Universidade de Itaúna Críticas aos discursos analíticos e emotivistas segundo MacIntyre e Alexy

June 9, 2017 | Autor: Tiago Lenoir | Categoria: Filosofia do Direito
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Universidade de Itaúna

Críticas aos discursos analíticos e emotivistas segundo MacIntyre e Alexy Tiago Lenoir Moreira1

RESUMO

Alasdair MacIntyre e Robert Alexy, são filósofos europeus que em suas obras "Depois da Virtude(Macintyre) e Teoria da Argumentação Jurídica (Alexy), criticam a filosofia e discursos propostos pelo pensamento analítico e emotivista. Faremos uma análise pontual de tais críticas e os reflexos no mundo filosófico-jurídico contemporâneo. ABSTRACT

Alasdair MacIntyre and Robert Alexy , are European philosophers who in their work " After Virtue ( Macintyre ) and Theory of Legal Argumentation ( Alexy ) , criticize the philosophy and speeches proposed by analytical thinking and emotivist . We will make a timely analysis of such critical and reflections on the contemporary philosophical - legal world . PALAVRAS-CHAVE: VIRTUDE - JUSTIÇA - DISCURSO - MORALIDADE - ÉTICA 1. INTRODUÇÃO

O objetivo de nossa pesquisa é analisar e compreender a crítica à modernidade realizada pelos filósofos Alasdair MacIntyre e Robert Alexy que, enquanto tal, encontram-se desenvolvidas em suas respectivas obras Depois da Virtude(Macintyre) e Teoria da Argumentação Jurídica (Alexy) . Para tanto utilizaremos como chave de leitura os conceitos de “virtude” ,“justiça”, "discurso" e "moralidade". Faremos isto por acreditar que, dessa forma, manteremos um preciso foco de investigação e o devido aprofundamento teórico que tal dissertação requer. 1

Mestrando em Direito pela Universidade de Itaúna.

O caminho que trilharemos se circunscreve numa análise crítica da ética contemporânea diante da ausência do reconhecimento das virtudes e racionalização do discurso. Em MacIntyre temos a obra Depois da Virtude que convida o leitor ao lema já tantas vezes lançado na história da filosofia: “Voltemos a Aristóteles”2. Neste contexto, MacIntyre assume a tradição aristotélica das virtudes, criticando toda moralidade contemporânea e propõem desafios para a ação e reflexão no cenário ético e político das sociedades contemporâneas3. Em Depois da Virtude, MacIntyre faz uma avaliação da atual situação ética de nossa sociedade. Ao descrever o caráter interminável patente no debate moral contemporâneo4, nosso autor aponta a importância de um renascimento da tradição das virtudes na contemporaneidade. Esse será o primeiro tópico a ser abordado neste artigo, denominado " Identificação das causas responsáveis pelo estado de fragmentação da moralidade contemporânea." Discorreremos que a linguagem da moralidade contemporânea está num estado tão grave de desordem que não possuímos mais que simulacros de moralidade5. Neste sentido, MacIntyre ilustra um estado de fragmentação da moralidade e de desordem generalizada da linguagem moral e também das práticas morais: A hipótese que quero apresentar é a de que no mundo real que habitamos a linguagem da moralidade está no mesmo estado de grave confusão [...]. O que possuímos, se essa teoria for verdadeira, são fragmentos de um esquema conceitual, partes às quais atualmente faltam os contextos de onde se extraiu seu significado. Temos, de fato, simulacros da moralidade, continuamos a usar muitas das expressões principais. Mas perdemos – em grande parte, se não totalmente – a nossa compreensão teórica e prática, ou moralidade.6

Em face da “grave confusão” na qual se encontra a linguagem moral da sociedade contemporânea, o autor realiza uma rememoração do conceito aristotélico de virtude. Por meio desta, ele se coloca em contraposição a todos os intentos do projeto iluminista de fundamentar uma moral universal, que em cujo núcleo central se encontra Kant.

