Uma Proposta de Investigação da Autoria e Cooperação no Uso Educativo das Redes Sociais

May 30, 2017 | Autor: A. da Cunha | Categoria: Redes Sociais Na Educação
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Uma Proposta de Investigação da Autoria e Cooperação no Uso Educativo das Redes Sociais Arisnaldo Adriano da Cunha Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Leoberto Leal/SC – Brasil [email protected] Andrea Brandão Lapa Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis/SC - Brasil [email protected]

Resumo Na relação entre a cultura digital e a educação, a aprendizagem seria um exercício de autoria e cooperação, onde professores e alunos aprendem trabalhando em conjunto, através da interação, o que é potencializado principalmente pelas redes sociais. Este artigo apresenta um modelo de investigação que permite analisar como as redes sociais podem contribuir para a formação crítica. Consiste em uma metodologia qualitativa de pesquisa cuja finalidade é selecionar e definir indicadores de investigação para os conceitos de Autoria e Cooperação a partir do referencial teórico, e desenvolve métricas para a análise de conteúdo das trocas comunicativas entre alunos e professores no grupo fechado criado no Facebook. A pesquisa está ainda em fase de análise em uma escola pública estadual brasileira, porém o modelo de investigação já se mostrou um instrumento capaz de colaborar para pesquisa ação de professores interessados na investigação qualitativa de suas práticas nas redes sociais. Palavras chave: Autoria, Cooperação, Metodologia Qualitativa, Rede Social.

1 Introdução A cultura digital coloca muitos desafios para a educação. Antes de tratar ambos como campos em disputa, a proposta deste estudo é buscar as sinergias oriundas da sua integração. Começa por reconhecer a contribuição da Web para o (re)nascimento do sujeito engajado, conforme Rojo (2013), um coautor, com mais possibilidades de leituras, debates e produções que podem promover o seu protagonismo. E também, por reconhecer o importante papel do campo educacional, ainda resistente à integração de TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) na escola, nas referências de uma apropriação crítica destas tecnologias através da experimentação de novas metodologias nas práticas pedagógicas cotidianas de professores e alunos.

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Acontecimentos como “Primavera Árabe”, movimento “Vem pra Rua” em 2013, e a recente ocupação das escolas de São Paulo por estudantes, nos fazem pensar no protagonismo possibilitado pelos espaços públicos utilizados para o debate democrático e também para a aprendizagem. Nesta perspectiva, Mendes Junior (2010) entende que o contexto da comunicação digital pode catalisar e potencializar estas mudanças, provocando os indivíduos na direção de se tornarem sujeitos autores, que são capazes de agir para transformar seu contexto social. A novidade está para Castells (2003), em algumas circunstâncias inéditas, tal como o papel de emissor agregado ao de receptor ou a auto-comunicação de massa que desestabiliza relações de poder. Neste sentido, o principal desafio que se apresenta à escola é superar o modelo tradicional de transmissão de conteúdos e descobrir brechas de possibilidades para subverter o molde de reprodução. Defendemos que a integração de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação na escola apresenta-se como uma oportunidade, por catalisar uma reflexão das práticas escolares e mesmo do sentido da educação e o papel da escola na cultura digital. Diante deste cenário, da possibilidade de criação de espaços de formação de sujeitos para a transformação social, problematizamos como as redes sociais na web podem contribuir para a formação crítica e uma educação emancipadora no contexto escolar formal e presencial. E destacamos a autoria e a cooperação como fatores importantes a serem estudados. Partimos da hipótese de que intervenções pedagógicas com a mediação adequada dos professores, aliadas ao uso crítico e criativo de rede sociais como o Facebook, poderão contribuir significativamente para a construção do conhecimento científico e a formação de sujeitos autônomos e críticos. E estudamos maneiras de investigar a utilização da internet em práticas pedagógicas que tenham esta finalidade, com o intuito de oferecer subsídios a professores, tanto em suas práticas como na pesquisa que buscam fazer sobre elas. Apresentamos neste artigo um modelo de investigação que permitiu identificar e analisar a autoria e cooperação em práticas pedagógicas nas redes sociais. Trata-se de um desenho de pesquisa que selecionou algumas variáveis analíticas a partir de conceitos oriundos do aporte teórico da pesquisa, e elaborou indicadores e métricas de observação das trocas discursivas dadas em um grupo fechado criado no Facebook. O objeto empírico desta investigação foi a intervenção pedagógica realizada no 3o ano do ensino médio da escola estadual Bertino Silva do município de Leoberto Leal, Santa Catarina, Brasil.

