Uso do subgalato de bismuto para hemostasia local em hepatectomias parciais em ratos

October 2, 2017 | Autor: Junior Santana | Categoria: História De Goiás
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Goiás, fogo e paixão
Goiás, fire and passion
João Luis Bispo de Oliveira Junior1
Junior Santana Lucio de Andrade2
César Viana Teixeira 3

1Pontifícia Estudante de Graduação 4º semestre do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da PUC-GO, email: [email protected]

2Pontifícia Estudante de Graduação 4º semestre do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da PUC-GO, email: [email protected]

3Orientador deste trabalho, professor de Comunicação Social da PUC-GO, disciplina Práticas de Campanha Publicitária II

Resumo: Todo artigo e ensaio deve vir precedido de um resumo em português. O resumo dos artigos e ensaios deve conter no máximo 250 caracteres, incluídos os espaços em branco. Deve vir precedido da palavra "Resumo", seguida de dois-pontos, e deve constituir um resumo informativo, e não apenas indicativo. O resumo deve vir em itálico, com espaçamento simples entre as linhas, e deve ser seguido de palavras-chave, entre três e cinco, separadas por ponto-e-vírgula. É obrigatória a apresentação, em seguida, de pelo menos um resumo em língua estrangeira (espanhol, francês ou inglês). Não é necessário apresentar, depois do resumo em português, os três resumos em língua estrangeira indicados abaixo; apenas um deles já será suficiente.
Palavras-Chave: Goiás, Vila Boa, turismo, procissão, Fogaréu.
Cidade de Goiás
Goiás Velho, também conhecida como Cidade de Goiás ou Vila Boa, é um município brasileiro situado no interior do estado de Goiás, onde foi sua primeira capital, e reconhecida em 2001 pela UNESCO como sendo patrimônio histórico e cultural mundial por sua arquitetura barroca peculiar, por suas tradições culturais seculares e pela natureza excepcional presente na pequena cidade que vive em sua essência como se nunca houvesse saído do período barroco.
A história da cidade de Goiás se confunde com os primeiros passos do estado de mesmo nome. Nas primeiras décadas do século XVIII, começaram a chegar à região, bandeirantes paulistas motivados pela descoberta de ouro. Dos diversos arraiais criados em torno dos locais de exploração do mineral, destacou-se o Arraial de Sant'Ana, fundado às margens do rio Vermelho em 1722 por Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como Anhangüera.
Pouco mais de uma década depois, em 1736, o local foi elevado à condição de vila administrativa, com o nome de Vila Boa de Goyaz. Nesta época, ainda pertencia à Capitania de São Paulo. Em 1748, foi criada a Capitania de Goiás, mas o primeiro governador, dom Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, só chegaria ali cinco anos depois. Com ele, instalou-se um "Estado mínimo" e, logo, a vila transforma-se em capital da comarca. A cidade foi próspera enquanto havia riqueza na época do ciclo do ouro. Com o esgotamento do ouro, em fins do século XVIII, Vila Boa teve sua população reduzida e precisou redefinir suas atividades econômicas para a agropecuária, mas ainda assim cultural e socialmente sempre esteve sintonizada com as modas do Rio de Janeiro, então capital do Império. Daí até o início do século XX, as principais manifestações seriam de arte e cultura, com sarais, jograis, artes plásticas, literatura, arte culinária e cerâmica - além de um ritual até então único no Brasil, a Procissão do Fogaréu, realizada na Semana Santa.
Entretanto, a grande mudança, que já vinha sendo planejada há muito tempo, foi a transferência da capital estadual para Goiânia, nos anos trinta e quarenta, coordenada pelo então interventor do Estado, Pedro Ludovico Teixeira. De certa forma, foi essa decisão que preservou a singular e exclusiva arquitetura colonial da Cidade de Goiás.
Hoje, a Cidade de Goiás investe no turismo cultural e no ecoturismo. Além de projetos para o turismo ecológico em períodos de baixa temporada, há grandes marcos anuais na cidade que movimentam a economia e proporcionam um contato com a cultura e a comunidade local. Além disso, Goiás Velho é uma cidade extremamente ligada a religiosidade. Seus movimentos, celebrações e manifestações são em sua maioria ligados ao Catolicismo, esta religião que cresceu entrelaçada ao município, criando não só uma comunidade cristã, mas um processo religioso que sobrevivi há anos, passado e carregado pelas que pessoas que habitam aquela região, representado de forma imagética em sua arquitetura, sua cultura e seus hábitos.