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PERINE, Marcelo. Virtude, Justiça, Racionalidade. A Propósito de Alasdair MacIntyre. Síntese Nova Fase, v. 19 n.58 (1992), p. 393. 3 RIBEIRO, Elton Vitoriano. Reconhecimento Ético e Virtudes. São Paulo: Loyola, 2012. p. 9-10. 4 Cf. MACINTYRE, Alasdair. Depois da Virtude. Bauru: EDUSC, 2011. p. 19-20. 5 Ibid., p. 15. 6 Ibid., p. 15.

No segundo ponto deste texto, analisaremos as criticas que Robert Alexy tece em relação ao discurso prático na ética analítica. Analisaremos o que o filosofo alemão entende por Naturalismo, Intuicionismo e Emotivismo. Tudo conforme o capítulo da obra Teoria da Argumentação Jurídica. Por fim, concluiremos que ambos os autores possuem algo em comum que suas críticas são bem fundamentadas em propósitos semelhantes.

2. Identificação das causas responsáveis pelo estado de fragmentação da moralidade contemporânea.

No primeiro capitulo da obra Depois da Virtude, Alasdair MacIntyre7, ilustra uma parábola, intitulada por ele como “Nenhum Saber” ou “Idéia Inquietante”. A narrativa reporta um tempo em que a sociedade vivia apenas de fragmentos de conhecimentos8.

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Alasdair Chalmers MacIntyre (Glasgow, 1929) é um filósofo Britânico principalmente conhecido por suas contribuições para a moral e pela filosofia política, mas também é conhecido por suas obras no campo da história da filosofia e teologia. Ele é pesquisador Senior do Centro de Estudos Contemporâneo Aristôtelicos em ética e politca (CASEP) na Universidade Metropolitana de Londres, e Professor Emerito da Universade de Notre Dame. 8

Imaginemos que as ciências naturais viessem a sofrer as consequências de uma catástrofe. A opinião pública culpa os cientistas por diversas calamidades ambientais. Um movimento político de pessoas sem nenhum conhecimento técnico assume o poder, elimina o ensino de ciências nas escolas e nas universidades, aprisionando e executando os cientistas restantes. Mais tarde, a uma reação a este movimento e alguns cientistas tentam ressuscitar os conhecimentos, em sua maioria, esquecidos. Porém estes cientistas que tentam tomar novamente o poder possuem apenas fragmentos de conhecimentos advindos de experiências isoladas, de qualquer contexto teórico que lhes tenha dado valor. Capítulos isolados de livros, paginas soltas e desarticuladas, rasgadas e chamuscadas. Não obstante juntam estes cacos de saber e batizam a ciência com nomes restaurados como física, química e biologia. Os adultos discutem méritos e autoria de teorias como da relatividade, da evolução, embora seus conhecimentos sejam apenas rudimentar acerca de cada tema complexo. Ninguém, ou quase ninguém percebe que o que está estudando não são ciências naturais, visto que tudo o que dizem e fazem obedece a certas leis da compatibilidade e da coerência, e os contextos que seriam 8 necessários para que o que estudam faça sentido estão perdidos, talvez sejam irrecuperáveis . Em tal cultura haveria diversas expressões e palavras semelhantes as usadas no passado, antes da catástrofe, porém utilizadas agora como forma de arbitrariedade, ou mesmo de opção, em sua aplicação, que nos parecia surpreendente. Haveria diversas premissas adversárias e concorrentes , nas quais não poderia oferecer mais argumentos. Sugeriam teorias cientificas subjetivas, que seriam criticadas pelos que afirmam que 8 a ideia da verdade contida no que acham ser ciência é incompatível com o subjetivismo. Esse possível mundo imaginário é bem parecido com o que diversos autores de ficção cientifica criaram. Podemos descrever um mundo no qual a linguagem das ciências naturais continuam a ser usadas, porém estão em grave estado de confusão. Se os filósofos analíticos, aqueles que possuem a ideia de que a

