Uma nação de Galdinos

June 3, 2017 | Autor: Def Yuri | Categoria: Hip-Hop/Rap, Artigos, Viva Favela
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Uma nação de Galdinos

Autor: Def Yuri | 06/11/2001 | Seção: Def Yuri

Brasília, 20 de abril de 1997. É madrugada na capital do Brasil e um homem dorme num ponto de ônibus a espera da condução. Seu nome : Galdino Jesus dos Santos. Em alguns minutos, ele será atacado, será queimado vivo. Ele desperta sob o fogo que consome seu corpo em meio às gargalhadas de mais uma "brincadeira" promovida por cinco bestas. Mesmo socorrido, Galdino não resiste e morre. Os "brincalhões" são detidos, a mídia divulga o caso que choca grande parte da opinião pública. Porém, durante o processo, a juíza Sandra de Santis desclassificou o crime de homicídio qualificado e o classificou como de lesão corporal seguida de morte. O objetivo dessa ação era a redução das penas. Algum tempo depois, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) alteraria a decisão novamente para a acusação de homicídio qualificado. Sábia decisão. Mostrou que, às vezes, a Justiça tenta ser justa. Imaginem se fossem pobres que tivessem cometido esse ato bárbaro. De cara, a autoridade policial enquadraria o grupo por formação de quadrilha, inventaria uma resistência à prisão, um desacato à autoridade, os acusariam de utilização de substâncias entorpecentes, fariam associação com outros casos semelhantes, "apresentariam" uma longa ficha criminal, psicólogos e psiquiatras apresentariam laudos "provando" que os indivíduos eram possuidores de mentes criminosas e que a origem social seria a causa de tudo, que eles não teriam boa criação, religião e por isso seriam revoltados. Além, é claro, dos acusados serem mandados para algum depósito de gente, onde com certeza já teriam sido seviciados ou mortos em alguma rebelião, isso se a morte não chegasse através de uma asfixia no interior de alguma viatura. Mas não, os assassinos fazem parte da elite e, portanto, estão bem. Repletos de regalias: cela sem grade, banheiro privativo e muito mais. Tudo o que o poder, o prestígio e o dinheiro podem oferecer. E o mais grave é saber que a principal batalhadora por justiça, a promotora Maria José Miranda, do Ministério Público de Brasília, afastou-se do caso por "pressões" e constrangimentos por parte dos advogados das bestas, entre outros. É, no Brasil isso é a rotina de quem tenta fazer justiça, de quem tenta enfrentar os poderosos. Vale frisar que as bestas têm como responsáveis um juiz federal, um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre outras autoridades. Esse tipo de assunto me tira do sério. Enquanto escrevo este artigo, ouço o novo CD do grupo Facção Central e o trecho de uma das músicas aborda a temática da injustiça. Contém a seguinte frase que não sai da minha cabeça: "Toma a UZI e me diz quem tem que morrer..."A cada lembrança do caso Galdino, essa frase me vem a cabeça. Será que essa seria a solução? Será que só esse estágio trará o sentimento de justiça verdadeira? Seria a lei verdadeira a de Talião? A Justiça tem que ser para todos, se não para quê Justiça? A impunidade deve ser extirpada a qualquer preço. Quem estuda mais, quem tem mais poder, consequentemente deve pagar mais, deve dar o exemplo. Que as quatro bestas que mencionarei a seguir paguem pelo crime hediondo e odioso que fizeram. São elas: Max Rogério Alves, Antônio Novély Cardoso de Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida e Eron Chaves de Oliveira . A quinta besta, na época do crime, era menor de idade, portanto, deve estar por aí. Espero que as bestas usufruam da verdadeira hospitalidade do "Papudão", pois é lá que conhecerão criminosos e inocentes, ambos vítimas de uma Justiça criada para a auto-proteção das castas e de onde essas bestas têm origem, de onde se propalam besteiras em defesa dessas bestas como "eles estão perdendo a melhor fase da vida", "eles não são bandidos" (esta afirmação deve ter origem em indivíduos igualmente degenerados) ou "eles já perderam 2.026 dias na cadeia". Eu faço minhas as palavras do jornalista Leonardo Pimentel do no. : "Honestamente, espero (sem muita fé de que isso vá acontecer) que percam todos os anos que lhes restam. Ainda sim será uma sorte melhor que a de sua vítima." Que a família do Galdino tenha paz e que os milhões que formam essa nação de Galdinos passem a ter esperança de uma vida menos ruim. Espero que as provas apresentadas não sejam ignoradas. A nação dos Galdinos não agüenta mais comer pizzas. Essa dieta está nos matando. É hora dessa nação saborear os pratos destinados aos bem nascidos: esperança, justiça, cidadania...

E se a nação continuar sendo injustiçada, eu seguirei o exemplo do rap citado anteriormente e direi: "Toma a UZI e me diz quem tem que morrer"... Sem justiça não há paz!

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