Turismo
De acordo com Moura, o turismo é uma atividade que envolve o deslocamento de pessoas de um lugar para o outro e que gera estadias diferentes daqueles do seu entorno habitual. É uma mistura complexa de elementos materiais, que são os transportes, os alojamentos, as atrações e as diversões disponíveis, e dos fatores psicológicos, que seriam desde uma simples fuga, passando pela concretização de um sonho ou fantasia, até simplesmente a recreação, o descanso e incluindo ainda inúmeros interesses sociais, históricos, culturais e econômicos.
O turismo, tal como o observamos atualmente, nasceu no século XIX, logo após a Revolução Industrial, o que possibilitou deslocamentos de pessoas, tendo por objetivo o descanso, o ócio, ou ainda motivos sociais ou culturais. Anteriormente, as viagens prendiam-se mais com a atividade comercial, os movimentos migratórios, as conquistas e as guerras.
Hoje, cada vez mais pessoas em todo o mundo encontram nas viagens a melhor alternativa para preencher seu tempo livre. Daí as boas perspectivas para o turismo, se tornando uma das principais "indústrias" do nível regional ao internacional.

Turismo cultural
É fato percebermos que o comportamento do consumidor de turismo está em constante mudança, como resultado destas mudanças, surgem novas motivações e expectativas que precisam ser atendidas. A partir destas demandas, em um mundo globalizado e cheio de concorrência, se diferenciar adquire sempre maior importância. Os consumidores exigem deste segmento, cada vez mais opções de roteiros turísticos que se adaptem às suas necessidades, sua situação pessoal, social ou econômica, além de seus desejos e preferências. Nesta perspectiva, podemos apontar o chamado turismo cultural, um conceito extremamente amplo, que designa uma modalidade de turismo cuja motivação do deslocamento se dá, em geral, com o objetivo de encontros artísticos, científicos, de formação e de informação.
De acordo com Sansolo o Turismo Cultural é motivado pela busca de informações, de novos conhecimentos, de interação com outras pessoas, comunidades e lugares, da curiosidade cultural, dos costumes, da tradição e da identidade cultural. Além disso, esta modalidade turística se caracteriza por uma permanência prolongada e um contato mais profundo com a comunidade local com o intuito de aprofundar-se na experiência cultural, assim este segmento turístico se baseia fundamentalmente pelo comportamento, preparação e foco do turista e não do patrimônio da localidade, pois se sustenta no esforço de conhecer, pesquisar e analisar dados, obras ou fatos, em suas variadas manifestações.
Compreendendo o turismo cultural como um conjunto de atividades turísticas relacionadas à vivência de vários elementos significativos de determinado patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, devemos levar em consideração a valorização e a promoção dos bens materiais e imateriais de uma cultura, onde, cultura representa todas as formas de expressão do homem: o sentir, o agir, o pensar, o fazer, bem como as relações entre os seres humanos e destes com o meio ambiente.
Podemos considerar patrimônio histórico e cultural os bens de natureza material e imaterial que expressam, revelam e manifestam a memória e a identidade de determinadas comunidades. São bens culturais de valor histórico, artístico, científico, simbólico, passíveis de se tornarem atrações turísticas, tangíveis ou intangíveis. Além disso, se encaixam nesta categoria, o turismo cívico, religioso, místico/esotérico e étnico, que também são considerados segmentos específicos que gera amplas oportunidades para desenvolver roteiros adaptados especificamente às diversas situações e necessidades do turista.
De acordo com as dados do Ministério do Turismo brasileiro, os principais atrativos do Turismo Cultural são: sítios históricos – centros históricos, quilombos; edificações especiais – arquitetura, ruínas; obras de arte; espaços e instituições culturais – museus, casas de cultura; festas, festivais e celebrações locais; gastronomia típica; artesanato e produtos típicos; música, dança, teatro, cinema; feiras e mercados tradicionais; saberes e fazeres – causos, trabalhos manuais; realizações artísticas – exposições, ateliês; eventos programados – feiras e outras realizações artísticas, culturais, gastronômicas e outros que se enquadrem na temática cultural.
Turismo Religioso

Este segmento de turismo se caracteriza por suas atividades turísticas decorrentes de práticas religiosa em espaços e eventos, independentemente da origem étnica ou do credo. Muitos locais que representam importante legado artístico e arquitetônico de religiões e crenças são compartilhados pelos interesses sagrados do público turístico.