Num esforço de reconstrução, a sociedade vive de fragmentos daquilo que restou da catástrofe e tenta restaurar antigas práticas morais. Ocorre que na prática quase ninguém percebe que aquilo que agora fazem trata-se de uma adaptação das práticas antigas, uma vez que carece a sociedade de sentido para estas atividades. Diante de um Estado de total desordem moral, urge questionarmos como a sociedade chegou a esta fragmentação moral ? Seria possível no atual paradigma ético esta ausência de substrato cientifico e racional que possibilitaria uma total desordem moral ? Analisando a vasta obra de MacIntyre percebemos que o autor levanta algumas teses razoáveis de que a sociedade contemporânea, não conseguiu definir temas polêmicos e questionáveis, o que nos leva a crer que ainda vivemos em uma total ausência de consolidação de racionalidade. Para ilustrar esta assertiva, MacIntyre discorre em Depois da Virtude sobre três exemplos do debate moral contemporâneo - guerra, aborto e Justiça. Discorreremos sobre dois destes exemplos. Para o autor o aborto possui um discurso tripartido. Ou o aborto é permissivo, pois o homem possui total capacidade em dispor de seu próprio corpo. Segundo, como pensar em aborto legal, depois que já estivesse vivo, ou seja, considerando que sua mãe não te abortou não há motivos para cercear o direito a vida de uma terceira pessoa. E por fim, o terceiro argumento do aborto seria do ponto de vista criminal. Tirar a vida de alguém seria crime. Aborto. a) “Todos têm certos direitos sobre suas própria pessoa, entre eles sobre o próprio corpo. […] aborto é permissível e deve ser permitido por lei”9. b)“Não posso desejar que minha mãe tivesse abortado quando estava grávida de mim, a não ser, talvez, se houvesse certeza que o embrião estivesse morto ou gravemente mutilado. […] Não defendo, portanto, a opinião de que aborto devia ser proibido por lei.”c)” Assassinar é errado. Assassinar é tirar uma vida inocente. […] O abortamento é assassinato. Por conseguinte, abortar não é apenas moralmente errado, mas devia ser proibido por lei. 10

filosofia é análise, ou análise do significado dos enunciados, reduzindo uma pesquisa sobre a linguagem, 8 florescesse neste mundo, jamais revelaria o fato dessa desordem, pois o filósofo analítico é apenas descritivo.

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MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude. Bauru: EDUSC, 2001.p. 22

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Ibid 23

Outro discurso moral que pegamos como exemplo seria o senso de justiça. Para MacIntyre, a verdadeira justiça seria aquela que o Estado garantiria ao cidadão os direitos fundamentais e sociais básicos de forma satisfatória, ou seja, o cidadão cumpridor de suas obrigações tributárias teria direito, por justiça, a saúde, educação, segurança, moradia etc... Todavia, como contraponto a verdadeira justiça estaria diretamente ligada a liberdade do cidadão em contratar e distratar quem lhe couber. Ou seja o direito do Estado seria limitado, pois o cidadão poderia contratar o direito fundamental como moradia, saúde, educação que melhor satisfaça a sua necessidade, sem depender da vontade política do Estado. Justiça. a) A justiça consiste no poderio estatal em estabelecer uma isonomia a todo cidadão para desfrutar das suas potencialidades e seus taletos, para tanto o cidadão necessita de uma boa educação e de saúde. “Portanto, a justiça requer que o governo forneça serviços de saúde e educação, sustentados pelos impostos, e também requer que nenhum cidadão possa pagar por uma parcela injusta de tais serviços. Isso por sua vez, requer a extinção das escolas particulares e da clínica médica particular11.b) Todos têm direito a liberdade de contratar e fazer aquilo que bem desejar. A liberdade então consiste em excluir os órgãos de controle como conselhos regionais, e agencias reguladoras.12

Analisando ambos os discursos, aborto e justiça, concluímos que nos dois o diálogo é interminável, caracterizando assim, uma total ausência de substrato racional para equacionar uma conclusão lógica. Diante desses intermináveis discursos MacIntyre, conclui que um dos fatores para atual crise da moralidade contemporânea está no emotivismo, gerador desses diálogos intermináveis. Segundo MacIntyre o “Emotivismo é a doutrina segundo a qual todos os juízos

normativos e, mais especificamente, todos os juízos morais não passam de expressões de preferência, expressões emocionais ou afetivas, na medida que são de caráter moral e normativo”13. No mundo real que habitamos a linguagem da moralidade está no mesmo estado de grave confusão, da mesma forma que a linguagem das ciências naturais do mundo imaginário supra descrito. O que possuímos são os fragmentos de um esquema conceitual, partes as quais atualmente faltam contextos de onde se extraiu seu significado. Temos, de fato, simulacros da

