UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO ESCOLA DE CIÊNCIAS, LETRAS, ARTES E HUMANIDADES CURSO DE LETRAS DISCIPLINA: LINGUÍSTICA I PROFESSORA: SOLIMAR PATRIOTA

May 29, 2017 | Autor: Júnior Xerém | Categoria: Portuguese and Brazilian Literature, Linguistics
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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO
ESCOLA DE CIÊNCIAS, LETRAS, ARTES E HUMANIDADES
CURSO DE LETRAS
DISCIPLINA: LINGUÍSTICA I
PROFESSORA: SOLIMAR PATRIOTA
ALUNOS, MELISSA CASTRO, PAULO ROBERTO JÚNIOR E RAFAELA FERNANDES.
ESTUDOS DO DISCURSO
Introdução: O que é discurso?
Maria do Rosário Gregolin, do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciência e Letras da UNESP diz que "O DISCURSO é um suporte abstrato que sustenta os vários TEXTOS (concretos) que circulam em uma sociedade. Ele é responsável pela concretização, em termos de figuras e temas, das estruturas semio-narrativas. Através da Análise do Discurso é possível realizarmos uma análise interna (o que este texto diz?, como ele diz?) e uma análise externa (por que este texto diz o que ele diz?)". Fiorin também fala sobre o assunto, dizendo "o discurso deve ser visto como objeto lingüístico e como objeto histórico. Nem se pode descartar a pesquisa sobre os mecanismos responsáveis pela produção do sentido e pela estruturação do discurso nem sobre os elementos pulsionais e sociais que o atravessam. Esses dois pontos de vista não são excludentes nem metodologicamente heterogêneos. A pesquisa hoje precisa aprofundar o conhecimento dos mecanismos sintáxicos e semânticos geradores de sentido; de outro, necessita compreender o discurso como objeto cultural, produzido a partir de certas condicionantes históricas, em relação dialógica com outros textos."


1 – Semiótica discursiva:
Apesar de estudos diversos com diferentes abordagens para o tema, há um consenso: a análise do discurso extrapola os limites da palavra ou da frase, ela está preocupada com o "algo a mais" no texto, examinando as relações entre enunciação, enunciado e as questões socioeconômicas que as construíram.
O livro, primeiramente, faz uma análise sob a ótica da Semiótica discursiva de linha francesa. Devemos lembrar que a Semiótica é "a ciência que estuda os signos e todas as linguagens e acontecimentos culturais como se fossem fenômenos produtores de significado" e a Semiótica de linha francesa "parte do pressuposto de que os textos possuem uma lógica subjacente geral. Isso quer dizer que, independentemente das características que individualizam um texto, há esquemas de organização comuns a todos eles" e que a língua é uma construção social.
O livro diz que a semiótica "tem o texto" e não um fragmente isolado, como palavras ou frases e procura mostrar o que este nos diz, os mecanismos que constroem seus sentidos. Esses mecanismos podem ser de dois tipos: a organização linguística e discursiva do texto, dizendo como este se organiza e produz sentidos e as relações com a sociedade e a história, uma vez que o texto dialoga com os demais objetos culturais, visto que está inserido em uma sociedade, em um determinado momento histórico e é determinado por formações ideológicas específicas.

2 – Procedimentos linguístico-discursivos:
Como a semiótica procura explicar o sentido dos textos, ela examinará, em primeiro lugar, o seu "percurso gerativo", ou seja, o seu plano de conteúdo.
2.1 – Percurso gerativo dos sentidos:
O percurso gerativo de sentido "é uma sucessão de patamares, cada um dos quais suscetível de receber uma descrição adequada, que mostra como se produz e se interpreta o sentido." (FIORIN, 2002, p. 17). Segundo o mesmo autor (1999, p. 3), ele se divide em três patamares: as estruturas fundamentais, as estruturas narrativas e as estruturas discursivas.
Primeira etapa: estruturas fundamentais – Os sentidos do texto são entendidos como uma categoria ou oposição de significados, cujos termos são determinados pelo conhecimento empírico do ser vivo sobre esses conteúdos e considerados "atraentes ou eufóricos e repulsivos e disfóricos". Vejamos um exemplo disso na tirinha abaixo:

Para fazermos a análise das estruturas fundamentais desse tempo, pensemos no seguinte:

O que sabemos sobre a personagem Magali?
O que sabemos sobre a história do sapo que vira príncipe?

