só se identificou um fragmento de possível mesa de altar (Almeida, 1968-70: 28, fig. 39). Estes factos admitem, à partida, que a celebração litúrgica tivesse lugar apenas na capela-mor e que não exista certezas sobre a possibilidade de o templo ter tido uma tripla cabeceira. Julgo, em todo o caso, que essa tripla cabeceira existiu, graças à quantidade de pilastras de grandes dimensões identificadas, nada menos que nove, juntando-se às sete presentemente expostas no Museu de Sines a que se conserva no Museu Nacional de Arqueologia e, eventualmente, uma outra que ainda se encontra integrada nas dependências do castelo. Mesmo que esta última não se confirme, uma vez que a peça não é visível em toda a sua extensão, estar-se-á perante 8 pilastras de adossamento, número que remete imediatamente para uma cabeceira tripla, posicionando-se seis pilastras nos pontos de passagem para a capela-mor e ábsides laterais (não falo em absidíolos para os contextos litúrgicos pré-românicos, sobretudo para os séculos IX a XI, em que se assistiu a uma tendência para a multiplicação de altares eucarísticos no espaço eclesial) e possivelmente duas na eikonostasis, separando assim o coro das naves. Em posição de destaque estaria certamente a grande pilastra decorada com cruz, duas aves afrontadas e as letras alfa e ómega. Sugiro que ela possa ter feito parte da composição central da eikonostasis, em forma de mainel avançado sobre as placas de revestimento e cancelas que funcionariam por trás, mas esta é apenas uma sugestão indicativa, dada a relevância da sua decoração e da poderosa mensagem que veiculava. É ainda possível que as paredes interiores da cabeceira, à cota de descarga das abóbadas sobre as caixas murárias, integrassem frisos decorados com séries sinusoidais, de que se conserva ainda um fragmento em reservas. Este denso dispositivo de pilastras colocadas em pontos nevrálgicos da cabeceira e coro (eventualmente nave transversal) era complementado por um conjunto de cancelas e placas de revestimento. A esse respeito, o espólio de Sines é muito esclarecedor, pois são numerosas as peças que apresentam ranhuras ou saliências laterais destinadas a encaixar diversas composições. É possível que esta opção tenha sido determinada pela natureza do espólio à disposição dos escultores responsáveis pela decoração 25

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do templo: sabendo-se que várias peças foram realizadas a partir de elementos arquitectónicos romanos (algumas pilastras ainda conservam a moldura no reverso, dando a impressão que foram reaproveitadas de arquitraves) (MS 1053), é possível que o seu trabalho tivesse sido limitado pelo material disponível. Fosse como fosse, o certo é que, ao contrário do que seria de supor, as cancelas e placas de revestimento de Sines não têm uma natureza horizontal, mas sim vertical. As faces laterais de encaixe fazem com que as cancelas fossem conseguidas a partir de várias placas dispostas na vertical, formando assim um movimento ascendente que certamente limitaria bastante a passagem e até a visão, tendo por base as generosas dimensões das cancelas da igreja de Santa Lucía de El Trampal, perto de Alcuéscar, onde as paredes e o solo guardaram até aos nossos dias as superfícies escavadas de encosto daqueles dispositivos. A opção verticalizante das cancelas terá ditado também a constante repetição da decoração e a variação temática que é possível identificar. É ainda possível que a barreira que separava o coro das naves integrasse pequenos capitéis, a partir dos quais arrancavam arquinhos. Um desses capitéis ainda subsiste em reservas. Se subsistem dados para, ainda que desta forma prudente, abordar a disposição decorativa pétrea do templo, o mesmo não é possível dizer em relação aos restantes Em cima: MS 1043. Museu Municipal de Sines. Face lateral da pilastra de encaixe, observando-se a superfície escavada para encaixe. Ao lado: MS 1053. Museu Municipal de Sines. Face posterior da pilastra, observando-se a marcação arquitectónica romana ou tardo-romana que conferiu primeira forma à peça. Fotos autor