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2 As Redes Sociais e a Formação Crítica na Web A internet transforma o modo como nos comunicamos, o que provoca impactos sobre diversas esferas da vida humana por construir um novo padrão da interação social. Segundo Castells (2003), a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público, porém este espaço se articula hoje na intersecção entre o físico e o virtual. O que acontece nesta virtualidade faz parte inevitável de nossas vidas, quer estejamos ou não conectados e incluídos nela (Castells, 2013). Isto significa que on-line e off-line se complementam e que atuamos em espaços híbridos. Esta realidade não está distante da educação. Tanto as escolas não precisam estar afastadas daquilo que acontece nas redes sociais, como a ação política engendrada nestes espaços sociais pode contribuir para a formação crítica de sujeitos, podendo também estar presentes em uma educação que vise a emancipação. De modo que as redes sociais não são opostas à sala de aula, porque a aprendizagem acontecerá de maneira híbrida também, em uma complementariedade de ambos os espaços vividos por professores e alunos. Uma primeira contribuição desta aproximação pode ser pensada através da integração das tecnologias digitais nas habituais práticas de ensino, potencializando mudanças nas formas de comunicação e metodologias de aprendizagem na sala de aula. Neste caso, amplia-se o acesso a várias fontes de pesquisa, informações a materiais multimídia. Mas salientamos uma contribuição pouco considerada na escola, que é o potencial das redes sociais possibilitarem ao aluno sair da condição de ouvinte para de emissor, sujeito e ator. Neste sentido, as redes sociais como um espaço público de comunicação pode ter muito a contribuir para o processo educativo da escola, a partir das interações sociais que acolhe e engendra tornando-se um espaço público educador difícil de ser ignorado. A integração das redes sociais no ensino apresenta muitos desafios. Defendemos como Moran (2007), a importância da mediação crítica do professor, que ajudará a questionar, a procurar novos ângulos, a relativizar dados, a tirar conclusões, habilidades imprescindíveis diante do acesso diversificado às informações sobre os fenômenos do mundo. Estamos afirmando, segundo Morin (2010), que uma formação crítica vai além de acumular saberes, mas passa por uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas, princípios organizadores que permitem ligar os saberes e lhes dar sentido. Esta formação acontece em contextos sociais onde os professores tem um papel importante a desempenhar, que obviamente não está restrito ao acesso aos conhecimentos. Atas do VII Congresso Mundial de Estilos de Aprendizagem

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O grande desafio seria, agora, fazer uso das tecnologias dentro de uma mentalidade questionadora e crítica. Para Buckingham (2010), a crescente convergência da mídia atual significa que precisamos abordar as habilidades e competências, os múltiplos letramentos, demandados pelos conjuntos de formas contemporâneas de comunicação. Uma pedagogia nesta direção para Rojo e Moura (2012), seria uma possibilidade prática de que os alunos entendam como diferentes tipos de texto e de tecnologias operam, sejam analistas críticos na recepção, estejam aptos à produção e capazes de usar o que foi aprendido de novos modos, de tal maneira que se transformem em criadores de sentidos. Esta é a perspectiva crítica da apropriação de tecnologias na educação. Por uma via cibercriticista, na perspectiva de Rüdiger (2011), que defende um caminho alternativo que não resista às tecnologias (via tecnófoba) nem as compreenda como o antídoto de problemas históricos da nossa sociedade (via tecnófila). Uma educação de qualidade com tecnologias está ancorada em uma apropriação crítica e criativa como defende a Mídia Educação, Belloni (2011), como objeto de estudo e instrumento pedagógico. Ela implica a ação de sujeitos, que estejam conscientes dos condicionamentos embarcados nas tecnologias, mas que busquem alternativas a eles. Entendemos que sujeito crítico no contexto da cultura digital é aquele que questiona, problematiza, constrói suas próprias ideias e contextualiza, tornando-se autor de seu processo de aprendizagem colaborando e cooperando. “A cidadania que se acentua agora é aquela que sabe pensar, bem informada, capaz de produção própria de conhecimento, autora” (Demo, 2012, p.3). Não adianta, pois, decorar conteúdos. É preciso saber reconstruí-los. Portanto, devido às circunstâncias de imersão digital, portabilidade e mobilidade, a Autoria e a Cooperação são fatores importantes para a formação crítica na web e em uma educação de qualidade, porque possibilita aos alunos e professores tornarem-se protagonistas na construção de conhecimento.

