Uma linha no horizonte. Alfredo Häberli: o design leve como o traço

June 4, 2017 | Autor: Emília Ferreira | Categoria: Design
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Uma linha no horizonte Alfredo Häberli: o design leve como o traço1 Emília Ferreira Nasceu na Argentina, mas aos 13 anos mudou-se com a família para a Suíça, de onde o avô emigrara 50 anos antes. Foi em Zurique que começou por estudar Arquitectura. Mas uma viagem à vizinha Itália fá-lo-ia descobrir que, tal como os edifícios, os objectos também têm autoria. E que, por trás deles e da assinatura que os marca, há um desenho, um projecto. Uma ideia. No regresso a casa, estava já determinada uma reviravolta no seu destino: ia tornar-se designer. E como o mundo tem muitas seduções, ele opera em plurais linhas: gizando projectos de arquitectura de interiores, comissariando exposições, fazendo palestras e escrevendo ensaios. Senhoras e senhores: Alfredo Häberli. Contornos de uma biografia Ele é seguro de si. Diz que o aprendeu na América Latina. E tudo na sua imagem o afirma. No modo como se apresenta e se deixa fotografar. Como fala das suas peças e menciona as suas influências. Comecemos do princípio. Buenos Aires, 1964. Aí nasce Alfredo Häberli. Mas o pragmatismo encontrou essa alma em formação, logo ao virar dos 13 anos. Em 1977, está em Zurique. Entre 1980 e 1984 estuda arquitectura, o que lhe deixará um traço definido, geométrico, pragmático sempre e envolvente q.b.. Mas os edifícios e as superestruturas não serão o seu caminho. 1986 é o ano da viragem: começa a estudar design industrial, na Höhere Schule für Gestaltung Zurich, onde se forma em 1991, com um prémio que auspicia uma carreira de sucesso, aliás já nutrida por duas experiências laborais — na Siemens de Nova Iorque e na Product Development Roericht, em Ulm, Alemanha, em 1989. Em 1988, Häberli iniciara colaboração com o Museu das Formas, de Zurique, concebendo a montagem de algumas exposições e comissariando outras. Semelhante actividade dar-lhe-á um sólido conhecimento artístico e uma clara noção do funcionamento dos objectos no espaço. Desde então, o seu currículo

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Texto publicado na revista MID, Lisboa, Dezembro de 2005.

ostenta evidentes sinais de reconhecimento da sua criatividade, através da menção a editoras de design com as quais trabalha. Da Itália para o mundo A Itália é determinante no seu percurso pelo menos duas vezes. A primeira, quando numa viagem, ao ler algumas revistas, descobre “que havia designers por trás das coisas de que gostava”, o que o leva a estudar design; e a segunda quando, ao conversar com Achille Castiglioni, o autor de muitas das peças que mais admirava, este lhe nega o emprego pedido e o encoraja a abrir o seu próprio atelier em Zurique. O conselho é seguido e em 1991 lança-se na aventura de designer freelancer, em companhia de Christophe Marchand. Mas o mundo espera-o. Após uma bolsa da Fundação IKEA para pesquisa na área do design ecológico, logo em 1991, dois anos depois já desenvolve projectos com várias companhias internacionais, como a Alias, Authentics, Edra, Eternit, Danese, Driade, Luceplan, Thonet, Wohnbedarf, Zanotta, quer a solo, quer com o seu parceiro de atelier. O ano de 2000 assinala o estabelecimento definitivo do Atelier de Desenvolvimento de Design de Alfredo Häberli, em aventura a solo, e desde então têm-se somado convites e projectos, tão distintos e desafiadores como os realizados para a Absolut Vodka, Asplund, Cappelini, Hackmann, Iitalla, Leitner, Magis, Offecct, Rörstrand, Semplicitas, ou Trunz, para só citar as novas e não repetir as anteriormente mencionadas. O tempo como maior luxo… Häberli gosta das coisas simples. Gostaria de desenhar um telemóvel com linhas tão claras como um iPod, e com uma única função: fazer chamadas. Desagrada-lhe a acumulação de funções, as distrações do essencial. Por isso trabalha a linha, na sua pureza maior, aspirando à leveza das formas, ao fulcro

