Uma História Social do Piano. Emergência e Declínio do Piano na Vida Quotidiana Madeirense, Lisboa, Edições Colibri, 2016, 330 pp. ISBN: 978-989-689-565-5.

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ÍNDICE

Prefácio ........................................................................................................ 11 Introdução ................................................................................................... 13 I Revisão da literatura, procedimentos metodológicos e fontes .............. 19 Os conceitos de vida quotidiana, lógica situacional e cultura musical ......... 19 Literatura: vida quotidiana e cultura musical em redor do piano ................. 21 Literatura: composição e análise musical ..................................................... 35 Componentes da construção melódica .................................................. 36 Carácter dos temas musicais ................................................................. 46 Tipos de acompanhamentos .................................................................. 52 Procedimentos metodológicos e fontes ......................................................... 54 II O início da era da prática musical doméstica ao piano ....................... 63 Invenção e difusão do piano na Europa ........................................................ 63 Difusão do piano em Lisboa e na Madeira ................................................... 67 III O piano nos convívios sociais e domésticos ......................................... 81 O piano na vida doméstica ............................................................................ 81 O Piano nos convívios sociais fora do espaço doméstico ............................. 90 Sociedades e Clubes ............................................................................. 90 Saraus de beneficência .......................................................................... 96 Locais públicos para concertos ........................................................... 101 Músicos virtuosos ............................................................................... 110

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IV O ensino do piano no Funchal ............................................................ 117 Professor de piano: a emergência de uma nova profissão .......................... 117 O piano no ensino feminino ........................................................................ 127 Métodos utilizados na aprendizagem do piano ........................................... 135 V Repertório musical cultivado ao piano ............................................... 141 Renovação do repertório musical ............................................................... 141 Danças ........................................................................................................ 146 Valsas ................................................................................................. 149 Quadrilhas ........................................................................................... 174 Cotilhões ............................................................................................. 182 Polcas, Mazurcas e Polcas-Mazurcas ................................................. 188 One-Step e Fox-trot ............................................................................ 204 A música para canto e piano ....................................................................... 209 Lied ..................................................................................................... 220 Cançonetas .......................................................................................... 225 Fados .................................................................................................. 234 Peças de carácter ......................................................................................... 239 Grandes mestres clássicos e virtuosos ........................................................ 248 VI Comércio e manutenção dos pianos ................................................... 261 Comércio de pianos: venda e aluguer ......................................................... 261 Manutenção de pianos: a profissão de afinador .......................................... 271 VII Decadência da prática musical doméstica ao piano ....................... 275 Conclusão .................................................................................................. 285 Bibliografia ................................................................................................ 301 Lista de Quadros ....................................................................................... 315 Lista de Exemplos Musicais ..................................................................... 318 Lista de Figuras ........................................................................................ 325

ÍNDICE DE APÊNDICES E ANEXOS (CD-ROM)

Apêndices A – Tipologia de períodos musicais ............................................ 2 B – Figurações de acompanhamento .......................................... 10 C – Tópicos musicais ................................................................. 18

Anexos I – Documentos em Fac-simile................................................... 26 II – Partituras .......................................................................... 38

