Uma Segunda Vida

May 22, 2017 | Autor: Victor Mota | Categoria: Portuguese and Brazilian Literature
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UMA SEGUNDA VIDA

UMA SEGUNDA VIDA

Novela

Victor Ausina Mota

TENDER EDIÇÕES

Título: Uma Segunda Vida Autor: Victor Adelino Ausina Mota Conceção: Cefilo Impressão e Acabamento: Tender Edições 1ªEdição: Agosto 2010 2ªEdição: Setembro 2010 www.tender.com.pt [email protected] ISBN: Depósito Legal: Setembro 2010 Copyright do Autor Lisboa, Comunidade Europeia

A Madalena Escortelle e Jorge Boldt

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Se, por acaso da fortuna ou dos infortúnios nos fosse dado viver uma segunda vida na terra, se é que isto não está já previsto nas religiões orientais, como a viveríamos? Se acaso reencarnássemos na mesma família, se não nos fosse dado a escolher alguma forma de vida eterna, mas uma segunda vida, seja para nos redimirmos ou simplesmente por dádiva de Deus ou capricho da natureza, como a viveríamos? É isso que me proponho contar nas linhas seguintes. Chegados nós a meio da vida e tendo ultrapassado a idade de Cristo e chegado à idade em que morreu Mozart, se é que o tempo se contará de uma vida em anos, damo-nos conta da falta de aventuras, seja por dinheiro, por falta de trabalho, seja simplesmente a falta que sentimos as envelhecer definitivamente. Levanta-se a questão de se a alma morre com o corpo e para onde ela irá, para uma segunda vida eterna ou para uma reencarnação na terra, iniciando um novo ciclo de transformação em algo que em nada tem a ver com o que já vivemos. E porque a memória do que vivemos é sobretudo feita de -9-

desilusões, acentuamos a meio da vida mais o que não vivemos do que o que vivemos. Alguns diriam, doutras paragens, que este autor deveria preocupar-se em viver o resto da sua vida condignamente e esquecer todas estas hipóteses, que é o que Deus e os homens simplesmente nos apresentam. Contudo, este exercício será legítimo dado várias circunstâncias da vida do seu autor. Alguns dizem que o que somos revela-se numa determinada área, como Mozart se revelou na música ao lado de Bach. O autor não quer sugerir que se pode revelar por meio da escrita, mas assim o entender o leitor, que assim seja. Meio trabalhoso para o espírito esta forma de pensar por palavras. Seria como a nossa vida se fosse ela uma segunda oportunidade para nos realizarmos, supondo que uma vida não chega para realizarmos o que queremos humanamente da nossa presença na terra? Não falo de uma vida completamente diferente, numa época histórica passada ou futura, como se pudéssemos entrar numa máquina do tempo, mas de uma vida imediatamente a seguir à nossa morte e nos termos da mesma vida que vivemos. Que oportunidades aproveitaríamos e que coisas -10-

recusaríamos

ou

deixaríamos de fazer? Parece tolice pensar-se desta maneira, pois uma vida humana nos é dada e só uma devemos viver, de acordo com a crença em que fui educado. Mas há outras crenças, é certo. É isso que pretendo perspectivar. Que mulheres teríamos e de que maneira, será que escolheríamos o casamento como forma de amor em vez da paixão? Será que encontraríamos a nossa alma gémea e a amássemos para sempre, sem hesitações, todos os dias, numa frenética paixão de amor feita? O que é certo é que esta questão do amor e da paixão de coloca fortemente no caso de termos uma outra vida e uma outra juventude. É certo que a maioria das pessoas procura assegurar a subsistência económica e depois vê-se numa situação de escolha de uma qualquer mulher para casarmos. Se o que está em causa é o amor, tarde ou cedo descobrimos que este está bem perto de nós desde os nossos primeiros dias de vida e se o negamos, com escapes doentios, vemo-nos num túnel sem saída mais tarde ou mais cedo. Por isso aqui advogo que o amor deve ser vivido no meio em que habitamos e não deve, por experiência confessada do autor, motivar refúgios na religião ou na ciência. É certo que este -11-

caminho por mim empreendido deve servir de exemplo a quem queira viver uma vida descansada e feliz, onde a sexualidade seja sã e partilhada com uma pessoa do sexo oposto. Dizia Platão que a homossexualidade seria a forma mais perfeita de amor. Pois eu não concordo, pois no amor entre semelhantes há qualquer coisa de doentio. Não pretendo aqui impor nenhuma forma de amar, nem discrimino que segue os conselhos de Platão, mas tento contar a minha experiência da melhor forma que sei, para que sirva de exemplo a um qualquer jovem leitor que se refugie nas minhas palavras. Nesta sociedade moderna, a pornografia é um mal necessário. Mas seria melhor que se promovesse o contacto físico desde cedo nos jovens, à revelia de uma imagética perversa, que não nos deixa descansados e que nos atormenta e nos faz envelhecer e ver como passíveis de sedução todas as mulheres, numa doentia obsessão pelo sexo. Pois é isto que eu pretendo esclarecer. Que não vale a pena ver filmes ou revistas senão por mera pedagogia. Mas da pedagogia à moral vai um pequeno passo que o mais comum dos mortais sensível e ingénuo não sabe discernir. Por isso pode cair -12-