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Ibid 23

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moralidade, continuamos a usar muitas das expressões principais. Mas perdemos – em grande parte, se não totalmente – a nossa compreensão teórica e prática, ou moralidade.14 Neste sentido, para MacIntyre, esta parábola ilustra a moralidade contemporânea diante de um estado de fragmentação da moralidade e de desordem generalizada da linguagem moral e também das práticas morais. Esta grave situação da moralidade contemporânea é um reflexo da ausência de critérios morais como era possível no passado. A modernidade trouxe uma ausência de referência às pessoas diante da enorme discordância conceptual da moral e virtude. Se a teoria proposta por MacIntyre estiver correta, possuímos apenas fragmentos de um esquema conceitual, ou seja, toda moralidade contemporânea, não passa de escassos simulacros adquiridos de uma compreensão teórica e prática.15 Neste sentido temos uma teoria moral fragmentada diante da ausência de referência, o que é para MacIntyre um verdadeiro caos semântico as diversas teorias da moral contemporânea. Assim, cria-se uma dificuldade na ética contemporânea em chegar a acordos morais mínimos. O caos instalado na linguagem da moralidade contemporânea é tal que nem a própria filosofia contemporânea tem recursos para reconhecer a sua extensão total, muito menos oferecer uma saída para ele. Com efeito, as filosofias dominantes do mundo atual – a analítica16 e a fenomenológica17 – são incapazes de detectar a desordem no pensamento e na prática moral, como eram também antes da desordem das ciências no mundo da parábola.18 Esta fragmentação proposta por MacIntyre fica evidente ao contrapormos os conflitos subjetivos individuais e nos diálogos, principalmente quando enfrentamos temas polêmicos envolvendo a moral, o social e a política. Daí a necessidade de acompanhar os problemas 14

Ibid 15

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Ibid. p. 15. MacIntyre sugere que se a filosofia Analítica surgisse no mundo imaginário proposto por ele, jamais revelaria o fato de sua desordem, uma vez que as técnicas utilizadas pela filosofia analítica são essencialmente descritiva e descritiva também é sua linguagem do presente. Para MacIntyre o filósofo analítico conseguiria elucidar as estruturas conceituais do que se acreditava ser pensamento e discurso científico no mundo imaginário precisamente da mesma forma como elucida as estruturas conceituais das ciências naturais como se apresentam

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Para MacIntyre a filosofia fenomenológica, bem como o existencialismo, também não conseguem discernir o caos semântico instalado na parábola por ele proposta, pois todas as estruturas da intencionalidade seriam o que são no momento. A tarefa de oferecer uma base epistemológica para esses falsos simulacros das ciências naturais não se distinguiria, em termos fenomenológicos, da tarefa que se se contempla atualmente. Segundo MacIntyre, um Husserl ou um Merleau- Ponty estaria tão enganado quanto um Strawson ou um Quine. 18 Cf. PERINE, Marcelo. Virtude, Justiça, Racionalidade a Propósito de Alasdair MacIntyre.

envolvidos na moralidade concreta por meio dos problemas presentes na reflexão moral, como tentativas de sistematização filosófica de ideias racionais para resolução satisfatória de problemas.19 3. Discurso prático na ética analítica segundo Robert Alexy

Para Robert Alexy, a análise da linguagem normativa e da linguagem da moral tem sido objeto de numerosas investigações no âmbito da Filosofia Analítica20. O resultado foi o desenvolvimento de uma disciplina própria chamada "metaética".21 Alexy em sua obra Teoria da Argumentação jurídica afirma que há uma série de teorias metaéticas que não são compatíveis com a teoria do discurso racional elaborada por ele. Seu questionamento é se existe justificação de convicções morais e se possível como ? Para responder seu próprio questionamento, Alexy sustenta que existe duas posições metaéticas: o naturalismo e o intuicionismo. Ambas, o filósofo do direito afirma que se estas forem sustentáveis sua teoria prático racional seria supérflua. Como "naturalistas", se designam, "aquelas teorias em que se parte da consideração de que expressões normativas, tais como "bom" e "deveria" podem ser definidas por meio de expressões descritivas".22 Alexy alerta que se isso for possível, então expressões normativas contidas nos enunciados normativos podem ser substituídas por expressões descritivas. E completa: "A tarefa da ética ou da filosofia moral então estaria restrita à tradução de expressões normativas para expressões descritivas. A velha disputa da derivação do dever a partir do ser estaria decidida, pois os enunciados normativos seriam equivalentes aos descritivos."23

