Uma possível narrativa para pensar os destinos da religião no mundo contemporâneo

June 19, 2017 | Autor: E. Ribeiro | Categoria: Teologia, Filosofía, Religião
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RIBEIRO, Elton. Uma possível narrativa para pensar do destinos da religião no mundo contemporâneo. In: Carlos Roberto Drawin; Jacqueline de Oliveira Moreira; Márcio Antônio Paiva; Fabiano Veliq. (Org.). Destinos da religião na contemporaneidade: um diálogo com a psicanálise, a filosofia e as ciências da religião. 1ed.Curitiba: Editora CVR, 2015, v. 1, p. 201-210.

UMA POSSÍVEL NARRATIVA PARA PENSAR OS DESTINOS DA
RELIGIÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Elton Vitoriano Ribeiro (FAJE)

Partindo do diálogo com alguns pensadores contemporâneos, pretendo apontar para alguns elementos importantes para a construção de uma narrativa possível sobre a situação e o lugar da religião no mundo contemporâneo. Farei isso primeiro, buscando compreender o lugar da religião em uma era secular como a nossa. Depois, apontando algumas intuições importantes para a reflexão sobre a religião em seu duplo papel, de lugar social propício ao florescimento humano e de questionamento crítico de um imaginário social excessivamente imanente.