A busca espiritual, nesse caso origina deslocamento a locais para participação em eventos como: Peregrinações e romarias; roteiros de cunho religioso; retiros espirituais; festas, comemorações e apresentações artísticas de caráter religioso; encontros e celebrações relacionados à evangelização de fiéis; visitação a espaços e edificações religiosas (igrejas, templos, santuários, terreiros); realização de itinerários e percurso de cunho religioso e outros.

O fogo
O elemento fogo e seus significados, transfiguram na presença da história como marco da nossa própria natureza. DO grego pyr e do latim purus, significa pureza e purificação. Um tema pertinente em diversas culturas é o desafio à ordem divina, a apropriação do fogo pelos mortais. Nos mitos gregos, Prometeu é quem rouba o fogo dos deuses. Segundo Biderman (1993), o fogo é um elemento que parece ter vida, consome e ilumina, aquece e também causa dor e morte. Muitas vezes é tido como sagrado, simbolizando o Espírito Santo, que em forma de línguas de fogo inspirou os apóstolos durante a primeira festa de Pentecostes. O ato de ascender o fogo no início do ano novo era um ato sagrado no antigo México. Em seu aspecto negativo temos a simbolização do inferno, da destruição.
É curioso percebermos que, na Bíblia Cristã, o surgimento do elemento fogo isoladamente não apareça: o desafio aos deuses, ou a Deus, se apresenta com outros centros, como a Torre de Babel, a arrogância mortal de alcançar os céus, ou a maçã de Eva, a queda do paraíso. A separação do céu e da terra, o desabamento do céu, a queda do paraíso, são outras formas de ver o distanciamento ou a aproximação proibida, sempre presente na mitologia, entre os deuses e a humanidade.
Suas afeições de iluminação, aquecimento e queimada, somam a dualidade deste elemento tanto na sua forma para o que é divino, quanto para o que é demoníaco. Em todos os povos e culturas, o fogo sempre foi associado às forças espirituais. É símbolo da divindade e das chamas do inferno. Ao mesmo tempo, o fogo é, dos quatro elementos da natureza, o mais sutil. Afinal de contas é o único com o qual a gente não pode entrar em contato direto.
O fogo é fonte de luz e nos aquece. Mas ninguém pode tomar banho no fogo, respirar fogo ou pegar fogo sem se ferir. O fogo fere porque ele é pura transformação. Nunca é igual, nem a si mesmo. Para os alquimistas o triângulo era o símbolo do fogo: porque ele procura o alto. Em todas as religiões o fogo é parte essencial dos rituais, pois purifica. É símbolo da alma em muitos povos e em todos é símbolo do Amor. Na natureza tudo é símbolo. O fogo representa a ânsia de transformação que é uma força de amor movendo o mundo. Dentro do coração de cada um de nós, segundo os magos, os xamãs, os rabinos e outros ainda, existe uma chama sagrada que é uma centelha da própria Divindade (como no Sagrado Coração de Jesus). Por isso os astrólogos sempre identificaram o coração com o Sol: porque a nossa alma é como um fogo celeste batendo no peito, um fogo que é a própria Vida.
Por isso o fogo é tão importante nos rituais religiosos. Os antigos falavam sobre criaturas feitas de fogo: as salamandras, assim como os gnomos eram criaturas da terra. As ondinas da água e as fadas do ar. E existe também a lenda da Fênix, um pássaro mágico e imortal que renascia das próprias cinzas. Os romanos tinham o fogo eterno de Vesta, a Deusa do Lar, guardado por um grupo de sacerdotisas virgens chamadas Vestais. Essa função era tão importante que se uma delas rompesse os votos de castidade era enterrada viva. Hoje em dia, no Rio Grande do Sul, existe em uma fazenda um fogo de chão que não se apaga há mais de duzentos anos, sendo guardado por gerações como o altar da família. Para eles representa a própria Roda da Vida. Um fogo que aqueceu gerações e gerações. Existe uma relação também entre o tempo e o fogo - os dois devoram tudo o que tocam.
Todo esse prestígio místico para o fogo não chega a disfarçar o fato de que ele é uma força extremamente perigosa e destrutiva, que tem que ser mantida sob controle o tempo todo.