numa espiral de sensualidade doentia desde bem cedo e perder grandes oportunidades na vida. Oportunidade antes de mais de amar, como toda a gente o faz sem contudo a maioria se aperceber disso. Hoje em dia as pessoas, incluindo e sobretudo os jovens, estão mais esclarecidos no que diz respeito à sexualidade. Contudo, tudo vai de um princípio. Se são bem orientados, nada de danação pode surgir nas suas vidas. Mesmo assim, um dia, mais cedo ou mais tarde, todos nos tornamos confusos em relação ao sexo, porque a televisão propagandeia o amor sem qualquer desvelo e aguça a curiosidade mórbida dos espíritos menos bem preparados. Eu me confesso bastante sensível a estas questões de sexo e pornografia. É uma questão das sociedades modernas que deve ser solucionada, se é que o instinto sexual tem ou pode ter regra. Por isso, a este respeito, tentarei contar o que faria se tivesse uma segunda vida. Talvez deva acreditar que vida terrena só há uma, pois ao envelhecer, noto que o meu corpo está fraco e a minha alma quebrantada. Atravessei um deserto de que me quero livrar para conviver de novo com os homens e com Deus, para viver uma vida -13-

normal depois de uma sexualidade mal vivida. Digo e repito, quem sou eu para aconselhar uma boa sexualidade às pessoas. Parece que neste aspecto, o momentâneo é que conta. Contudo, procuramos como seres humanos a plena realização e não descansamos enquanto não a conseguirmos. O amor deve ser vivido e sentido com os cinco sentidos, mas também com um sexto, o da mulher, para que se disfrute das belezas interiores da alma de um outro ser que visitamos e permanece na nossa lembrança todo o tempo. Estar apaixonado é sensação de sede que nunca mais se acaba, na mais límpida das águas das fontes. O olhar é antes de mais importante porque ele é o sentido da nossa civilização. Pelo olhar ela conquista, pelo olhar esta civilização se perde. Devíamos dar mais importância a outros sentidos, como por exemplo a audição. No amor, a audição pode ser bastante excitante, bem como o olfacto. Para os que fumam este último sentido está algo desvirtuado, contudo, ninguém resiste a um perfume de mulher, que ela deixa, como lastro da sua beleza. No entanto, também o encantamento tem fim, como o próprio homem físico. Depois de todas as provações e tentações, há um tempo para -14-

viver em paz, em harmonia com a natureza, incluindo a natureza que temos em nós próprios. Tarde a vida nos ensina como vivê-la. Não há como prolongá-la como se lutássemos contra o Criador para prolongar o tempo da sua obra. Não há que adiar a morte, quando ela vier, que venha de frente, para que eu possa vê-la, que venha como um touro, para que possa agarrá-la pelos cornos. Depois dessa luta terei paz, uma paz que senti algures na vida, na infância, na juventude, também na idade adulta, intermitentemente e que por falta de qualquer coisa me foi negada, contudo não atribuo culpas aos meus por isso, apenas a busco como quem deseja uma mulher sabendo que irá ter filhos dela, respeitosamente, com intensidade. Dirão alguns leitores que a minha escrita não é deste tempo, eu diria que não é de tempo algum não sendo todavia eterna. Ela celebra o desejo em todas as épocas, dos livros que li, das paisagens que não contemplei, pois que estou numa quarto frio como Júlio Verne escrevendo até altas horas. Dirão outros leitores, que a ciência diria melhor do que eu digo. Será verdade. Não me neguem contudo a -15-

inspiração para escrever, a alegria interior de contemplar as palavras, os pensamentos, "au-delá" de tantos cansaços e frustrações da vida quotidiana.

2

Dirão alguns leitores que não estava Jerónimo fadado para a ciência, mas para um género especial de literatura, a confessional, que sempre me apaixonou verdadeiramente. Porque escrever é como pegar fogo numa lareira, juntar as achas, ver o lume desenvolver-se, expandir-se em pensamentos que não são nossos, apenas nos são emprestados. Por uma razão ou por outra o passado está sempre na nossa mente. Mas quando vivemos atormentados com o passado não conseguimos viver o presente e essa é a maior dificuldade que encontro nos meus dias. Um passado amarfanhado, talvez não tivesse estofo para ser feliz ou tivesse medo como alguém que conheço, no entanto nunca deixei de procurar uma forma de felicidade segura, que garantisse ao fim dos anos na terra um bom pensamento em relação a Deus e aos homens. No entanto, a felicidade escapou-me quando estava a agarrá-la, precisamente nesse momento ela escapou-me e continuei a correr atrás dela, como de uma donzela desejada se tratasse, mas mesmo que a vislumbrasse de -17-

