Uma Exegese em Lc 24.36-49

June 24, 2017 | Autor: Weliton Borges | Categoria: Crítica textual do Novo Testamento, Estudos do Novo Testamento, Exegese Bíblica
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INSTITUTO JOÃO CALVINO

UMA EXEGESE DE LUCAS 24:36-49

WELITON BORGES DE EÇA

RECIFE 2015

Weliton Borges de Eça

UMA EXEGESE DE LUCAS 24:36-49

Trabalho de pesquisa exegética em Lucas 24:36-49; apresentado à disciplina de Exegese do Novo Testamento I, no Instituto João Calvino como requisito parcial a obtenção do título Bacharel em Divindade. Professor: Abram de Graaf.

RECIFE 2015 2

Sumário Contexto Histórico Geral ................................................................................................ 4 Gênero Literário ....................................................................................................... 4 Autor .......................................................................................................................... 5 Destinatários .............................................................................................................. 6 Objetivo ..................................................................................................................... 6 Limites da passagem ................................................................................................. 7 Analise Literária ............................................................................................................. 9 Texto Grego ............................................................................................................... 9 Variantes Textuais. ................................................................................................. 10 Estrutura do texto ................................................................................................... 11 Estabelecimento do texto ........................................................................................ 14 Analise Gramatical ....................................................................................................... 17 Lucas 24:36 .............................................................................................................. 20 Lucas 24:37 .............................................................................................................. 23 Lucas 24:38 .............................................................................................................. 24 Lucas 24:39-40 ........................................................................................................ 26 Lucas 24:41-43 ........................................................................................................ 28 Lucas 24:44 .............................................................................................................. 31 Lucas 24:46-48 ........................................................................................................ 33 Lucas 24:49 .............................................................................................................. 36 Conclusão ..................................................................................................................... 38

3

Exegese de Lucas 24: 36-49 36

Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja

convosco!

37

Eles, porém, surpresos e atemorizados, acreditavam estarem vendo um espírito.

38

Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? E por que sobem dúvidas ao vosso coração?

39

Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um

espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.

40

Dizendo isto, mostrou-lhes as

mãos e os pés. 41E, por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhes disse: Tendes aqui alguma coisa que comer? 42Então, lhe apresentaram um pedaço de peixe assado [e um favo de mel]. 43E ele comeu na presença deles. 44

A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda

convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. 45Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;

46

e lhes

disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia

47

e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as

nações, começando de Jerusalém. 48Vós sois testemunhas destas coisas. 49Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.1

Contexto Histórico Geral

Gênero Literário Atualmente há várias tentativas de definir bem o gênero literário dos evangelhos, principalmente comparando estes escritos aos escritos do mundo antigo, dos dois primeiros séculos da igreja Cristã. Alguns como K. L. Schimidt, um dos pais da crítica da forma, vão classificar os evangelhos como literatura popular e não como obra literária. Já outros como C. H. Dodd disse que os evangelhos espelhavam o querigma cristão primitivo, sou seja, era uma expressão da pregação sobre Cristo. A proposta mais popular é a de que os evangelhos são biografias, ao estilo grego antigo2. 1

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. Revista e Atualizada. (Doravante RA) 2 CARSON. D. A.; DOUGLAS J. Moo; MORRIS, Leon. Introdução ao novo testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 53-55

4

De acordo com Berkhof os evangelhos têm uma característica literária única; eles são sui generis. Por isso os evangelhos não podem ser considerados uma narrativa histórica, nem uma biografia antiga. Os quatro evangelhos são um único retrato quádruplo do Salvador, uma representação quádrupla dos querigma apostólico3. Os evangelhos são uma coletânea de histórias reais de Cristo, porém não tem uma ordem cronológica estabelecida, exceto aqueles do início e fim da vida de Cristo. São obras dirigidas à pregação e se destacam de tudo o mais no mundo antigo. Se faz necessário, então, reconhecer que não se pode forçar os evangelhos a se enquadrarem em qualquer estilo literário antigo ou moderno. Conforme Carson (1997) diz: “A singularidade da Pessoa de que tratam levou os evangelistas a criarem uma forma literária sem um claro paralelo” (p. 55).

Autor Não há muita discussão sobre a autoria deste evangelho (entre os conservadores), de acordo com At 1.1 ambos, Atos e Lucas, foram destinados a mesma pessoa. A expressão entre nós se realizaram do em Lc 1.1 demonstra que o autor presenciou a pregação da obra de Cristo por meio dos discípulos. Lc 1.2 mostra que o autor não apenas presenciou alguns acontecimentos, mas que a ele foi transmitido a informação pelos que desde de o inicio foram testemunhas oculares e "ministros da palavra". De acordo com Berkhof a tradição da Igreja sempre atribuiu a autoria do Evangelho e do livro Ato a Lucas, o médico amado. Os pais da Igreja atribuem unanimente este evangelho a Lucas e também o uso do pronome "nós" que se encontra em Atos e que coloca o autor junto com o apóstolo Paulo em Roma, bem como o estilo de linguagem de um médico grego, apontam para Lucas como o autor. O mais antigo manuscrito de Lucas, o P75, que é datado de 175-225 A.D., atribui o livro a Lucas. Alguns ainda ressaltam a linguagem de estilo médica, porém essa teoria já foi questionada, pois os médicos do mundo antigo escreviam com uma linguagem parecida com a de outras pessoas. De toda forma, como Carson (1997) afirma, mesmo que a linguagem médica não seja uma prova forte da autoria de Lucas, pelo menos a ideia não é inconsistente com esta hipótese4.

3

BERKHOF, Louis. Introdução ao Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.25-27. CARSON. D. A.; DOUGLAS J. Moo; MORRIS, Leon. Introdução ao novo testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 127-128 4

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Até o presente momento a aceitação da autoria Lucas tem se mantido firme. As oposições não convincentes e nem permanecem por muito tempo entre os próprios críticos. Os que questionam a autoria do evangelho não o fazem – pelo menos não com tanta dedicação – livro de Atos. Porém como afirma Berkhof tanto Lucas como Atos permanecem ou caem juntos5.

Destinatários O prefácio do Evangelho deixa claro quem era o destinatário do livro: Teófilo. Porém não existe nenhuma outra informação sobre quem era Teófilo. Muitos sugerem que Teófilo é um nome genérico para todos os cristãos6. Porém a opinião mais comum atualmente é que Teófilo era um indivíduo e foi tratado por Lucas de forma parecida que Felix (At 23.26; 24.3) e Festo (At 26.25). A linguagem muito próxima ao grego clássico também indica que o leitor era de fala grega (e o autor também) e que o evangelho foi escrito para os gentios convertidos. Porém apensar de ser destinado inicialmente a um indivíduo o Evangelho foi sempre reconhecido como um texto entregue a Igreja de Cristo de todos os tempos7.

Objetivo O objetivo de Lucas ter escrito o evangelho é claramente afirmado no prefacio “para que tenha certeza das verdades em que fostes instruídos” (1.4). Isso indica que o livro não foi apenas escrito para confirmar o ensino recebido por Teófilo e os gentios, mas também para fortalecer a fé dele. Também foi objetivo de Lucas oferecer um escrito em ordem da vida de Jesus, depois de "acurada investigação. Esta ordem no entanto não deve ser entendida em sentido cronológico, exceto os acontecimentos do início e fim da vida de Jesus. Seu desejo é apresentar a verdade sobre os acontecimentos da vida de Jesus. Isso pode ser conferido pela forma única nos sinóticos de como o autor relaciona os acontecimentos com a história secular (2.1,2; 3.1,2), cita outras pessoas envolvidas no acontecimento que vai além dos personagens principais (7.40; 8.3) e também a reação das pessoas diante do ensinamento de Cristo8.

5

BERKHOF, 2014, p. 81 Esta teoria se baseia na etimologia da palavra que é formada pela junção de Θεος mais a palavra Φιλος. Que pode dar uma ideia de aquele que ama a Deus. 7 BERKHOF, 2014, p. 82 8 BERKHOF, 2014, p. 81-83 6

6

"Lucas, ao escrever seu Evangelho, tinha em mente as necessidades dos gregos e retratou Cristo como o homem perfeito, o Salvador universal" (BERKHOF, 2014, p. 26)

Limites da passagem Hendriksen em seu comentário sobre Lucas expõe uma ideia que pode ajudar bastante a entender a relação dos evangelhos entre si. Para ele todos os evangelhos quatro evangelhos compartilham de um tema geral, a saber, A obra que lhe Deste a fazer9. Sem dúvidas este tema principal das narrativas pode ser verificado, mesmo que haja objetivos mais específicos em cada um dos evangelhos – como já exposto no caso de Lucas. Todos os quatro evangelhos expõem a vida e obra da mesma pessoa, o Senhor Jesus. Porém um esboço em comum para essa narrativa pode ser traçado apenas para os sinóticos. As principais divisões são: I.

Seu Princípio ou Inauguração;

II.

Seu Progresso ou Continuação;

III.

Seu Clímax ou Consumação10.

Pode-se verificar que o Clímax ou Consumação da narrativa está entre os capítulos 19.28—24.53, mas ainda pode-se fazer mais uma divisão como sugerido por Hendriksen, que é a (a) semana da paixão e (b) ressurreição e ascensão. Esta divisão é clara não apenas pela cronologia, em que a semana da paixão começa no domingo e segue até a sexta feira, mas porque pode-se perceber um contraste. Na semana da paixão Jesus chega a Jerusalém em uma entrada triunfal e exaltado por uma multidão, porém esta sessão (a semana) termina com o silencio da morte de Cristo, que foi abandonado por todos; começa na demonstração de fé de uma multidão e termina com Cristo abandonado. A segunda sessão começa com o sábado e a madrugada do domingo, o silêncio do sábado e a descrença dos discípulos no domingo, mas termina com a exaltação de Cristo aos céus e a promessa do evangelho (e discípulos) a todas as nações. Mais especificamente, o texto que é o objeto de análise deste trabalho se encontra como uma subdivisão do Clímax ou Consumação desta obra que foi dada a Jesus que seja feita.