INTRODUÇÃO O projecto inicial deste livro consistia num estudo sobre a história das tendências musicais na ilha da Madeira nos séculos XIX e XX. Este projeto foi motivado principalmente pela elevada quantidade de músicos e composições de autores relacionados com a Madeira, quase completamente desconhecidos ao nível nacional no domínio da musicologia histórica. Após um período exploratório de recolha de dados – principalmente dados biográficos de músicos em dicionários especializados, investigações em periódicos regionais madeirenses e pesquisas de partituras junto de famílias de compositores –, começou a tornar-se evidente que talvez fosse possível delimitar o objecto de estudo e fazer uma investigação reveladora sobre a música para piano na Madeira, num período então ainda não completamente definido, mas que seria certamente mais reduzido que o do projecto inicial. Para essa conclusão muito contribuiu a oferta da família de Luiz Peter Clode, através da sua filha Inês Clode Freitas, da sua colecção pessoal de partituras musicais à biblioteca da instituição em que trabalho – a Direcção de Serviços de Educação Artística e Multimédia –, entre a qual se encontravam várias partituras relevantes de compositores para piano activos na Madeira ao longo dos séculos XIX e XX. Luiz Peter Clode, engenheiro de profissão, estudou piano e compôs várias peças para este instrumento, tendo sido uma personalidade com enorme influência na vida musical madeirense, principalmente no plano institucional. Por exemplo, foi um dos fundadores na década de 1940 da Sociedade de Concertos da Madeira e da Academia de Música da Madeira, (actual Conservatório – Escola das Artes Luiz Peter Clode), tendo feito parte das direcções destas instituições; foi igualmente um dos fundadores do Posto Emissor no Funchal, estação radiofónica importantíssima na cidade do Funchal; e fundou o importante periódico cultural Das Artes e da História da Madeira (Barros 2005). Na colecção oferecida pela família Clode encontravam-se as partituras para piano de Luiz Peter Clode, mas também as de outros compositores muito influentes na Madeira tais como Nuno Graceliano Lino, Salvador Dário Florez, Francisco Vila y Dalmau, Edmundo da Conceição Lomelino e Sheila Power. Às obras destes seis compositores para piano juntavam-se outras peças encontradas em arquivos diversos, entre as quais se destacam:

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algumas quadrilhas de Duarte Joaquim dos Santos, na Biblioteca Nacional de Portugal; as peças de Ricardo Porfírio d’Afonseca e de António José Bernes recolhidas nos Arquivos da Associação Musical e Cultural Xarabanda e da Associação Recreio Musical União da Mocidade; e uma suite de valsas de Nuno Graceliano Lino oferecida à rainha D. Amélia em 1901, que se encontrava na Biblioteca do Palácio de Vila Viçosa. Posteriormente, ao longo da investigação surgiram muitas outras composições, mas este primeiro grupo de peças foi o ponto de partida para a definição do novo objecto de estudo da investigação: a música para piano na Madeira no período de 1820-1950. Este período viria ainda a ser mais reduzido, para 1820-1930, por razões que ficarão evidentes ao longo do trabalho, principalmente no capítulo dedicado à decadência do piano na prática musical doméstica. A decisão final e definitiva de seleccionar a música para piano na Madeira como objecto de estudo seria tomada pouco tempo depois, quando foi possível confirmar a existência de literatura suficiente para enquadrar historicamente as partituras encontradas. Para a tomada dessa decisão, em muito contribuiu a biblioteca digital Nesos do Centro de Estudos de Histórica do Atlântico, riquíssima em bibliografia de visitantes estrangeiros do século XIX e de autores madeirenses que indirectamente abordaram a prática do piano no Funchal. A existência deste relevante arquivo permitiu acreditar que, com estes dados, juntamente com informações a recolher em pesquisas nos vários periódicos funchalenses do século XIX, seria possível a realização de uma contribuição inovadora e original para o progresso do conhecimento no domínio da musicologia histórica. Neste contexto, as problemáticas da investigação centraram-se em duas vertentes. A primeira focou-se na origem e nas consequências da entrada do piano na cultura madeirense e pode ser colocada da seguinte maneira: Problemática 1 – Como entrou o piano na vida quotidiana madeirense e que efeitos teve na cultura musical funchalense? A segunda vertente focou-se na caracterização do repertório original para piano composto por autores a residir na Madeira durante o período em estudo: Problemática 2 – Qual foi o tipo de repertório musical cultivado pelos principais compositores para piano na Madeira? Tendo em consideração as duas problemáticas centrais deste estudo, os objectivos principais definidos para esta investigação foram (1) explicar como e porquê foi introduzida a música para piano na Madeira, realçando os efeitos da introdução deste instrumento na vida quotidiana madeirense e tendo como perspectiva a acção dos músicos que se destacaram no desenvolvimento da prática musical ao piano no Funchal; e (2) identificar o tipo

