UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE O CAMINHO PARA A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO

October 15, 2017 | Autor: Gabriel Faria | Categoria: Russian Revolution
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE









Gabriel Augusto Faria













Universidade Federal Fluminense
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
Departamento de História
Professor: Bernardo Kocher
Disciplina: Contemporânea II

O CAMINHO PARA A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO


A Revolução Russa de outubro de 1917 foi um acontecimento singular que teve repercussões mundiais e permanentes, no entanto suas raízes podem ser percebidas desde muito mais cedo, tanto nacionalmente quanto internacionalmente e faz-se necessário analisá-las para a sua total compreensão.
A Rússia, em sua história, apresentava um traço constante: o seu lento desenvolvimento. No pré-revolução, apresentava politicamente um Estado despótico personificado na figura do Czar, uma economia atrasada baseada na agricultura e com a industrialização ainda restrita a poucas cidades. O proletariado, relativamente pequeno, se mostrava combativo desde o final do século XIX, fazendo suas primeiras greves em 1890 e fundando em 1897 o Partido Marxista Russo dos Trabalhadores Socialdemocratas. Em 1905 ocorre a primeira Revolução Russa, com um caráter misto, como podemos observar na seguinte fala de Edward Hallet Carr:
"A primeira Revolução Russa de 1905 teve um caráter misto. Foi uma revolta dos liberais e constitucionalistas burgueses contra uma autocracia arbitrária e antiquada. Foi uma revolta dos trabalhadores, inflamada pela atrocidade do "Domingo Sangrento", e que levou à eleição do primeiro Soviete dos Deputados dos Trabalhadores, de Petersburgo. Foi uma revolta generalizada dos camponeses, espontânea e descoordenada, com frequência muito amarga e violenta [...]". (EDWARD HALLET CARR, 1981, P.12).