novo ao longe, ela fugia por entre as árvores e eu acordava cansado. Se me fosse dada uma segunda vida teria de ter em conta o ambiente em que viveria a infância, adolescência, juventude e idade adulta. Decerto que as condições que tive, as oportunidades para ser feliz, não se repetiriam mas não concebo que não me seja dada uma segunda oportunidade, neste ou noutro planeta. Talvez a forma de ter uma segunda vida seja gerar um novo ser, transmitir algo que é em parte meu para um novo ser, que continue alguma obra que tenha começado. Mas talvez acredite que a consciência com que vivemos este tempo terreno pode de alguma maneira ser repetida num cenário distinto, de modo que tenhamos uma lembrança aprazível do que passámos nesta vida. Mesmo assim, há um lugar para a esperança no meio da loucura e da frustração e o futuro abrese como uma donzela para conceber um novo ser. O amor pode nascer de novo e a idade mais adulta pode ser vivida com alguma paz e saúde. O desafio não é nunca ter errado. Cheio de homens destes está o mundo. O desafio, o maior, é voltar a amar de novo, num mundo em que amar é um perigo. Certamente que se tivesse -18-

uma segunda vida não me preocuparia tanto, procurava fazer mais do que simplesmente pensar e falar. Com as conclusões que esta vida me dá, certamente que deixaria de entender que todos os homens e todas as mulheres são bem intencionados. A grande vitória sobrevém quando sobrevivemos aos acontecimentos catastróficos da vida e temos uma história para conta. Ter uma história para contar é um lugar comum, é algo pedagógico. Antes de mais a infância procurava não dar ouvidos a toda a gente. Mesmo em adulto experimento que precisava de ser guiado. Decerto que não entraria num seminário, pois isso combinado com a pornografia tornou a vida de Jerónimo estéril e vegetativa. Procurava desde cedo trabalhar, fazer planos sim, mas cumpri-los a longo prazo, pois nada há de mais triste de que um homem sem ideais e nada há de mais triste ainda do que um homem que não concretizou os seus ideais. Certamente que me daria mais com os outros, mas nunca mais acreditava que todos os homens são bons. Quem assim vive está enganado. Os homens são malévolos e as mulheres seguem-lhes as pisadas em nome da emancipação. Decerto que não ouviria tanto as boas vozes que -19-

andam para aí, dizendo que tudo é possível, que tudo pode ser visível, legível, entendível. Quando vários homens se juntam para falar sobre algum assunto estão já defendendo os seus próprios interesses, a sua confraria. Como é possível viver num ambiente destes? Um ambiente onde a suspeita nos sobe ao cérebro e nos paralisa e entendemos tarde que não vamos chegar ao lugar com que sonhámos, se é que sonhámos. Um ambiente onde qualquer um está disposto a levantar a voz para nos calar em nome de muitas coisas que deixámos de acreditar. Essas coisas são a Igreja, a Universidade, o Amor. Coisas que foram em dado momento da nossa vida ideais por que valia a pena lutar e vemos a meio da vida que se trata de afecções da idade, que o mundo não se transforma só pelo desejo de uma pessoa. Devia de ter acreditado em certas coisas que ouvia, contudo. Devia ter experimentado técnicas de marketing para manipular as pessoas, nomeadamente as mulheres. Quando lhes confessamos a verdade acerca de nós próprios deixam de nos amar. Temos de inventar mil e um artifícios para lhes agradar e todas procuram o sucesso fácil e o dinheiro. Porque não tornar-se desde já -20-

um homem com dinheiro e sucesso? Porque o principal não é ter mulheres, mas de algum modo uma realização íntima, um sentimento de justiça para connosco e os nossos queridos. Se alguma coisa nos serve o passado é para aprendermos com os erros. Quem sabe se não iremos por esse mundo fora, já vamos com a mente, procurando liberdade, porque a realização não está numa aldeia onde nos toleram e onde dizem mal pelas nossas costas, independentemente do que tenhamos ou não feito. Tudo está bem quando contribuímos para uma ideia de bem comum, mas quando nos aventuramos sozinhos a tentar compreender as coisas, somos ignorados. E as mulheres da terra só querem casar com alguém bem visto, não desejam experiências sexuais verdadeiramente arrebatadores, apenas desejam ser boas meninas e ser bem vistas. Esperei longo tempo para pensar desta maneira. Neste país pequeno, querem ser vistas socialmente com alguém com boa fama, com bom conceito social, o senhor professor, o senhor empresário, o senhor doutor. Arre, onde há gente no mundo! Estou farto destes provincianismos. Mas o culpado desta perspectiva sou eu próprio, que me refúgio nas -21-

