Uso do geoprocessamento como ferramenta para análise de impactos ambientais decorrentes da urbanização – Pinhais/Paraná

July 5, 2017 | Autor: Roberta Romano | Categoria: Urban Studies
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VI-057 - USO DO GEOPROCESSAMENTO COMO FERRAMENTA PARA ANÁLISE DE IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO – PINHAIS/PARANÁ Altair Rosa(1) Engenheiro Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Mestre em Gestão Urbana Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Doutorando em Hidráulica e Saneamento na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Cristina Schettini Engenheira Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Mariana Cristina Vaz de Faria Engenheira Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Roberta Giraldi Romano Engenheira Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Professora dos Curso de Biomedicina, Enfermagem e Farmácia das Faculdades Pequeno Príncipe, Mestranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná. Endereço(1): Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prado Velho - Curitiba - PR - CEP: 80215-901 - Brasil - Tel: (41) 3271-1599 - e-mail: [email protected] RESUMO A qualidade e o modo de vida do ser humano estão diretamente relacionados à problemática ambiental, principalmente no ambiente urbano e, consequentemente, a seu processo de urbanização. No Brasil, os principais fatores que influenciaram o aumento da urbanização foram o crescimento vegetativo das áreas urbanas, o movimento de migração rumo aos grandes centros e a mudança para urbanas de áreas antes consideradas rurais. As características da área em que ocorre a urbanização e a forma com que esta é estabelecida são fatores variáveis, porém determinantes, pois um planejamento urbano que não contemple todas as dimensões de uma cidade faz com que muitas questões importantes sejam ignoradas, implicando em possíveis problemas sociais, ambientais e econômicos. Um impacto que pode ser facilmente percebido é em relação aos rios que passam por municípios que tiveram altos níveis de crescimento urbano; a falta de planejamento destes municípios fez com que muitas pessoas se instalassem em áreas muito próximas ao leito dos rios, de forma inapropriada e sem infraestrutura básica, como o saneamento. Neste contexto, este trabalho realizou uma análise das alterações ocorridas pela urbanização na Bacia Hidrográfica do Rio Palmital em Pinhais/PR através da elaboração e análise de mapas temáticos e do histórico e caracterização do município. PALAVRAS-CHAVE: Urbanização, desenvolvimento sustentável, mapas temáticos, rios urbanos.

INTRODUÇÃO A literatura demonstra que até a década de 90 os estudos relativos aos problemas ambientais ainda eram limitados pela falta de conhecimento sobre as consequências na qualidade de vida futura. A intensidade da urbanização e as altas taxas de crescimento urbano, verificadas no Brasil nos últimos anos, mudaram o cenário dos problemas ambientais, anteriormente vistos somente como relacionados aos ecossistemas naturais, passando a questão ambiental a ser considerada como primordial para a vida. A proteção e melhoria do meio ambiente no Brasil são de responsabilidade do Sistema Nacional do Meio Ambiente, o qual é constituído pelos órgãos e entidades da União, Estados, Municípios e pelas fundações do Poder Público, tendo por missão estabelecer o compromisso de garantir o equilíbrio entre os impactos gerados pela atividade humana e a capacidade de suporte da natureza (BRAGA, 2002). A urbanização tem bases na história e geografia, estabelecendo as características das regiões. A mesma é processual e multivariada, onde cada tipo se identifica no surgimento e no desenvolvimento da rede urbana. A ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