1. Uma era secular?

A interpretação do papel da religião continua sendo importante na compreensão da sociedade contemporânea. Por um lado, nossa sociedade parece, cada vez mais, secularizada. Mas, por outro lado, inundada das mais variadas crenças religiosas. Além do mais, religião e política, como em muitos momentos da história da humanidade, continuam se relacionado. Em muitos casos, argumentos religiosos são elementos de justificação de ações políticas, seja no cenário internacional, como nas obscuras ações terroristas; seja nos debates políticos nacionais, onde grupos religiosos pressionam decisões que afetam toda sociedade. Neste cenário, como não poderia deixar de ser, líderes religiosos estão presentes nos meios de comunicação proferindo suas crenças, doutrinas e visões de mundo, na maioria das vezes de forma fechada e pouco justificada racionalmente. Diante de tudo isso surge à pergunta: qual o papel da religião nas sociedades contemporâneas? A religião é uma ameaça para as sociedades atuais, ou um elemento importante para o surgimento de novas e inesperadas oportunidades? É possível pensar a religião como fator de coesão social e humana, ou a religião deve ser relegada como algo do passado, marcada por uma estrutura de mundo pré-científica?
Para este primeiro momento o filósofo canadense Charles Taylor tem importantes contribuições. Charles Taylor (1931), importante pensador contemporâneo, tem se preocupado ultimamente com o papel da religião na sociedade contemporânea. Crítico feroz de certa corrente acadêmica que ignora a dimensão religiosa da vida humana, Taylor tem buscado compreender as mudanças culturais que marcam a consciência do sujeito contemporâneo (TAYLOR, 1997). Dentro destas mudanças, a religião possui, para Taylor, um lugar importante. A religião marca o imaginário social das nossas sociedades e das nossas formas de sermos sujeitos engajados em tradições e contextos que nos constituem.
Para investigar tal questão Taylor lança uma pergunta: "porque era virtualmente impossível na sociedade ocidental não crer em Deus, por exemplo, em 1500, enquanto em 2000, para muitos de nós, esta escolha aparece não apenas fácil, mas inevitável?" (TAYLOR, 2010, p.). A resposta de Taylor é que vivemos em uma era secular. Ora, podemos compreender o fenômeno da secularização de três maneiras: como um esvaziamento religioso dos espaços públicos, como declínio da fé e das práticas religiosas e como um processo de mudança das condições culturais para a crença religiosa. Nesta última acepção, a secularização é entendida como um momento de transição de uma sociedade na qual a fé em Deus era adquirida culturalmente, nas famílias, instituições e sociedade, para uma sociedade onde a fé religiosa é uma opção entre outras. Esta última é, para Taylor, a forma mais interessante de entender a secularização, a que mais influencia as duas interpretações anteriores, e a que exige uma nova interpretação dos horizontes culturais presentes nas sociedades contemporâneas.
Mas, como a história começa? Na narrativa de Taylor, três motivos asseguravam a facilidade da crença religiosa em 1500 nas sociedades ocidentais. Primeiro obviamente, Deus era o criador. Criador do qual emana toda realidade e para o qual tende toda finalidade. Num segundo momento, o mundo humano era interpretado como um mundo organizado, fechado e totalmente depende da vontade de Deus. Especialmente em momentos importantes como nascimentos e mortes, mas também em eventos naturais catastróficos, como tempestades, epidemias, destruições, a mão de Deus era evidente. Por fim, o mundo humano era compreendido como povoado por espíritos bons e maus, anjos e demônios, que influenciavam constantemente a existência humana. Em um mundo encantado, mágico, como esse, duvidar de Deus era um absurdo. Portanto, o lugar da religião estava garantido.
Este mundo foi progressivamente desaparecendo. Para Taylor houve um desencantamento crescente com a realidade anterior, motivado pelo crescimento da racionalidade científica, por uma crescente autonomia do indivíduo e uma nova ordem moral gestada a partir das transformações anteriores. Tudo isso foi gerando o que Taylor chama de quadro de referência imanente, não fundado em estruturas religiosas ou acontecimentos extraordinários, mas no consenso, mais ou menos racional, entre as pessoas. Este quadro imanente acaba gerando uma nova ordem para a vida social. Nova ordem que já não tem mais Deus como fundamento, mas sim a justificação racional de tipo instrumental. Por racionalidade instrumental entendo aquela racionalidade que tem por finalidade submeter "todas as esferas simbólicas do ser humano – pensamento, sensibilidade, ação – canalizando-as para um único alvo desenhado no proclamado único espaço da vida humana que pode reivindicar a prerrogativa do absoluto: o espaço do produzir, do consumir e do usufruir" (LIMA VAZ, 2000, p.79).
Neste complexo processo de mudança dos horizontes de interpretação da realidade, dos imaginários sociais, algo muda na compreensão que o ser humano possui de si mesmo. A religião perde progressivamente seu lugar não apenas na ordenação social, mas também no projeto humano de realização pessoal como indivíduo. A vida cotidiana, lugar de nossa autorrealização, é cada vez mais marcada pela economia e pela racionalidade instrumental. Nós nos compreendemos como indivíduos que temos que construir nossa própria realidade, tal qual um artista moderno, do nada. Nenhum herói, nenhuma ajuda sobrenatural poderá vir em nosso socorro. Está nova concepção de indivíduo, propriamente moderno, é diferente da concepção anterior, totalmente porosa às influências e manifestações externas. Cada vez mais a ideia de que a natureza humana pode florescer muito melhor quando liberta das crenças obscurantistas e iluminada pela racionalidade, pelas ciências, ganha força neste novo cenário.
Não é difícil de ver o bom terreno para o nascimento de Reforma (a partir de 1517). A busca por uma espiritualidade mais pessoal e interiorizada, menos institucional e ritualizada devocionalmente ganha força neste novo contexto. A religião ganha forças novamente, mas desta vez de forma diferente. Agora, a soberania é de Deus, e todas as pessoas estão em igual situação. A vida religiosa, neste novo cenário, deve ser vivida no ordinário da vida cotidiana. Surge um novo humanismo que promove a realização humana nas coisas cotidianas e simples da vida comum. A santidade não está mais nos mosteiros e no clero, mas na generosidade e perseverança do crente. Um novo tipo de sociedade irá surgir desta realidade. (WEBER, 1967).
Outros elementos, de ordem mais filosófica, poderiam ser elencados aqui. Por exemplo, o nominalismo que propunha uma revisão da concepção de religião e de vontade de Deus, diferente do Tomismo reinante. O renascimento que buscava ordenar o mundo por meio das ciências e das artes. E, também, um novo imaginário advindo da visão pessimista de alguns reformadores que viam a existência humana dentro de um horizonte jurídico penal fortemente influenciado pelo pecado, o que gerou um ambiente social muito repressor em alguns lugares.
Neste complexo processo que anteriormente apenas acenei, Taylor dirige seu olhar para o imaginário social que vai se formando e dando um novo lugar para a religião (TAYLOR, 2004). Vale lembrar aqui que por imaginário social devemos entender o horizonte de interpretação e compreensão do mundo, horizonte que se constrói narrativamente e vem muito antes das teorias com suas explicações, análises e distinções. Ele é o pano de fundo de nossas vidas e da maneira como as realidades fazem sentido para nós. É aqui que a religião começa a ter um novo lugar nas sociedades contemporâneas. Sendo assim, não podemos compreender a secularização como a passagem de uma sociedade e cultura fortemente religiosa para uma sem crenças religiosas. Isso seria simplificar muito. A sociedade contemporânea não é simplesmente irreligiosa. A religião continua presente num novo lugar. Para Taylor, distintas caracterizações apontam para este novo lugar. Se antes a ligação do indivíduo com Deus acontecia através das igrejas, agora surge uma maior liberdade quanto à vinculação. Novas denominações religiosas e igrejas vão surgindo. Muitas pessoas, desvinculando-se da tradição que herdaram de suas famílias, podem seguir outros caminhos que escolheram. Também se tornou muito comum o indivíduo não associar-se mais a uma igreja ou a uma doutrina. A busca agora é por um caminho de autorrealização ou uma proposta espiritual. Neste caso, o guia mais seguro e confiável de realização é a intuição pessoal. A espontaneidade e a experiência direta com o sagrado são mais buscadas do que uma religião estável e bem organizada. Parece que a sede de transcendência ainda está presente na forma de uma religião mínima, em formas de oração e meditação, obras de caridade, grupos de aprofundamento e partilha, peregrinações, etc. É a religião e a religiosidade sobrevivendo e se renovando numa sociedade secularizada como a nossa. Renovada menos na força das instituições e mais na valorização das intuições transformadoras. A busca espiritual do ser humano continua com sinais diversificados de realização religiosa.
A história desta narrativa é longa. Poderia continuar aprofundando muitos aspectos. Nesta história narrativa, cada pessoa, diante dos conflitos e dilemas da vida, mas também diante das realizações e alegrias, constrói criticamente sua relação com a religião. Adesão total, adesão parcial, indiferença, repulsa. Muitas são as possibilidades. Para Taylor, a maioria das pessoas das nossas sociedades contemporâneas encontra-se em uma posição mediana entre os extremos das religiões fundamentalistas e os materialismos redutores da vida humana. A religião, portanto, sobrevive. Ora, se ela sobrevive, então vale a pena pensar sobre os itinerários que alguns pensadores apontaram em suas reflexões para compreendê-la como ainda relevante para o mundo contemporâneo.