3 Autoria e Cooperação no Processo de Aprendizagem da Cultura Digital As teorias construtivistas, na visão de Mattar (2013), são as que mais teriam influenciado a aprendizagem mediada pela tecnologia: centrada no aluno, como processo ativo, e não passivo; o contexto, a linguagem e outras ferramentas sociais na construção do conhecimento. “A proposta de centrar no aluno implica focar na construção própria de conhecimento e

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controle próprio do processo de aprendizagem, valorizando a experiência anterior para reconstruí-la” (Demo, 2012, p.6). A autoria para Jenkins, Green e Ford (2014), estaria na ação do público não ser mais visto como mero consumidor de mensagens preconcebidas e sim como agente criador de valor e significado, pois ele escolhe, compartilha, reconfigura e remixa conteúdos de mídia. O aluno que tem autoria demonstra saber participar, compartilhar, modificar, construir, aumentar; agir e interferir no programa e/ ou conteúdo. Para Silva (2006), autoria está na qualidade e quantidade de interações, na expressão e confrontação, na co-autoria, na co-criação. Mas não é simples desenvolver tais atributos na escola. Para Dalri e Junckes (2003), promover a autoria estaria em incentivar os alunos a construírem suas próprias ideias e reformularemnas a partir das ideias dos outros, falarem uns com os outros e ouvirem o que os colegas dizem. Buscarem razões para justificar suas próprias crenças e manifestarem o que pensam, incentivando o professor a não monopolizar o diálogo falando excessivamente. Talvez isso seja mais fácil no mundo da web 2.0, onde há “o nascimento do leitor como sujeito engajado, com mais possibilidades de leituras, debates e produções que podem promover o seu protagonismo” (Rojo, 2013, p.84). Mas traz outros desafios, como a ideia do leitor como coautor, dada a escrita colaborativa, a remixagem e a circulação em rede de diferentes textos, onde a noção de autor como criador originário é deslocada. Daí aproxima-se autoria e cooperação. Isto é, a aprendizagem seria um exercício de autoria e cooperação, onde professores e alunos aprendem trabalhando em conjunto, colaborando e cooperando uns com os outros através da interação, o que é potencializado principalmente pelas redes sociais. Nesta perspectiva, a autoria é construída na cooperação, no coletivo, na troca, no diálogo, na participação conjunta, porque a aprendizagem é um processo de construção do discente que elabora os saberes através das interações com os outros. Nesta interação, segundo Silva (2006), o aluno não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas, mas cria, modifica, constrói, aumenta, torna-se coautor. Para existir cooperação, na opinião de Belloni e Gomes (2008), deve haver interação, colaboração, mas também objetivos comuns, atividades e ações conjuntas e coordenadas. Cooperação implica em compartilhar conhecimentos, possibilitando a contribuição individual para a construção coletiva. Neste contexto, para Silva (2000), a questão do consenso é fundamental, uma vez que o grupo necessita acordar sobre a forma de registro de suas ideias, sejam elas divergentes ou não.