A partir desse conhecimento prévio, analisemos:

Do ponto de vista da Magali, a oportunidade de ter uma bela surpresa ao beijar o sapo é eufórica, uma vez que, em seu imaginário, ele pode fornecer-lhe algo para comer e a insatisfação ao ver o príncipe, é disfórica, já que seu desejo real não foi atendido. Para o príncipe, a aparência enquanto sapo é disfórica e a volta à condição de príncipe, eufórica. Vamos organizar o quadro semiótico para expor as ideias do quadrinho do ponto de vista do príncipe:
BELEZAFEIÚRANÃO FEIÚRANÃO BELEZALegenda: Termos contrários Termos contraditórios Termos de implicaçãoEUFORIADISFORIABELEZAFEIÚRANÃO FEIÚRANÃO BELEZALegenda: Termos contrários Termos contraditórios Termos de implicaçãoEUFORIADISFORIA
BELEZA
FEIÚRA
NÃO FEIÚRA
NÃO BELEZA
Legenda:
Termos contrários
Termos contraditórios
Termos de implicação

EUFORIA
DISFORIA
BELEZA
FEIÚRA
NÃO FEIÚRA
NÃO BELEZA
Legenda:
Termos contrários
Termos contraditórios
Termos de implicação

EUFORIA
DISFORIA


Desafio:

Do ponto de vista da Magali, como seria organizado o quadro semiótico?

Segunda etapa: estruturas narrativas:
Introdução do sujeito e objetos: O sujeito é a engrenagem que põe a máquina do texto pra funcionar. Na história apresentada anteriormente tanto a Magali, representação de um ser humano, tanto o sapo são considerados sujeitos. Os objetos são papéis narrativos desejados ou não pelo sujeito. Em um texto existem dois tipos de objetos almejados pelo sujeito, são eles:
"Objetos modais: o querer, o dever, o poder e o saber, necessários para a obtenção do próximo tipo de objeto.
Objetos de valor: que são o objetivo último da ação narrativa." (FIORIN, 1999, p.5)
Na tirinha o objeto modal para Magali é beijar o príncipe, meio pelo ela acha que conseguirá o objeto de valor, que é algo para comer; para o sapo, o beijo da Magali também é seu objeto modal, porém o objeto de valor é diferente, uma vez que o mesmo queria voltar à condição de príncipe.
Transformação das categorias semânticas em valores do sujeito e inserção dessas nos objetos com quem ele se relaciona: na tirinha, as categorias "Beleza" e "comida", por exemplo, foram inseridas no beijo, enquanto as categorias "desapontamento" e "realização", foram inseridas na volta à condição humana do príncipe.
Conversão das tensões fóricas em modalizações que transformam as ações e os modos de existência do sujeito e suas relações com os valores: Magali doou o beijo ao príncipe, que, ao ganhá-lo, voltou à condição humana; a menina porém, após fazer a boa ação, continua a pensar somente em comida.
O livro afirma que a narrativa de um texto é a história de um sujeito em busca de valores e que esses valores são inseridos nos objetos, que circulam entre os sujeitos e que, quando um sujeito ganha ou adquire um valor, o outro o doa ou dele é privado. A consequência disso é que a narrativa desdobra-se na história de dois sujeitos interessados e em busca dos mesmos valores.
Cada um dos desdobramentos é organizado em três percursos que se relacionam por pressuposição: o percurso da manipulação, o da ação e o da sanção. Muitas vezes os percursos não estão explicitados nos textos, mas existem, caso contrário a narrativa perde sentido. Nesta parte os três percursos serão abordados rapidamente e melhor desenvolvidos no item 2.2 do trabalho.
Manipulação: O príncipe-sapo persuade Magali a beijá-lo e ela aceita.
Ação: Magali beija o príncipe-sapo
Sanção (não tão explícita na história): Magali fica brava após cumprir o combinado e não receber o que esperava.
Exercício de fixação:
Ouça e observe a letra da canção A Galinha, de Luiz Henriquez, Sérgio Bardotti e Chico Buarque (1980: 41):
Todo ovo
que eu choco
me toco
de novo.