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população é quem impulsiona os processos de urbanização, variando de acordo com suas características, alterando o meio ambiente e causando problemas de diferentes escalas como a impermeabilização do solo, poluição das águas, poluição atmosférica, entre outros dependendo do contexto geográfico e das formas de produção e consumo (PAVIANI, 1989). De acordo com Leff (1994, apud MOTA, 1999), os processos históricos e econômicos ocorridos durante as últimas décadas resultaram em grandes aglomerações urbanas e também em impactos ambientais negativos, causados por essas aglomerações. A falta de planejamento, de estruturação da posse de terra, as técnicas não apropriadas de agricultura e o rápido surgimento de indústrias, pelo modo de desenvolvimento do Brasil, também fizeram com que essas aglomerações aumentassem ainda mais, as quais induziram a um aumento do fluxo de imigrantes para as metrópoles visando uma melhor qualidade de vida. Considerando a falta de planejamento urbano e ambiental, já nesta época, essas metrópoles não suportariam todo esse contingente, causando a degradação e poluição ambiental. Com os impactos causados sobre o meio, como a poluição do ar, da água e sonora, a qualidade de vida sofre também uma depreciação. Segundo Mota (1999), a população mundial cresceu de forma rápida em pouco tempo, ocorrendo uma grande concentração de pessoas nas áreas urbanas. A partir da década de 60, quando a população urbana era de 45% até hoje, quando representa 84% do total de 190.732.694 habitantes em 2010, (IBGE, 2010) houveram muitos desafios a serem enfrentados pelo planejamento, com relação ao desenho urbano, os aspectos físicos da cidade, regulamentação social, política, econômica e ambiental (Rolnik e Saule, 2002). No Brasil, em sessenta anos, os assentamentos urbanos expandiram-se para abrigar mais de 125 milhões de pessoas. Em 1940 a população urbana era de 26,3% do total, em 2000 passou para 81,2% (MARICATO, 2000). A manutenção do processo de urbanização decorreu de três fatores: o crescimento vegetativo das áreas urbanas, o movimento de migração rumo aos grandes centro e a mudança de áreas antes consideradas rurais para urbanas. O crescimento urbano ocorreu de forma rápida e sem um correto planejamento, tendo como consequência o agravamento dos problemas ambientais e sociais. Muitos impactos negativos foram detectados e na maioria das vezes sem previsão de uma solução. Um impacto que pode ser facilmente percebido é em relação aos rios que passam por municípios que tiveram altos níveis de crescimento urbano. A falta de planejamento destes municípios fez com que uma parcela considerável da população se instalasse em áreas muito próximas ao leito de rios, de forma inapropriada e sem infraestrutura básica de saneamento. A criação da Região Metropolitana de Curitiba ocorreu juntamente com o período de maior expressão do êxodo rural brasileiro e paranaense, na década de 70. A intensidade com que o êxodo ocorreu fez com que alguns núcleos urbanos considerados pequenos (as regiões metropolitanas propriamente ditas) situadas muito próximas à cidade polo, não tivessem condições de se estruturar, levando a processo de urbanização de forma desordenada, dando origem áreas de periferias (COMEC apud AMARAL e MENDONÇA, 2002). Mesmo com a preocupação de muitos quanto ao meio ambiente, que aumenta cada vez mais, muitas cidades não possuem ainda um planejamento voltado para o desenvolvimento sustentável (MOTA, 1999). De acordo com Garcias (2003), a velocidade e intensidade do crescimento urbano provocam diversos impactos negativos à população e ao meio ambiente no qual se inserem. Essa problemática pode ser presenciada no Município de Pinhais, no Paraná, que constitui o objeto deste trabalho. O Rio Palmital, caracterizado como rio urbano de Pinhais, sofre alterações em suas características naturais, devido ao processo de instalações irregulares. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo geral identificar quais as alterações ocorridas na Bacia Hidrográfica do Rio Palmital ao longo do processo de urbanização do Município de Pinhais, através da leitura de mapas temáticos em que serão abordados aspectos como áreas verdes, áreas urbanizadas e Áreas de Preservação Ambiental.