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Pesquisas têm utilizado os termos cooperação e colaboração como sinônimos. Porém, cada um deles, ao longo dos anos, desenvolveu distinções próprias e diferentes práticas em sala de aula. Para este trabalho, assumiremos que a cooperação, vai além da colaboração, pois transcende a ajuda para a realização de trabalhos, o co-labor, a divisão de funções e tarefas entre os integrantes do grupo ou equipe de trabalho. A cooperação requer haver, conforme Belloni e Gomes (2008), um objetivo comum, um compromisso com a realização de um projeto que é coletivo. Para a cooperação deve haver colaboração, mas a recíproca nem sempre é verdadeira. Observa-se, portanto na cooperação uma importante habilidade para uma educação de qualidade, no aprender fazendo com os outros, dividindo tarefas com objetivos comuns, não somente no chão da escola, mas para uma sociedade mais ética e humanitária. Neste contexto, a comunidade escolar é desafiada a planejar atividades de aprendizagens que incentivem a autoria e a cooperação, catalisando a criatividade e espontaneidade que os jovens manifestam naturalmente no espaço virtual, para o ambiente da sala de aula. Mas como promover a cooperação e a autonomia na escola? E, principalmente, como as tecnologias digitais, especialmente as redes sociais na web 2.0, podem contribuir para o desenvolvimento destas habilidades? No enfrentamento deste desafio, uma intervenção foi realizada, entre os meses de agosto e novembro de 2015, na escola estadual de Educação Básica Bertino Silva, no município de Leoberto Leal, Santa Catarina, Brasil, de aproximadamente 392 alunos. A intervenção consistiu na organização de um grupo fechado no perfil de um professor no Facebook, onde 37 formandos do ensino médio, juntamente com 19 estudantes de outra escola, EEB Prefeito Frederico Probst, do município de Petrolândia – SC, e 06 professores de diferentes disciplinas (Matemática, Química, Biologia, Língua Portuguesa, Filosofia e História), foram cadastrados, com a finalidade de estudar para as provas do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. Esta intervenção trouxe outros tantos desafios, desta vez para a pesquisa. Com o objetivo de realizar uma pesquisa qualitativa da própria intervenção, nos deparamos com algumas questões, entre elas: como mapear uma conversação ou publicação no Facebook? Como identificar que houve Autoria e Cooperação? A partir desta problemática, elaboramos uma metodologia, um modelo de investigação para a análise das categorias autoria e cooperação nas interações realizadas nas redes sociais.

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4 Metodologia de Análise do Facebook na Educação A integração das redes sociais no ensino é um cenário potencial de transformação, que, no entanto, ainda carece de investigação. Nosso estudo está alocado no desafio da complexidade da pesquisa nas redes sociais, ora pela grande quantidade de dados, ora pela busca de métodos e técnicas de investigação qualitativa, ora pela carência de casos de estudo. Com o objetivo de contribuir para o campo da educação, especialmente quanto à pesquisa da internet na educação e quanto à formação de professores para a apropriação crítica de tecnologias digitais, apresentamos um desenho de pesquisa. Trata de uma metodologia de pesquisa qualitativa das redes sociais no uso dado por alunos e professores no contexto escolar de ensino formal e presencial e consiste em um método de investigação cuja finalidade é investigar a presença de autoria e cooperação na produção e publicação de conteúdos no ambiente virtual. A partir do referencial teórico de Silva (2006) e Belloni e Gomes (2008) tomamos os conceitos de Autoria e Cooperação e os assumimos como categorias analíticas. O instrumento seleciona e define indicadores de investigação para cada uma delas e cria métricas para a sua identificação nas trocas comunicativas entre alunos e professores no grupo fechado criado no Facebook. Uma análise de conteúdo destas ocorrências será realizada com vistas a encontrar fatores e circunstâncias que podem promover a existência destas categorias, Autoria e Cooperação. Os indicadores se referem às características, referências e atitudes, enquanto que as métricas têm a finalidade de demonstrar como os indicadores podem ser encontrados na prática, observadas nas expressões, frases dos comentários, conversações e falas dos vídeos elaborados pelos alunos. Categorias

Indicadores Compreensão/ Apreensão

Autoria Produção

Métricas Questiona conteúdo para compreensão Sintetiza, Conclui Contextualiza Avalia com justificativas Questiona/Problematiza (É mesmo?) Opina com argumentação Criação de algo Novo

Q S C AV P O N

Tabela 1 - Categoria Analítica de Autoria. Fonte - Elaborado pelo autor (2016).