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Cf. CARVALHO, Helder Buenos Aires. Hermenêutica e Filosofia Moral em Alasdair MacIntyre, p 145. Os filósofos analíticos entendem "a racionalidade da filosofia depende de uma definição de sua natureza e de seus métodos que não repouse em nenhuma tese filosófica substantiva, assim como de uma definição de critérios de sucesso que permitam o acordo racional em torno de suas teses". (Novos estud. - CEBRAP no.78 São Paulo July 2007. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002007000200019 - A filosofia depois do fim da filosofia - Joaquim Toledo Jr.) 20

21

Cf. ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da fundamentação jurídica / Robert Alexy; tradução Zilda Hutchinson Schild Silva; revisão técnica da tradução e introdução à edição brasileira Claudia Tledo - 3ª. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2013. p.45 22

Ibid p. 46

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Ibid p. 47

Para Alexy, George Edward Moore acusa o naturalismo de ser falácia e fundamenta sua acusação no "argumento da questão aberta". Nosso filósofo alemão, sustenta que a tese descritiva ou definicionista do naturalismo não é valida pelas seguintes razões:

" Se se define "bom" mediante um predicado empírico, por exemplo, "aquilo a que aspira a maioria", então "bom" pode ser substituído sempre por "o que a maioria deseja". Mas pode-se fazer a pergunta: A é buscado pela maioria, mas A também é bom ? Se a teoria descritiva estivesse correta, essa pergunta faria tão pouco sentido como a questão: "A é o que a maioria deseja, mas A também é o que deseja a maioria ? No entanto, não é esse o caso. A primeira questão tem sentido, a segunda não. Assim, o significado de "bom" pode não coincidir, pelo menos não completamente, com " o que a maioria deseja". Em " o que a maioria deseja" podese tomar qualquer predicado ou conjunto de predicado".24

A questão do argumento aberto, foi muito criticada. Pedagogicamente, Alexy, expõe três pontos principais25 de criticas à Moore: 1- Embora seja possível que o argumento seja válido para todas as propostas de definição consideradas até o momento, isso não exclui a possibilidade de eventualmente se descobrir uma definição em relação à qual ele não possa ser utilizado. 2- Sinonímia oculta. O significado de suas expressões pode ser sem isso estar facilmente visível. Se i caso for esse, "bom" seria, na verdade, definível, ainda que o argumento da questão aberta esteja contra. Essa objeção não pode ser estritamente refutada, mas pode-se apenas limitar seu peso. 3- Embora "bom" como expressão moral mais generalizada não pode ser definido independentemente de vários contextos, em alguns desses adquire um firme significado descritivo, de tal maneira que é possível uma definição desse tipo. Entretanto, a isso pode-se objetar que, em determinados contextos, assim como no caso das expressões morais mais concretas, ainda que as fronteiras do que pode ser designado como "bom" ou "mau" possam ser estreitas, são, desde logo, possíveis dúvidas e diferenças de opinião dentro dessas fronteiras. E isso basta para a viabilidade da utilização do argumento da questão em aberto.

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Ibid. p. 47

25

Ibid p. 48

Alexy, conclui que Moore não conseguiu através dos seus argumentos da " openquestion" refutar de forma exaustiva o naturalismo. Todavia, demonstrou que o significado das expressões normativas não coincide, ao menos completamente, com o das expressões descritivas. E finaliza este ponto, em relação ao naturalismo, dizendo que tal filosofia não pode ser aceita, vez que o discurso moral não pode ser reduzidoa discurso puramente empírico.26 Considerando que expressões como "bom" ou "devido" não podem ser definidads mediante expressões empíricas, pode-se supor que expressão outras propriedades ou relações não empíricas, conforme sustentado pela tese da filosofia intuicionista. O intuicionismo prega que as entidades empíricas não são cognoscíveis por meio dos cinco sentidos, mas por uma faculdade especial. Semelhante a um sexto sentido. Ainda segundo as teorias intuicionistas, a tarefa do discurso prático se resolveria mediante verdades evidentes de algum tipo. Alexy, cita algumas argumentos contra o intuicionismo:

Dado que diferentes pessoas respondem de modos diferentes à mesma evidência, a teoria falha ao não fornecer nenhum critério para distinguir as corretas das falsas, as autênticas das não autênticas. Mas a teoria tem de prover esses critérios de desejar que sua proposição tenha estabelecido a possibilidade do conhecimento objetivo e da verdade moral no campo da ética. Na ausência desses critérios para escolher entre as alternativas, o intuicionismo chega ao mesmo resultado do subjetivismo ético. Por mais bem fundamentadas que as objeções do intuicionismo contra o naturalismo possam ser, ele é uma teoria igualmente insustentável.27

Considerando que as proposições normativas não são o mesmo que as proposições sobre objetos empíricos ou não empíricos, Alexy, chega leciona o seguinte:

"A função das expressões usadas nas proposições normativas não se limita a designar algo, mas realizam uma função completamente diferente da de designar ou (no caso de uma tese não tão extrema), juntamente com a função de designar, realizam outra função. Segundo as diferentes teorias emotivistas, essa função consiste em expressar e/ou provocar sentimentos e/ou atitudes. Em contraste com o

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Ibid. p. 49

27

Ibid p. 50

naturalismo e o intuicionismo , o emotivismo representa um novo conceito de linguagem da moral".28

Segundo Alexy, Stevenson é o principal autor emotivista que enriquece sua teoria com elementos subjetivistas e descritivos.

"Segundo Stevenson, a função essencial dos juízos morais não é a de refletir-se a fatos, mas a de influenciar pessoas. Em vez de simplesmente descrever os interesses das pessoas, eles os modificam ou intensificam. As expressões morais são instrumentos de influência psíquica. Elas têm uma função emotiva além da sua função cognitiva".29

No intuito de analisar expressões morais na função emotiva. Stevenson usa dois padrões de análise. Na análise conforme o primeiro padrão, ele usa as seguintes definições, designas como modelos de trabalho: (1) " Isso é mau" significa Desaprovo isso; desaprove você também. (2) "Devo fazer isso" significa Desaprovo que deixe isso sem fazer; desaprove-o você também (3) "Isso é bom" significa Aprovo isso; aprove você também. A análise proposta pelo segundo padrão se serve da distinção feita entre o significado descritivo e o significado valorativo, baseada no seguinte esquema: "Isso é bom" significa "isso tem as qualidades ou relações X, Y,Z..." com a exceção de que "bom" possui também um significado emotivo laudatório que permite expressar a aprovação daquele que enuncia o juízo correspondente e que tende a obter a aprovação da pessoa a que ele se dirige. Para Alexy, "os dois modelos analíticos não excluem mutuamente, mas se complementam. Uma escolha entre eles não tem nenhuma influência especial sobre a questão da fundamentabilidade das expressões morais".30 A critica mais significativa de Alexy ao emotivismo de Stevenson centra-se em sua abordagem psicológica do discurso moral. Para ele " o significado emotivo das expressões 28

Ibid p. 50

29

Ibid p. 51

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morais consiste em seu potencial causal de provocar uma mudança ou fortalecimento das atitudes emocionais."31 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compulsando a critica aos discursos analíticos e emotivistas que MacIntyre e Alexy, tecem ao longo de suas principais obras que tratam sobre o tema, Depois da Virtude (MacIntyre) e Teoria da Argumentação Jurídica (Alexy), percebemos que ambos consideram um método impróprio para lidar com questões éticas32. MacIntyre sugere em Depois da Virtude uma retomada do aristotelismo. Enquanto Alexy sustenta que a teoria do discurso pratico racional deve elaborar regras que governem essa atividade33. A obra Depois da Virtude é a primeira de uma seqüência de três livros nos quais MacIntyre vai evoluindo sua proposta de uma ética das tradições racionalizadas. Em Teoria da Argumentação Jurídica, Alexy estuda o fundamento racionalmente, buscando a correção de seus enunciados regulativos. Neste artigo, concentramos nas críticas de MacIntyre e Alexy às teorias empíricas e emotivistas. Podemos concluir que ambos os filósofos descrevem as causas responsáveis pelo estado de fragmentação da moralidade contemporânea, descritas por MacIntyre e Alexy como abandono à racionalidade prática. Sem embargos, a fragmentação da moral e dos discursos práticos distancia o espírito de justiça material ou processual. Fica evidente que a concepção da justiça, como virtude, se afasta radicalmente das formulações propostas pelo pensamento moderno. Nossa cultura pluralista não tem método de avaliar, não possui critério racional de julgar34. Essa conclusão de MacIntyre é própria da fragmentação moral da justiça vez que atualmente a modernidade contemporânea resolvem seus litígios pautados meramente pelas normas positivadas, esquecendo-se da tradição racional das virtudes. Tal conclusão também e