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espaços. Real, 2014: 307 valorizou a descrição de 1517 da igreja matriz, altura em que o edifício dispunha de três naves, mas não é fácil pensar numa correspondência planimétrica entre os templos altimedieval e quinhentista, ainda que seja admissível que um tenha substituído o outro e que tenha havido uma coinciIgreja de Santa Maria de El Trampal, dência de localização, sobreponAlcuéscar. Reconstituição do segmento do-se edifícios sobre um mesmo setentrional da cancela da ábside chão longamente sacralizado14. central, a partir das superfícies escavadas Os indícios de reutilização e as no solo e na caixa murária. Foto autor evidências de novas peças são indicadores que apontam para uma maior dinâmica construtiva no espaço eclesial ao longo dos séculos da Alta Idade Média e é ainda de presumir que tenha existido uma igreja gótica antes da construção referida em 1517. É difícil sugerir a forma como o templo de Sines terá evoluído pela longa presença islâmica na região. Já se viu como a grande pilastra decorada com a cruz de onde pendiam o alfa e o ómega parece ter sido deslocalizada de contexto cristão, adaptando-se então a um espaço vinculado à realidade civilizacional islâmica. Por outro lado, o aparecimento de novas decorações nas faces laterais da pilastra MS 1064 sugere que tenha havido reconfigurações litúrgicas no espaço interno, rompendo-se eventualmente uma das barreiras da eikonostasis, ou abrindo-se nova separação litúrgica na nave transversal. Nessa mesma época, ou noutra, realizaram-se também novas peças, cuja localização não é possível sugerir. Finalmente, há que questionar a realização tardia das impostas, possivelmente em dois momentos distintos (duas ostentam uma cruz de braços iguais ao centro e a terceira é decorada com motivos enxaquetados). Estes elementos aparecem normalmente associados a pilares, mas já se viu como, em Sines, faltam flagrantemente estes suportes. Uma dessas impostas ainda conserva a moldura classicizante no reverso, sinal provável de que foi concebida para ser vista em mais que uma face. Poder-se-ia sugerir que pudesse ter estado associada ao portal principal do templo, mas essa atribuição não explica por que razão, algum tempo depois, se terá realizado uma terceira imposta, que prescindiu da cruz ao centro e assumiu um contínuo enxaquetado. 27

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No momento actual, decorrendo a investigação sobre este relevante núcleo altimedieval do território português, subsistem muitas dúvidas acerca de aspectos estruturantes de caracterização. As questões relativas à cronologia e à funcionalidade do espólio remanescente são as mais importantes, mas outras subsistem, como a aparente inexistência de paralelos formais esclarecedores nos restantes núcleos altimedievais do Alentejo e Extremadura, ou a dificuldade em reconhecer fases de reutilização e reconfiguração do espólio. Enquanto se prepara a monografia sobre este núcleo, pretendi trazer ao debate histórico-artístico sobre imagens e liturgia na Idade Média uma matéria que continua a passar despercebida aos que normalmente se dedicam ao estudo dos séculos medievais em Portugal: a Alta Idade Média. É um tempo tão fascinante quanto desconhecido, tão repleto de marcas artísticas como de silêncios documentais e cronológicos precisos. No amplo debate revisionista acerca de um crescente espólio do Sudoeste peninsular, que se encontra descontextualizado de efectivas realidades arqueológicas, mas sobre o qual tanto se tem escrito se pertence a horizontes civilizacionais visigóticos ou se, pelo contrário, corresponde antes à vitalidade das comunidades cristãs sob domínio nominal islâmico, o conjunto de Sines é surpreendente e referencial. Estou certo que a publicação integral dos resultados (dos quais se dá aqui primeira e parcelar notícia) trará Sines para esse debate peninsular em curso, catapultando a colecção de escultura litúrgica ali conservada para um estatuto de protagonismo semelhante ao que, já hoje, se observa em Lisboa, Beja, Mérida ou Coimbra-Conímbriga.