2. Construindo alguns itinerários

Para pensar filosoficamente sobre os destinos da religião no mundo contemporâneo precisamos de muitas vozes. Na filosofia, o diálogo é sempre fonte propícia para o aprofundamento e o alargamento da reflexão. Aqui, vou conversar com alguns autores que são importantes para minha caminhada reflexiva. Mas, antes, algumas demarcações. Filosoficamente, a religião pode ser compreendida como um conjunto simbólico de sentido, expresso, na maioria das vezes, em um sistema de pensamento. Este sistema tem por finalidade articular um conjunto de crenças em Deus ou numa realidade superior, sobrenatural. Esta realidade, vinculada a uma religião específica se concretiza num conjunto de mitos, crenças, dogmas, doutrinas, ritos e práticas. É a religião visível e concreta influenciando a vida das pessoas. Esta influencia é também social. O conjunto das pessoas que aderem a uma determinada religião tem incidência na vida da sociedade e das outras pessoas, mesmo que estes outros não professem a mesma religião.
Sendo sistemas complexos de teoria e prática, as religiões exercem um grande fascínio para o pensamento filosófico. A filosofia historicamente tende a concentrar seus esforços de interpretação e especulação na direção de compreender criticamente as afirmações e práticas religiosas. Por exemplo, a filosofia da religião contemporânea tem empenhado grande esforço em estudar os argumentos a favor e contra a existência de Deus, o uso e o sentido da linguagem religiosa e o pluralismo religioso presente nas nossas atuais sociedades. Assim, é fácil compreender como a religião possui a importante função de articular simbolicamente as perguntas e questões fundamentais da existência humana sobre o transcendente, o sentido da existência e o próprio existir humano no mundo. Lima Vaz resume a importância da religião argumentando: "a religião é, nas sociedades até hoje conhecidas, o centro mesmo do processo instituidor do corpo social na sua dimensão imaginária ou simbólica" (LIMA VAZ, 1991, p.286).
Buscando compreender o lugar da religião hoje, quero rapidamente apontar para as ideias de alguns pensadores que podem ajudar indicando caminhos novos para novas narrativas. Farei isso apoiado em pensadores da tradição católica que conheço. Além da potência do pensamento destes intelectuais, a tradição cristã católica ainda continua, fortemente, a compor nosso imaginário social contemporâneo. Estes pensadores tem a fundamental intuição de pensar a religião em sua essencial ligação com a pergunta pelo sentido e pela vida humana em sua totalidade. Todos estes pensadores esforçaram-se em repensar os fundamentos da religião e das razões da própria esperança como pessoas religiosas. Eles, como muitos outros, ao pensarem a religião nos apresentam itinerários para também nós traçarmos nossos próprios caminhos.
Um pensador essencial para o mundo contemporâneo é Karl Rahner (1904-1984). Movido por uma profunda preocupação pastoral, quer dizer prática, Rahner preocupou-se em ajudar seus contemporâneos a refletirem sobre o profundo mistério de Deus presente na religião. O contexto de Rahner é parecido com o nosso: uma cultura moderna que colocou a religião em crise. Crise que atingiu a linguagem da oração e os ensinamentos religiosos que soavam vazios e sem sentido para muitas pessoas. Ele esforçou-se por entender o caminho da religião como um caminho mistagógico. Caminho de iniciação ao mistério de Deus na vida concreta das pessoas. Para Rahner, antes das doutrinas, dos ritos, das normas, a religião é expressão de um sim ou um não ao amor presente misteriosamente nas vidas humanas. Ora, sempre estamos orientando nossas vidas em uma determinada direção. Em momentos de desafios, adversidades e conflitos, sentimos um chamado a irmos além de nossas forças. Outras vezes, em momentos de profunda alegria, contentamento e amor, fazemos uma experiência implícita de algo maior. Mas em todos os momentos, Rahner está convencido de que existe um magnetismo divino operante em cada coração, que ele chama de graça, e que nos atrai em direção à verdade e ao amor. Em termos religiosos é a vontade universal de Deus em doar a salvação a todos os homens e mulheres. Essa vontade ele chama de autocomunicação do mistério e do amor divinos. Ora, a religião tem essa profunda tarefa, propor um itinerário salvífico onde o ser humano, atento a misteriosa presença de Deus na vida, se abre generosamente a acolhida desta presença criadora e gratuita da graça transformadora de Deus que é amor (RAHNER, 1995).