palavras escritas, que procurei mulheres não pelo que elas eram realmente para mim, mas em função do que eram para os outros, positiva ou negativamente. Se eu soubesse o que vai dentro do seu coração, decerto que agiria de outro modo. Mas para isso existe a linguagem e é bom enquanto podemos comunicar. E vejo-me obrigado a esconder o meu passado para que alguma mulher me queira socialmente. Tive tudo na mão e deixar fugir, agora resta-me o consolo de não ter de agir erradamente e aproveitar os anos que ainda tenho da melhor maneira. O passado é sobretudo uma grande lição, pelo que esta é uma obre sobre passado mas também sobre futuro, sobre as lições que aprendemos na vida, trivialmente. Num canto bucólico sonhamos em conhecer o mundo e estamos a meio da vida com tempo para fazer tudo, contudo a saúde nem tudo permite. Jerónimo tinha apetência especial por fazer sofrer os outros. Na época em que andara no seminário, levou os seus arrebatados desejos por misticismo até ao franciscanismo e deu-se mal. Encontrou a tristeza, a desilusão e a desolação. Contudo, Deus deulhe mais uma oportunidade de viver. Jerónimo desperdiçou muitas -22-

oportunidades mas aos 35 anos desejava, apesar da condição económica e familiar não ser favorável, desejava ter um filho, sonhava ainda com um futuro onde agisse mais e pensasse menos. Contudo esta problemática era complicada para a sua mente. Vivia ainda num país católico. Ele mudara interiormente bastante desde que deixara o convento como postulante franciscano. Tinha ainda muita coisa a fazer na vida, sentia-o, uma delas seria publicar. Escrevia a sua história que duplicava no computador e arranjava motivo para ser compreendido, numa sociedade apressada, em busca de respostas imediatas, Jerónimo procurava respostas últimas. Quem sabe depois a sua morte lhe fizessem a justiça de ler os seus escritos e compreendessem que não fora tarde demais. Os seus filhos eram os seus livros. Aquele ano de 2006 tinha sido especialmente longo. Fora o Natal, talvez o sofrimento mental quase fizesse parar o tempo. Contudo, aprendia ainda como uma criança adulta, a viver dia após dia, é certo que sem grande companhia feminina, mas com o andar do tempo talvez arranjasse algum trabalho que lhe desse algum proveito da vida em velho. Seu pai parecia impávido e Jerónimo -23-

escrevera Os Indiferentes. Indiferentes No dia 5 de Fevereiro de 2006 descobriu que Sommerset Maugham escrevera também um livro com o mesmo título. Os seus pensamentos não andariam longe dos de um poeta, filósofo, escritor. Havia que os apanhava no ar como ondas de rádio, à medida que envelhecia crescia por dentro. Contudo, tinha um grande desejo de ser maior, de cumprir o que não houvera cumprido em jovem. Muitas coisas deixara a meio, entre as quais os seus estudos. Não iria insistir demais no estudo. Preferia arranjar finalmente um emprego e ler os seus livros, quem sabe alguma literatura pura ou científica, alguma filosofia. Talvez o fio condutor dos seus pensamentos, da sua vida, fossem ténues demais, mas chegaria decerto à conclusão de que a vida é uma luta constante por justiça e que não vale a pensa pensar o passado, viver imerso nele, como se pudéssemos voltar atrás no tempo. De facto, não podemos voltar atrás no tempo senão pela nossa memória das coisas. Contudo, o que nos marca é uma herança pessoal de incompletude se damos importância às coisas negativas que assim se tornaram. A escrita, bem como a ciência é uma obra de arte que se transmite às -24-

gerações vindouras e o que importa é a forma e o conteúdo, sendo que a ciência pode ser um exercício estilístico, ambas as formas de expressão deixam uma ponta para que alguém lhes pegue, não podemos pensar em exaurir tudo no tempo de que dispomos, supondo que este tempo é uma oportunidade para merecermos mais tempo e todas as vidas certamente o devem merecer, pois do acto de nascer uma vida nasce também um sem número de possibilidades de escolha, de pertinência, de audácia. Esquecido o passado, é bom que nos ocupemos de tarefas bem mais proveitosas, que têm a ver com a forma como ocupamos e ocuparemos o nosso tempo. Longe de mim querer superar o que perto de mim pensaram, não alimento nenhuma forma de vingança intelectual, que só corrói por dentro como todas as formas de vingança ou mal. Contudo, um sentido de justiça me move, que não se limita a pensar a morte do ser como justiça suprema. Nessa altura os homens e as mulheres que conheci ainda menos se lembrarão. Ora há que distinguir uma perspectiva de observação de uma perspectiva introspectiva e de uma outra de participação. Estas três formas de conceber o mundo estão -25-

exaustivamente descritas. No nosso país começa a dar-se alguma importância as estas três formas de ver o mundo, de conceber o mundo. Nem me move nenhuma espécie de espírito de contradição em relação ao meu pai ou a quem quer que seja. Algum caminho devo prosseguir, tive como todos as minhas oportunidades, êxitos sociais provavelmente foram poucos. No entanto, numa sociedade onde é mais fácil ser-se esquecido do que lembrado ou o contrário, não me admira que um esforço individual que não se alimenta do calculismo mas da emoção não seja reconhecido. É fácil fazer-se ciência ou arte, escrever mesmo, é só deixar o tempo passar, que o reconhecimento vem com a idade. Não basta persistir nem bater a todas as portas, há que se maquiavélico mesmo em relação às mulheres. Este espírito de sacanice existe arreigado no mais profundo de nós e quando não fazemos o mal às claras fazemo-lo às escondidas para espantar os fantasmas da inferioridade que nos acompanha desde pequenos. Contudo, essa inferioridade sempre foi aparente. Pecámos por ter visto as coisas somente pela nossa cabeça. E é aqui que entra a ciência. Não basta ter-se subjectividade e -26-