9

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento, Exposição do Evangelho de Lucas. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, v 1, p. 73-74 10 Ibdem

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Osborne defende que deve-se iniciar o estudo de análise do gênero, no caso de uma narrativa, obtendo uma ideia do enredo. Um bom auxilio é o diagrama abaixo11: Conflito começa a elucidar-se

Conflito mais intenso

Início da ação

Geração do conflito

Clímax

Conflito original solucionado

Fim da ação

Inicialmente pode-se aplicar o modelo acima, de forma mais abrangente, a toda a narrativa da Consumação (19.28—24.53), porém será mais útil ao trabalho aqui proposto aplicar este modelo apenas ao enredo do capítulo 24 de Lucas. Assim o enredo se dá assim: Início da ação (versículos 1 a 3) – Nestes versículos inicia o enredo da exaltação de Cristo, a partir destes versículos introdutórios se inicia os relatos do anuncio da ressurreição e a reação dos ouvintes. Por isso estes três primeiros versos servem como a introdução ao enredo, ao iniciar com o ministério a respeito do corpo de Cristo. Geração do conflito (versículos 4 a 35) – Este período do enredo tem a os anúncios da ressureição de Jesus feito pelos anjos (v. 6) e pelo próprio Cristo, ao abrir o entendimento dos discípulos (v. 31). Pode-se verificar que tanto as mulheres como os discípulos do caminho de Emaús creram quando foi-lhes revelado a ressurreição, mas ao anunciarem a outros, estes não creem. Aqui se inicia o conflito do enredo, pois mesmo tendo sido avisado por Jesus que ele ressuscitaria os discípulos não conseguem crer ao ouvir sobre o assunto12. Conflito mais intenso (versículos 36 a 43) – Entendendo-se que o conflito é a incredulidade na ressurreição, aqui o uma intensificação pois como relatado em Mc 16.13 os onze não haviam crido no que os discípulos do caminho de Emaús disseram. A intensificação se ao diante da presença de Jesus ressurreto ainda assim pensaram estar vendo um espírito e não Jesus. Ainda assim não estavam crendo, mesmo depois de Jesus mostrar as mãos e os pés.

11

Dillard, Raymond B. e Longman III, Tremper, p. 32 O versículo 12 não deixa claro que Pedro creu que Jesus tinha ressuscitado, mas que se maravilhou de não encontrar o corpo de Jesus depois de ouvir o relato das mulheres. Porém o paralelo de Marcos deixa claro que depois que os discípulos de Emaús retornaram e relataram aos onze apóstolos, eles não deram crédito aos dois discípulos. Mesmo que argumente-se que Mc 16.12,13 não se refira aos discípulos do caminho de Emaús, a exortação de Cristo quanto a incredulidade dos apóstolos confirma a ideia que Pedro, não necessariamente creu na ressurreição no versículo 12. 12

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Conflito começa a se elucidar (versículos 44 a 49) – A questão da incredulidade começa a se resolver quando Jesus passa a explicar a Lei e os Profetas e mostrar que era necessário que ele morresse e recitasse ao terceiro dia. Esta solução para a incredulidade foi a mesma para as mulheres e para os discípulos do caminho de Emaús, revelando que o problema da incredulidade deles estava diretamente relacionado a falta de confiança nas escrituras e na palavra de Cristo. Conflito original solucionado (versículos 50 a 51) – A benção que Cristo dispensa aos seus discípulos mostra que o problema da incredulidade e falta de compreensão bíblica havia sido resolvido, por isso o Senhor se retirou deles. Fim da ação (versículos 52 a 53) – O enredo se inicia com a tristeza dos discípulos com a morte de Cristo e a sua ausência do túmulo, porém é finalizado com o júbilo dos discípulos e a ausência do corpo de Cristo da terra. A aplicação do modelo proposto acima não delimita necessariamente uma perícope, mas com certeza contribui para uma melhor analise desta delimitação. Este trabalho se propõe a analisar os versículos 36 a 49 e entenderemos que estes versículos estão divididos em dois parágrafos, apensar de tratarem do mesmo assunto. O primeiro parágrafo (36 a 43) trata da aparição de Jesus aos discípulos e Ele “prova” forma empírica a sua ressurreição. O segundo parágrafo (44 a 49) mostra como Jesus argumenta a necessidade da sua morte e ressurreição a partir das escrituras. As versões gregas NA28 e UBS4 dividem o texto da mesma forma. Nas traduções para o português há algumas diferenças, mas na RA, RC e BJ dividem também em dois parágrafos, enquanto na NVI e NTLH os dois parágrafos são tratados como um só.

Analise Literária Texto Grego Este trabalho tomará por base para a análise da forma e das variantes textuais a edição do texto grego UBS4. 36Ταῦτα

δὲ αὐτῶν λαλούντων αὐτὸς ἔστη ἐν μέσῳ αὐτῶν καὶ λέγει αὐτοῖς, Εἰρήνη ὑμῖν. δὲ καὶ ἔμφοβοι γενόμενοι ἐδόκουν πνεῦμα θεωρεῖν. 38καὶ εἶπεν αὐτοῖς, Τί τεταραγμένοι ἐστὲ καὶ διὰ τί διαλογισμοὶ ἀναβαίνουσιν ἐν τῇ καρδίᾳ ὑμῶν; 39ἴδετε τὰς χεῖράς μου καὶ τοὺς πόδας μου ὅτι ἐγώ εἰμι αὐτός· ψηλαφήσατέ με καὶ ἴδετε, ὅτι πνεῦμα σάρκα καὶ ὀστέα οὐκ ἔχει καθὼς ἐμὲ θεωρεῖτε ἔχοντα. 40καὶ τοῦτο εἰπὼν ἔδειξεν αὐτοῖς τὰς χεῖρας καὶ τοὺς πόδας. 41ἔτι δὲ ἀπιστούντων 37πτοηθέντες

9

αὐτῶν ἀπὸ τῆς χαρᾶς καὶ θαυμαζόντων εἶπεν αὐτοῖς, Ἔχετέ τι βρώσιμον ἐνθάδε; 42οἱ δὲ ἐπέδωκαν αὐτῷ ἰχθύος ὀπτοῦ μέρος 43καὶ λαβὼν ἐνώπιον αὐτῶν ἔφαγεν. 44Εἶπεν

δὲ πρὸς αὐτούς, Οὗτοι οἱ λόγοι μου οὓς ἐλάλησα πρὸς ὑμᾶς ἔτι ὢν σὺν ὑμῖν, ὅτι δεῖ πληρωθῆναι πάντα τὰ γεγραμμένα ἐν τῷ νόμῳ Μωϋσέως καὶ τοῖς προφήταις καὶ ψαλμοῖς περὶ ἐμοῦ. 45τότε διήνοιξεν αὐτῶν τὸν νοῦν τοῦ συνιέναι τὰς γραφάς 46καὶ εἶπεν αὐτοῖς ὅτι Οὕτως γέγραπται παθεῖν τὸν Χριστὸν καὶ ἀναστῆναι ἐκ νεκρῶν τῇ τρίτῃ ἡμέρᾳ, 47καὶ κηρυχθῆναι ἐπὶ τῷ ὀνόματι αὐτοῦ μετάνοιαν εἰς ἄφεσιν ἁμαρτιῶν εἰς πάντα τὰ ἔθνη. ἀρξάμενοι ἀπὸ Ἰερουσαλὴμ 48ὑμεῖς μάρτυρες τούτων. 49καὶ [ἰδοὺ] ἐγὼ ἀποστέλλω τὴν ἐπαγγελίαν τοῦ πατρός μου ἐφ᾽ ὑμᾶς· ὑμεῖς δὲ καθίσατε ἐν τῇ πόλει ἕως οὗ ἐνδύσησθε ἐξ ὕψους δύναμιν.13

Variantes Textuais. Este trabalho se propõe a analisar as principais variantes textuais de Lucas 24:36-49, visto que a intensão é ser objetivo, não serão consideradas pequenas variantes que não implicam em mudança de significado ou ênfase no texto. Conforme disse Fee “somente aquelas [variantes] que representam mudança de sentido deverão ser discutidas na sua monografia [ensaio] exegética”14. A tabela abaixo tem o objetivo de reunir as principais variantes do texto, porém elas serão discutidas mais abaixo, no estabelecimento do texto. Ainda serão listas uma seleção das variantes de acordo com NA2715, UBS4 e NMGT16 e listada também os testemunhos com os símbolos de acordo com NA27. Versículo UBS4 αὐτὸς ἔστη 36

38

Variantes

Testemunhos ἐν αὐτὸς ὁ Ἰησοῦς Α W Θ Ψ ƒ1.13 33 M f (aur vg) (99,5%) μέσῳ αὐτῶν syp.h bopt αὐτὸς P75 ‫ א‬B D L 1241 it sys.c sa bomss καὶ λέγει αὐτοῖς, -D ir Εἰρήνη ὑμῖν καὶ λέγει αὐτοῖς, Εἰρήνη ὑμῖν P75 ‫ א‬A B L Δ Θ Ψ ƒ1 ƒ13 rell καὶ λέγει αὐτοῖς, Εἰρήνη ὑμῖν P (W, 579) 1241 pc aur c f vg εγω ειμι, μη φοβεισθε syp.h bopt τῇ καρδίᾳ ταις καρδίαις ‫ א‬Ac L W Θ Ψ ƒ1.13 33 M aur (99,7%) f vg sy bo

13 O Novo Testamento Grego, Quarta edição revisada. Editado por Barbara Aland, Kurt Aland, Johannes Karavidopoulos, Carlo M. Martini e Bruce M. Metzger. (Stuttgart, Alemanha: United Bible Society, 1993/2001). – Edição e Diagramação: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. (Doravante UBS4) 14 FEE, D. Gordeon; STUART, Douglas. Manual de Exegese Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 257 15 Aland, Barbara and Kurt. .Novum Testamentum Graece. 27th ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1993 (Doravante NA27) 16 PICKERING, Wilbur N. New Majority Greek Text. [Não publicado] Disponível em http://www.walkinhiscommandments.com/pickering2.htm acesso em 20/03/2015

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40

τῇ καρδίᾳ καὶ τοῦτο εἰπὼν -ἔδειξεν αὐτοῖς τὰς καὶ τοῦτο εἰπὼν ἔδειξεν χεῖρας καὶ τοὺς αὐτοῖς τὰς χεῖρας καὶ τοὺς πόδας πόδας καὶ τοῦτο εἰπὼν επεδςκαν αὐτοῖς τὰς χεῖρας καὶ τοὺς πόδας