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NOTAS 1. Este estudo é uma parte do que temos vindo a desenvolver, em parceria com Isabel Inácio e Ricardo Estevam Pereira, com vista à edição de uma monografia sobre a colecção altimedieval de Sines. Agradeço àqueles dois investigadores, bem como aos desenhadores Rui Santos e Luís Cruz, que pacientemente têm vindo a efectuar desenhos técnicos de todo o espólio pétreo altimedieval do Museu Municipal de Sines. 2. Almeida, 1968-70 registou 39 fragmentos. Câmara, 1995 contabilizou 72 e Wolfram, 2011, vol.1:76 (apoiada em Wrench, 2008) assumiu que, após a colagem de algumas peças que claramente se contextualizam entre si, o número ascenderia a cerca de 30 elementos. 3. Conhecem-se, até agora, quatro sítios no centro histórico de Sines que forneceram materiais altimedievais (castelo, igreja matriz, Rua Nicolau Coelho, n.º9 e uma zona indefinida, a Sul do castelo, onde José Miguel Costa recolheu materiais durante trabalhos municipais de colocação de esgotos). Pelo menos uma peça ainda se conserva no interior da igreja matriz, como material de enchimento, porém em posição de destaque, e outras estão ainda integradas nas paredes do castelo. Para além disso, importa valorizar a dimensão arqueológica da praia de São Torpes, lendário local de enterramento daquele mártir de Pisa, investigado em 1591 pelo notário apostólico Pedro Lopes, que deixou um inventário dos bens identificados. É curioso notar que, pelo menos, uma peça do espólio de Sines foi achada no mar. Importa ainda salientar que parte considerável do espólio foi reaproveitado em locais tão distintos como um moinho a cerca de 5Kms de Sines, o muro do Solar de São Rafael, etc., trabalho de georreferenciação iniciado por Wrench e continuado actualmente por Ricardo Estevam Pereira, com vista à publicação de uma monografia sobre o espólio altimedieval de Sines que temos em preparação. 4. Não existem análises petrográficas ao espólio sineense. As referências indicadas por Wolfram, 2011, vol.1: 77 parecem-me sugestivas quanto à maior heterogeneidade do espólio ali reunido. Segundo aquela autora, a maior parte das peças foram talhadas no mármore de Trigaches, mas existem três realizadas em mármore proveniente da área de Sines. Sabendo-se como parte considerável do espólio sineense reutiliza antigos materiais romanos, não me parece que se esteja na posse de dados concretos relativos à laboração de uma pedreira comum a Beja e Sines em plena Alta Idade Média. 5. Conhecem-se três trientes visigóticos, ao que se sabe na posse de particulares, mas cuja proveniência do centro histórico de Sines não está provada, uma vez que o relato de Fernando de Almeida, 1968-70: 19 presta-se a equívocos. Terão sido localizados nas imediações do castelo, mas nenhum dado mais concreto foi possível apurar. 6. Para a época romana, está relativamente provado o estatuto de Sines como porto da cidade de Miróbriga (Blot, 2003: 271). Dados de natureza arqueológica asseguram uma importante dinâmica portuária e comercial, tendo-se identificado unidades de produção de preparados piscícolas (síntese em Fabião, 2009: 40-41) e uma possível zona de produção local de ânforas (Diogo e Costa, 1996). Deve ainda incluir-se neste capítulo civilizacional os materiais cerâmicos mencionados por Almeida, 1968-70: 19, recolhidos por José Miguel Costa numa zona a Sul do castelo e guardados em sua casa, e o possível hipocausto identificado nas sondagens realizadas no castelo, mas