Segundo Demo (2010), as tecnologias não são para dar aula, reproduzir, expor, mas exercitar

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autoria do estudante e professor. A mensagem da Web 2.0 é geração de conteúdo próprio. Nesta perspectiva, para a análise de dados, partimos de pressupostos para uma formação para a Autoria, que se inicia a partir da compreensão e apreensão de conteúdos, através de atitudes ou habilidades como questionar: perguntar para compreender; Sintetizar: identificar as principais ideias; Contextualizar: aplicar o conteúdo ao próprio contexto; Avaliar: elogiar e sugerir. Passando para uma segunda etapa que é a produção de conteúdos, quando se espera a atitude de problematizar: provocar reflexão; Opinar com argumentação: expor pontos de vista com fundamentação; Produzir algo novo: amplia o seu repertório a partir da 1ª ideia. A partir de estudos sobre manifestações autorais na Web no cotidiano da formação de professores, Santos e Amaral (2016) concluem que Autoria pressupõe recriar, lançar um novo olhar sobre o objeto do conhecimento, atualizando-o, fundamentada na interatividade, participação colaborativa, dialógica e conexão em teias abertas. As autoras refletem sobre a emergência da educação on-line na cibercultura que subverta um processo de ensino e aprendizagem que privilegia a aquisição de conteúdos e concede um espaço reduzido para discussões, reflexões e críticas acerca de fatos inerentes à sociedade contemporânea. O próximo instrumento, demonstrado na Tabela 2, tem o objetivo de apresentar indicadores e métricas capazes de analisar e categorizar nas conversações e publicações, atitudes de Cooperação, que segundo Belloni e Gomes (2008), consiste na presença de interação, colaboração, mas também objetivos comuns, atividades e ações conjuntas e coordenadas. A atitude de escolher visualizar, curtir e comentar um post e não outro pode caracterizar uma ação de autoria, que se configura como participar, modificar e agir. Por outro lado, a mesma atitude pode se caracterizar como cooperação quando aluno e professor como membros da equipe de trabalho e do grupo de estudos no Facebook contribui com a sua participação individual na execução da tarefa proposta. Categorias

Indicadores Reciprocidade

Troca de Informações Cooperação Participação de professores e alunos Entendimento comum

Métricas Menção nominal, convida Saudações Perguntas e respostas Compartilhamento de recurso ou informações Iniciativa do aluno Acolhimento do professor à inciativa do aluno Construção coletiva de sentido

M SA PR CI I AP CC

Tabela 2 - Categoria Analítica: Cooperação. Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

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Para mapear atitudes de interação, colaboração, objetivos comuns e atividades conjuntas e coordenadas, selecionamos métricas como: boas vindas, principalmente na interação entre alunos de escolas e/ou turmas diferentes; Menção nominal: marcar o nome do colega, provocando maior visibilidade nas publicações e participações nos debates; A reciprocidade para Recuero (2014) é a persistência da conversação entre par de atores e suas inter-relações; Troca de informações: está no compartilhamento de recurso ou informações; Participação entre professores e alunos: a possibilidade de identificar algumas intervenções de professores, comentando e esclarecendo postagens ou/e questionamentos dos estudantes; O entendimento comum: está na construção coletiva de sentidos, isto é, demonstrar mais do que troca de informações, sinais que um aprendeu com o outro, chegando a um produto final coletivo. A título de exemplo de aplicação do instrumento, apresentamos a análise dos comentários a um post de um colega no grupo de estudos para o ENEM no Facebook, sobre “Experiência no Micro-ondas”: Aluno 3 - Muito bom, (AV) já fiz também esse experimento com um celular em vários microondas diferentes, [...] Ao colocar o celular dentro de um microondas realmente percebemos que alguns deles conseguem blindar a passagem dessas ondas, já outros não (S). Porém não sabia que a radiação do microondas trazia danos a nossa saúde, muito interessante!! (CI) Prof.2 - Parabéns pela dica de experiemento. (AP) Vale a pena lembrar que este tipo de onda não é absorvida por objetos metálicos, causando um superaquecimento no aparelho, (CI) desta forma não devemos colocar alimentos em embalagens ou recipientes metálicos (P/A). No excerto analisado identificamos o indicador Avalia (AV) demonstrado na métrica “Muito bom”, emitindo parecer positivo em relação à publicação. O Aluno 3 apresenta habilidade de Síntese (S) quando conclui na frase: “[...] Ao colocar o celular dentro de um microondas realmente percebemos que alguns deles conseguem blindar a passagem dessas ondas, já outros não”. Conforme Tabela 2, encontramos ainda indicadores de cooperação no Compartilhamento de Informações (CI), quando o Aluno 3 reconhece na frase: “[...]não sabia que a radiação do microondas trazia danos a nossa saúde, muito interessante”, novas contribuições contidas no post do colega e no comentário do Prof.2, desconhecidas por ele anteriormente. A intervenção do Docente na atividade caracteriza outro indicador de cooperação: O acolhimento do professor à iniciativa do aluno (AP), na frase “Parabéns pela dica de experiemento [...]”, respondendo a iniciativa do aluno de publicar o Link, colaborando com o projeto comum que é o estudo para as provas do ENEM.