31

Ibid p. 56

32

Cf. MACINTYRE, Depois da Virtude. p. 09-12. Cf. ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da fundamentação jurídica / Robert Alexy; tradução Zilda Hutchinson Schild Silva; revisão técnica da tradução e introdução à edição brasileira Claudia Tledo - 3ª. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2013. p.105 33

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MACINTYRE, Depois da Virtude. p. 412.

revelada por Alexy em sua crítica ao discurso prático na ética analítica proposta na Teoria da Argumentação Jurídica.

4. REFERÊNCIAS

ALBERTUNI, Carlos Alberto. Os fundamentos da filosofia à luz do pensamento de Alasdair MacIntyre. Campinas: PUC de Campinas, 1999. (Dissertação de Mestrado) ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da fundamentação jurídica / Robert Alexy; tradução Zilda Hutchinson Schild Silva; revisão técnica da tradução e introdução à edição brasileira Claudia Tledo - 3ª. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2013. CARDOSO, Flora Rocha. A teoria das virtudes de Alasdair MacIntyre. Belo Horizonte: UFMG, 2010. (Dissertação de Mestrado) CARVALHO, H.B.A. A contemporaneidade de Aristóteles na filosofia moral de Alasdair MacIntyre. Depois da Virtude. Síntese, 2001, 37-66. ______. Tradição e racionalidade na filosofia moral de Alasdair Macintyre. São Paulo: UNIMARCO, 1999. ______. Hermenêutica e filosofia moral em Alasdair MacIntyre. Belo Horizonte: UFMG, 2004. (Tese de Doutorado) ______. Resenha: Depois da virtude, Revista Hypnos, 2002, 134-140. GONÇALVES, João Pedro. O horizonte da justiça em Alasdair MacIntyre. São Paulo: Loyola, 2011. HAUERWAS, S. The Virtues on Alasdair MacIntyre. First Things: Journal of religion, culture and public life, October 2007, 1-13. ______; Wadell, P. Review on After Virtue by Alasdair MacIntyre. Thomist, 1982, 319-320. KENNEDY, T. The Intelligibility of Moral Tradition in the Thought on Alasdair MacIntyre. Studia Moralia, 1991, 305-321. MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude. Bauru: EDUSC, 2001. ______. Justiça de quem? Qual racionalidade? 4. ed. São Paulo: Loyola, 2010. ______. Animales racionales y dependientes, Por qué los seres humanos necessitamos las virtudes. Barcelona: Paidós, 2001.

______. Moral Rationality, Tradition, and Aristotle: A Reply to Onora O`Neill, Raimond Gaita, and Stephen R. L, Clarck, Inquiry, 1983, 447-466. PERINE, Marcelo. Virtude, Justiça, Racionalidade. A Propósito de Alasdair MacIntyre. Síntese Nova Fase, v. 19 n.58 (1992), 391-412. RIBEIRO, Elton Vitoriano. Reconhecimento Ético e Virtudes. São Paulo: Loyola, 2012. VAZ, Henrique C. de Lima. Antropologia Filosófica I. São Paulo: Edições Loyola, 1991. VIEIRA, Daniela Arantes. Alasdair MacIntyre e a Crítica da Modernidade: Uma contribuição para o debate Liberais versus comunitários. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 2002. WOLF, Ursula. A ética a Nicômaco de Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2010.

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