Todo ovo
é a cara
é a clara
do vovô.

Mas fiquei
bloqueada
e agora
de noite
só sonho
gemada.

A escassa produção alarma o patrão.
As galinhas sérias jamais tiram férias. "Estás velha, te perdoo tu ficas na granja
em forma de canja". Ah!!!
É esse o meu troco por anos de choco dei-lhe uma bicada
e fugi, chocada
quero cantar
na ronda
na crista
da onda
pois um bico a mais só faz mais feliz
a grande gaiola
do meu país.
01) Quais seriam os elementos eufóricos e disfóricos do texto?
02) Quais são os sujeitos da canção? Que efeitos um provoca sobre o outro?
03) Observando a partir da 15ª linha, mostre os três percursos do esquema narrativo, mesmo que não explicitados no texto.
04) A canção vai muito além da temática galinha x dono da granja. Que leituras, além desta, você consegue fazer do texto?
Nível discursivo: A narrativa será colocada no tempo e no espaço e os sujeitos, objetos, valores, destinadores e destinatários tornar-se-ão atores do discurso (graças a agentes semânticos e de pessoa, por exemplo) e os valores dos objetos serão difundidos como temas e transformados em figuras.
Na tirinha acima, o texto é narrado em discurso direto e no tempo presente, para produzir a ilusão da realidade e de proximidade da enunciação. Com relação ao espaço, apesar de não estar explicitado, entende-se como as proximidades do bairro do Limoeiro, localidade fictícia onde a maioria das histórias da Turma da Mônica se passam.
2.2. Nível Narrativo
"Valmir Sonda chegada do trabalho para almoçar quando foi assaltado, no ano passado. Dois bandidos quiseram levar seu relógio. Parecia um Rolex, mas era imitação, avaliada em menos de mil dólares. Valmir não entregou o relógio. O assaltante tirou uma arma da cintura e disparou contra seu peito. Ao reparar que um vizinho acompanhava a cena, um dos bandidos tentou matá-lo também. Não deu tempo. "Vamos cair fora", gritou o comparsa que o esperava numa moto. (VEJA, 24 de maio de 1995)"
Os enunciados narrativos são divididos em duas partes:
Enunciados de estado, onde o sujeito e o objeto mantêm relações estáticas entre si, ou seja, relações de CONJUNÇÃO (estar com) o objeto, aquisição e relações de DISJUNÇÃO (estar sem) o objeto, privação.
Enunciados de transformação, esta relação é dinâmica e atua sobre os enunciados de estado, transformando relações de conjunção em disjunção e vice-versa.
Exemplos:
O sujeito Valmir está em conjunção com o objeto relógio. (Conjunção)
O sujeito dois bandidos está em disjunção com o objeto relógio. (Disjunção)
O sujeito dois bandidos procura transformar sua relação de disjunção com o objeto relógio em relação de conjunção. (Transformação)
O esquema narrativo também é composto por três percursos, o percurso da MANIPULAÇÃO, o percurso da SANÇÃO e o percurso da AÇÃO.
Percurso de manipulação: uma ou mais transformações de estado, mas de tipo particular. Um destinador quer levar um destinatário a fazer algo. Para isto deve persuadi-lo e leva-lo a querer ou a dever fazer. Existem, porém, várias estratégias de persuasão:
Intimidação: valores que o destinador acha que o destinatário teme e quer evitar. "Se você não comer, vai ficar de castigo".
Tentação: valores que o destinador julga que o destinatário deseja. "Se você comer tudo, vai ganhar um prêmio".
Sedução: "Você é um menino tão bonito e forte, vai comer tudo, não é mesmo?"
Provocação: "Duvido que você seja capaz de comer tudo, é muito pequeno ainda."
Para seduzir e provocar, o destinador apresenta imagens positivas ou negativas do destinatário e de sua competência. E para que essa manipulação seja bem sucedida, Fiorin diz que importam os conhecimentos que o manipulador tem do manipulado. Outro motivo para que a manipulação possa dar certo é o destinatário confiar no destinador, com isso o destinatário passa a ser um sujeito transformador do percurso da ação.
Percurso da ação: organizam-se dois programas narrativos: um programa narrativo de performance e um de competência.
Performance: transformar disjunção em conjunção pelo mesmo autor, além disso o objeto desejado é um valor descritivo final.
Competência: todo programa de performance pressupõe um programa de competência, mas ao contrário do programa de performance, o sujeito transformador é realizado por um autor diferente e o valor do objeto é modal.
Ao realizar a performance principal da narrativa, o sujeito cumpriu de alguma forma, sua parte no contato assumido com o destinador-manipulador.
Percurso da sanção: é aquele onde o destinador reconhece o destinatário pelo cumprimento ou não do acordo e a retribuição ou a punição daí decorrentes.