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nunca publicado. A confirmar-se uma estrutura de aquecimento subterrâneo no promontório sobranceiro à praia, estar-se-ia em presença de um conjunto edificado monumental, mas cujo reconhecimento se torna difícil de fazer, especialmente tendo em conta a paradoxa informação de Almeida, 1968-70: 19, segundo a qual, “dentro da cerca as sondagens nada revelaram“. Ainda atribuíveis ao período romano tardio contam-se duas fíbulas encontradas na cerca do castelo de Sines nos trabalhos de 1961/62 (Ponte, 1983). De época tardo-antiga são dois capitéis que se conservam no Museu Municipal. Placa de grandes dimensões, a sua face lateral parece ter ficado inacabada ou, em alternativa, não foi inteiramente esculpida porque seria uma área de encontro com outra peça, formando um conjunto escultórico por adossamento, de diferentes alturas. Assim se explica o espaço livre onde o presumível artista representou a cena da águia aprisionando o coelho. Em época posterior, abriram-se dois orifícios para batentes de portas (sintoma de que a peça estava reutilizada como pé direito num vão de passagem), tendo um deles destruído parte das composições das duas épocas altimedievais ali presentes. Real, 2000: 66: “Pela sua planimetria, pelo tipo das impostas que se apoiam nas colunas divisórias das naves e também, pelo pouco que resta da cabeceira primitiva, parece estarmos perante uma obra proto-românica, dos finais do século XI”. Esta é uma das peças para a qual não existem dados concretos sobre a sua proveniência. Almeida, 1968-70: 25 esclarece que, quando chegou a Sines, já ela se encontrava descontextualizada de qualquer realidade arqueológica ou arquitectónica: “Foi-nos mostrado por Paulo Bensliman no jardim de uma casa sobre a baía de Sines”. Um paralelo interessante com os trifoliados característicos de Sines encontra-se num cimácio da Horta de São Pedro, em Sousel, dado a conhecer por Wolfram, 2011, vol.2: 366, fig. 14. Em ambos os locais se identifica um idêntico recurso: o de recorrer a trifoliados para preencher espaços rectangulares, o que obrigou a alongar este motivo e a torná-lo verticalizante, por contraste com a maior parte das composições horizontalizantes dotadas de volutas nas extremidades inferiores que se encontram nas peças de Beja. Badajoz foi fundada entre 884 e 888 e foi já sugerido que parte considerável da anterior estrutura eclesiástica de Mérida tenha sido trasladada para esta cidade (López López, 2001: 1-2). Há mesmo a notícia da construção de vários templos na cidade após os finais do século IX (síntese em Cruz Villalón, 1994-95: 334-340 e Caballero Zoreda e Arce Sainz, 1995: 195-196). De acordo com as conclusões de Wolfram, 2011, vol.1: 85, em Sines “nenhum paralelo provém de Badajoz” e há mesmo motivos que não se identificam em Mérida, circunstância que pressupõe o carácter atlântico da escultura sineense, por oposição às eventuais relações por terra, que não parecem ultrapassar Beja. O caso de São Miguel da Mota merece alguma ponderação, pois a mais recente escavação não logrou identificar materiais posteriores à época visigótica. No entanto, uma das sepulturas apresentava o tumulado em decúbito lateral (que Guerra, Schattner, Fabião e Almeida, 2002: 441 assumiram tratar-se de um enterramento “descuidado”, mas que pode revelar uma fase islâmica do sítio), o que vem questionar o pretenso hiato temporal entre a época visigótica e a (re)conquista cristã (realçado por Schattner, Fabião e Guerra, 2013: 77). A hipótese de uma fase ocupacional moçárabe para o sítio

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foi colocada por Real, 2014: 282-284 mas, à excepção do painel decorado com cruz pátea e as letras alfa e ómega, que apresenta analogias com Sines, os dados de caracterização são, até ao momento, pouco esclarecedores. 13. Arezes, 2010: 79 salientou a inexistência de paralelos de cronologia visigótica para esta peça. Por outro lado, a semelhança desta fivela para com outra encontrada no castelo de Palmela e datada de época tardia (já do século XII ?) (Fernandes, 2012: 116, fig.10) admite uma eventual sintonia cronológica. 14. A concentração de materiais na área do castelo, e a proximidade deste com a igreja matriz, levou Almeida, 1968-1970: 19 a sugerir que este templo se localizasse no exacto local da igreja altimedieval.

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