Outro pensador essencial, contemporâneo de Rahner, e sempre em um conflitivo diálogo com ele foi Hans Urs Von Balthasar (1905-1988). Para Balthasar o ser humano está constantemente interpelado pelo divino, pelo sagrado. Por isso, a experiência religiosa tem sempre dois momentos, o do reconhecimento e o da resposta. O ser humano, quando atento ao mistério da existência, reconhece o drama da liberdade humana diante do esplendor deste mistério que supera sua compreensão, e responde a este mistério que se faz presente no amor. Para Balthasar, a grandeza de Deus é sentida como mistério. A este mistério ele chama de glória. Esta glória tem seu centro no amor. E só o amor é digno de fé. Reconhecer o mistério de Deus presente no amor exige disponibilidade e reverência. Exige uma lógica diferente, uma lógica de abertura face ao mistério de Deus que para Balthasar resplandece no rosto de Cristo. Beleza e liberdade marcam o pensamento de Balthasar, e podemos dizer, sua forma de compreender a religião, especificamente para ele, a cristã. Assim, para Balthasar a fé religiosa é movimento, é uma aventura, é um constante participar da obra de Deus realizada na história. Como numa peça de teatro, a existência humana é uma dramática narrativa onde Deus é o artífice e a fé uma resposta humana a este acontecimento. Desta forma é fácil perceber que para Balthasar a fé religiosa é sempre luta e decisão, com seus altos e baixos. Mas neste caminho, a glória de Deus presente no mistério religioso é sempre maior do que nossas tentativas de domínio deste mistério por meio das religiões existentes (BLATHASAR, 2008).
A reflexão destes dois pensadores ajuda a colocar alguns pontos importantes para refletir sobre o lugar da religião na sociedade contemporânea. Aqui foi possível esboçar apenas esquematicamente a intuição fundamental de cada um deles. Mas, a partir deles, proponho alguns pontos para uma reflexão crítica sobre o lugar da religião no mundo contemporâneo.
Socialmente, a religião tem um papel importante. O perigo aqui é a religião ficar submetida ao campo de forças do universo político e social, orientado pela racionalidade instrumental e pelas ideologias, e perder assim seu significado de transcendência, de mistério. Desta forma, a religião se torna mais uma categoria social, importante, mas comandada pela preocupação atual com a utilidade e a eficácia. O esquecimento da dimensão da transcendência diminui não apenas o papel da religião na sociedade, mas também transforma a autocompreensão do próprio ser humano e da sociedade. A insatisfação existencial do ser humano e seu desejo de plenitude, a busca incansável pelo melhor e pelo mais justo, a necessidade de reconhecimento e sua dilacerante busca pelo sentido ficam confinadas ao, como explicitei com Taylor, quadro de referência imanente. Quadro de interpretação que busca respostas, também imanentes, para um problema que toca o mistério mesmo da existência humana no mundo.
Penso ter deixado claro anteriormente que, para compreender nosso mundo, é importante ter sempre presente que a cultura contemporânea coloca grande valor na racionalidade científica. A busca de uma objetividade científica parece invadir todos os âmbitos da sociedade. Ora, a racionalidade instrumental e científica é movida pela ideia do impessoal, do objetivo, e na dimensão humana, do indivíduo autossuficiente. Por um lado, a religião, fazendo-se parceira desta racionalidade tende a ser como ela, um mero instrumento nas mãos das mais variadas ideologias. Por outro lado, se a religião se alia a crítica filosófica, além de poder evitar extremismos, pode se abrir à dimensão da afetividade e da espiritualidade. Liberdade, afetividade e beleza precisam estar presentes na vida da religião. A religião, para verdadeiramente atingir o ser humano, precisa se aproximar da dimensão estética da vida humana, da experiência da arte e do conhecimento espiritual, presentes especialmente na experiência dos místicos (TORRI, 2015). Estas experiências constituem nossa existência e estão profundamente presentes na história das religiões tradicionais de forma muito valorizada em algumas épocas. Estes caminhos nos remetem à lógica das relações. Lógica presente na dimensão afetiva da vida humana e que, junto com a racionalidade crítica filosófica, podem fazer da religião caminho de florescimento humano.
Para finalizar está narrativa, aponto para a intuição fundamental de Lima Vaz. Ele, ao pensar a religião em sua figura histórica cristã argumenta: "A revelação cristã coloca o ser humano diante do apelo de um Deus que é amor gratuito (...) e a revelação desse amor descobre a um tempo a indigência essencial e a grandeza do ser humano, grandeza que se manifesta na abertura à graça de uma resposta que só pode ser, igualmente, dom gratuito de si" (LIMA VAZ, 2000, p.81). A partir desta intuição, talvez a tarefa de pensar os destinos da religião no mundo contemporâneo esteja muito próxima à tarefa fundamentalmente humana de preocupar-se com o outro. Por um lado, deixando que a relação de transcendência assuma uma feição eminentemente ética, numa atitude de acolhida, escuta e diálogo. Por outro lado, deixando que esta tarefa seja caminho de perguntar pelo existir e pelo sentido, que nos é dado, simbolicamente, pelo pensar religioso, e explicitado racionalmente pela filosofia. Um pensar que nos abra, profundamente, ao mistério do existir humano no mundo.