escrever um romance ou uma tese, é preciso algo mais, talvez o que nunca tivemos, amor. Alguém me perguntava se algum dia amei, eu disse que sim, primeiro uma forma de amor puramente mística que me levou à religião, depois um amor altruísta que me levou à universidade, e é ainda o amor que me mantém de pé, pois se não amasse este mundo, com todas as suas incongruências que não me suponho a explorar, é o amor a qualquer coisa que ainda não vivi, uma saudade de algo que ainda não se alcançou, é por isso que persisto, ainda que sozinho, ainda que tivesse sido mais fácil ter entrado nas palavras dos outros, pedir conselhos, tudo isso todavia o fiz e continuo pensando no passado, é doentio. Viver é uma espécie de doença assim, um combate constante entre o bem e o mal na nossa consciência, para chegarmos a um ponto onde tenhamos paz de espírito, ainda que feitas todas as injustiças. Talvez defenda a tese que se deve provar o bem pelo mal. E seja maquiavélico. Este excesso de Eu não me larga desde que tenho consciência da existência dos outros e talvez seja isso que tenha de superar. A pouco e pouco, noite mal dormida após noite pessimamente -27-

dormida, vou tomando consciência de que, apesar da falência económica, os outros são mais importantes do que o Eu. Contudo, cabe-nos cultivar o Eu para que transmitamos energia positiva aos outros. Mas de que vale a pena transmitir energia positiva se o mundo está viciado desde o início? Claro, claro que vale a pena, quanto mais não seja pelo reflexo que essa energia tem sobre nós.

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A segunda vida é já aqui e se sonhámos continuar a estudar, trabalhar e ter filhos e mulher e se ainda não o conseguimos, não há razão para desistir, mas simplesmente a tarefa é fazer as coisas de outro modo, ser produtivo, aproveitar a vida tal qual ela se nos oferece. As coisas do sexo são das mais entusiasmantes que há e não são inconciliáveis com a intelectualidade. Antes, porém, aguçam o espírito, em razões e esperas para encontros que toda a gente mais tarde ou mais cedo faz. Porque então fugir do sexo como se de uma coisa demoníaca se tratasse. É algo de bom, que deus contempla e aprova, desde que feito com paixão. Se puder haver amor, melhor ainda. Mas já passou o tempo em que Jerónimo só pensava em fornicar quem quer que fosse. É altura de escolher uma parceira certa e levar a sua por diante, por assim dizer. Sexo, religião, política, dinheiro, é o que caracteriza a nossa sociedade actual. O pior é quando a estas coisas se junta a violência e a agressão, então é que podemos dizer que a irracionalidade se instala. Há que ter em conta -29-

que não podemos exigir nem pedir a uma mulher que faça sexo connosco pelo simples jogo egoísta de nos satisfazermos. O que dá satisfação é dar satisfação, é a satisfação mútua. Por isso, porque Jerónimo não quer sofrer, arrisca o amor, mesmo que depois venha uma desilusão. Quem sabe pode encontrar o amor eterno na terra. Há quem duvide disso, mas ele ainda não desistiu de tentar. Longe do pensamento de Jerónimo afastar-se da religião. Aliás, a religião precisa de uns abanões de quando em vez para testarmos a nossa fé em Deus. Somos nós que somos abalados, antes de mais. O problema é que a consciência em relação ao Outro surge do erro, mas a religião está certa em insistir no Outro como objecto de atenção. O que era mais problemático para Jerónimo seria como tornar-se um ser economicamente viável, esta expressão ficara-lhe de um filme que vira, Um Dia de Raiva, Raiva com Michael Douglas como protagonista. Outro filme com este actor lhe ficara na retira e este fora O Jogo. Há toda uma atmosfera psicológica que se resume a tentar saber o que os outros pensam e fazem em relação a nós enquanto actores sociais. O que o excitara um dia, preocupava-o no outro dia e isto era -30-

questão de ver se seria realmente doentia esta obsessão pelo desejo. Lembrar nomes, enquanto é tempo, as pessoas que passaram pela sua vida e que lhe tocaram no Ego. No fim deste livro segue uma lista de nomes que servem de referência à vida do seu autor. Seja como for, o autor não terminara com o desejo. Apenas estava adormecido. Com frequência dava consigo a pensar no que fez e no que poderia ter feito, mas não havia volta a dar, agora tinha de seguir em frente, mesmo que lhe virassem a cara, mesmo que o insultasse, pois já não o podiam ferir mais, estava convencido que podia após 35 anos de vida fazer alguma coisa por si e pelos seus. O desejo não estava morto, se supusermos que Jerónimo se queria ver livre do desejo. A ética filosófica era uma coisa que simplesmente o preocupava e lhe dava dor de cabeça. Que mais ética podiam exigir a quem conteve o desejo até perto dos 24 anos? Isto é crime, por acaso? Por se conter durante a juventude em nome dos outros, do que os outros diziam, do que os outros pensavam e faziam ou deixavam de fazer, o desejo irrompeu desordenadamente durante cerca de 15 anos, mas tudo isso é passado, é pena que a memória -31-