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de repertório tocado na Madeira no período em estudo, procurando explicar os motivos que levaram os músicos a escolher determinados repertórios. Para tentar responder a estas duas questões, após a revisão da literatura principal sobre estas duas problemáticas, formularam-se as cinco seguintes hipóteses centrais, que foram influenciadas por modelos de investigação variados, conforme se explica juntamente em cada hipótese: Hipótese 1 – A generalização da prática do piano na cultura musical madeirense ocorreu no primeiro quartel do século XIX e deveu-se a um conjunto de factores sociais que permitiram a sua aceitação e integração na vida quotidiana do Funchal: o processo de revolução industrial e consequente redução do preço do piano, tornando-o uma tecnologia acessível às classes média e alta madeirenses; fortes relações comerciais da Madeira com Inglaterra, o maior produtor de pianos do mundo no primeiro quartel do século XIX, que permitiram uma fácil importação destes instrumento; estabelecimento do Funchal como uma cidade de reconhecidas qualidades para o turismo terapêutico, o que permitiu um aumento exponencial da procura de pianos no Funchal por parte de uma crescente comunidade estrangeira aristocrática; a necessidade de ocupar o muito tempo livre da mulher residente no espaço urbano, no contexto da aristocracia; as potencialidades do piano que permitiam a sua adaptação a diferentes géneros musicais; a influência de pianistas vindos de Lisboa no período em que a corte foi para o Brasil. Este primeiro modelo explicativo foi construído a partir de um modelo de investigação elaborado pelo musicólogo norte-americano James Parakilas, o qual foi utilizado para explicar o processo de aceitação e generalização do piano na primeira metade do século XIX no mundo ocidental (Parakilas 2002). Deste modo, procurou-se testar se o modelo proposto por Parakilas para o restante mundo ocidental se aplicava também na região da Madeira. Hipótese 2 – A entrada do piano na vida quotidiana funchalense teve um conjunto de efeitos na cultura musical madeirense: influenciou o tipo de entretenimentos em espaço doméstico e os convívios sociais; passou a integrar o modelo de educação feminina e possibilitou a criação da profissão de professor de piano; aumentou o mercado na área musical, com novas lojas de vendas de pianos e de partituras, e incentivou o aparecimento da profissão de afinador de pianos; alargou o tipo de repertório musical cultivado, devido à grande necessidade de renovação constante do repertório para as muitas actividades com piano. Este modelo explicativo foi criado com base num modelo rudimentar que temos utilizado noutras investigações e que tem em consideração quatro elementos situacionais em redor dos actores musicais: (1) local em que se desenvolve a actividade musical (no caso específico a prática ao piano); (2) modo como os actores musicais se educam nesta

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actividade; (3) influência no comércio relacionado com a música; (4) influências no repertório cultivado. Este tipo de modelo é simples mas muito útil para ajudar a compreender as acções dos músicos em estudo, bem como os efeitos da sua acção e da introdução do piano na cultura musical madeirense. Hipótese 3 – O repertório musical original da Madeira divide-se em três grupos: (1) danças, maioritariamente valsas, polcas e quadrilhas; (2) música para canto e piano, onde se destacam as cançonetas, a canção erudita e os fados; e (3) estudos e peças de cariz virtuoso. Esta hipótese foi criada originalmente com base nos modelos de classificação presentes nos anúncios de venda de repertório nos periódicos madeirenses. Hipótese 4 – Tendo em consideração o cariz amador ou semiprofissional da generalidade dos compositores em estudo, o repertório original criado no Funchal é caracterizado por: textura homofónica, com divisão clara entre melodia e parte de acompanhamento; melodias cantáveis simétricas com estrutura periódica bem definida; acompanhamentos ligeiros em figurações harmónicas simples, que não obscurecem a melodia principal, e com progressões harmónicas centradas nos principais graus tonais. Para construir o modelo de análise, compararam-se os modelos propostos nos tratados e manuais de composição do século XIX. Hipótese 5 – A prática doméstica em redor do piano entrou em declínio na década de 1930 devido ao aparecimento de novas tecnologias concorrentes como a telefonia e os gramofones, que não exigiam uma aprendizagem diária exigente, e ao gradual processo de emancipação da mulher. Para testar as hipóteses acima enunciadas os procedimentos escolhidos foram os seguintes: a) levantamento sistemático de dados cronológicos sobre música, com especial realce para o piano, nos periódicos do Funchal entre 1821 e 1933, e criação de uma cronologia sobre a música para piano na Madeira; b) levantamento das descrições sobre a actividade musical no Funchal nos livros de visitantes estrangeiros que passaram na Madeira ao longo do período em estudo (1820-1930); c) levantamento de dados relativos à prática musical no período em estudo nos livros de autores residentes na Madeira; d) compilação e edição em software especializado de peças para piano de autores activos no Funchal, reclhidas junto de familiares descendentes e nos arquivos com repertório musical;