P75 A*vid B D it sa 40 D ita, b, e, ff2, l, r1 sirc, s P75 ‫ א‬B L N ƒ1 33 579 892 1241 l 844 al Α W Θ Ψ ƒ13 M

(85%)

42

46

μέρος

μέρος

P75 ‫ א‬Α B D L W 579 pc e sys as bopt Cl μερος και απο μελισσιου Δ Ψ ƒ1 M (Unciais e Minusculos) Lec itb, q, com*, pal bopt Justino, κηνριου Anfilóquio, Epifânio Cirilo μερος και απο μελισσιου E* Θ ƒ13 157 1243 l 253 itaur, (c), f, ff2, l r1 vg κηνριον 75 Οὕτως γέγραπται Οὕτως γέγραπται παθεῖν P ‫ א‬B C* D L pc it samss bo παθεῖν Irlat Οὕτως εδει παθεῖν 72 pc sys Οὕτως γέγραπται και οθτως A C2vid W Θ Ψ ƒ1.13 33 M aur εδει παθεῖν f q vg syp.h samss (99,05%)

47

μετάνοιαν εἰς μετάνοιαν ἄφεσιν ἁμαρτιῶν ἁμαρτιῶν

εἰς

ἄφεσιν P75 ‫ א‬B syp co

και

ἄφεσιν A C D L W Θ Ψ ƒ1.13 33 M latt

(0,5%)

μετάνοιαν ἁμαρτιῶν

sys.h; Cyp

(99,5%)

ἀρξάμενοι

49

καὶ [ἰδοὺ] ἐγὼ

ἀρξάμενοι

‫ א‬B C* L N 33 l 844. L 2211

ἀρξάμενον ἀρξάμενος ἀρξάμενων καὶ ἰδοὺ ἐγὼ καὶ ἐγὼ ἰδοὺ Καγω ou και ἐγὼ

pc P75 A C W ƒ1.13 M syh Θ Ψ 565 pc D Δc pc lat A B C Δ Θ Ψ ƒ13 M f q syh 1 2 3 W l pc P75 ‫ א‬D L 33 579 597 lat sys.p co

Estrutura do texto δὲ αὐτὸς ο Ιησους [1] ἔστη ἐν μέσῳ αὐτῶν λαλούντων ταῦτα καὶ λέγει αὐτοῖς, Εἰρήνη ὑμῖν [2]. δὲ

αὐτῶν

11

ἐδόκουν θεωρεῖν. πνεῦμα γενόμενοι πτοηθέντες καὶ ἔμφοβοι καὶ εἶπεν αὐτοῖς, τί ἐστὲ τεταραγμένοι καὶ διὰ τί διαλογισμοὶ ἀναβαίνουσιν ἐν ταις καρδίαις [3] ὑμῶν; ἴδετε τὰς χεῖράς μου καὶ τοὺς πόδας μου ὅτι εἰμι ἐγώ αὐτός· ψηλαφήσατέ με ἴδετε καὶ, ὅτι πνεῦμα οὐκ ἔχει σάρκα καὶ ὀστέα καθὼς θεωρεῖτε ἐμὲ ἔχοντα. [4] καὶ τοῦτο εἰπὼν. επεδειξεν [4] αὐτοῖς τὰς χεῖρας καὶ τοὺς πόδας δὲ αὐτῶν ἀπιστούντων ἔτι ἀπὸ τῆς χαρᾶς καὶ θαυμαζόντων αὐτοῖς εἶπεν τι Ἔχετέ βρώσιμον ἐνθάδε;

12

οἱ

δὲ ἐπέδωκαν αὐτῷ μέρος ἰχθύος ὀπτοῦ και απο μελισσιου κηριον [5] καὶ λαβὼν αὐτῶν ἔφαγεν. ἐνώπιον δὲ Εἶπεν πρὸς αὐτούς, οὗτοι [εισιν] οἱ λόγοι μου 6οὓς ἐλάλησα πρὸς ὑμᾶς, ἔτι ὢν σὺν ὑμῖν ὅτι πληρωθῆναι δεῖ πάντα τὰ γεγραμμένα περὶ ἐμοῦ. ἐν καὶ καὶ τότε διήνοιξεν

καὶ εἶπεν

τῷ νόμῳ Μωϋσέως τοῖς προφήταις ψαλμοῖς

τὸν νοῦν αὐτῶν τοῦ συνιέναι τὰς γραφάς αὐτοῖς

ὅτι γέγραπται Οὕτως τὸν Χριστὸν ουτως εδει [6] παθεῖν καὶ ἀναστῆναι ἐκ νεκρῶν τῇ τρίτῃ ἡμέρᾳ, καὶ κηρυχθῆναι ἐπὶ τῷ ὀνόματι αὐτοῦ μετάνοιαν εἰς [7] ἄφεσιν ἁμαρτιῶν εἰς

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πάντα τὰ ἔθνη. ἀρξάμενοι [8] ἀπὸ Ἰερουσαλὴμ ὑμεῖς

ἐγὼ

μάρτυρες τούτων. καὶ ἰδοὺ ἀποστέλλω τὴν ἐπαγγελίαν τοῦ πατρός μου ἐφ᾽ ὑμᾶς· ὑμεῖς δὲ καθίσατε ἐν τῇ πόλει ἕως οὗ ἐνδύσησθε ἐξ ὕψους δύναμιν.

Estabelecimento do texto Analisar manuscritos e escolher as variantes textuais que possivelmente formam o texto original não é um trabalho que se faça sem pressupostos, conforme afirmou Anglada17. Portanto entendendo que não existe tal coisa como neutralidade no estudo dos manuscritos, faz-se necessário esclarecer os pressupostos e o método para a avaliação das variantes textuais antes de expor os argumentos. Uma explicação mais detalhada dos pressupostos assumidos e método está disponível no livro de Anglada: ANGLADA, Paulo. Manuscritologia do Novo Testamento. Levilândia: Knox Publicações, 2014, p. 121-142

Principais Pressupostos - Pressupostos não são apenas inevitáveis, mas são necessários. Assumindo isso devese ter especial cuidado em assumir os pressupostos corretos para a análise do texto sagrado. - Inspiração dos autógrafos. O Espírito Santo é o principal autor das escrituras, por isso é assumido a inspiração verbal dos autógrafos. Não é uma inspiração mecânica, como se o

17

Para uma melhor explicação da inevitabilidade e necessidade de pressupostos na exegese conferir as seguintes obras de Anglada: ANGLADA, Paulo. Manuscritologia do Novo Testamento. Levilândia: Knox Publicações, 2014. Também: ANGLADA, Paulo. Introdução à Hermenêutica Reformada. Levilândia: Knox Publicações, 2006 e ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Levilândia: Knox Publicações, 2013

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Espírito Santo tivesse ditado o texto. Nem é uma inspiração mecânica como se a produção textual não fosse também obra do Espírito Santo. - A preservação do texto inspirado. De uma maneira ou outra Deus tem preservado, não em uma versão específica, mas na multidão de manuscritos a sua palavra. Conforme declara a Confissão de Fé de Westminster: O Velho Testamento em Hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; 18

Como métodos serão aplicados os seguintes requisitos (a) Atiguidade ou Pluraridade; (b) consenso de testemunhas ou número; (c) variedade de evidencia ou catolicidade; (d) continuidade; (e) respeitabilidade das testemunhas ou qualidade; (f) evidencia da passagem inteira ou contexto; (g) considerações internas ou razoabilidade.19 Abaixo segue a defesa para a escolha de cada variante indicada na estrutura acima. Para localizar a defesa há um número entre colchetes no texto acima que faz referência a explicação abaixo. [1] – Os manuscritos mais antigos citados (P75 ‫ א‬B) são dos séculos III e IV, estes sugerem a omissão de ὁ Ἰησοῦς. O testemunho de que ὁ Ἰησοῦς aparece no texto tem como manuscrito mais antigo o W, que é do IV/V século. Porém o testemunho a favor de ὁ Ἰησοῦς no texto tem um consenso de 99,5% dos manuscritos e uma grande diversidade (catolicidade), enquanto o testemunho contrário é apenas do Egito. A continuidade da tradição e a qualidade dos manuscritos também favorecem que ὁ Ἰησοῦς está no texto. Por estes motivos, percebe-se que é mais coerente o texto escolhido acima. [2] – Há uma variante no texto que insere εγω ειμι, μη φοβεισθε, Omanson afirma que com certeza essas palavras são um acréscimo posterior, tirado talvez de Jo 6.2020. Ao conferir o aparato crítico de UBS4 pode-se verificar que há muitas variantes entre os manuscritos que contém essas palavras, isso expressa falta de consenso. Acrescenta-se a isso, que um grande e firme testemunho dos manuscritos de vários lugares (gregos, Constantinopla e Egito) estão a favor da leitura proposta. O contexto literário mostra mais probabilidade de que Jesus não tenha feito essa exclamação, pois logo depois é feita uma pergunta sobre o assunto. 18

Confissão de Fé de Westminster, Cap I. VIII Para uma descrição melhor de cada item do método, conferir: ANGLADA, Manuscritologia do Novo Testamento, p. 137-138. 20 OMANSON, Roger L. Variantes textuais do Novo Testamento: Análise e avaliação do aparato crítico de “O Novo Testamento Grego”. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, p. 156-157 19

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[3] – Novamente há uma enorme quantidade de variantes apoiando o plural ταις καρδίαις (99,7%). É também muito forte o testemunho do consenso e da catolicidade, pois pode-se notar que inclusive ‫ א‬Ac que são da região egípcia e são de datação do IV e V século se somam a maioria dos outros manuscritos inserindo a palavra no plural. Porém, há de se reconhecer que a variante no singular ou no plural não têm muita implicação no sentido da frase, porém pelo auto padrão do grego lucano, é mais provável que haja a concordância em número com o pronome que segue. [4] – Este verso não aparece em alguns manuscritos (40, D e alguns outros) porém são poucos e os que defendem que o texto deve ser omitido na leitura o fazer ao sugerir que este versículo seja uma interpolação de Jo 20, porém há evidencia textual disso21. A quantidade de testemunho em favor do versículo, sua catolicidade e todos os critérios a que podem ser aplicados mostram claramente que é muito provável que este verso estava no texto original. [5] – Para os editores da UBS4 e NA27, justificados por Omanson a referência a favos de mel não faz sentido pois não aparece em “tantos dos melhores representantes dos tipos de texto mais antigos”, porém a variante aparece em 94% dos manuscritos inclusive em Justino, que é do segundo século. Outro argumento usado é que a igreja antiga tinha a prática de usar mel na ceia e batismo e isso justificaria uma possível adição ao texto para justificar a prática. Porém é mais provável que os hereges (principalmente do Egito) fizessem alterações no texto do que a igreja da linha ortodoxa que aceitava a bíblia como texto sagrado. Outra resposta é justamente que é mais coerente fazer uma adição em um texto sobre batismo ou ceia para se justificar a prática e não em um texto que está falando da ressurreição. Por estes motivos é mais provável que o texto seja Μερος και απο μελισσιου κηριον. [6] – 99,5% dos manuscritos aparecem com a forma οθτως εδει παθεῖν, inclusive manuscritos mais antigos da região do Egito como o A e o C. Novamente os requisitos da antiguidade (IV e V séculos), mais a variedade e a catolicidade são mais fortes para a leitura proposta.