não seja feita só de boas coisas, mas mantém o interesse em aprender e isso é que é fundamental. A aventura da sua vida estava agora colocada em novos âmbitos, chegara a uma nova etapa da sua vida e ainda tinha consciência de Si. Isto dos boatos pode arruinar a vida e a reputação de uma pessoa, que se vê obrigada a um exercício de compreensão após 15 anos de sofrimento. Isto pode levantar questões sobre se se não tentou o suicídio, com tanto sofrimento. Ou pode levantar questões que têm a ver com as sociedades de todas as épocas, em termos de afirmação pessoal e social do indivíduo e se é preciso afirmação para amar. Não quero confundir amor com sexo. Não quero confundir amor com paixão. Pode levantar ainda uma questão de como socialmente se permite o sofrimento e questões delicadas como a masturbação masculina. Na descoberta da nossa sexualidade não podemos evitar infligir prazer ao nosso corpo, mas quando se torna uma doença há que reconhecer que há um problema. E se há um problema há que haver solução, não se andará toda a vida pelo mesmo caminho solipsista e errante. Nestas confissões há que reconhecer um objectivo pedagógico quem sabe -32-

terapêutico mas sobretudo social. E há que reconhecer que a competição gera fracassos, que necessidade havia de um jovem se entregar a tais práticas quando à sua volta tudo era descoberta, só faltava descobrir o corpo do Outro e logo talvez a sua alma? Não acreditamos que não possa haver verdadeiro conhecimento sem sexualidade? Pelo menos uma forma de conhecimento. A linguagem é uma dádiva que felizmente permite com o tempo conhecermos outras pessoas. Com tais tarefas se perde a capacidade de amar, tornamo-nos duros e que concluir de um inquérito que diz que 20% das mulheres portuguesas fingem orgasmo? É uma questão interessante. Antes de mais saberão os homens assim tão pouco sobre as mulheres? E como relacionar isto com a dizem, recente e cada vez maior afirmação das mulheres na sociedade? Mas estamos a pensar isto e de certa maneira os americanos e norte-europeus já viveram estas realidades, estamos nós portugueses a passar por isto sem que tal signifique desenvolvimento económico. Isto deve ser suficiente para podermos reflectir e comunicar uns com os outros. Jerónimo sempre fugiu a conflitos, porém a gestão de conflitos não -33-

era o seu forte. Que evita problemas embate contra eles. Esquece-se de que há competição feroz do outro lado, no nosso próprio terreno, mesmo debaixo dos nossos narizes. Devia ter sido mais avisado e ter lutado contra os concorrentes. A ideia peregrina de que um dia se fará justiça porque temos valor não corresponde à realidade. Porém, Jerónimo nunca foi um desmancha prazeres. Talvez tenha sido, talvez tenha sido isso e muito mais. A ideia do social é também uma ideia peregrina, que adia as expectativas para o amanhã. Nesta vida tudo é possível, para quê pedir uma segunda vida? Um dia Jerónimo foi a Lisboa, entregar um manuscrito para revisão. Ia pagar para publicar quando muito vivem da imaginação, ele ia pagar para publicar. Como sempre pagou para ter todas as coisas. Este é o aspecto económico da coisa. O pior foi a boca que ouvia antes do encontro com a revisora do texto, “és muito espertinho”, foi como uma lança vinda do fundo dos tempos que lhe trespassou os rins. Porra, ele ia pagar para lhe reverem o texto, depois teria de pagar para publicar e ainda assim lhe dificultavam o caminho. É porque a literatura dá mulheres e há uma estratégia de teia de aranha -34-

preparada, não há amor, não há espontaneidade. Seja como for, Jerónimo tinha sido culpado logo aos 18 anos. Uma jovem da sua turma atraia-o mais fora relutante em aproximar-se dela. De tanto pensar fez asneira. Será que há mais gente assim por aí? Tudo tão fácil e ele tinha logo de escolher o caminho mais difícil, mais complicado! Seja como for, Jerónimo não pedia que o defendessem, defender-se-ia ele próprio. Seja como for, tinham-no de ponta, ele estava na mira de alguém. A isto chama-se selva. Todavia, Jerónimo não podia continuar a censurar-se, em auto-comiseração constante. As forças faltavam, a saúde psíquica estava precária. Não dormia bem, com sonhos que projectavam a sua consciência para longe, para o passado, para o futuro que era incerto. A tempo parecia-lhe eterno. Ouvia uma canção de Moby no rádio do automóvel e a sua irmã conduzia grávida tendo ao lado a sua mãe. Vinha de um mês passado em Coimbra, cujo resultado fora mais um medicamento. Estava em ruptura. Via os outros carros passarem por ele como a vida, a sua vida nas mãos dos outros, passando por ele e ele não podia fazer nada. Não podia abrir a porta do carro e jogar-se na -35-