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e) caracterização da estrutura das melodias e dos tipos de acompanhamento do repertório seleccionado. Para apresentar os resultados obtidos ao longo desta investigação, estruturou-se esta monografia nos seguintes capítulos. No capítulo 1, faz-se uma revisão crítica da literatura, de modo a mostrar os conhecimentos existentes nesta área anteriormente a esta investigação, e apresenta-se em pormenor os procedimentos metodológicos e as fontes consultadas. No capítulo 2, explica-se pormenorizadamente os factores sociais que permitiram a difusão massiva do piano no Funchal no primeiro quartel do século XIX. Nos capítulos 3 ao 6, mostram-se os efeitos da entrada do piano na cultura musical madeirense e efectua-se uma descrição estilística do repertório original encontrado. Finalmente, no capítulo 7, mostram-se as causas que conduziram à decadência da prática do piano no espaço doméstico. Finalmente, apesar de uma monografia ser um trabalho maioritariamente individual e solitário, há um conjunto alargado de pessoas que possibilitaram a conclusão desta investigação e sem as quais este projecto teria sido impossível. Assim, agradeço: à Inês Clode Freitas por ter confiado à guarda da instituição em que trabalho o espólio musical do seu pai Luiz Peter Clode, acto que deu um grande impulso a esta investigação; ao maestro Eurico Martins da Associação Recreio Musical União da Mocidade, pelo apoio dado na angariação de partituras; ao Sílvio Fernandes, por ter facilitado o acesso, sem quaisquer reservas, à colecção de música para piano da sua avó, Maria Adelaide de Meneses, professora de piano da primeira metade do século XX; à Lígia Brazão, por ter partilhado comigo as partituras do seu tio, Fernando Clairouin; à família Croner de Vasconcelos, por ter facilitado a consulta das partituras da compositora madeirense Matilde Sauvayre da Câmara; à directora da Casa-Museu Frederico de Freitas, Ana Margarida Araújo Camacho, por permitir fotografar os pianos da instituição que dirige; ao Alberto Vieira, presidente do Centro de Estudos de História do Atlântico, pelo apoio dado na consulta da biblioteca digital Nesos e pelos conselhos ao nível bibliográfico; ao Rui Camacho, presidente da Associação Xarabanda e fotógrafo da Direcção Regional dos Assuntos Culturais, pelo apoio ao nível iconográfico e no processo de angariação de partituras; ao Manuel Morais, pelo constante apoio e por ter sido a primeira pessoa a incentivar a realização deste estudo sobre o piano; ao Rui Magno Pinto, pelas várias revisões, conversas e conselhos que permitiram a melhoria deste trabalho; ao Filipe dos Santos, pelas revisões e conselhos sobre metodologias em história; ao meu director Carlos Gonçalves, pelo forte incentivo à realização deste trabalho; à Manuela Silva e à Néli Silva pelo constante apoio; à Nancy Lee Harper, à Maria José Artiaga, ao Mário Vieira de Carvalho, à Ana Maria Liberal e à Elisa Lessa pelas críticas e sugestões de melhoria; ao meu co-

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-orientador Paulo Ferreira de Castro, pelas leituras aconselhadas no domínio da análise musical e sugestões de melhoria; ao meu orientador David Cranmer, por ter aceitado ser meu orientador a meio da investigação e pela postura pragmática e positiva; ao CESEM por apoiar a edição em livro; aos meus pais por terem sempre acreditado em mim; e, finalmente, à minha mulher Raquel e aos meus filhos Alexandra e Manuel, pela muita paciência!

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