[7] – Esta é a variante mais importante deste texto, a que mais pode representar algum significado mais relevante no entendimento do texto. De acordo com Omanson é difícil definir com base em evidência interna, pois Lucas as duas preposições (και e εις) juntamente com μετανοιαν, tanto no evangelho como em Atos. Porém de acordo com os critérios escolhidos para analisar estas variantes faz mais sentido ficar com a leitura και, pois esta aparece em 99,4%

21

Omanson e Metzger sugerem que se realmente tivesse alguma interpolação o copista teria deixado pistas, com por exemplo την πλευραν no lugar de τους ποδας. (OAMNSON, 2010, p.157)

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dos manuscritos, há consenso entre estes manuscritos, catolicidade – incluem por exemplo, A C D. [8] – Apesar dos colchetes NA27 e UBS4 inserem ἰδοὺ, mesmo com a omissão em P75 ‫א‬ D. Não se pode negar que a expressão mais longa seja mais apropriada para um momento solene como o escrito no versículo 49, além disso 99,5% dos manuscritos apoiando uma leitura mais longa é um testemunho bem expressivo.

Então o texto estabelecido em formado de parágrafo fica: 36Ταῦτα δὲ αὐτῶν λαλούντων αὐτὸς ὁ Ἰησοῦς ἔστη ἐν μέσῳ αὐτῶν καὶ λέγει αὐτοῖς, Εἰρήνη ὑμῖν. 37πτοηθέντες δὲ καὶ ἔμφοβοι γενόμενοι ἐδόκουν πνεῦμα θεωρεῖν. 38καὶ εἶπεν αὐτοῖς, Τί τεταραγμένοι ἐστὲ καὶ διὰ τί διαλογισμοὶ ἀναβαίνουσιν ἐν ταις καρδίαις ὑμῶν; 39ἴδετε τὰς χεῖράς μου καὶ τοὺς πόδας μου ὅτι ἐγώ εἰμι αὐτός· ψηλαφήσατέ με καὶ ἴδετε, ὅτι πνεῦμα σάρκα καὶ ὀστέα οὐκ ἔχει καθὼς ἐμὲ θεωρεῖτε ἔχοντα. 40 καὶ τοῦτο εἰπὼν επεδςκαν αὐτοῖς τὰς χεῖρας καὶ τοὺς πόδας. 41ἔτι δὲ ἀπιστούντων αὐτῶν ἀπὸ τῆς χαρᾶς καὶ θαυμαζόντων εἶπεν αὐτοῖς, Ἔχετέ τι βρώσιμον ἐνθάδε; 42οἱ δὲ ἐπέδωκαν αὐτῷ ἰχθύος ὀπτοῦ μέρος και απο μελισσιου κηνριου 43καὶ λαβὼν ἐνώπιον αὐτῶν ἔφαγεν. 44Εἶπεν δὲ πρὸς αὐτούς, Οὗτοι οἱ λόγοι μου οὓς ἐλάλησα πρὸς ὑμᾶς ἔτι ὢν σὺν ὑμῖν, ὅτι δεῖ πληρωθῆναι πάντα τὰ γεγραμμένα ἐν τῷ νόμῳ Μωϋσέως καὶ τοῖς προφήταις καὶ ψαλμοῖς περὶ ἐμοῦ. 45τότε διήνοιξεν αὐτῶν τὸν νοῦν τοῦ συνιέναι τὰς γραφάς 46καὶ εἶπεν αὐτοῖς ὅτι Οὕτως γέγραπται, και οθτως εδει παθεῖν τὸν Χριστὸν καὶ ἀναστῆναι ἐκ νεκρῶν τῇ τρίτῃ ἡμέρᾳ, 47καὶ κηρυχθῆναι ἐπὶ τῷ ὀνόματι αὐτοῦ μετάνοιαν καὶ ἄφεσιν ἁμαρτιῶν εἰς πάντα τὰ ἔθνη. ἀρξάμενον ἀπὸ Ἰερουσαλὴμ 48ὑμεῖς μάρτυρες τούτων. 49καὶ ἰδοὺ ἐγὼ ἀποστέλλω τὴν ἐπαγγελίαν τοῦ πατρός μου ἐφ᾽ ὑμᾶς· ὑμεῖς δὲ καθίσατε ἐν τῇ πόλει ἕως οὗ ἐνδύσησθε ἐξ ὕψους δύναμιν

Analise Gramatical Antes de iniciar a análise de cada verso é necessário esclarecer pelo menos alguns pontos: (a) os pressupostos hermenêuticos utilizados; (b) uma agenda dos eventos no dia da ressureição e onde os eventos do texto estão; (c) uma análise do período da aparição de Cristo nos versículos 44-49. a. Os pressupostos hermenêuticos utilizados

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Como explicado na introdução à análise das variantes textuais é impossível não utilizar pressupostos na interpretação bíblica, porém não é apenas impossível como é recomendável. O principal pressuposto que orientará a analise deste texto é da doutrina da Suficiência das Escrituas conforme exposto na Confissão Belga, Artigos 3-7, Catecismo de Heidelberg no DS 7 (mais especificamente P&R 21) e Confissão de Fé de Westminster capítulo I. Decorrências necessárias deste pressuposto são a infalibilidade das escrituras (e sua inerrância22), que por sua vez gera a consequência de não existir contradição real entre os paralelos, mas objetivos diferentes com as narrativas e por isso são ressaltados aspectos distintos de acordo com a intensão do autor. b. Os eventos no dia da ressureição. Como já comentado anteriormente os evangelhos não tem a intenção de apresentar todos os eventos relatados em ordem cronológica, porém o dia da ressurreição em Lucas tem uma ordem cronológica como podemos ver pelo constante uso de δει e και e genitivos temporais. Lucas, entretanto, não narra todos os eventos deste glorioso dia, então é necessário conferir nos outros três evangelhos para entender qual foi a ordem dos eventos no primeiro dos sábados cristão. Ao estudar cada um dos evangelhos e buscar uma harmonização dos eventos, depara-se com algumas dificuldades de entender se os relatos são dos mesmos eventos ou se há mais eventos. Por exemplo, van Bruggen defende que os dois discípulos de Marcos 16.12,13 não são os mesmos de Lucas 24.13-3523; As principais versões bíblicas, por sua vez indicam que seja a mesma aparição. Então será necessário para estabelecer uma ordem cronológica destes eventos ter por base os próprios textos paralelos de Mateus 28, Marcos 16, Lucas 24 e João 20 e 21, adicionado a isso a tabela dos Aparecimentos de Jesus ressuscitato sugerida na Bíblia de Genebra24 e a lista de eventos indicada por Blumberg25. 

Túmulo vazio. (Mt 28.6; Mc 16. 2,6; Lc 24.3; Jo 20.1)



As mulheres vão levar especiarias que tinha preparado – ainda de madrugada. (Mt 28.1; Mc 16.2,3; Lc 24.1; Jo 20.1)

22 O que quero dizer com inerrância no caso dos evangelhos é que não erros históricos nas narrativas e nem mentiras nos discursos. Tudo o que foi escrito por Lucas foi divinamente inspirado e os acontecimentos foram fatos. Não me refiro a questões gramaticais, mas aos fatos. 23 BRUGGEN, Jakob van. Cristo na Terra. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 274. 24 BIBLIA, Português. Bíblia de Estudo de Genebra. 2. Ed. Barueri: Sociedade Bíblia do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p 1366. 25 BLUMBERG, Craig L. Jesus e os Evangelhos: Uma introdução ao estudo dos 4 evangelhos. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 463-462

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o Maria Madalena chega primeiro e vê o sepulcro com a pedra removida. (Mc 16.4, 9; Lc 24.2; Jo 20.1). o Os anjos e o próprio Jesus aparecem a Maria Madalena. (Jo 20.11-17) 

As outras mulheres (possivelmente incluindo Maria Madalena, que vê novamente) veem os anjos que anunciam a ressurreição. (Mt 28.1-7; Mc 16.4-6; Lc 24.4-8)



As mulheres anunciam o que viram aos discípulos (Mt 28.8; Mc 16.7,8; Lc 24.9,10), sendo que Maria Madalena chega primeiro e anuncia a Pedro e a João. (Jo 20.2, 18).



Os discípulos ouvem as mulheres porém não creem. (Lc 24.11);



Pedro e João vão ao sepulcro. (Lc 24.12; Jo 20.2-4)



João creu26. (Jo 20.8)



Jesus aparece a Pedro. (Lc 24.34; 1Co 15.5)



Jesus aparece a dois discípulos que iam para Emaús. (Mc 16.12,13; Lc 24.1335);



Jesus aparece a dez dos apóstolos e outros com eles. (Mc 16.14; Lc 24.36-43; Jo 20.19,20).

Depois do domingo da ressurreição Jesus ainda se encontra com seus discípulos algumas vezes (Mt 28.16-20) para instruí-los a certa de toda a Escritura (Lc 24.44-49).

c. Uma divisão temporal no texto Lc 24.36-49. Como mostrado acima é menos complicado localizar o momento do evento descrito em Lc 24.36-43 do que o momento(s) relatados dos versículos 44 em diante. De acordo com Hendriksen as opiniões estão fortemente divididas a respeito dos versos 44 a 49, de um lado alguns pensam que o ensino de Jesus aconteceu na tarde de domingo e veem 36-49 como uma mesma aparição, por outro lado alguns pensam que 44-49 são ditos de Jesus que foram ensinados no período de 40 dias após a ressureição27.