estrada. Não podia voltar ao passado e remediar o que não fora certo. Contudo, o futuro estava aí, todos os dias, como a chuva que cai sem parar, como a neve. Decerto que descrever todo o estado psicológico desta personagem não lhe garante uma segunda vida, se é este o propósito desta obra defender o direito a uma segunda vida. Se Jerónimo não tivesse desejo decerto que o ajudariam. Teria de negar todas as suas aventuras futuramente? Não, não estava disposto a reprimir a sua pulsão sexual. Teria de fazer as coisas de outra maneira. Tinha de considerar todas as hipóteses em nome da sua saúde, não desistira de lutar, sabendo que era sensível à situação dos outros, contudo teria de ver a sua situação. Não estava disposto a ceder mais perante a liberdade dos outros. Tinha de conquistar a sua liberdade, o seu espaço.

4

O espaço em que vivia aquele tempo parecia morto, contudo Jerónimo não negava que havia vida à sua volta. Na cidade mais próxima, as pessoas andavam curvadas, anunciando todos os declínios de civilização do ocidente. Porém, no oriente, as turbas manifestavam-se, revelando um ódio à defesa da liberdade de expressão por parte da Europa. Alguns portugueses diziam-se solidário com a liberdade de expressão, o Ministro dos Negócios estrangeiros dizia que se tinha de respeitar a religião dos outros. Quem tinha razão? Maomé? Deus? O silêncio fazia-se sentir doloroso e Jerónimo estranhava-se falando de religião num mundo secular. Era muito fora de época a sua preocupação. Jerónimo ganhara coragem para regressar a Lisboa. Fora naquele dia de Novembro de 2002 pela manhã, de comboio, de Riachos até à estação do Oriente, no comboio regional. Escusado será dizer que tal comboio parava em todas as estações e apeadeiros do caminho de ferro. Repetia a mesma viagem anos depois de a ter iniciado em 1989, como -37-

estudante na capital portuguesa. As pessoas eram poucas de início. Algumas viriam de Coimbra, muito poucas. Outras de estações mais próximas de Pombal. Depois da estação do Entroncamento, as pessoas começavam a aumentar em número, até que já em Vila Franca de Xira seria difícil encontrar lugar sentado. Sabia que lhe bastava sair da terra para encontrar-se com alguém, acidentalmente, e isso alimentava a sua sede de viver: o prazer dos encontros a que estava entregue desde que saíra da sua aldeia para estudar. Lisboa aparecera-lhe a seus olhos como uma capital de cultura, onde se abriu para o mundo depois do fechamento que conhecera um ano que vivera em Braga. Não foi bem um fechamento, foi uma reclusão, onde conheceu de perto Deus e os homens. Contudo, a sua experiência não era dramática quando comparada com a de outros. Mas a ideia que tinha de Lisboa era de uma cidade feita de interiores, onde os espaços fechados se cultivavam com primor e desmesura. Podia muito bem, nas ruas, estar ainda no século XIX e não se aperceber que os tempos haviam mudado. Lisboa tornara-se numa cidade perigosa, cheia de máfias, onde o mais pequeno percalço era -38-

imperdoável, uma cidade de pecado que se tornou para Jerónimo. Não podia deixar de ter alguma amargura em relação ao seu passado. A questão é como saber lidar com ele. Em Lisboa conhecera alguns amores, conhecera os seus amigos que se fizeram e desfizeram como uma nuvem de pó. Estava agora na aldeia de Riachos, com pouco dinheiro, vontade de trabalhar, mas com poucas solicitações. Queixavam-se de não ter sabido construir uma carreira, sabendo bem que a sorte dos homens não se faz de um momento para o outro, é preciso construi-la. Tentara fazer isso, mas por mistérios da vida, que não são insondáveis aos olhos dos outros, que facilmente vêm a origem da nossa desgraça mas estão mais atentos a si próprios, caíra numa situação difícil, num buraco de todo o tamanho. Nessa manhã de Novembro encontrou Lisboa fria. Tomou o metro da Alameda para Arroios e na praça do Chile tomou autocarro para sua casa. A sua casa, outrora cheia de prateleiras de livros e queridinha como a imaginara e de facto a tornara, estava agora vazia. Dois quartos estavam ocupados. A assistente social visitara-o para se inteirar da sua situação. Só lhe faltava um trabalho -39-

