Usos derivados do verbo Dizer na fala goiana (Faixa Etária III)

July 6, 2017 | Autor: Lucas Alves | Categoria: Grammaticalization, Linguistics, Linguistic Funcionalism
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Usos derivados do verbo Dizer na fala goiana (Faixa Etária III) Lucas Alves Costa Vânia Cristina Casseb-Galvão INTRODUÇÃO Esse artigo é resultado de um trabalho de pesquisa denominado: Usos derivados do verbo Dizer na fala goiana (Faixa Etária III), filiado ao Projeto Temático “O português contemporâneo falado em Goiás”, constituído por um conjunto articulado de projetos envolvendo a descrição e a análise de dados de fala da variante do português brasileiro falado em Goiás. O objetivo geral desse subprojeto é auxiliar na composição de um conjunto significativo de informações com vista a caracterizar a variante do português falado em Goiânia a partir de uma descrição e análise de cunho funcionalista, especialmente, quanto à constituição do paradigma descrito pelos usos derivados do verbo dizer na fala de goianos adultos, que tenham a partir de cinquenta e cinco anos de idade. Observar e compreender a língua em seu estado de uso numa situação interativa requer um compartilhamento dos ditames teórico da Linguística Funcional. O que se expõem, nesse trabalho, é um delinear do fenômeno linguístico investigado por Casseb-Galvão (2001), que apontou a expressão linguística diz que, em função não-predicativa, sendo essa vinculadora da fonte de informação do falante em relação à origem do conteúdo proposicional, caracterizando um categoria evidencial. Percebe-se neste exemplo: (1) – E o Betico, Antero, tiveram notícias dele? - Diz que pegaram ele lá perto da Moeda (…). (V-LR)

Segundo Casseb-Galvão (2001), essa categoria em uso no português brasileiro (PB) encontra-se em processo de gramaticalização, constituindo marca de evidencialidade a partir do uso mais abstrato do diz que [disk']. Na pesquisa Casseb-Calvão (2001) arrolou sobre a ocorrência da expressão linguística diz que como introdutora de oração encaixada, mas não condizente com a estrutura argumental do predicado dizer, pois não expressa um de seus termos, o argumento da esquerda, com papel temático agente do dito, assim não atribuindo no mundo real a origem do informação apresentada. Identificando essa ocorrência como uma possível estratégia do falante para demonstrar ao interlocutor que não pode ou não tem a intenção de atribuir ou identificar a fonte

da informação, categoria evidencial. Com isso, expõem-se a seguir os objetivos gerais do projeto “Fala Goiana” e os específicos do subprojeto a ele vinculado, a metodologia de coleta e de análise de dados, bem como algumas postulações teóricas que sustentam a análise. Assim como apresentamos os resultados observados. Ao final, considerações relevantes sobre a pesquisa realizada.

OBJETIVOS Projeto Temático “O português contemporâneo falado em Goiás”, constituído por um conjunto articulado de projetos envolvendo a descrição e a análise de dados de fala da variante do português brasileiro falada em Goiás. O Projeto integra a área de Teoria e Análise Linguística, de orientação funcionalista, e objetiva investigar fenômenos de constituição do português do Brasil a partir de variedades linguísticas visíveis na fala goiana. O objetivo geral é justamente contribuir para a documentação e a análise do português falado em Goiás, considerando-se os aspectos da constituição social e cultural da comunidade de fala envolvidas, e sua visibilidade em fenômenos gerais de mudança linguística, bem como, os reflexos dessas mudanças na formação indenitária dos goianos em várias dimensões sociais dos usos da língua. Cabe ressaltar também que é objetivo geral do projeto é auxiliar na promoção de generalizações a respeito do estágio atual da língua falada nesta região tão peculiar do território brasileiro, tendo como parâmetro o português do Brasil. Fique claro que a pretensão específica desse trabalho é apontar uma observação de ocorrências de um determinado fato linguístico que supostamente pode ser frequente numa dada modalidade comunicativa (fala), sendo essa sujeita às interferências da situação comunicativa. Com isso, parte-se da concepção de que há um fenômeno linguístico em uso no PB (observado, analisado, descritos e constatado cientificamente (CASSEB-GALVÃO (2001)) e que tal fenômeno pode aparecer na fala de goianienses da faixa etária III. Cabe perguntar se os elementos contextuais, cognitivos e subjetivos interferem no uso dessa ocorrência.