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MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia de pesquisa empregada se caracterizou pelo seu caráter exploratório, pois se pretendeu uma maior aproximação e familiaridade com a realidade pesquisada, integrando conhecimento empírico com a literatura, enquanto instrumento de promoção do desenvolvimento sustentável. O procedimento de coleta de informações necessárias à construção do raciocínio exposto foi o estudo de caso. As informações levantadas foram confrontadas com referências da bibliografia visando compreender a relevância e as dificuldades de praticar um eficiente gerenciamento ambiental e planejamento de áreas ambientalmente frágeis, que de alguma maneira possam contribuir para a gestão de municípios. O estudo de caso obteve como análise a leitura de mapas temáticos onde foram observadas as mudanças ocorridas na Bacia Hidrográfica do Rio Palmital durante os anos de 1998 e 2009. Os temas dos mapas temáticos tratam da presença/ausência de mata ciliar, presença/ausência de áreas verdes e ocupação urbana do solo. Além disso, foram feitas visitas técnicas em toda a extensão da Bacia do Rio Palmital a fim de avaliar, pesquisar e registrar fatos ou situações relevantes condizentes com a problemática. A elaboração dos mapas temáticos foi realizada juntamente à Prefeitura de Pinhais, através do acesso a informações contidas no banco de dados da Prefeitura e do programa ARCVIEW 2010. As áreas verdes foram selecionadas e separadas das áreas construídas. Um buffer foi realizado para a criação da faixa da mata ciliar. Essas seleções foram feitas para os dois mapas separadamente. Após a elaboração dos mapas, foi realizada a análise da presença/ausência de mata ciliar, presença/ausência de áreas verdes e ocupação urbana do solo. Segundo Archela (2008) “cada mapa possui um objetivo específico, de acordo com o propósito de sua elaboração. A função do mapa temático é dizer o quê, onde e, como ocorre determinado fenômeno geográfico”. Neste sentido, foram feitas as análises de cada ano, uma análise quanto às modificações entre os dois mapas e uma nova análise pode elucidar os resultados e direcionar as propostas de intervenção, também apresentadas neste trabalho.

ÁREA DE ESTUDO Município de Pinhais O estudo de caso foi aplicado no município de Pinhais/PR, onde parte do Rio Palmital se localiza. O município de Pinhais é um dos municípios que faz parte da Região Metropolitana de Curitiba, com mais 28 municípios (Figura 1).

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Figura 1: Localização do município de Pinhais. Pinhais, o menor município do Paraná, possui área territorial de 61.137 km² e dista aproximadamente 9 km da capital do Estado. Segundo dados da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – COMEC (2006), até o ano de 1992 Pinhais pertencia ao município de Piraquara/PR, porém houve um desmembramento dessa região e o Distrito de Pinhais tornou-se um Município, encontra-se na porção leste da Região Metropolitana, na bacia do Alto Iguaçu, fazendo divisa com os municípios de Colombo, Curitiba, Piraquara, Quatro Barras e São José dos Pinhais. Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2000, somente o município de Pinhais, contribuía com 102.985 habitantes e segundo contagem populacional de 2007, com 112.038 habitantes. Atualmente a população estimada pelo IBGE é de 118.319 habitantes, com uma densidade de 1.935,31 hab./Km². Com esse aumento da população, a ocupação do município não ocorreu de maneira ordenada, carecendo de um planejamento urbanístico. Como resultado da falta de planejamento e adaptação dos lotes, muitas áreas sofrem com a ausência de saneamento e infraestrutura. Rio Palmital Segundo o Plano Diretor de Pinhais, o Rio Palmital possui sua nascente no município de Colombo/PR. O rio em questão possui uma extensão é de 21 km percorre o município de Pinhais de norte a sul, tendo por fim seu desague no Rio Iraí, na divisa com o município de São José dos Pinhais. Segundo a Andreoli et al. (2000), a área que o Rio ocupa é de aproximadamente 90km². O Rio Palmital possui uma vazão de 372 l/s. O canal do rio apresenta muitos pontos de assoreamento, o que indica um grande processo de erosão das margens pela ocupação irregular e reduzida faixa de mata ciliar. Além desses problemas, ocorrem também pontos de alagamentos na porção a jusante do rio. Segundo Andreoli (2003), este fato ocorre devido à planície de inundação em que o mesmo encontra-se, que é formada por sedimentos aluvionares, o que tornam necessárias operações de dragagens e remoção de resíduos do canal. De acordo com o Plano Diretor de Pinhais (2010), a maior causa de alteração da qualidade da água dos mananciais que passam por Pinhais é decorrente da ocupação urbana, principalmente pelos resíduos e despejos gerados pela população que ocupa essas áreas. O rio recebe ao longo de seu trajeto grande quantidade de esgoto não tratado de áreas povoadas em seu entorno. A Vila Zumbi é exemplo da situação exposta. A mesma 4