onde se realizasse. Não queria ter a ver com o audiovisual, com a televisão, pois achava que se vivia naquela altura uma exploração das emoções das pessoas em nome do jornalismo, por puro divertimento e perversidade, por pura falta de imaginação para lidar com a realidade. Descansou, pois, no sofá que seus tios do Feijó lhe tinham vendido, o pai fora para Lisboa com a camioneta cheia de coisas de Riachos para encher o apartamento de Lisboa e deu no que deu. No entanto, nem tudo estava perdido. O apartamento estava no mesmo lugar. Talvez algumas pessoas, como Dona Idália, cujos filhos haviam nascido no lugar onde hoje tem casa, vivessem ainda no bairro. Talvez a sua filha soubesse da sua situação instável e insegura e ainda pensasse nele. Talvez a reencontrasse um desses dias na rua de casa ou no autocarro para o trabalho. As boas memórias que ainda possuía da capital do país havia de as avivar. Havia de conseguir viver de novo em Lisboa, viver a cidade, com os seus problemas e alegrias. Ou, mesmo que não fosse assim, havia de viajar constantemente entre a sua aldeia e Lisboa. O que estaria fazendo, onde estaria Caroline, a jovem francesa que deixara à porta -40-

de casa dois anos antes? Perdera o seu rasto e tinha remorsos quanto a isso. Mulheres percorriam o seu corpo e perdiam-se na sua alma até não haver mais vista. Selina, uma jovem dos seus 41 anos procurava ainda realizar o seu sonho de casar e ter filhos. Jerónimo tinha um sonho parecido. Propusera-lhe fazerem um filho, pois que casar com aquela mulher feia não queria. Ela, no entanto, recusara. Tudo bem, que mas queria ela? Um pai da mesma terra, o que ela precisamente procurava, uma relação séria. De certeza que não iria encontrar ninguém que a quisesse, apesar de ter boas condições para ter um filho. Talvez encontrasse um velho tolo e antiquado que quisesse juntar a sua fortuna à dele, dinheiro e vontade de deixar dinheiro aos sobrinhos, pois que aos 41 anos ter um filho não é coisa fácil. No entanto, Jerónimo tinha mais em que pensar. Havia decerto mulheres interessantes por aí, bastava procurar, estar atento, deixar o tempo passar. Não fizera nada de errado na sua vida, não havia nada de errado com ele, podia estar descansado. Apenas estava um pouco stressado por não ter emprego, coisa que acontece com muito boa gente. Mas os seus detractores não se ficariam a rir. Sabia que -41-

tinha qualidades e antes de mais a capacidade de amar de que não abdicava. Quanto aos seus segredos em relação ao futuro, tinha-os concerteza, mas guardava-os consigo nos seus pensamentos. Seja como for, todos se esqueciam de cultivar o ideal franciscano. Esqueciam-se que numa época em que a Igreja estava podre e moribunda, Francisco de Assis e Tomás de Aquino fizeram a verdadeira reforma. A reforma protestante foi um movimento étnico de povos que se queriam autonomizar não só espiritualmente mas também e sobretudo no domínio da economia. Todos olhavam para os movimentos zen e taoistas naquela sociedade contemporânea e esqueciam-me que bem dentro da religião católica, no século XIII, havia havido uma revolução espiritual sem precedentes, no entanto pouco disseminada, pouco cultivada: o franciscanismo. Mas olhando um pouco para o passado, em termos de vida social, Jerónimo cometera um erro ao fugir da vida aos 15 anos ingressando no seminário, depois perdera a força em práticas sexuais. A sua vida resumia-se a isso. Que fazer aos trinta anos quando tinha já pouca força? Uma nova viragem se exigia, desta vez definitiva. Tinha de -42-

encontrar uma solução para a sua vida de inactividade. Mas não adiantava de nada olhar para o passado. Podia desde cedo ter tomado uma posição de força, uma atitude de força. Bastava estar atento, fazer o seu próprio dinheiro, ganhar a sua vida. Ainda ia a tempo. Talvez se deixasse de olhar para ele próprio conseguisse alguma coisa. Talvez se contemporizasse por uma vez conseguisse alguma coisa. Vá-se lá entender as mulheres. Se cultivamos uma imagem de jigolo todas nos querem, se cultivamos uma imagem discreta simplesmente não entendem a mensagem. Todas se rendem por bons princípios ou pelo poder que aqueles que as assediam têm ou exercem, sejam de que raça forem. Todas se curvam ao reconhecimento social que determinada pessoa têm. Por isso Jerónimo procurava o verdadeiro amor ainda, aquele que não se chama amor, pois que a palavra está demasiado abusada nos dias que correm, não é amor a relação por interesse. De modo algum invejava Jerónimo esses tipos, pois que a sensação do amor verdadeiro é insubstituível. Jerónimo, desempregado há dez anos, sem receber nenhum rendimento, permitia-se ainda acreditar no -43-

verdadeiro amor. Até quando iria ele resistir? Iria continuar a lutar, essa era a única saída. Verdadeiro, desprotegido, nunca conivente, talvez se desse bem um destes dias.

Obras do mesmo autor: “Caderno de Encargos” (Tender Edições) “Razões do Coração:Exercícios de Cidadania” (Tender Edições) “Mundo Imaginado” (Tender Edições) “Cristo, Cravo e Rosa” (Tender Edições) “Pensarilho” (Tender Edições) “Curvas Apertadas” (Íris Editora) “A Poção do Amor” (Tender Edições) “Teoria Social.Aspectos”(Tender Edições) Pedidos a: [email protected]

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