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Nem em Lucas nem em João diz que Pedro creu, porém é relatado que Pedro encontrou Jesus, provavelmente no caminho de volta e por isso creu. 27 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento, Exposição do Evangelho de Lucas. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, v 1, p. 711

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Calvino acreditava que 44-49 relata o dia posterior a ressurreição28. A expressão grega δε consegue nos mostrar apenas que este parágrafo está conectado ao anterior, porém não se pode apenas por esta analise concluir se é um acontecimento imediatamente posterior ou se é no período (40 dias) posterior. O verso 49 com o imperativo “permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” e a referência à promessa do Pai é muito similar a At. 1.4, a probabilidade de ser um paralelo é muito forte. Por isso é complicado a defesa de que todo este parágrafo relata o ensino de Jesus no dia posterior a ressurreição. É mais confiável e coerente com os paralelos que este seja um relato do período de 40 dias que Cristo passou com os discípulos. Porém isso não exclui que algo do que está no parágrafo também tenha sido dito no dia da ressurreição. Isso classificaria o parágrafo como dito de Jesus29. Ao compararmos com os paralelos podemos observar que os outros evangelhos também ligam a aparição de Jesus à Ascenção.

Jo 20.19,20 Mc 16.14

Lc 24.36-43

Mt 28.16-20 Jo 20.19,20

Lc 24.44-49

Mc 16.14

Lucas 24:36 Texto: Ταῦτα δὲ αὐτῶν λαλούντων αὐτὸς ὁ Ἰησοῦς ἔστη ἐν μέσῳ αὐτῶν καὶ λέγει αὐτοῖς, Εἰρήνη ὑμῖν. Enquanto falavam eles estas coisas, o próprio Jesus colou-se no meio deles e disse-lhe: paz a vós.

Gramática: 

Esse δε aqui é consecutivo (ou conectiva) e não um adversativo, está ligando este evento com o evento anterior (33-35).



Aqui tem-se uma oração no genitivo absoluto (Ταυτα δε αυτων λαλουντων). De acordo com Swetnam um genitivo absoluto pode expressar vários significados em

28

CALVIN, John. Commentary on a harmony of the evangelists, Matthew, Mark and Luke. Vl III. Grand Rapids: Baker, 1984, p.374 29 HENDRIKSEN, p. 712.

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relação a oração principal – que neste caso é αυτος εστιν εν μεσω αυτοων.30 Os possíveis significados são: causalidade, oposição, tempo, condição, circunstâncias gerais. Porém Wallace indica que em aproximadamente 90% das vezes indica um significado temporal31, que é exatamente a ideia no contexto aqui.

Vocabulário: 

εστη – 3 sg do segundo aoristo de ιστημι quer dizer simplesmente pôr, colocar, estabelecer32. Neste caso que é ativo, colocar de pé ou estar em pé. A ideia reflexiva no português expressa a mesma ideia.



Εἰρήνη ὑμῖν – Paz a vós. É uma saudação comum, mas no contexto tem mais a ver com a ideia de declaração da paz aos discípulos aflitos33.

Contexto literário: Imediato O contexto imediato é da aparição de Jesus aos discípulos que estavam a caminho de Emaús. Logo após Jesus revelar quem era a estes dois discípulos eles decidem ir ao encontro dos onze34 e outros que estavam com eles. Jesus já havia aparecido às mulheres (Mt 28.9) aos dois discípulos (Lc 24.13-35) e a Pedro (Lc 24.34). Porem a incredulidades dos discípulos permanecia. É possível que o horário que Jesus aparece aos discípulos é no fim da tarde, pois deu tempo dos discípulos de Emaús voltarem. Paralelos No paralelo de João (20.19,20) temos a informa de que as portas estavam fechadas. Há também a informação de Jesus mostrou o lado (onde a lança o perfurou). Em Marcos (16.14) há uma ênfase na repreensão dos discípulos quanto a incredulidade deles na boa-noticia que os outros que viram Jesus já haviam dado.

30

SWETNAM, James. Gramática do Grego do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2002, p. 373. WALLACE, Daniel B. Gramática Grega: Uma sintaxe exegética do Novo Testamento. São Paulo: Editora Batista Regular do Brasil, 2009, p. 654-655 32 RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Tesamento. São Paulo: Paulus, 2003. (Doravante DGNT) 33 HENDRIKSEN, 712 34 Estes onze ἕνδεκα não é necessariamente uma referência ao um número literal de pessoas, mas uma referência geral aos apóstolos. De acordo com Hendriksen é um termo técnico para designar o grupo. (HENDRIKSEN, p. 703). 31

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Comentário Este versículo é o fim da narrativa do primeiro sábado cristão, é a última aparição de Cristo neste dia e agora ele aparece aos onze discípulos (e mais alguns). Estes discípulos já haviam ouvido a notícia da ressureição mais de uma vez (pelas mulheres e certamente por Pedro) e agora estavam ouvindo a mesma notícia de outros dois discípulos. Porém permaneceram incrédulos (Mc 16.13). De repente Jesus se coloca em pé no meio deles, que estavam reunidos em uma casa com as portas fechadas (Jo 20.19). Isso é sem dúvidas algo espantoso. Porém além de estarem vendo aquele que a poucas horas estava morto eles também ouvem a saudação “Paz à vós”. Neste senário pode-se notar pelo menos duas coisas importantes (1) Assim como sumiu de diante dos discípulos em Emaús, aparece diante destes outros discípulos; (2) Um anuncio de paz em meio ao desespero e incredulidade. Não há informação de como Jesus simplesmente apareceu no meio dos discípulos se as portas estavam fechadas. É sem dúvidas algo não-natural ao corpo humano, porém em 1 Co 15.35-49 temos uma explicação da mudança que há no corpo após a ressurreição. Assim podemos claramente deduzir que o corpo do homem-Divino recebeu a incorrupção e o poder e ser tornou corpo espiritual, não por não ser mais de carne, mas por ser carne ressuscitada. Como em todo o capítulo Lucas quer mostrar que Jesus ressuscitou. Os discípulos não estavam vendo espíritos ou tendo alucinações, mas viam o Cristo que na sexta-feira estava cruz, agora em vida. Lucas enfatiza neste versículo que Cristo ressuscitou em carne. Cristo não ressuscitou no coração dos discípulos, pois a incredulidade deles não mudava a realidade de Jesus. Outro ponto que merece destaque no versículo é a expressão “Paz a vós”. Hendriksen acertadamente diz que esta não é uma mera saudação como “como vocês estão?” é antes um anuncio de paz. Paz que Cristo conquistou na cruz.

Aplicações 

A ressurreição de Cristo é uma realidade, não é uma experiência do cristão. Cristo ressuscitou e esta realidade aconteceu no tempo e no espaço. Aconteceu no domingo após a sua morte, Ele andou durante este dia com os discípulos. A ressureição é uma realidade, um fato, é história e não estória.



A ressureição de Cristo é consoladora, pois garante ao crente a paz. A ressureição é a marca da vitória sobre a morte, do cumprimento do evangelho, 22

que antes era uma promessa (como antes da cruz), mas hoje é uma notícia do que já aconteceu.

Lucas 24:37 Texto: πτοηθέντες δὲ καὶ ἔμφοβοι γενόμενοι ἐδόκουν πνεῦμα θεωρεῖν. Porém amedrontados e assustaram-se pensando estar vendo um espírito.

Gramática: 

πτοηθέντες – nom. pl. aor pass. de πτοεω. Verbo que aparece somente na voz passiva no Novo Testamento (RUSCONI, 402), que quer dizer basicamente: espantar, atemorizar. Na voz passiva ser atemorizado.



ἐδόκουν – está imperfeito. O imperfeito instantâneo ou imperfeito aoristo que indica uma ação pontilear no passado está restrito ao vebro ελεγεν conforme Wallace. Então este não é o caso neste versículo que pode ser melhor classificado como imperfeito progressivo (“Eles pensaram”)35.

Vocabulário: 

ἔμφοβοι – adj. m. pl – tímido, medroso, apavorado. Porém quando aparece com o verbo γινομαι, como é o caso neste texto (“ἔμφοβοι γενόμενοι”) a tradução é no sentido reflexivo: amedrontar-se, assustar-se (RUSCONI, 167).



πνεῦμα – sopro, hálito, vento (Jo 3.8); pode também representar homens ou seres vivos depois da morte: espírito, almas (1Pd 3.19). No versículo aqui a ideia é esta segunda, talvez por isso a variante φαντασμα em D.

Contexto literário: Lucas é o único que relata esta reação dos discípulos ao ver Jesus, antes do aparecimento de Jesus eles já tinha ouvido falar da ressurreição por 2 ou 3 vezes.

Comentário Pode-se questionar por que os discípulos se assustaram ao ver Jesus se os dois discípulos de Emaús que tinham acabado de ver Jesus não tinha se assustado? E ainda os outros discípulos já tinham ouvido sobre a ressurreição. Por que se assustaram? 35

HENDRIKSEN, p. 719

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O caráter do aparecimento de Jesus pode explicar isso. Com os discípulos a caminho de Emaus Jesus se aproximou (εγγισας) e começou a falar, eles porém estavam com os olhos fechados para não conhecerem a Jesus. Algo parecido parece, inicialmente, acontecer com Maria Madalena (Jo 20.16). Com os discípulos no versículo 36 o aparecimento de Jesus é repentino e de acordo com João os discípulos estavam reunidos a portas fechadas. Sem dúvidas o aparecimento de Jesus não foi algo natural, e ao se olhar o versículo 37 percebe-se que o assombro se dá por pensarem ver um espírito, não por verem um estranho, mas por pensarem ver alguém que estava morto de repente aparecer. Para Hendriksen o susto é como se os discípulos tivessem visto Jesus se materializar no ar diante deles. Isso com certeza explicaria o motivo do assombro. O assombro e o uso da palavra espírito podem indicar também que os discípulos reconheceram a fisionomia de Jesus e a incredulidade deles (Mc 16.14) os impediram de crer que era Jesus ressuscitado. A incredulidade dos discípulos os impediram de se deleitar na maravilhosa verdade da vitória de Jesus Cristo sobre a morte. No lugar de paz, tiveram medo.