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possui mais de 2000 habitações que não contam com uma infraestrutura básica de saneamento e não possuem coleta e nem tratamento de esgoto. Além do esgoto que é despejado diretamente no rio, há também os resíduos sólidos que são transportados pelas galerias pluviais e valetas de drenagem (ANDREOLI et al. 2003). Grande parte da bacia hidrográfica do Rio Palmital é considerada área urbana. A encosta natural do Rio na margem direita possui uma alta concentração de ocupação, já a encosta natural da margem esquerda do Rio possui trechos sem ocupação, que possuem ainda sua vegetação natural, em terrenos significativos. Além disso, há também alguns empreendimentos ao longo da Bacia do Rio Palmital, sendo indústrias e comércios de embalagens plásticas, cosméticos, fertilizantes e de materiais de construção. Esses empreendimentos fazem a utilização de produtos químicos, substâncias tóxicas, e se encontram, em alguns casos, em locais de alta fragilidade ambiental (VOLOCHEN, 2005). A Figura 2 mostra os bairros que pertencem à Bacia do Rio Palmital.

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Figura 2: Bairros da Bacia do Rio Palmital em Pinhais/PR

ANÁLISE DOS MAPAS TEMÁTICOS Os mapas temáticos (Figuras 3 e 4) apresentam a Bacia do Rio Palmital nos limites do município de Pinhais. Os mapas são os instrumentos utilizados neste trabalho para uma análise das condições do meio, referenciando-se as áreas urbanizadas (construções de casas, comércio, ruas e indústrias), áreas verdes e Áreas de Proteção Permanente, que de acordo com o Código Florestal, constitui a obrigatoriedade de uma faixa de 50 metros de mata ciliar às margens do rio.

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Mapa temático de 1998

Figura 3: Mapa temático de 1998. Através da imagem de satélite de 1998, foram elaborados mapas temáticos (Figura 3) considerando os aspectos: áreas verdes, áreas urbanizadas e mata ciliar. Com a imagem de satélite apresentada na Figura 2 foi possível perceber que as maiores manchas de urbanização (cor cinza) se localizam na margem esquerda Rio Palmital, na parte superior - Bairro Jardim Cláudia; no centro da bacia também ao lado esquerdo, Bairro Alto Tarumã e em ambos os lados do rio na parte sul da bacia, onde se localizam os Bairros Pineville, Centro, Vargem Grande, Jardim Amélia, Jardim Karla, Maria Antonieta e Parque das Águas. As áreas que têm pouca influência da urbanização estão situadas na margem direita do Rio Palmital, na porção central e norte da bacia (Alphaville e Jardim Amélia) poucas e pequenas faixas de áreas urbanas podem ser observadas. Na região central, porém na margem esquerda (Alto Tarumã e Pineville) e na porção sul, a margem direita (Jardim Karla), são significativas as áreas em que não se percebe a urbanização. As áreas verdes existentes na Bacia Hidrográfica do Rio Palmital no ano de 1998 são observadas em manchas isoladas principalmente na margem direita da bacia (Alphaville, Jardim Amélia e Jardim Karla), na parte sul também na margem direita (Maria Antonieta) verifica-se uma faixa de áreas verdes. Já na margem esquerda do ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

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rio, somente algumas verdes são encontradas. É principalmente na região central (Pineville) que é possível localizar as áreas verdes. Ao longo do resto da Bacia Hidrográfica do Rio Palmital, observa-se que à margem esquerda, poucas e pequenas manchas são visualizadas. As áreas de APP que compreendem a uma faixa de 50 metros para ambos os lados do rio, estabelecidos pelo Código Florestal como mata ciliar a fim de diminuir a erosão, proteger o rio, preservar a fauna, entre outros fatores, é visivelmente desrespeitada ao longo da bacia. Na região central da bacia, descendo sentido ao sul é aonde se encontra a maior quantidade de mata ciliar. Além disso, muitas vezes ocorrem ocupações urbanas nessas áreas que deveriam contar com uma cobertura florestal, resultando não somente na ausência de uma ferramenta essencial ao rio, como na degradação do meio, pelo fato de essas ocupações serem irregulares e não contarem com a infraestrutura básica necessária. Muitas dessas ocupações lançam seus resíduos e esgoto diretamente no rio, acarretando na sua poluição. Mapa temático de 2009