Tradições religiosas no Brasil
O povo brasileiro descende de uma mistura de raças. Colonizadores portugueses, franceses, holandeses além de nativos e escravos africanos constituíram a base racial de nosso país. No século XX, massas de imigrantes alemães, italianos, polacos e japoneses acrescentaram novos elementos a essa mistura, tornando a população uma miscigenação de povos, raças e culturas. A diversidade cultural proporcionada por estar mistura, acumulou diferentes costumes de uma sociedade, nos mais diversos setores, como: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros. Abordaremos a seguir os aspectos religiosos, tais quais são de rica presença e variedade no Brasil, em função dos vários processos colonizadores e imigratórios.
De acordo com dados do de 2010 do Censo do IBGE, o Brasil uma divisão muito clara à cerca das crenças religiosas.
Religião
Porcentagem da população

Apostólica Romana
64,6%
Evangélicas
22,2%
Espírita
2%
Umbanda e Candomblé
0,3%
Sem religião
8%
Outras religiosidades
2,7%
Não sabe / não declarou
0,1%

(Fonte: IBGE - censo Demográfico de 2010.)

As tradições religiosas confundem-se e se mesclam com a formação histórica brasileira. Sob esta realidade, não cabe uma análise rígida aos processos de instauração religiosa, pois, os rituais religiosos, as festas e outras expressões religiosas desvelam uma sociedade que, desde os primórdios, vive do espetáculo, das mudanças, da fusão de vários códigos e de registros misturáveis em si e entre si. Neste cenário, permeado de variáveis, as tradições religiosas e os seus significados, se integram para resultar em uma presente personalidade para um povo que vive a presença marcante da religião, nos mais diversos formatos e em vários momentos históricos do Brasil.