Lucas 24:38 Texto: καὶ εἶπεν αὐτοῖς, Τί τεταραγμένοι ἐστὲ καὶ διὰ τί διαλογισμοὶ ἀναβαίνουσιν ἐν ταις καρδίαις ὑμῶν. E disse a eles, por que estais se perturbando e por causa de que sobem cogitações ao vosso coração.

Gramática: 

O primeiro και neste versículo liga aos versículos anteriores que coloca Jesus como o sujeito do verbo ειπεν e introduz um discurso indireto.



A pergunta de Jesus é dupla e estão ligadas pelo και.



δια τι – a proposição δια com o acusativo tem o sentido de “por causa de” (SCHALKWIJK , 147)

Vocabulário: 

τεταραγμένοι ἐστὲ – ἐστὲ 2 aor m. pl. do verbo ειμι, acompanhado do perfeito particípio passivo de ταρασσω; agitar, revolver, perturbar. Neste caso o particípio 24

é regido pelo verbo εστε que o torna um particípio adverbial, que significa dizer que o particípio não funciona apenas como adverbio, mas também como adjetivo verbal. Por isso a tradução: estais se perturbando. 

διαλογισμοὶ - pensamentos, raciocínios, considerações (RUSCONI).

Contexto literário: Este versículo mostra com o autor é detalhista e se deseja também relatar as reações e emoções das pessoas diante dos eventos. O verso anterior mostra como os discípulos reagiram ao ver a Jesus, neste verso é mostrado a “contra-reação” de Jesus ao temor dos discípulos. Nos paralelos não há informação sobre essa indagação. O que possivelmente pode ser uma referência a esta interação de Jesus com os discípulos é o texto de Mc 16.14, ao dizer que Jesus lançou no rosto dos discípulos a incredulidade.

Comentário O Senhor Jesus ressuscitado faz uma indagação que da perspectiva dos discípulos até o momento parece desnecessária, pois eles pensavam estar vendo um espírito, era obvio que estariam assustados. No entanto da perspectiva de Cristo como é possível estarem perturbados ao ver o cumprimento das escrituras, ao ver a realidade do que Jesus tantas vezes havia dito antes. Estes discípulos já tinham ouvido que Jesus tinha ressuscitado da parte das mulheres, de Cefas e dos discípulos no caminho de Emaús, porém o espanto deles e as suas cogitações confirmam o que Mc 16.12 diz, que eles ainda não creram. O questionamento de Jesus é ao mesmo tempo uma demonstração da incredulidade deles, como uma pergunta retórica que os consola36. É consoladora, pois afirmar que eles deveriam se alegrar ao ver o Jesus vivo e não temer. É também confrontadora, pois questiona a razão dos seus questionamentos e de chegarem a cogitar algo tão absurdo, como estarem vendo um espírito.

Aplicações 

A incredulidade cega de tal forma que parece mais lógico pensar no que é absurdo. Os discípulos preferem crer que era um espírito a confiarem nas escrituras e no que Jesus havia falado anteriormente e que foi anunciado pouco

36

MORRIS, Leon L. Lucas: Introdução e comentário. São Paulo: 1986, Vida Nova, p. 320

25

antes no dia. Muitos hoje preferem querer em uma conexão com o universo e a natureza do que crerem na ressurreição de Jesus. Preferem crer em invencionices da ciência do que crer na realidade da ressurreição. Muitos preferem crer em uma ressurreição de Cristo no coração do crente (alguma experiência mística inexplicável) do que crer na clara declaração das escrituras.

Lucas 24:39-40 Texto: ἴδετε τὰς χεῖράς μου καὶ τοὺς πόδας μου ὅτι ἐγώ εἰμι αὐτός· ψηλαφήσατέ με καὶ ἴδετε, ὅτι πνεῦμα σάρκα καὶ ὀστέα οὐκ ἔχει καθὼς ἐμὲ θεωρεῖτε ἔχοντα. καὶ τοῦτο εἰπὼν επεδςκαν αὐτοῖς τὰς χεῖρας καὶ τοὺς πόδας. Vede as minhas mãos e meus pés que sou eu mesmo. Tocai-me e vede que que espírito não têm corpo e osso como vejais que eu tenho. E tendo dito estas coisas, mostrou a eles as mãos e os pés.

Gramática: 

ἐγώ εἰμι αὐτός – Uma forma muito enfática de: sou eu; Sou eu realmente; ou certamente sou eu.37



καθὼς ἐμὲ θεωρεῖτε ἔχοντα - ἔχοντα é um particípio de εχω; e καθως é uma conjunção comparativa e neste versículo está ligando a oração anterior à próxima “vedes que eu as tenho”. Assim essa comparativa é para mostrar a óbvia diferença.

Vocabulário: 

ψηλαφήσατέ - aor imperative de ψηλαφαω: tocar, apalpar (RUSCONI).



ὀστέα – osso.

Contexto literário: O verso anterior é a indagação de Jesus sobre a o motivo do medo e conturbação dos discípulos, neste verso Jesus, como quem já sabia a razão, se dispõe a provar que ele não era um espírito.

37

HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, von Heindrich. Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego. São Paulo: Targumim, 2009; São Paulo: Hagnos, 2009, p. 564.

26

Quando Jesus se apresentou às mulheres elas o adoraram (Mt 28.9). Quando Jesus se revelou a Maria Madalena reconhece que era o Mestre (Jo 20.16,17). Quando Jesus se revela aos discípulos de Emaús eles o reconhecem e rapidamente se levantam para contar a boanotícia, assim como os exemplos citados anteriormente. Jo 20.20 tem um paralelo direto desde momento do encontro de Jesus com os discípulos. É importante ressaltar que em João Jesus mostra as mãos e o lado. A informação de que Jesus mostrou o lado parece ser importante para João que se proporá a explicar como a incredulidade de Tomé foi vencida. Porém em Lucas, demonstra a importância de que os discípulos crescem na ressureição corpórea de Cristo.

Comentário Neste verso fica claro que Jesus não apareceu no meio dos discípulos com o objetivo de assustá-los. Também não os questionou apenas para confrontá-los. É perceptível o interesse de Jesus em mostrar (apresentar) que ele havia de fato ressuscitado. O interesse era sem dúvidas que os discípulos pudessem gozar da alegria que os outros tiveram que também era para eles. A maravilhosa realidade da vitória de Jesus sobre a morte. Para que não houvessem dúvidas Jesus mostra suas mãos e os pés, evidentemente para comprovar que era o mesmo que havia sido crucificado, o que teve os pés e as mãos perfuradas. João acrescenta ainda que foi mostrado o lado de Jesus (Jo 20.20). Porém a expressão mais importante destes dois versos é Sou Eu Mesmo. De forma muito enfática Jesus diz quem é. É importante notar que Jesus não diz que é o Cristo, ou que é o Mestre, ou que é o Jesus, mas apenas o usa o pronome pessoal. Apenas esta informação era suficiente. Não era necessário dizer o seu nome, a própria fala de Cristo era necessária, mas ele ainda acrescenta (ao mesmo tempo) o ato de mostrar as mãos e os pés. Assim como Deus procurou Adão no paraíso para buscar a reconciliação, Jesus busca os discípulos para fazê-los crer no que por muitas vezes já havia sido dito, que no terceiro dia ele seria ressuscitado. Jesus se empenha em mostrar-se, mas não apenas se mostrar, mas ordena aos discípulos que o toquem e vejam (ou provem) que ele não um espírito, mas que ressuscitou em carne.

Aplicações 

A ressurreição de Cristo não é algo subjetivo, mas palpável. Literalmente palpável, pois foi ordenado aos discípulos que tocassem nele para compreender 27

que ele havia ressuscitado. Jesus ressuscitou em carne e mostra neste texto o seu claro interesse em provar que foi uma ressurreição em carne. Não foi um espirito desencarnado, ou menos ainda uma ressurreição do querigma. 

Que grande consolo há para o cristão em saber que o nosso senhor venceu a morte com o seu corpo físico. Morreu sim, na carne, mas na carne também ressuscitou. A natureza divina de Jesus não abandonou a sua natureza humana, mas a fez suportar o peso da ira de Deus em favor de seus discípulos conquistando e restituindo para eles a justiça e a vida (DS 6. P&R17).



O fato de Cristo ter sido ressuscitado em carne garante ao eleito que ele será também ressuscitado em carne. Assim a totalidade do homem será restaurada. Não apenas a sua alma, ou espirito, mas o homem inteiro.



Como representante federal do homem é fundamental que Cristo tenha ressuscitado em carne, pois assim aniquilou pela sua morte e ressurreição a maldição do primeiro Adão.

Lucas 24:41-43 Texto: ἔτι δὲ ἀπιστούντων αὐτῶν ἀπὸ τῆς χαρᾶς καὶ θαυμαζόντων εἶπεν αὐτοῖς, Ἔχετέ τι βρώσιμον ἐνθάδε; οἱ δὲ ἐπέδωκαν αὐτῷ ἰχθύος ὀπτοῦ μέρος και απο μελισσιου κηνριου καὶ λαβὼν ἐνώπιον αὐτῶν ἔφαγεν. Eles porém ainda não estavam crendo por causa da alegria e de estarem admirados. Disse a eles: Tens algo para comer aqui? Então eles deram a ele um pedaço de peixe assado e favos de mel de abelha. Então na frente deles comeu.

Gramática: 

ἀπὸ τῆς χαρᾶς καὶ θαυμαζόντων - ἀπιστούντων particípio genitivo (genitivo absoluto) [ver nota sobre, em verso 36]. Neste caso o genitivo absoluto apresenta uma ideia de causa: não criam por causa da alegria e de estarem maravilhados. Assim a causa da incredulidade (oração principal) são (a) χαρᾶς e (b) θαυμαζόντων.



ἀπὸ - απο + genitivo tinha uma forma básica de separação de, porém conforme Wallace, essa construção invadiu o domínio ático de εκ, υπο, παρα e genitivo de

28

separação38. Por isso, pode-se dizer com certeza que é possível o uso para expressar causa (por causa dei), conforme traduzido. 

δε – as duas orações destes versículos (a) ἐπέδωκαν αὐτῷ ἰχθύος ὀπτοῦ μέρος και απο μελισσιου κηνριου e (b) λαβὼν ἐνώπιον αὐτῶν ἔφαγεν; estão subordidas à mesma preposição e ligadas a frase anterior, que é a pergunta sobre algo para comer.