Nesse sentido, Trotsky afirmou ser a revolução de 1905 um prólogo das duas revoluções de 1917, que acabou não tendo êxito devido à carência de experiência das forças revolucionárias.
Durante os anos que separam esse "prólogo" da revolução de 1917, podemos observar algumas importantes mudanças no cenário político. O regime czarista se coloca ainda mais em contradição às reinvindicações históricas. A burguesia torna-se economicamente mais poderosa graças ao crescimento do capital estrangeiro no país e da concentração no setor industrial, além disso, ela se torna mais conservadora no pós-1905. Por fim, o proletariado se torna mais combativo e politicamente ativo nesses anos, dando seus primeiros passos dentro das condições existentes em um Estado despótico a partir de uma ferramenta política ainda rara no ocidente: a greve política.
Tal fato se torna muito claro quando observamos o número de grevistas políticos em cada ano. Segundo os dados apresentados em "A História da Revolução Russa" de Leon Trostsky, o número de grevistas em 1904 era 25 mil e em 1905 esse número pula para 1 milhão e 843 mil – os operários que participaram de mais de uma greve estão incluídos nesses números mais de uma vez – a análise dos números dos anos subsequentes são ainda mais importantes para a compreensão deste período. Com uma diminuição drástica entre 1908 e 1911, devido à forte repressão czarista e a crise industrial no país. Os números ascendem novamente até o primeiro semestre de 1914, quase se equiparando aos da primeira revolução, mas esse crescimento é momentaneamente interrompido pela eclosão da Primeira Guerra Mundial. A entrada da Rússia na guerra agrava os problemas sociais do país, os soldados eram camponeses uniformizados, o que diminuiu drasticamente a produção agrícola. A luta política é logo retomada em 1915 e culminando finalmente na insurreição de operários e soldados em fevereiro de 1917. Como o autor coloca: "Esses simples dados gravaram fielmente as convulsões da nação."
A Revolução de fevereiro trouxe a derrubada do czar Nicolau II, passando o poder para um Governo Provisório formado por membros da velha Duma. Além disso, têm-se a formação do Soviete de Petrogrado, resgatando a experiência de 1905, e este sendo, de certa forma, rival do Governo Provisório, o que cria uma situação instável de "dualidade de poder". Essa situação ambígua é explicada por Daniel Aarão no seguinte trecho:
"O Governo Provisório dirigia teoricamente o país, mas nada fazia sem o Soviet. A realidade do duplo poder, porém, era encoberto pelas palavras. O exercício de ocultamento não poderia durar. Ou as palavras se renderiam aos fatos, ou estes seriam transformados." (DANIEL AARÃO REAIS FILHO, 1989, P.49).
Em Abril ocorre a conferência da fração bolchevique do Partido, em que 151 delegados, representando 80 mil filiados, garantiram a vitória das ideias de Lenin. As Teses de Abril atacavam a ideia de que o levante de delimitava em uma revolução burguesa e colocava a Rússia em um processo de transição, de uma primeira etapa que deu o poder à burguesia e uma segunda etapa, a Revolução Proletária. Aarão coloca aqui a linha dada por Lenin a partir desse momento:
"Lenin preconizava a destruição do Governo Provisório, o desmantelamento do exército, a nacionalização das terras e dos bancos, o controle da produção pelos operários, o armamento geral do povo e uma nova Internacional. A tática dos bolcheviques consistiria em ganhar os soviets para estas posições. Forjava-se a palavra de ordem: todo poder aos soviets, considerados órgãos do poder operário e camponês. Os bolcheviques eram um partido pequeno mas teriam, a partir de abril, uma linha política coerente." (DANIEL AARÃO REAIS FILHO, 1989, P.51).
Em junho, acontecia em Petrogrado o I Congresso dos Sovietes de Operários e Soldados. Em frente aos mais de 800 delegados, sendo 285 SRs, 248 mencheviques e apenas 105 bolcheviques, Lenin afirma que os bolcheviques estavam prontos para assumir o poder governamental. A influência dos bolcheviques cresce rapidamente, com o partido dirigindo uma manifestação com mais de 500 mil pessoas em Petrogrado em homenagem ao I Congresso dos Sovietes, a maioria das faixas e cartazes exige o fim da coalizão com os burgueses e em julho as autoridades governamentais decidem agir contra os bolcheviques, os acusando de atuarem como agentes alemães. Trotsky é preso e Lenin é forçado a passar para a clandestinidade, fugindo então para a Finlândia, aonde escreve "O Estado e a Revolução".
Em 28 de agosto, Kerenski sofre uma tentativa de golpe da direita pelo general Kornilov, que, entanto, fracassa sem um único disparo. Em setembro os bolcheviques conquistam, pela primeira vez, a maioria nos sovietes de Petrogrado e Moscou. Lenin revive a palavra de ordem "Todo poder aos Sovietes" e nas semanas seguintes passa a persuadir o comitê central do partido na necessidade de uma insurreição imediata do proletariado armado:
"Rechaçando a hesitação dos companheiros que aconselhavam a se ter paciência e esperar pelas eleições para a Assembleia Constituinte, ou pelo menos a planejada reunião do Segundo Congresso dos Sovietes, Lenin retorquia: "A história não nos perdoará se não assumirmos o poder agora"; a essa afirmativa, acrescentava que "postergar é crime"." (Alan Wood, 1987, P.67).
Trotsky, agora solto, era presidente do Soviete de Petrogrado e membro do Comitê Central do Partido Bolchevique. No 10 de outubro Lenin deixa seu esconderijo e se reúne com o Comitê, sua moção pela insurreição armada foi por fim aprovada por dez votos a dois. Trotsky torna-se presidente do Comitê Militar Revolucionário e no dia 25 de outubro a Guarda Vermelha ocupa, sem encontrar resistência, postos-chaves da cidade. O Palácio de Inverno foi tomado pelos Guardas Vermelhos e os membros remanescentes do Governo Provisório foram presos.
Na noite seguinte ocorreu o Segundo Congresso dos Sovietes de Trabalhadores e Soldados de Todas as Rússias em que os bolcheviques já tinham maioria. O congresso declarou dissolvido o Governo Provisório e transferiu a o poder para os Sovietes. Além disso, foram aprovadas duas resoluções definitivas propostas por Lenin: O Decreto sobre a Paz e o Decreto sobre a Terra, o primeiro declarando um armistício imediato e o segundo abolindo a propriedade da terra pelos latifundiários e concedendo o uso da terra a "todos os cidadãos (sem distinção de sexo) do Estado russo que desejassem cultivá-la com seu próprio trabalho". Assim nascia o primeiro governo soviético.


BIBLIOGRAFIA
CARR, E. H. A Revolução Russa de Lenin a Stálin. (1917-1929). Rio de Janeiro, Zahar, 1981.
FILHO, Daniel Aarão Reis. A Revolução Russa: 1917-1921, Brasiliense, 1999.
TROTSKY, Leon. A História da Revolução Russa. 2ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.
WOOD, Alan. As Origens da Revolução Russa de 1861 a 1917, Editora Ática S.A., 1987.

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