Bibliografia
BALTHASAR, H.U. Só o amor é digno de fé. Lisboa: Assírio e Alvim, 2008.
LIMA VAZ, H. Escritos de filosofia I: Problemas de fronteira. São Paulo: Loyola, 1991.
LIMA VAZ, H. Experiência mística e filosofia na tradição ocidental. São Paulo: Loyola, 2000.
RAHNER, K. Curso fundamental da fé: introdução ao conceito de cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995.
RIBEIRO, E. Uma interpretação das relações entre filosofia e teologia a partir da hermenêutica. Atualidade teológica. Rio de Janeiro, v.15, n. 39, p. 273-296, m.09, 2011.
RIBEIRO, E. Religião, verdade e hermenêutica. Revista Horizontes. Belo Horizonte, v.9, n.21, p. 354-361, abr./jun., 2011.
RIBEIRO, E. Existe um imaginário social secularizado na América Latina? Revista Horizonte. Belo Horizonte, v.11, n.29, p.133-148, jan./mar., 2013.
TAYLOR, C. As Fontes do Self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Loyola, 1997.
TAYLOR, C. Imaginários sociais modernos. Lisboa: Texto e Grafia, 2004.
TAYLOR, C. A era secular. São Leopoldo: Unisinos, 2010.
TAYLOR, C. Reason, Faith and Meaning. Faith and Philosophy. Journal of the society of Christian philosophers, v.28, n.1, pp. 5-18, January 2011.
TORRI, R. Experiência mística e psicanálise. São Paulo: Loyola, 2015.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1967.

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