Figura 4: Mapa temático de 2009. Utilizou-se um mapa do ano de 2009 pela disponibilidade de dados da Prefeitura Municipal de Pinhais. O mapa (Figura 4) foi elaborado com base em uma imagem de satélite do mesmo ano, onde é possível observar o grande avanço do processo de urbanização. As manchas que se referem às áreas urbanizadas são evidentes e 8

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constituem os grandes locais de concentração de residências, comércio e indústrias. Essas manchas de áreas urbanizadas compõem a maior parte da ocupação da Bacia Hidrográfica. O local em que há uma grande área não ocupada é a região central, à margem direita do Rio Palmital. Há também uma faixa de vazio urbano ao norte da Bacia Hidrográfica, à sua margem direita, região em que se localizam os bairros Alphaville e Jardim Amélia. Algumas outras áreas podem ser notadas ao longo da bacia, mas em menor proporção e em meio a todas as manchas das áreas urbanizadas, como nos bairros Alto Tarumã, Pineville, Centro e Jardim Karla. Na porção central e norte da bacia, nos bairros Alphaville e Jardim Amélia, principalmente, notam-se regiões de vazios urbanos, que não contam com a utilização do solo que se encontram muitas vezes em mal estado de conservação ou como local de despejo de entulhos. As mais facilmente notadas se localizam ao norte da bacia, à margem direita, no bairro Alphaville, a porção central da bacia, também à margem direita, no Jardim Amélia e em outros pontos, em manchas menores. Os locais onde menos se observa as áreas verdes são na parte norte, à margem esquerda da bacia, no bairro Jardim Cláudia e ao extremo sul, tanto a margem direita quanto à esquerda, nos bairros Vargem Grande, Maria Antonieta e Parque das Águas. Observou-se que a Área de Preservação Permanente é respeitada em alguns trechos do rio, principalmente na área mais central da bacia, na altura dos bairros Jardim Karla, Pineville e Alto Tarumã, Figura 5. Muitos locais além de não possuírem cobertura vegetal compondo a mata ciliar, são ocupados por áreas urbanas irregulares que geram a degradação do Rio Palmital.

Figura 5: Foto aérea bairros Alto Tarumã e Jardim Karla. DISCUSSÃO Comparação dos Mapas Temáticos de 1998 e 2009 Através da leitura e análise dos mapas temáticos elaborados com base em imagens de satélite de 1998 e 2009 é possível afirmar que aconteceu um acentuado processo de urbanização durante 11 anos em Pinhais/PR, intervalo de tempo das imagens utilizadas para a confecção dos mapas temáticos. A ocupação urbana ocorreu de forma crescente e não planejada, ocupando áreas que antes compunham principalmente áreas de campos. Salienta-se que nesse período não houve supressão de grandes áreas de vegetação para que a área urbana fosse constituída, pois grande parte das áreas verdes encontradas no mapa temático de 1998 ainda pode ser visualizada no mapa temático de 2009 e, além disso, novas áreas verdes constituem o mapa de 2009.

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Um dos locais em que se percebe uma mudança drástica na ocupação urbana é no bairro Alphaville, porém a maneira com que foi realizado o loteamento e ocupação do bairro fez com que poucas áreas verdes fossem retiradas e algumas até implantadas, além de se tratar de um local em que a densidade populacional é baixa e a infraestrutura ideal. Com o aumento de áreas urbanizadas muitas das manchas urbanas que surgiram foram em APP. Áreas que se encontram duplamente irregulares, primeiramente por não conterem a mata ciliar e também concentrar uma ocupação urbana. Essas áreas urbanas que se encontram em APP são as principais causas da degradação do rio. Grande parte da população que ocupa regiões de fragilidade ambiental é de baixa condição financeira e invadem estas áreas. Estas instalações ao longo do rio não possuem infraestrutura e saneamento básico, conforme já comentado, acarretando no lançamento de resíduos, esgoto e resíduos sólidos, diretamente no rio. Isto pode ser justificado pela presença de ligações clandestinas de esgoto e de disposição de resíduos sólidos diariamente no leito do rio, como foi constatado em visita técnica. Outra situação que pode ser verificada durante as visitas técnicas foi a disposição a céu aberto dos resíduos sólidos urbanos, formando depósitos em áreas próximas ao rio, que com o passar do tempo e a falta de uma eficiente coleta por parte da prefeitura esses resíduos acabam indo para o leito do rio (Figuras 6 e 7) através da ação do vento e da chuva.