Constituição do corpus Para atender os objetivos propostos realizou-se um estudo direcionado de um conjunto de obras científicas norteados por concepções funcionalistas, assim como da Sociociolínguística que direcionaram a coleta de dados de fala para forma um corpus que integram o projeto O português contemporâneo falado em Goiás” (Fala Goiana).

Os dados de fala coletados para esse trabalho caracterizam-se como os seguintes aspectos: moradores da cidade de Goiânia, acima de cinquenta anos de idade, nascidos ou que aqui residem antes dos doze anos de idade e que tenham somente nove anos de escolaridade, denominado como Faixa Etária III. Os mesmo juntamente com demais dados das outras faixas etárias compõem o corpus do Projeto Português Contemporâneo Falado em Goiás – “Fala Goiana”, uma empreitada do Grupo de Estudos Funcionalistas – UFG. As características dos inquéritos tidas como fala monitorada são: os informantes são direcionados pelo documentador a contar experiências pessoais vividas no seu percurso histórico até então, relatar e descrever as mudanças observadas no ambiente da cidade de Goiânia e tratar de temas como família, infância etc., a partir de entrevista pré-planejadas que valorizasse principalmente a espontaneidade do informante. Nesse sentido, os inquéritos foram coletados na própria comunidade, ou seja, no ambiente familiar do informante, tentando sempre neutralizar a presença do documentador, bem como do gravador. A transcrição desses dados seguiu regras definidas através dos resultados verificados na oficina de transcrição, promovida pelo Grupo de Estudos Funcionalistas (GEF), da Faculdade de Letras-UFG, ao qual o “Fala goiana” está vinculado. Após a coleta dos dados da fala, realizou-se a transcrição dos inquéritos, buscou-se verificar a ocorrência de dados derivados do verbo dizer. O objetivo era identificar, descrever e analisar os usos derivados do verbo dizer na fala de usuários pouco escolarizados, integrantes das faixas III, e observar, especialmente, a implementação do paradigma representado por esses usos, descrito por Casseb-Galão (2001). Foram analisados dois inquéritos da faixa etária III, um do gênero masculino e um do feminino. Buscou-se verificar usos derivados do verbo dizer, especialmente, em acepção gramatical, que confirmassem o trabalho de Casseb-Galvão (2001). Os dados foram analisados a partir do paradigma funcionalista, assim como da teoria da evidencialidade e gramaticalização.

Bases Funcionalistas A orientação funcionalista da linguagem é composta de um conjunto articulado de teorias e pesquisas que observam, analisam e descrevem os fenômenos linguísticos no seu estado mais dinâmico. Percebendo os fatos linguísticos manifestando-se numa situação real de uso, onde

os usuários estão em interação social-verbal, tendo como motivação a intenção pragmática, sendo as expressões linguísticas consideradas mediadoras desse processo interativo. Esse postulado configura a Gramática Funcional. A dinamicidade da língua em situação de interação comunicativa revela diversos fatores internos a estrutura gramatical e fatos externo no plano extralinguístico. Nisso, o fenômeno linguístico é identificado e exaurido por um suporte teórico que considere interrelacionais os elementos que proporciona a excelência comunicativa. Assim, afirma CassebGalvão (2001:19):