Vocabulário: 

θαυμαζόντων – part de θαυμαζω: (intans.) pasmar, admirar-se; manifestar estupor, exprimir admiração (RUSCONI).



βρώσιμον – Comestível, para comer (RUSCONI).



ἐπέδωκαν – aor de επιδιδωμι: dar, entregar, distribuir, dar algo a alguém.



ἰχθύος – peixe.



μελισσιου κηνριου – μελισσιου de abelha; κηνριου favos de mel; favos de mel de abelha.39

Contexto literário: No paralelo de Jo 20.20 a alegria dos discípulos também é exposta. A ideia em João é uma alegria por ver o Senhor e não uma alegria que os impediam de crer. Possivelmente João não está relatando o mesmo momento específico que Lucas relata neste verso. É mais provável que João esteja descrevendo a citação de forma mais genérica, enquanto Lucas esteja descrevendo como os discípulos chegaram a crer. Jo 21.9 – Temos uma referência a Jesus comendo peixe assado. Novamente Jesus pede o que comer, novamente João reconhece a Jesus antes de Pedro e neste momento é Jesus quem providencia peixes assados.

Comentário Após Jesus mostrar as marcas da crucificação e principalmente depois de dizer claramente quem era, os discípulos ainda permaneceram incrédulos. Porém nestes versos há a informação dos motivos da incredulidade, a saber, a alegria e o estarem admirados. Então algumas perguntas surgem. Se estavam alegres, por que não creram? Qual o sentido desta admiração? Por que esse era o motivo de não crerem?

38 39

WALLACE, p 268 Estas duas palavras são hápax legomena.

29

Certamente a aparição de Jesus deixaram os discípulos assustados e atemorizado, porém muitos são os sentimentos que se misturam neste momento. Eles estão ouvindo desde a amanhã deste dia que o Senhor deles que morreu numa cruz da sexta feira tinha ressuscitado; estão conversando e de repente aparece um homem no meio deles; este homem tem a aparecia de Jesus, a ponto de pensarem ser um espírito; Jesus mostra que não é um espírito. Toda esta situação gerou, de acordo com Hendriksen a certeza “Este é realmente Jesus” e ao mesmo tempo, “isso é bom demais para ser verdade”. Essa é a ideia do texto ao afirmar que o motivo da incredulidade deles era a alegria e a admiração. Viram a Jesus, tocaram nele, então isso pareceu algo tão impossível que não creram. Estes discípulos passaram muito tempo com Cristo, os onze presenciaram os principais milagres de Jesus. Viram Jesus chamar Lazaro do túmulo pouco antes do próprio Cristo morrer. Porém se maravilharam de tal foram com milagre da ressurreição que não creram. Porém o Senhor Jesus “paciente como sempre”40 pede algo para comer, porque se ao tocar em Cristo e ver que ele tinha carne e osso, mas não creram, então ao vê-lo comer haverá mais prova de que não era um espírito, mas Jesus ressurreto. Jesus mais uma vez se empenha em mostrar aos discípulos que ressuscitou em carne. Pediu comida e a comeu na frente dos discípulos. Deixou evidente que não era um fantasma. Há de se notar que mais uma vez o reconhecimento de Jesus está envolvido com a mesa, pois em situação parecida Jesus foi reconhecido pelos discípulos de Emaús.

Aplicações 

Não menospreze a capacidade do homem de permanecer em sua incredulidade. Mesmo quando as evidencias são claras a respeito de algo, como foi o caso da ressureição, o homem com o coração endurecido, não aceita as coisas de Deus.



Este texto mostra como o Senhor Jesus se dispõe a dissipar nossas dúvidas e angustias. A iniciativa é dele, não fosse isso, a tendência do homem é, mesmo maravilhado com a beleza e grandiosidade da obra de Cristo, rejeitar o autor da vida.

40

HENDRIKSEN, p. 713

30

Lucas 24:44 Texto: Εἶπεν δὲ πρὸς αὐτούς, Οὗτοι οἱ λόγοι μου οὓς ἐλάλησα πρὸς ὑμᾶς ἔτι ὢν σὺν ὑμῖν, ὅτι δεῖ πληρωθῆναι πάντα τὰ γεγραμμένα ἐν τῷ νόμῳ Μωϋσέως καὶ τοῖς προφήταις καὶ ψαλμοῖς περὶ ἐμοῦ. τότε διήνοιξεν αὐτῶν τὸν νοῦν τοῦ συνιέναι τὰς γραφάς E disse para eles: Estas são as minhas palavras que falei para vós ainda estando convosco: que é necessário cumprir todas as coisas escritas sobre mim na lei de Moises e nos profetas e nos salmos. Então abriu completamente a mente deles para entender as escrituras.

Gramática: 

Este verso tem uma forma um pouco mais complexa e merece certa atenção. A oração principal é ὅτι δεῖ πληρωθῆναι πάντα τὰ γεγραμμένα ... περὶ ἐμοῦ. Todo o resto do verso está explicando esta oração. Ligado à preposição está a oração εἶπεν πρὸς αὐτούς, como oração subordinada a esta está Οὗτοι οἱ λόγοι μου que por sua vez tem por subordinada οὓς ἐλάλησα πρὸς ὑμᾶς. Assim o narrador indica o início de um discurso indireto, o discurso por sua vez é também um discurso indireto. O narrador cita Jesus (discurso indireto) que por sua vez está introduzindo uma outra citação dele mesmo (no passado). Isso mostra que o centro do versículo é o citado a cima.



πληρωθῆναι – aor. inf. pass. de πληροω, neste caso dependente do δει, por isso a tradução: necessário cumprir (completar).



γεγραμμένα – perf. part. pass. de γραφω é um termo técnico para introduzir uma citação bíblica (HAUBECK; SIEBENTHAL).

Vocabulário: 

πληρωθῆναι – aor. inf. pass. de πληροω [ver acima].



διήνοιξεν – abriu completamente.

Contexto literário: A necessidade de Jesus morrer e ressuscitar ao terceiro dia não era uma novidade para os discípulos, eles já tinham ouvido isso do próprio Jesus, inclusive pela exposição das escrituras (Lc 18.31). É importante ver a importância a que Lucas dá ao que escrituras e o que próprio Cristo já haviam falado sobre a necessidade do Messias morrer e ressuscitar (Lc 9.22; Lc 18.31). Os 31

anjos relembram as palavras de Jesus para as mulheres e então elas creem na ressureição (Lc 24.6). Os discípulos de Emaús foram também expostos ao que as escrituras ensinavam sobre a necessidade de morrer e ressuscitar ao terceiro dia (Lc 24.27,31). Uma ideia semelhante pode-se observar em At 16.14, onde o Espírito abriu o coração de Lídia.

Comentário Como já comentado anteriormente há discussões sobre os acontecimentos que Lucas está relatando a partir do versículo 44. O debate gira em torno de dizer que esta explicação de Jesus aconteceu no mesmo dia da ressurreição; ou que neste paragrafo a narrativa toma uma forma de ditos de Jesus que não está limitada a uma ideia de tempo ou lugar. Ao conferir os paralelos deste paragrafo e o teor do discurso de Jesus mostra que a segunda opção é mais adequada41. Apesar de se considerar que não é um assunto tão consensual. Assim este ensino de Jesus nas escrituras parece começar no dia da ressurreição, mas não se restringe a esse dia apenas, mas a todo o período que Jesus permaneceu com os discípulos antes da sua ascensão. Essa ideia também fica mais evidente por Lucas, que se propôs a escreve todas as coisas em ordem, logo após este paragrafo narra a ascensão. O Senhor Jesus depois de insistir em mostrar que ressuscitou em carne ao exibir as marcas da crucificação e comer diante deles, agora destoe de forma definitiva a incredulidade dos discípulos, ao expor as escrituras e abrir-lhes o entendimento. Vale ressaltar que Lucas especifica que Jesus expôs completamente as escrituras, pela Lei de Moises (pentateuco), pelos Profetas (históricos e profetas) e também pelos Salmos (sabedoria). Isso mostra como em todas as escrituras há a informação da necessidade de que Jesus deveria morrer e ressuscitar. A justaposição das palavras Lei, Profetas e Salmos ligadas a escritas sobre mim, mostra que em cada parte das escrituras fala de Cristo, e também que o coletivo de toda a escritura fala de Cristo. Isso mostra o caráter cristocêntrico da revelação, a pessoa e obra de Cristo é a chave hermenêutica das escrituras. Como consequência da exposição de Jesus a mente deles foi completamente aberta. Eis um fato de extrema importância no evangelho de Lucas, que já foi citado no encontro dos anjos com as mulheres, a explicação das escrituras que foi o meio para se abrir o entendimento, não foi a leitura da palavra que fez isso, mas a exposição das escrituras. 41

Conferir uma defesa mais detalhada na página 20.

32

A ligação deste texto de Lucas com a introdução do evangelho é forte. Lucas diz que se propõe escrever o evangelho para “que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído” (1.4). Lucas enfatiza neste capítulo a importância das escrituras, mas dá grande ênfase, talvez mais, ao ensino (pregação) das escrituras como o meio pelo qual Cristo abre a mente para que creiam na obra da ressurreição (redenção).

Aplicações 

O homem natural pode ver Cristo e tocar nele, mas se sua mente não for aberta jamais poderá crer. Não há uma ideia de que é natural ao homem poder crer, isso só é possível se lhes for aberto o entendimento.



Que grande consolo ao crente é saber que quem aplicou nele a fé foi o próprio Deus que opera de forma miraculosa e permanente. Deus não aplica a fé para retirá-la, pois Ele não pode mentir. Se a fé vem de Deus ela necessariamente é uma fé que será preservada.



Não menospreze a pregação, veja a importância da pregação neste texto e como é necessário que haja pregação para que creiam. Por isso também, Jesus envia os discípulos para serem testemunhas (aqueles que falam sobre).



Fator fundamental na interpretação das escrituras é a centralidade (ou orbitação) na obra e pessoa de Cristo. Assim as escrituras não é uma história da religião, apesar de contê-la, não é o conto de conquista de um povo, mas cumprimento na história da redenção.