Figura 6: Resíduos depositados nas margens do rio

Figura 7: Resíduos carreados pelo rio

Os principais bairros em que essa situação ocorre e que são as grandes problemáticas do município em relação à degradação do rio são: Jardim Cláudia, Pineville, Vargem Grande (à margem esquerda do rio) e Jardim Karla e Maria Antonieta (à margem direita do rio). A Resolução CONAMA n° 430 de 2011, estabelece que qualquer efluente só poderá ser lançado nos corpos d’água após o tratamento do mesmo, para que não cause a poluição ou contaminação das águas, porém, como observado em campo, não é isso o que ocorre nessa região. A resolução é notoriamente desrespeitada. Analisando os dois mapas temáticos, nota-se a existência de vazios urbanos, mais frequente em 1998 do que em 2009. Esses vazios urbanos encontrados ao longo da bacia tornam-se alvo de despejo de materiais, como entulho de construções.

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Há algumas regiões em que foram observadas novas áreas de cobertura florestal sendo que as mais notáveis estão na área do centro de Pinhais, no Alphaville e no Jardim Cláudia, onde uma parte da área verde constitui a APP, e no Pineville, que também contou com acréscimo de mata ciliar ao longo do rio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O acelerado processo de urbanização que ocorreu no Município de Pinhais/PR seguiu a mesma linha de desenvolvimento de toda a Região Metropolitana de Curitiba/PR, onde cada município direcionou seus investimentos de acordo com seus interesses. Por tratar-se de uma região interdependente, a falta de planejamento em conjunto acabou por prejudicar o desenvolvimento de alguns municípios. O município de Pinhais esta localizado muito próximo ao centro da cidade de Curitiba, possui uma boa acessibilidade tanto de transporte público quanto privado. Isto fez com que a especulação imobiliária tornasse o município alvo de negócios imobiliários, não somente para as classes mais baixas, que podem adquirir terrenos com valores mais acessíveis do que em Curitiba, mas também para condomínios de luxo, como pode ser presenciado no município. Atraídos pelos baixos preços praticados e pela disponibilidade de áreas, o contingente de pessoas em Pinhais cresceu significativamente, promovendo o processo rápido e intenso de urbanização de Pinhais. Com isso, um grande número de pessoas foi em busca de qualidade de vida, grande parte da população não possuía condições financeiras para instalar-se em locais adequados, ocorrendo então a ocupação em locais que não poderiam ser construídos e edificados, como as áreas de preservação permanente. Este cenário se origina de diversos outros fatores relacionados à falta de gestão urbana do município, da prática de educação ambiental e do cumprimento da legislação. É de responsabilidade do município o ordenamento territorial adequado, utilizando o planejamento e o controle do uso e da ocupação do solo, mas observa-se que Pinhais não tem aplicado seus instrumentos de planejamento urbano. A população que se instala em áreas de mananciais e beiras de rios não assimila que tal ação possa representar risco aos recursos naturais e a própria população, que sofrem com repetidas enchentes nas áreas citadas, expostas à doenças veiculadas pelas águas poluídas. Os mapas analisados refletem todo o contexto histórico da evolução da urbanização de Pinhais. É visível a grande expansão das áreas urbanizadas em apenas 11 anos (1998-2009) e, percebeu-se que a ocupação do município não afetou em grande escala as áreas verdes da bacia. Algumas manchas verdes deram lugar a novas áreas urbanizadas, porém novas áreas verdes surgiram e a grande maioria delas continuou presente onde estavam apesar da alteração de sua densidade. A lei de zoneamento tem um alto grau de funcionalidade na bacia. Durante a visita ao local, somente um empreendimento foi considerado inadequado por estar infringindo a proibição de indústrias ou atividades poluidoras na zona restrita a ocupação, mas ao se aprofundar no conhecimento da empresa, nota-se que ela