Uma abordagem funcionalista tem sua atenção voltada para o uso das expressões linguísticas na interação verbal, o que equivale a uma concepção de modelo linguístico em que se considera os aspectos pragmáticos, além dos sintáticos-semânticos, ou ainda, um modelo que reconheça na linguagem a manifestação do dinamismo das relações sociais. Segundo Nichols (apud Neves, 1994) na constituição de um aparato teórico que caracterize a Gramática Funcional, há tipos de funcionalismo classificados com: os extremistas, que negam a realidade da estrutura linguística; os conservadores que apontam as inadequações do estruturalismo, mas não propõem uma análise; os moderados que apontam as inadequações do estruturalismo e propõem uma análise funcional. Para Van Valin (apud Neves, 1994) Halliday e Simon Dik podem ser considerados propostas funcionalistas moderadas, pois reconhecem a inadequação do formalismo e do estruturalismo e ressalta a alternativas funcionalistas para a análise. Assim, enfatiza a importância da pragmática para a análise da estrutura linguística. Casseb-Galvão (2001) considera esses dois autores com proponentes de uma abordagem funcionalista da linguagem com “alto grau de sistematização”. No paradigma funcionalismo o sistema linguístico não é autônomo e inacabado, mas sim dinâmico, estando em constante transformação. Nisso, as expressões linguísticas só fazem sentido através da interação verbal entre os interlocutores. Para nosso estudo, esse princípio é pertinente uma vez que se pretende verificar os usos evidenciais do verbo dizer na situação interativa. A pesquisa Casseb-Calvão (2001) arrolou sobre a ocorrência da expressão linguística diz que como introdutora de oração encaixada, mas não condizente com a estrutura argumental do predicado dizer, pois não expressa um de seus termos, o argumento da esquerda,

com papel temático agente do dito, assim não atribuindo no mundo real a origem do informação apresentada. Identificando essa ocorrência como uma possível estratégia do falante para demonstrar ao interlocutor que não pode ou não tem a intenção de atribuir ou identificar a fonte da informação, categoria evidencial. A base da estrutura oracional é um predicado que designa relação e propriedade, que se aplica a um número de termos – argumentos – referindo-se a um estado de coisa. Disso resulta a predicação. A predicação quando designa um fato possível constitui a proposição. A proposição é perpassada por um frame ilocuciónario – ato de fala – ou seja, a força declarativa, interrogativa, exclamativa. Esse processo forma-se a cláusula. Sendo a cláusula e a predicação localizadas no nível interpessoal e os termos, o predicado e a predicação no nível representacional. Vejamos um exemplo retirado de dados utilizados na pesquisa Casseb-Galvão (2001): (2) L1 (…) e assim:: morreu um colosso de gente aqui em São Paulo nessa ocasião que foi...(...) L2 diz que em Jundiaí também enterravam...(...) (NURC/SP, D2, INQ.396) No enunciado (2) (L2), considerando no primeiro nível, tem-se o verbo dizer como predicado, indicado propriedade ou relação, com grau de atração para um conjunto de argumento provocado pela semântica do verbo. Na estrutura argumental desse verbo tem-se o argumento um (locado a direita) com papel semântico de agente (ser animado, com capacidade de locução) intermediado pela expressão que, caracterizando um oração encaixada, coligando com o argumento dois sendo uma proposição (fato possível). Representado formalmente em CassebGalvão (2001:36): dizerv (x1)Agente9 (x2)Meta (x3)Recipiente

De fato, desprende-se do enunciado em questão (2) a ausência do argumento um exigido pelo verbo, assim há um alteração no extrato sintático da expressão linguística. Partindo da consideração de que a sentença é organizada como mensagem e como evento de interação, apontando para a análise que leva em conta o nível representacional e nível interpessoal. Sendo que o nível representacional designa o estado de coisa descrito para que o destinatário compreenda a situação e o nível interpessoal a maneira como a situação é apresentada para que o destinatário reconheça a intenção comunicativa do falante, constituindo o evento de fala. Há enunciados em que uma predicação apareça para especificar um estado de coisa, assumindo função de argumento de um predicado matriz. Essa predicação Dik (1989) (apud Casseb-Galvão 2001:37) chama de predicação encaixada. Exemplificado por esta

ocorrência retirada de Casseb-Galvão (2001:37): (3) Tia Ursula diz que a água daqui faz bem ao cabelo (…) (PD-LD)