Procissão do Fogaréu
"Tendo, pois Judas recebido a corte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio ali com lanternas, e archotes e armas" (Jo, 18,3. p.146, grifo nosso). Essa passagem bíblica traduz o repertório litúrgico da existência da Procissão do Fogaréu, onde possibilita nos remetermos ao pensamento também mítico das celebrações da Semana Santa na maioria das cidades ibéricas, que transportam em forma de rito o sofrimento e a Paixão de Jesus, e que na ocasião da citação do Evangelho nos remetemos à prisão do cristo, ponto central na Procissão do Fogaréu.
Tendo a figura do "farricoco" como personagem central e icônico do fogaréu, é possível analisar a sua peculiaridade no que diz respeito às suas vestimentas marcantes, cada item que compõe a procissão, foi pensado em passar uma representação sígnica, que unidas, são de fato a Procissão como um todo. O capuz do farricoco, esconde a face quando surge o questionamento: "quem será aquele, capaz de trair o nosso Deus?", embaixo do capuz o penitente se esconde do olhar de Deus, e subjetivamente já constitui uma figura mundialmente reconhecida. Luís da Câmara Cascudo (1954), em seu livro Dicionário de Folclore Brasileiro, percebe-se a modificação de alguns aspectos carregados em sua origem, para o que percebemos nas procissões de hoje:
Afastando o povo com a matraca (...) seguiam as Procissões dos Passos. (...) Esses encarregados de anunciar o desfile religioso ou defender a ordem das filas contra a intrusão dos meninos e vadios sofriam ataques, pedradas, obrigando as Irmandades a substituí-los posteriormente nas Procissões dos Fogaréus ou dos Passos. Dizia-se também Farricoco aos irmãos condutores de andores, desde que envergassem vestimenta típica, ainda corrente nas procissões de Sevilha, de aparatosa impressão popular. (...) Tomava parte das extintas procissões de cinzas, caminhando à sua frente, armado de um comprido relho, com que ia fustigando o pessoal que impedia a sua marcha (p. 257- 258 e 471).
Poderíamos pensar, que, dirigido por um tema central da perseguição do Cristo, onde a prisão do mesmo na procissão, é representada pela apresentação do estandarte com a imagem de Jesus, teríamos tal ato como símbolo da procissão, não que este não seja, mas conforme descreve Paulo Bertran (2002), o Fogaréu é desde o século XVII uma das grandes festas populares feéricas, justamente por seu caráter maravilhoso (pensando em um sentido de espetacularização), percebemos, assim, que os espectadores cravam na memória o farricoco e o espetáculo provocado pelo fogo, como elementos centrais de recordação.
A Procissão do Fogaréu da cidade de Goiás, é um espetáculo que não pode ser definido pura e simplesmente pela religiosidade presente em suas raízes de origem ibérica, mas por um conjunto de valores culturais que se misturam e constroem parte de um acervo assegurado por um brilhante patrimônio intangível na Velha Goiás. Visitando a cidade para juntar os depoimentos que dariam a personificação do documentário "Goiás, fogo e paixão", percebemos que hoje na procissão se celebra bem mais do que o conjunto dos atos litúrgicos e para-litúrgicos a que se é caracterizada, celebra-se a memória dos antepassados desses mesmos que são responsáveis por manter viva a chama na madrugada da quinta-feira santa.
Houve uma época em sua história que a Procissão do Fogaréu teve um declínio considerável em relação à participação popular nela, tendo muitas vezes, sido realizada, especificamente por fiéis da paróquia da Boa Morte. Existem registros que mostram que a procissão aconteceu algumas vezes apenas com a presença de um farricoco, e outraz vezes até mesmo sem essa presença, mas o rito acontecia dentro das próprias igrejas. Tal formato como conhecemos hoje em sua essência, pode ser percebida historicamente no fim do século XIX e início do século XX, já representando essa "prisão de cristo".
Em 1960, um trabalho de estudo e resgate, idealizado por Elder Camargo de passos, fundador da OVAT – Organização Vilaboense de Artes e Tradições foi responsável por essa "patrimonização" da Procissão do Fogaréu da Cidade de Goiás, esse trabalho resultou no ressurgimento da procissão tal como podemos assistir hoje, assim como outras celebrações antigas que se davam como desaparecidas no calendário religioso local, ao se questionar sobre o que poderia ser feito para chamar o turismo para Goiás, o mesmo descreve o acontecimento em entrevista:
Sempre estive metido com a semana santa, e todas as procissões que tem em Goiás, ai descobrimos que havia no passado a Procissão do Fogaréu, que desapareceu no fim de 1800, ela desaparece, não tem mais. Ai nós pensamos, juntamos a turma da OVAT, e perguntamos para nós mesmos: o que seria mais fácil de nós ressurgirmos dessas tradições para atrair o turismo para Goiás. Ai pensamos: A Semana Santa! Que está montada praticamente, faltam algumas coisinhas, inclusive o Fogaréu; Ai então nós começamos a trabalhar, estudar, pesquisar sobre a Procissão do Fogaréu, então descobrimos que ela veio sendo realizada não só aqui em Goiás, como em Minas, Bahia, Recife, tudo tinha a Procissão do Fogaréu, que não era (chamado) nem Fogaréu, era Fogareus. Ai nós começamos a levantar e descobrimos que precisávamos entrar na quarta-feira, de quarta para quinta, quer dizer, quinta feira né, porque meia-noite, já é quinta. Ai nós fizemos, fomos estudar a forma como poderia ser, o que não podia junto com a parte religiosa, que ela não é litúrgica, ela é para-liturgica, ela só tem um estandarte que entra na hora da prisão de Cristo, e mais nada, o resto é só beleza cênica, manifestação. (Entrevista com Elder Camargo de Passos, para o filme documentário: Goiás, Fogo e Paixão).
Em um cenário cinematográfico, a pequena cidade de Goiás, é um verdadeiro convite a sentir-se dentro da história que mantém este patrimônio. O rio de fogo, efeito causado pelas tochas amontoadas, seguradas pelos farricocos, comunidade e turistas que participam da festa, provoca uma sensação de voltar a alguns anos na história e estar de fato dentro de um evento histórico. Percebemos alguns detalhes dessa noite, descrita no livro A invenção das tradições, escrito pelos historiadores Eric Hobsbawn e Terence Ranger, Mônica Martins da Silva (2008):
representação teatral da perseguição de Jesus pelos soldados romanos. O ritual, que atualmente dura em torno de duas horas, é realizado por um conjunto de personagens que se reúne à porta da antiga Igreja da Boa Morte, hoje Museu de Arte Sacra da Boa Morte, e percorre um trecho fixo pelas ruas da cidade. Os personagens centrais da trama são chamados de farricocos, 40 homens vestidos de túnicas coloridas e que usam tochas de fogo durante o seu trajeto. Essa manifestação é atualmente um dos principais eventos dos roteiros de turistas que se interessam em conhecer um pouco da história e da cultura de Goiás. (...) Considero necessário perscrutar o contexto de criação da OVAT e como podemos relacioná-lo com as iniciativas de seus membros, indagando os motivos que nortearam as suas escolhas (p. 60-65).