do prazer e da função, da simplicidade como requinte. Leva, por isso, muito tempo com os projectos. Sensível à história do design, ele é fã do já citado Castiglioni e ainda dos clássicos Bruno Munari e Enzo Mari, mestres da simplicidade e do encanto dos pequenos pormenores que “nos fazem sorrir”. Por isso não rejeita repensar objectos tão quotidianos e comuns como serviços de mesa. Quando inquirido sobre o porquê de fazer mais um serviço de mesa, ou mais um conjunto de copos, responde que nunca é de mais propor novas formas, novas abordagens a um gesto familiar. … e a simplicidade e leveza como horizonte Aliás, interferir no quotidiano através das suas propostas de design é algo de fundamental para ele, seja na criação de um sofá, de linhas como a Kid’s Stuff (com a qual pretendia oferecer aos miúdos objectos de uso quotidiano que fossem simultaneamente lúdicos e fáceis de manusear), ou nas de um cabide. O design como seguimento de uma linha, a opção pela funcionalidade, pela privacidade — capacidade de tornar privado o que é de todos, como a inspiração nas cadeiras de conferências, com a mesinha anexa, em Solitaire, ou a sua cadeira com orelhas grandes, para melhor não ouvir o que vem de fora, só desenhada pelo passeio de uma linha no espaço, toda em exercício de contorno, em Take a line for a walk, que encantou a Moroso — encontra inspiração em tudo o que existe: nas formas de um avião (veja-se o TT Sofa) ou de um carro (cadeira Segesta), no desenho de um gesto (observe-se o cabide Hang by Hand), na sedução de um corpo (onde foi beber as formas com que criou os copos da linha Essence), no “amor do vinho” (patente na anterior proposta Senta), ou na decoração de peles tatuadas, de onde evoluiu a sua linha de roupas Skin out of my Soul, agora no Museu Alvar Aalto, em Jyväskylä, na Finlândia. Um design que aspira ao risco e ao uso simples

Inconformista, Häberli gostaria de investigar mais, de correr mais riscos. Das companhias com que trabalha, afirma que a Moroso e a Alias são as que melhor acompanham esse desafio. Que pode materializar-se nas formas dos objectos ou nos programas das propostas. Como ele conta, quando a Alias o contactou, ele propôs-se desenhar-lhes um sofá, objecto que nunca haviam feito. Mas a ideia foi de imediato aceite e o resultado, após dois anos de investigação, foi o TT Sofa, lançado este ano na Feira de Milão. Mas o risco não é tudo. As suas linhas bem estruturadas, que aspiram a respirar função, não deixam nunca de libertar também um perfume de beleza. Nas coisas mais simples (mesmo quando caríssimas, pela exigência de manufactura, o que resulta numa produção não massificada, como nas peças Pick Up, camião, sofá e arrumação para crianças dinâmicas, como ele define), ele gosta de dar um “certo toque”. Veja-se a linha Origo, 7 peças versáteis para a mesa e o armário, fáceis de usar, arrumar, e suficientemente bonitas e abertas à cor para irem bem com todo o tipo de toalhas, individuais, etc. Reconhecido como estrela Por tudo isto, não espanta mesmo nada que, na Escandinávia, principalmente na Finlândia, onde o design tem grandes tradições de encontro com o dia a dia das pessoas, o abordem na rua, para lhe agradecer os objectos que desenhou e a alegria que eles aportam ao quotidiano dos seus utilizadores. Alfredo Häberli aprecia esse reconhecimento e retribui com uma inquietude de recriar o mundo com conforto, pragmatismo, um toque de irreverência e um discreto requinte: notório nos pormenores do seu traço arquitectónico de volumetria angulosa com escassos redondos (uma assinatura que atravessa estruturalmente a sua obra, dos sofás e cadeiras aos copos, talheres e demais objectos), inspirado num mundo referencial vasto, do design à história e teoria da arte. Porque a simplicidade, como é sabido, nunca foi coisa fácil nem imediata. Arquitectura

1988 — Miracolo, cabeleireiro, Zurique Klameth Terzo, boutique, Kusnacht 1998 — Teca, restaurante, Londres Classicon, Stand para a Feira de Francoforte 1999 — Arla, showroom, restaurante e loja, Estocolmo (projecto) 2000 — Ginger—mais do que sushi, bar, restaurante, Zurique Palestras & Aulas 1993 — Palestrante na Universidade de Arquitectura e Design de Córdova, Argentina 1994 — Professor convidado na Schule für Gestaltung, Zurique 1997 — Professor convidado na Schule für Gestaltung, Basileia 1998 — Professor convidado na Academia Domus, Milão 1999 — Palestrantge no Forum Internacional, Barcelona Prémios 1991— Diploma Premiado, na Schule für Gestaltung, Zurique Prémio SID (Swiss Industrial Designer) Bolsa da Fundação IKEA para projecto de design ecológico 1994 — Prémio de Mérito da Hochschule für Gestaltung, Zurique 1998 — Bolsa Carte Blanche, Industries Françaises de L’Ameublement, V.I.A, Paris desde 1992 — vários prémios internacionais na Europa e EUA

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