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Demo (2010) chama de Autoria Cooperativa, quando o autor pode construir publicamente sua autoria, expressando com liberdade a sua opinião, dando a chance aos leitores de tecer seus comentários e críticas. Estudantes demonstraram autoria quando a partir de sua participação, acrescentaram conhecimento no trabalho dos colegas, possibilitando um contexto de reflexão e análise crítica sobre o tema abordado. As redes sociais por si só não podem fazer refletir ou promover autoria e cooperação, mas abrem um importante caminho para a ampliação do universo da sala de aula, estimulando alunos e professores a tornarem-se produtores e não apenas reprodutores de conteúdo. É possível, portanto identificar uma visão menos instrumentalista e mais crítica, apresentando algo a mais do que a simples utilização pedagógica das tecnologias, uma mudança de postura do fazer pedagógico independente do uso das TICs.

5 Considerações Finais Neste estudo, partimos do pressuposto que a Web 2.0 pode contribuir para a formação crítica dos sujeitos. Defendemos, conforme Castells (2003), que a escola deve integrar as TIC não apenas como auxiliares no processo ensino aprendizagem, no formato professor dando aula, mas em uma cultura de criatividade intelectual fundamentada na liberdade, na cooperação, na reciprocidade e na informalidade. Que a escola se transforme num espaço de produção, de troca e compartilhamento de conhecimento e cultura, a partir do que Pretto (2013) denomina de “jeito hacker de ser”, onde vislumbramos a apropriação crítica e criativamente das redes sociais como uma oportunidade. Acreditamos que o protagonismo e o empoderamento de cidadãos são fortalecidos por fatores como autoria e cooperação, devido às circunstâncias de imersão digital, portabilidade e mobilidade. Nesta perspectiva os professores podem subverter o currículo conteudista e reprodutor, planejando coletivamente intervenções e projetos pedagógicos, que possam integrar os diversos contextos educacionais, on-line e off-line, e diferentes linguagens midiáticas. O artigo apresentou formas de estudar as conversações, interações e produções de conteúdos, especificamente para a rede social Facebook. Foram elaboradas no contexto de uma pesquisaação que visou oferecer subsídios à comunidade escolar, através de um mapeamento das participações dos alunos e professores na rede, com a finalidade de impactar os sujeitos,

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influenciar e provocar brechas de possibilidades de mudanças no “chão” da escola. Foi criado um método de investigação para identificar os conceitos de Autoria e Cooperação, como elementos determinantes para a formação de cidadãos críticos. Ainda em fase de análise, o modelo de investigação já se mostrou instrumento capaz de colaborar para pesquisa ação de professores interessados na investigação qualitativa de suas práticas nas redes sociais. O modelo de análise de investigação foi organizado no contexto competitivo do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), provas de seleção para o acesso ao ensino superior, e no espaço digital das populares redes sociais. As dificuldades e os limites do instrumento estão na tentativa além de identificar, mas propor critérios para a formação crítica de sujeitos imersos no cenário de distrações concentradas, grande número de informações segmentadas e discursos polarizados. Uma formação que supere o copiar/colar de conteúdos sem a devida reflexão. Ser autor e cooperar parece ser urgente na conjuntura da contemporaneidade. É preciso, entretanto, ir mais além. Como as conversações on-line nas redes sociais podem impactar o diálogo e o processo ensino e aprendizagem em sala de aula? Novos estudos poderão partir daqui para compreender questões importantes na sociedade digital e em rede.

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