Para a construção do documentário Goiás, Fogo e Paixão, as entrevistas se passavam em torno de encontrar resposta ao motivo desse amor/paixão por manter durante décadas e gerações a Procissão do Fogaréu, que já é reconhecida mundialmente por seus ícones, apesar da dificuldade para angariar recursos par a manutenção da mesma, e é difícil compreender a existência de tal dificuldade, tendo em vista o valor simbólico, religioso, cultural, etc. que a procissão engloba para a Cidade de Goiás, e para o Estado de Goiás, um manifesto que naturalmente carrega todos os anos, milhares de turistas para a Semana Santa na cidade, e milhares desses, especificamente para a noite do Fogaréu. Vemos então, o teor turístico de forte presença a cerca disso, onde se sabe da grande procura por pousadas, restaurantes, que faz girar uma economia significante por alguns dias, mas que não há um retorno para onde se encadeia a presença desses turistas na cidade, fato que é citado por Rodrigo Passarus, um dos organizadores do Fogaréu, em entrevista:

Acho que a maior satisfação é a de poder mostrar o que a gente tem na cidade, e que não importa, a não ajuda do governo, seja o governo municipal, federal ou estadual, com ajuda financeira que é o mais importante. Porque as vezes, existem muitas pessoas pra está fazendo com que as coisas aconteçam, mas o principal que é o financeiro a gente não tem, quando acontece é de uma forma muito pequena, as vezes não dá nem pra custear todos os gastos que são necessários, então alguns membros "enfiam a mão no bolso" ou até um amigo que simpatiza corre atrás para estar fazendo com que as coisas aconteçam, como durante esses 50 na maioria das vezes foi assim. Há uma pequena participação da prefeitura, que eu achava que deveria ser muito grande, talvez seja o maior momento que Goiás é projetado para a mídia nacional e mundial. Quando você faz isso coma a cidade, você tem condições de trazer o turista para cá, o turista ele vai gastar na gasolina que ele pode abastecer aqui, no almoço ou no jantar que ele vai em algum restaurante, no hotel onde ele se hospeda, as vezes numa água que ele compra. Não que o município venha arrecadar um imposto, mas as vezes a simples água que ele compra, ele vai gerar um imposto estadual e federal que é, em pequenas partes, passada ao município, mas também deveria ter interação entre esses entes. E não deveria ser uma interação que a gente mendigasse a entrada de recurso ela tinha que ter sido proporcionada de forma direta, "não, vamo fazer e ponto final" não vamos inventar burocracia. (Rodrigo Passarus, organizador da Procissão do Fogaréu, em entrevista para o filme documentário: Goiás, Fogo e Paixão).