Lucas 24:46-48 Texto: καὶ εἶπεν αὐτοῖς ὅτι Οὕτως γέγραπται, και ουτως εδει παθεῖν τὸν Χριστὸν καὶ ἀναστῆναι ἐκ νεκρῶν τῇ τρίτῃ ἡμέρᾳ, καὶ κηρυχθῆναι ἐπὶ τῷ ὀνόματι αὐτοῦ μετάνοιαν καὶ ἄφεσιν ἁμαρτιῶν εἰς πάντα τὰ ἔθνη. ἀρξάμενον ἀπὸ Ἰερουσαλὴμ ὑμεῖς μάρτυρες τούτων. E disse a eles que assim foi escrito que foi necessário ser submetido a sofrimento o Cristo e levantar dos mortos ao terceiro dia e ser pregado sobre o nome dele arrependimento e perdão de pecados para toda a gente tendo começado a partir de Jerusalém, vós sereis testemunha destas coisas.

Gramática:

33

Para facilitar o entendimento da relação entre as orações podemos repedir um diagrama da estrutura do texto aqui: καὶ εἶπεν

αὐτοῖς ὅτι γέγραπται Οὕτως

τὸν Χριστὸν

εδει παθεῖν καὶ ἀναστῆναι ἐκ νεκρῶν τῇ τρίτῃ ἡμέρᾳ, καὶ κηρυχθῆναι

ἐπὶ τῷ ὀνόματι αὐτοῦ

μετάνοιαν εἰς ἄφεσιν ἁμαρτιῶν εἰς πάντα τὰ ἔθνη. ἀρξάμενοι ἀπὸ Ἰερουσαλὴμ ὑμεῖς

μάρτυρες τούτων.

Como mostra o diagrama toda a estrutura do texto explica o que está escrito. Pode-se observar que três coisas estão escritas: 1 – Foi necessário que o Cristo morresse e ressuscitasse. 2 – Fosse pregado no nome de Cristo, arrependimento e perdão. 3 – Que isso começasse em Jerusalém e chegasse a todas as gentes. 

καὶ εἶπεν αὐτοῖς – o sugeito nesta oração está oculto, então está ligando aos versos anteriores. Mostra a continuidade do discurso de Jesus.



ουτως εδει παθεῖν – necessidade divina, porém εδει está no imperfeito, algo linear no passado.



τῇ τρίτῃ ἡμέρᾳ - um dativo de tempo, claramente indicado pela palavra dia, porém é algo importante, visto que se traduz no terceiro dia, ou seja, em algum momento neste dia42.

42

De acordo com Wallace, esse dativo de tempo só aparece em Mateus e Lucas, não aparece em Marcos.

34

Vocabulário: 

ἄφεσιν – remissão; perdão.



πάντα τὰ ἔθνη – todos os povos (HAUBECK; SIEBENTHAL)



ἀρξάμενον – um acusativo absoluto; começando/primeiro em.

Contexto literário: Os evangelhos mostram que Jesus já anunciava a necessidade de morrer e ressuscitar ao terceiro dia e quando encontra os discípulos de Emaús faz a pergunta de forma retórica – como se não precisasse de resposta – “Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lc 24.26). Depois da ascensão pregar essa necessidade e como isso aconteceu com Jesus se tornou essencial à pregação apostólica (At 17.3). O Antigo Testamento também mostra a necessidade de morte e sofrimento de Cristo (p.e. Sl 22, Dn 9.24), mas também deixa clara a promessa de salvação a todos os povos, promessa feita claramente a Abraão (Gn 12.3, c.f. Is 49,22). Esta promessa foi confirmada no Novo Testamento, com uma clara promessa da vinda do Espírito Santo que capacitaria os discípulos a testemunharem de Cristo (Jo 15.27). Ainda na última vez que Cristo se encontra com os discípulos e diz estas palavras, agora com um claro mandamento de testemunharem no mundo todo (At 1.8).

Comentário Depois de informar que as mentes dos discípulos foram abertas Lucas mostra qual foi o ensinamento de Jesus. Mostra qual foi a explicação das escrituras que abriu o entendimento deles. Jesus mostra a necessidade de que o Cristo morresse e ressuscitasse. Por que era necessário? Era necessário para que houvesse perdão de pecados. Sem a obra de Cristo é impossível que houvesse pecado. Sem perdão de pecados é impossível que fosse pregado esse perdão e que fosse exigido o arrependimento. Sem a pregação não seria possível que todos os povos ouvissem a mensagem de salvação. Como visto no contexto literário acima, são muitos os textos que mostram que as escrituras já prometiam que a salvação chegaria ao todos os povos. Essa promessa é feita a Abraão e anunciada pelo próprio Cristo. Jesus deixa claro com seu ensino uma grande unidade no Antigo Testamento que está ligado à obra e pessoa de Cristo e o anuncio desta obra e pessoa (o Novo Testamento). 35

Esta exortação de Jesus foi a todos seus ouvintes que provavelmente incluía as mulheres e outros discípulos e não apenas aos doze. A instrução está no evangelho destinado aos gregos e é reforçada no livro de Atos. Evidentemente esta exortação de testemunhar a todos povos não estava restritos aos apóstolos, mas é uma ordem a todos os discípulos de Cristo. Testemunhas de destas coisas. Que coisas? De tudo o que está escrito e foi cumprido na vida, morte e ressureição de Cristo. Este é o testemunho do cristão, não é anunciar a sua própria vida, nem falar da vida do ouvinte, mas anunciar a obra e pessoa de Jesus Cristo. O ensino de Jesus descrito nestes versos também não está restrito a um dia em específico – ou dia da ressurreição ou da ascensão – mas diz respeito ao período, com já visto. Isto reforça a ideia que a necessidade imperativa, é um imperativo a todos os discípulos de Cristo e não apenas aos apóstolos. Porém isso não significa que todo e qualquer cristão deverá ser testemunha da mesma forma e no mesmo lugar. Alguns testemunharam em Jerusalém, outros foram chamados aos gentios. Alguns testemunham ao anunciar a pessoa e obra de Cristo aos seus conhecidos, outros tem um chamado específico para pregar oficialmente este evangelho. Alguns discipulam, os porém são os que batizam os novo-convertidos.

Aplicações 

Cristo sofreu a culta do pecado para que se pregasse o perdão dos pecados. Cristo ressuscitou para que os estavam mortos pudessem nascer de novo. Viveu, morreu e ressuscitou, para que o evangelho fosse uma notícia em que crer, e não uma lei para obedecer. Cumpriu a lei para nele, em gratidão o crente pudesse obedecer.



É importante observar que a necessidade de pregar arrependimento e perdão de pecado para todos os povos se transforma em um imperativo para a igreja. Não é uma questão de opção fazer missão.

Lucas 24:49 Texto: καὶ ἰδοὺ ἐγὼ ἀποστέλλω τὴν ἐπαγγελίαν τοῦ πατρός μου ἐφ᾽ ὑμᾶς· ὑμεῖς δὲ καθίσατε ἐν τῇ πόλει ἕως οὗ ἐνδύσησθε ἐξ ὕψους δύναμιν. E eis que eu envio a promessa do meu pai a respeito de vós. Vós porém permaneças na cidade até que sejam revestidos de poder do alto.

Gramática: 36



ἕως οὗ - oração temporal, geralmente uma resposta à pergunta (“por quanto tempo?”); com subjuntivo a resposta é até que. (HAUBECK; SIEBENTHAL, p. 1459)

Vocabulário: 

ἐπαγγελίαν – a promessa; o que foi prometido.



ἐνδύσησθε – aor. subj. med., trajar-se, vertir-se. Em sentido figurado dá a ideia de estar munido com algo (HAUBECK; SIEBENTHAL).



ὕψους – a altura, neste caso o céu. (HAUBECK; SIEBENTHAL).

Contexto literário: At. 1.4 – É uma ordem muito parecida com a do verso 49, pois ordena ficar em Jerusalém até receberem poder e também fala da promessa de Deus a eles.

Comentário Ao olhar para Jo 14.16, 17, 26 e At 1.18 se vê que a promessa é o Espírito Santo. Esta promessa foi dada aos discípulos e cumprida no dia de pentecoste. É marcante pois muda o fluxo da história da redenção completamente, antes mais focada aos judeus, agora direcionando os discípulos para todas as nações. Este verso tem duas promessas (a) o envio da promessa; e o (b) recebimento de poder do alto. Ao comprar com os capítulos 1 e 2 de Atos fica evidente que se tratam da mesma promessa: o recebimento do Espírito Santo. O Espirito Santo foi enviado por Cristo e capacitou os discípulos a proclamarem a todos os povos. Os cristãos não têm capacidade para testemunharem sobre a morte e ressurreição de Cristo de forma que outras pessoas passem a crer, veja o exemplo das mulheres e dos discípulos de Emaús. Por isso é necessário que as testemunhas sejam capacitadas pelo próprio Cristo, para através das escrituras (como o próprio Jesus) possam mostrar que o Cristo necessário. Porém tem o imperativo de permanecer na cidade. Certamente para esperar a descida do Espírito Santo no dia de pentecostes, evento importante onde muito puderam ouvir o testemunho da obra de Cristo e foram convertidos. Este verso é também a ligação ao livro de Atos, mostra que a obra dos apóstolos é na realidade a operação do Espírito Santo, que é a promessa, e decorre de toda a obra e ensinamento de Jesus. 37

Aplicações 

A salvação do homem não depende de suas próprias obras, mas da obra de Cristo que morreu e ressuscitou. Da mesma forma o testemunho dos cristãos não pode ser eficiente por si mesmo, mas somente pela obra do Espírito Santo.



É um grande conforto para o cristão saber que vitória de Cristo alcançará todas os povos.

Conclusão O capítulo 24 de Lucas é o ápice da narrativa do Evangelhos de Lucas. Este evangelho tem por objetivo auxiliar os gregos para que eles tenham plena certeza das verdades em que foste instruído, essa certeza – que inclui acreditar na ressurreição. Esta certeza conforme o capítulo 24 não acontece por algum tipo de experiência empírica, pois mesmo aqueles que foram testemunhas oculares da obra de Cristo não creram na ressurreição. Esta fé vem pela pregação da palavra. Isto é um grande consolo a todos os gregos, pois até os judeus que testemunharam, não creram porque viram. É um grande consolo a todos os crentes de todos os tempos, pois Lucas mostra com seus relatos que a fé é obra do Espírito Santo, que usa como meio a pregação fiel das Escrituras.

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