O movimento de ir e vir dos níveis do enunciado constitui a clausula em que o verbo dizer é o predicado matriz que tem uma predicação encaixada como argumento, sendo essa designadora de uma proposição (fato possível). Percebe-se que a proposição encaixada em (3) é revestida de força ilocucionária, nesse sentido, configura-se com o “ato de fala” - clausula. Assim, há uma interferência por parte do falante no conteúdo pragmático do ouvinte, interpretável com uma instrução, ou melhor, uma alteração na informação pragmática. Dessa forma, uma expressão linguística codifica o valor ilocucional no seu mais alto nível de estruturação sentencial. Dik (1989, 1997) aponta quatro tipos de ilocuções básicas: declarativa, interrogativa, imperativa e exclamativa, que servem como instruções do falante para o ouvinte com intenção de alterar as informações pragmáticas desse. Assim, a relação intrínseca nas camadas da estrutura da sentença apresenta uma predicação constituída pela relação de um predicado com seus termos, que configura a proposição construída por um frame ilocucionário. Sendo o nível mais alto o esquema ilocucionário e o mais baixo o do predicado e seus termos apropriados. Afirmar que o uso do diz que marca a atitude do falante em relação ao que está sendo dito é levar em consideração também aspectos da categoria modalização, especificamente da modalidade epistêmica, pois caracteriza a fonte de informação no enunciado, tendo um descomprometimento do falante frente ao dito. Essa marcação é tida com um qualificador da informação, sendo sua ausência o registro que o próprio falante é a fonte de informação. No que diz respeito ao uso do verbo dizer, considera-se integrante da classe dos evidenciais lexicais, categoria que, segundo Vendrame (2010, p.12) “é o fenômeno linguístico que expressa a fonte da informação contida em um enunciado”. Sendo que em muitas línguas esse fenômeno é expresso no enunciado através de itens gramaticais, como afixos, clíticos e morfemas, porém, na Língua Portuguesa o uso prototípico são os itens lexicais que abrange os verbos, advérbios e locuções prepositivas. Diferente dessa concepção, os estudos realizados por Casseb-Galvão (2001), constatou-se que o sistema evidencial gramatical no Português Brasileiro (PB) está em desenvolvimento, devido ao processo de gramaticalização que fez surgir o marcador evidencial gramatical disk, a partir da predicação (ele) diz que como apresentado acima.

O mesmo estudo afirma que a evidencialidade é inerente à linguagem, pois parte do principio que não há discurso neutro, sendo todo enunciado revestido implícita ou explicitamente, em menor ou maior grau, marcas do (des) comprometimento do falante em relação ao valor de verdade da proposição. Com isso, recolocando a evidencialidade um nível acima da categoria modalização. A fluidez e o dinamismo que são características constituintes da língua é confirmada pelo sistema evidencial do PB, sendo o principal marcador evidencial lexical mais usado no PB passou (ou ainda passa) por um processo de mudança realizada no uso dentro de uma situação de interação comunicativa, tornando-se cada vez mais gramaticalizado. O marcador evidencial no PB representado pela expressão diski passou por um processo por meio do qual está se configurando um novo sistema evidencial em nossa língua, conforme constatou CassebGalvão (2001). A gramaticalização é um fenômeno linguístico que consiste na mudança de um item lexical para um item gramatical. Nesse sentindo, Casseb-Galvão (2001, p. 144), define gramaticalização como “o desenvolvimento de itens ou construções de significados mais abstratos (gramaticais ou mais gramaticais) a partir de significados mais concretos (lexicais ou menos gramaticais)”. A esse grau de gramaticalização a que a autora se refere trata-se do estágio de mudança proposto por Gonçalves et al (2007, p.31): [lexical] > [gramatical] ou do [gramatical] > [+ gramatical]. Nessa proposta, o processo de gramaticalização ocorre quando há uma grande frequência na utilização de uma palavra originariamente de conteúdo pleno, fazendo com que ela em diferentes contextos perca seu sentido concreto tornando-se mais abstratas, ou seja, gramaticalizadas. Assim, o processo de gramaticalização diz respeito à capacidade do falante em atribuir novas funções gramaticais e discursivas às formas já existentes no momento da enunciação, em diferentes contextos de comunicação, nesse sentido o processo está muito relacionado ao surgimento de elementos plano pragmático.