Na madrugada em que acontece a Procissão, a cidade já lotada de pessoas da comunidade, assim como milhares de turistas (estima-se mais de 10.000 só na noite do Fogaréu em 2014), vemos na concentração onde são vestidos os farricocos, a presença massiva de repórteres, cinegrafistas, cineastas, radialistas e fotógrafos de todo o mundo, no ato de registar o momento que será espalhado para o mundo em forma de mídias diversas. As maiores emissoras do estado, também estão presentes em peso no evento, e se orgulham em poder divulgar belas imagens para as emissoras nacionais que colocam em sua programação jornalística um dos pontos fortes da Semana Santa loca, é o caso da TV Anhanguera, afiliada da Rede Globo no estado de Goiás, que propõe um tipo de "parceria" anualmente, por considerar a importância de divulgar nacionalmente por meio da Rede Globo de Televisão, a Procissão do Fogaréu. Rodrigo Passarus explica como se dá essa divulgação da procissão por parte da emissora:

Não é bem uma parceria, as vezes quando eles querem fazer um flash diferente, eles vêm, pedem para vestir algum farricoco, filma e usa aquilo na chamada, eles fazem mesmo por fazer parte da programação da Organização Jaime Câmara, eles destinam um recurso para aquilo, que eles chamam de "projeto fogaréu". (...) Às vezes torna-se difícil o acesso deles para essa captação, porque as vezes a gente procura e a resposta é muito tarde, entendeu? Quanto à divulgação a gente não interfere, por que é feita por eles, da maneira que eles acham conveniente fazer, se fosse pra gente dar um pitaco, ou mesmo uma forma de se harmonizar isso, a gente com certeza pediria que acontecesse com antecedência, é claro, toda propaganda tem um custo, então não adianta a gente querer muito interferir, se a gente não consegue nem bancar a nós mesmos, se a gente pudesse, é claro, a gente buscaria uma forma melhor para estar participando (Rodrigo Passarus, organizador da Procissão do Fogaréu, em entrevista para o filme documentário: Goiás, Fogo e Paixão).

Entendemos, por fim, a importância que se estagnou sobre a Procissão do Fogaréu para a Cidade de Goiás, e porque não falarmos: para o Brasil. A formação de belas imagens produzidas pelo fogo em contato com a madrugada escura do centro histórico da cidade, produzem a combinação perfeita para uma noite, literalmente, espetacular. Sentimos a necessidade de destacarmos, o bonito trabalho feito pela OVAT e seus membros, por trabalharem o Fogaréu, como memória histórica, cultural e religiosa, introduzindo perspectivas, que motivam gerações a tomar a frente da organização, para que esse eixo familiar possa dar continuidade para todo o sempre. Não fosse isso, seria difícil acreditar na permanência do Fogaréu no calendário religioso da Semana Santa brasileira, com poucos recursos, apenas o amor "patrocina" tal existência, e por mais que exista o esquecimento pelos órgãos competentes, estes mesmo se orgulham, e se fazem presentes na procissão como forma de autoridade, e de expectador (e somente), embelezados pelas imagens produzidas pela procissão, imagens que somam a presença de milhares de pessoas, onde boa parte é turista, o fogo como elemento símbolo, produzindo uma série de significados particulares para quem segura as tochas, e os farricocos como ícones, onde se torna impossível a dissociação desta imagem com a própria identidade da cidade, para muitos, dois ícones são responsáveis para a projeção do nome de Goiás Velhos pelo mundo: Cora Coralina, tendo em seus versos a identificação e exaltação da cidade sempre presentes em forma de verso, e o Farricoco da procissão do Fogaréu, o grande personagem quem marca a Semana Santa na cidade.

Referências

A Bíblia Sagrada. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

BERTRAN, Paulo. FAQUINI, Rui. Cidade de Goiás, Patrimônio da Humanidade: origens. Brasília e São Paulo: Ed. Verano e Takamo, 2002.

CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1954.

HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

MOURA, A. C. M. Geotecnologias na Interpretação da paisagem e gestão do patrimônio cultural. In: Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação, 2, 2008, Recife. Anais. Recife, 2008. p. 000-000

SANSOLO, D. G.; BACK, G.; O ensino de Geoprocessamento para estudantes de turismo: uma discussão sobre suas potencialidades. In: IV SEMINARIO DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, 4, 2008, Caxias do Sul. Anais do SeminTUR. Caxias do Sul, 2008. p. 1 – 11.
SILVA, Mônica Martins da. A "invenção do Fogaréu" e os enredos do folclore vilaboense. In: BRITTO, Clovis Carvalho (Org.). Luzes & Trevas: estudos sobre a Procissão do Fogaréu da Cidade de Goiás. Rio de Janeiro: Corifeu, 2008.


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