UMA PINTADENSE NA ONU EM NOVA IORQUE

May 29, 2017 | Autor: Paolo Cugini | Categoria: Climate Change, Climate change policy, Women, Women and Culture, ONU
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UMA PINTADENSE NA ONU EM NOVA IORQUE Nereide Segala de Pintadas foi convidada a relacionar na ONU sobre projetos de agricultura que envolvem mulheres

[Publicado na GAZETA DA CHAPADA, setembro 2011] De Pe Paolo Cugini

Ministros e altos funcionários de 30 países se reuniram na última semana de junho em Nova Iorque para o Seguimento de Alto Nível do ECOSOC (Conselho Econômico e Social das Nações Unidas) refletindo sobre o seguinte assunto: "Do dialogo a ação: Fortalecimento da Mulher Rural na agricultura". O dato interessante é que entre os relatores tinha também Nereide Segala, mulher de Pintadas-Ba, Presidente da cooperativa Ser do Sertão e Gestora do Projeto Pintadas Solar. Como é que uma mulher de Pintadas foi convidada a falar na ONU? É o fruto de um lento mas profundo trabalho feito de contato e de vontade de melhorar as condições de vida do homem e, sobretudo, da mulher que vive no campo em um contexto, como é aquele de Pintadas, feito de grande períodos de estiagem. Vontade de mudar, então, que se transformou ao longo dos anos na busca constante de contatos e parceria para que o sonho de convivência do semi-árido pudesse virar realidade. E assim nasceram os contatos com REDEH, entidade fundada em 1990, presente em Pintadas desde o 2001, cujo objetivo é fortalecer os conceitos e praticas que estimulem a eqüidade de gênero, raça e etnia em

políticas publicas desenvolvidas especialmente nas áreas de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos, Educação e Meio Ambiente. Além de REDEH outra parceria importante construída nestes anos é a GROOTS INTERNACIONAL, entidade que tem como objetivo de dar voz as mulheres. GROOTS coopera como uma rede que liga as lideres e grupos de pobres urbanos e áreas rurais do Sul e do Norte. Graças e estes contatos e ao trabalho realizado nestes anos que se deu vida a uma serie importante de atividade entre elas o Adapta Sertão, proposta concreta e eficácia de convivência com o semi-árido. São estes os motivos que levaram a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) a indicar Nereide Segala para discursar na ONU e expressar a voz da mulher no desenvolvimento agriculo das áreas em dificuldade. O objetivo deste encontro foi criar uma entidade que defenda as mulheres em todos os contextos dentro da ONU, também porque geralmente a voz da mulher, sobre problemas ligados a agricultura, não são muito escutadas. Então o que

Nereide foi dizer na ONU? Em primeiro lugar

mostrou a diferença de atitude com a agricultura entre homens e mulheres. “Enquanto as mulheres ficarem submissas sendo as “coitadinhas”

da

agricultura as mesmas vão deixar uma lacuna muito grande, pois o homem vê a agricultura somente como poder de gerar riqueza, já a agricultura da mulher é da diversidade, da geração de vida, da partilha, do dinamismo, do aproveitamento. Nós temos uma grande visão de aproveitamento do alimento disponível para alimentar”. Esta atenção á diversidade e á geração de vida levaram Nereide e a sua equipe a valorizar sempre mais o trabalho formativo feito não apenas de palestras, mas sim de viagens, de intercambio com outras experiências de aproveitamento das águas disponíveis com irrigação. Foi assim que um grupo de jovens começou a tomar gosto pela produção e iniciou

a elaborar novos projetos. A grande novidade do trabalho de Nereide consiste em estimular o trabalho de cooperativa, para que as pessoas envolvidas no projeto se sintam responsáveis. Em um contexto como o nosso, dominado pelas administrações locais que tentam de controlar qualquer iniciativa atrapalhando amiúde a iniciativa popular e individual – exemplo estrondeante são

as

associações

comunitárias

manipuladas

e

sistematicamente

desestruturadas pelo poder político local – a proposta e o sucesso do trabalho de Nereide merece um monumento. “ Vimos a necessidade – afirmou Nereide na ONU - de criar mais uma Cooperativa para organizar e comercializar o produtos excedentes. Organizamos em tempo record, em 30 dias estávamos legalizados o que geralmente dura um ano. O técnico muito eficiente ajudou também a acessar as Políticas Públicas que é o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) CPR doação onde compramos os produtos dos agricultores e agricultoras e fazemos doação para a merenda escolar. Logo em seguida fizemos uma CPR Estoque na compra de leite garantindo o preço mínimo e conseguimos estocar 80 toneladas de leite e vender para o próprio governo”. Nereide não foi para Nova Iorque para conversar de assuntos teóricos, sem nenhum fundamento na pratica como amiúde fazem os políticos, mas mostrou idéias junto a experiências concretas. No final da palestra Nereide apontou algumas propostas que poderiam ser aproveitadas, divulgadas e incentivadas nos países em desenvolvimento pela mesma ONU.

1.

Aproveitar os alimentos disponíveis em cada ecossistema;

2.

Fazer um grande estudo dos alimentos disponíveis

aproveitando o conhecimento popular e unindo com o científico;

3.

Tecnologia apropriada de produção de alimento que passa

pelo: armazenamento de água, tecnologia de irrigação, organização da produção com compras do excedente, beneficiamento, industrialização e comercialização paras todos os que dela necessitam; 4.

Incentivo para a formação de Cooperativas com mulheres

na coordenação, pois essas vêem o alimento como gerador de vida; 5.

Disponibilizar terra. Terra para quem nela trabalha;

6.

Trazer a juventude como protagonista deste desafio;

7.

O alimento deve ser visto como gerador de vida. As

produtoras e produtores devem ter o domínio de todo o processo do plantio, colheita industrialização e consumo, sem atravessadores; 8.

Políticas públicas a exemplo do PAA nas CPR estoque e

CPR doação; 9.

Formação de jovens para a agricultura com visão de

mulheres agricultoras. 10. Mulheres em todos os espaços de discussão de alimento (Ministério , Secretarias Estaduais e Secretarias Municipais).

Não sei se a ONU vai acatar todas estas propostas. Sem duvida os altos funcionários dos trinta países presentes ao evento devem ter anotado alguma coisa. A esperança é que os projetos que a equipe de Nereide está realizando em Pintas possam encontrar acolhida também em outros Municípios da região.

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