O processo de gramaticalização do diz que: A evidencialidade gramaticalizada A seguir aponta-se um conjunto de pressupostos levantados por Casseb-Galvão (2001) que caracteriza o processo de gramaticalização do diz que no PB que contribuem para formar um parâmetro de análise dos dados de fala da faixa etária III. Apresenta-se o resumo dos

elementos que configuram um processo de gramaticalização como o plano semântico, morfossintático e fonológico descritos na pesquisa referida. O ponto de partida em Casseb-Galvão (2001) para apontar a gramaticalização do diz que no PB é identificar a forma fonte, ou seja, o item originário que dera origem ao processo de gramaticalização. Esse item esteja em um plano mais concreto e que mesmo depois de gramaticalizado o elemento ainda tenha traços dessa fonte, é o que se chama de principio da persistência. Casseb-Galvão (2001) afirma que a forma fonte da expressão diz que é a construção ele diz que. Verbo dizer com oração encaixada, tendo com argumento um o agente do dito e que se trata de uma experiência humana com traços mais concretos e atende a todas as propriedades sintáticas e semânticas de um item lexical. Assim a possibilidade da ocorrência do uso na forma predicativo e não-predicativo é levando em consideração para a elaboração de um contínuo de mudança dessa expressão, levando em consideração parâmetros como a presença do agente ou a fonte do dito, a função sintática, a experiência evidencial desse agente e a tipologia evidencial a que se chegou. Chegando ao seguinte ao contínuo da gramaticalização do evidencial da expressão diz que: Citativo (і, іі, ііі) > Intuitivo, Reportativo, Reportativo de mito > Assumido, Inferencial > De boato, Especulativo. (CASSEB-GALVÃO, 2001, p. 165) Assim, o diz que no seu processo de gramaticalização passa do domínio mais concreto para o mais abstrato, confirmando os pressupostos da teoria da gramaticalização. Vale ressaltar que esse processo parte de um estágio inicial levando a mudanças no plano semântico, morfológico e fonológico. Resumido no quadro abaixo: Plano Semântico

Plano Morfossintático

“A abstração tem relação

Plano Fonológico

“Essas formas tendem a

com generalização (redução das assumir atributos de categorias propriedades da forma fonte), secundárias,

mais

isolamento (separação de uma gramaticalizadas, que exercem propriedade

especial

elemento

fonte),

metaforização

(extensão

do funções e satélites”,

de

operadores elementos

e não

do obrigatórios para a estrutura

No

diz

evidencial

(1),

entoacional

e

que

operador

o

contorno

a

realização

segmental são distintos do que ocorre no diz que predicado matriz (2), o que sinaliza a gramaticalização evidencial.

desse

conceito original).” (CASSEB- sintática básica. Casseb-Galvão GALVÃO, 2001, p.167).

(2001, p.179)

Com isso, há embasamentos teóricos suficientes para arrolar uma análise das ocorrências dos usos de derivados do verbo dizer na fala goiana dentro da faixa etária III. Levando em consideração tais observações passa-se agora para a exposição dos resultados, realizando um cruzamento entre os dados coletados de fala e os pressupostos teóricos levantados. RESULTADOS É interessante apontar que em Casseb-Galvão (2001: 105) a principal hipótese levantada foi que as diferentes situações de uso do diz que não-predicativo funciona como um elemento evidencial gramatical e que um dos principais tópicos frente a isso é que dependendo do contexto em que se encontram, qual(is) a(s) funções evidenciais desempenhadas pelo diz que não-predicativo?. Atento a esse ponto e considerando as características pecuniárias dos inquéritos analisados chegou-se os seguintes resultados: Na faixa etária III, observou-se uma ocorrência do diz que operador evidencial gramatical de boato, um dos usos do diz que não-predicativo, esse operador evidencial, segundo Casseb-Galvão (2001), aparecem em texto narrativos pessoais em que não tende a demonstrar uma argumentação-descritiva. Exemplificado abaixo: (4)