Atividades
01. Observe o texto abaixo:
Indique os percursos de ação e sanção da notícia. Justifique sua resposta
02. Na piada que segue, o que você pode dizer sobre o fazer interpretativo e o crer, na perspectiva da semiótica? (Exercício 06 do livro – Página 216)
Dois peões apoiados numa cerca:
- Você acredita na reforma agrária?
- Eu não, mas meu compadre que já andou de disco voador acredita.
03. Explique o que é um desencadeador de isotopias e um conector de isotopias em (exercício 10 do livro – Página 217):
"GRAVE COM BASF e agudos também (propaganda)"
"No baralho da vida, pifei por uma dama (frase de para-choque de caminhão)"
04. Observe a música abaixo:
Camarote
(Wesley Safadão)

Como é que você ainda tem coragem de falar comigo?
Além de não ter coração, não tem juízo
Fez o que fez e vem me pedir pra voltar

Você não merece um por cento do amor que eu te dei
Jogou nossa história num poço sem fundo
Destruiu os sonhos que um dia sonhei
Quer saber? Palmas pra você!
Você merece o título de pior mulher do mundo

Agora assista aí de camarote
Eu bebendo gela, tomando Ciroc
Curtindo na balada, só dando virote
E você de bobeira sem ninguém na geladeira
Agora assista aí de camarote
Eu bebendo gela, tomando Ciroc
Curtindo na balada, só dando virote
E você de bobeira sem ninguém na geladeira
Pra aprender que amor não é brincadeira!

Como é que você ainda tem coragem de falar comigo?
Além de não ter coração, não tem juízo
Fez o que fez e vem me pedir pra voltar

Você não merece um por cento do amor que eu te dei
Jogou nossa história num poço sem fundo
Destruiu os sonhos que um dia sonhei
Quer saber? Palmas pra você!
Você merece o título de pior mulher do mundo

Agora assista aí de camarote
Eu bebendo gela, tomando Ciroc
Curtindo na balada, só dando virote
E você de bobeira sem ninguém na geladeira

Agora assista aí de camarote
Eu bebendo gela, tomando Ciroc
Curtindo na balada, só dando virote
E você de bobeira sem ninguém na geladeira
Pra aprender que amor não é brincadeira!

Mostre os três percursos do esquema narrativo (manipulação, ação e sansão) presentes na música (do ponto de vista dos dois sujeitos).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FIORIN, José Luiz (org). Introdução à Linguística II: princípios de análise. 5ª. Ed. São Paulo: Contexto, 2014.
FAGUNDES, Renata Borba. Uma breve análise do percurso gerativo de sentido em uma tira de Magali. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/wp-content/uploads/2014/04/silel2011_819.pdf. Acesso: 10/05/2016.
___________________. Gustavo Scarpa comemora vitória do Flu: 'Estrear vencendo é essencial'. Disponível em: http://odia.ig.com.br/esporte/fluminense/2016-05-15/gustavo-scarpa-comemora-vitoria-do-flu-estrear-vencendo-e-essencial.html. Acesso: 15/05/2016.
___________________. Camarote: SAFADÃO, Wesley. Disponível em: https://www.letras.mus.br/wesley-safadao/camarote/. Acesso: 15/05/2016.
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