está instalada no local desde 1987, antes de haver um comprometimento de fiscalização para os cuidados com o meio ambiente. Atualmente, verifica-se a falta de melhor estrutura por parte da prefeitura e órgãos ambientais para a fiscalização da licença deste estabelecimento. Com os projetos contidos no Plano de Ações do Plano Diretor de Pinhais, juntamente com a realocação do PAC e construção de parques no município, Pinhais pode alcançar a otimização do solo e de todo o meio em geral. Infelizmente, muitas vezes estes projetos não são executados, o que acarreta na descrença de toda a população na relação do bem estar próprio com o meio ambiente. Com a retirada das pessoas que residem em APP e a implantação de parques e mata ciliar, as características do rio podem voltar à sua originalidade, pois deixariam de ser lançados efluentes sem tratamento e resíduos diretamente em sua extensão. Além disso, um fator que se faz necessário é o investimento na educação ambiental, partindo do ponto de análise de que a informação é a base do controle social, que é de extrema importância para a efetividade de qualquer projeto que envolva o homem e o meio ambiente, visando a viabilização do desenvolvimento sustentável.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AMARAL, Sônia Burmester; MENDONÇA, Francisco de Assis. Recursos Hídricos e Urbanização: A Problemática da RMC/Curitiba-PR. Mercator – Revista de Geografia da UFC, ano 1, número 2. 2002. 2. ANDREOLI, Cleverson Vitório et al. Os Mananciais de Abastecimento do Sistema Integrado da Região Metropolitana de Curitiba - RMS. In: VIII - Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2000, Porto Seguro. Anais - VIII Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Seguro-BA : ABES/APRH, 2000. 3. ANREOLI, Cleverson Vitório et al. A crise da água e os mananciais de abastecimento. In: ANDREOLI, Cleverson Vitório (Org.) Mananciais de abastecimento: Planejamento e Gestão. Curitiba: SANEPAR, Finep, 2003. P. 33-82. 4. ARCHELA, Rosely Sampaio; Théry, Hervé. Orientação metodológica para construção e leitura de mapas temáticos. 3 ed. Confins, 2008. Disponível em: . Acessado em 27 de julho de 2010. 5. BRAGA, BENEDITO. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice-Hall, 2002. 6. COORDENAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. Plano de Desenvolvimento integrado da Região Metropolitana de Curitiba: propostas de ordenamento territorial e novo arranjo institucional. Curitiba, 2006. 7. GARCIAS, Carlos Mello. DINÂMICA DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM MANANCIAIS. In: Cleverson V. Andreoli. (Org.). MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO: PLANEJAMENTO E GESTÃO - Estudo de caso do Altíssimo Iguaçu. 01 ed. Curitiba - Pr: Cleverson V. Andreoli, 2003, v. 01, p. 135176. 8. GOOGLE EARTH. SOFTWARE. 2009. 9. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo 2000. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/censo/divulgacao_digital.shtm>. Acesso em: 05 mar. 2012. 10. PAVIANI, A. Reorganização Regional e a Interdisciplinaridade: Desafio paras os anos 90. Geosul, 1989. 11. MARICATO, Ermínia. Urbanismo na Periferia do Mundo Globalizado - Metrópoles Brasileiras. São Paulo em Perspectiva. 2000, vol.14, n.4. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000400004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 09 jun. 2010. 12. MOTA, Suetônio. Urbanização e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999. 13. PINHAIS. Lei Municipal n. 1.113 de 13 de julho de 2010. Disponível em . Acesso em 17/08/2010. 14. ROLNIK, R. e SAULE, N. (orgs.) (2002). Estatuto da Cidade: guia para implementação pelos mu¬nicípios e cidadãos. Brasília, Instituto Pólis; Caixa Econômica Federal – CEF; Câmara dos Deputados/Coordenação de Publicações. 15. VOLOCHEN, Valdir; LIMA, Elaine de Cacia. Irradiação de Passivos Ambientais Frente à Fragilidade Ambiental e Aspectos Industriais na Bacia Hidrográfica do Rio Palmital – PR. Trabalho de Conclusão de Curso. Curitiba, 2005.

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