“Purquê essa rua era:: ...rua qui morava prostitutas... i ...diz qui:: diz qui todas as casas

lá era di prostitutas....” Percebe-se nessa ocorrência que a entonação instigar os limites da fronteira entre a modalidade epistêmica e evidencialidade, pois o truncamento melódico e a pausa entre a marcação salienta para escolha desse uso para não assumir a fonte do dito. Sendo essa escolha uma característica da atitude do falante no ato da interação. Esse uso demonstra uma informação que não tem origem definida, tomado como de pouca credibilidade, sujeito a intenção pragmática do falante, assim necessário que seja marcado no enunciado qualificando a proposição quando a origem incerta ou duvidosa da informação asseverada.

O fato de não ter com frequência ocorrido o uso do diz que como operador evidencial gramatical demostra que tal uso ocorre de forma gradual, os usuários que estão interpelados pelos liames intersubjetivos no ato da interlocução escolhem tal uso pela intenção pragmática-comunicativo como apontou Casseb-Galvão (2001). Ressalta-se também que o uso derivados do verbo dizer predicativo foi mais frequentemente utilizado por se tratar de inquéritos em que os informantes tenderam mais narrar fatos vivenciados, assim o falante é entendido como autor ou mentor do que seja dito, sem a necessidade de demonstrar fonte de informação que não seja si próprio. Possivelmente uma característica dessa faixa etária analisada. Outros usos do diz que não-predicativo e predicativos não foram identificados na faixa etária III, pois se supõem que por serem mais usados em enunciado que fazem relances a informações e conhecimentos reportados de outros e nisso a escolaridade favorece tal compartilhamento. Nisso o nível de escolaridade também pode ter interferido nesse uso. Entretanto, é algo a ser analisado em pesquisas posteriores, o que se pode arrolar disso que é as características subjetivas, a situação de interação comunicativa e a intenção pragmática acionam as expressões linguísticas que compõem a própria interação real. CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização desse trabalho guiado pelos seus objetivos se fez a partir da leitura e pesquisa do arcabouço teórico funcionalista, dentre os autores como autores como Neves (1997) e Dik (1989), os pressupostos da Sociolinguística, como o autor Tarralo (1991) e demais vertentes que trata língua como dinâmica e inacabada, que só faz sentido na interação entre os falantes. Contribuindo, assim, para acréscimo de informações para a análise e descrição do Projeto “Fala goiana”. O contato com os informantes resultava num verdadeiro jogo instigante de envolvimento em prol de uma interação espontânea confirmando nos termos de Labov (2008) e a constatação que a língua é um fenômeno dinâmico que está em constante mudança, pois serve a um contexto social em transformações contínuas. Assim, a língua e seus mecanismos precisam atender essa peculiaridade, se reinventando pelo processo de gramaticalização e revigorando pela marcação da subjetividade na codificação linguística. Fatores como faixa etária, escolaridade dentre outros elementos contextuais interferem sim na escolha das expressões linguísticas causando uma alteração desde a estrutura

sintática até a semântica em prol de uma intenção pragmática, assim configura-se a gramática funcional do uso. O uso de derivados do verbo dizer observado na faixa etária III confirma o desenvolvimento de um paradigma descrito por Casseb-Galvão (2001). Referência GALVÃO, V. C. C. Evidencialidade e gramaticalização no PB: os usos da expressão diz que. Tese de Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa. FCLAr, UNESP. Araraquara: 2001.

GONÇALVES, S. C. ET AL. Introdução à gramaticalização. São Paulo: Parábola, 2007.

NEVES, M. H. M. A gramática funcional. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

NEVES, M. H. M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006.

PAIVA, M. C; DUARTE, M. E. Mudança lingüística: observação no tempo real. In: Mollica; Braga. Introdução à sociolingüística. São Paulo: Contexto, 2003

TARALLO, F. A pesquisa sociolingüistica. São Paulo: Ática, 1991

VENDRAME, V. Os verbos ver, ouvir e sentir e a expressão da evidencialidade em língua portuguesa / Valéria Vendrame. - São José do Rio Preto: [s.n.], 2010.

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