UTILIZAÇÃO DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) COMO FERRAMENTA PARA ANÁLISE ESPACIAL: UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO NO CAMPO

June 15, 2017 | Autor: Silas Melo | Categoria: Education, Spatial Analysis, Brazil, Rural education, Geographic Information Systems (GIS)
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XVII Encontro Nacional de Geógrafos - XVII ENG Belo Horizonte – 22 a 28 de julho de 2012 UFMG – Campus Pampulha Tema: Entre escalas, poderes, ações, Geografias

UTILIZAÇÃO DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) COMO FERRAMENTA PARA ANÁLISE ESPACIAL: UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO NO CAMPO

Silas Nogueira de Melo Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia - IGCE - UNESP Rio Claro. [email protected] - Bolsista Capes. Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira Profª. Drª. do Departamento de Geografia - IGCE - UNESP Rio Claro/PQ2-CNPq. [email protected]

INTRODUÇÃO

Atualmente, com a intensificação da urbanização, emergem estudos que primam pelo entendimento do espaço rural. As escolas localizadas no campo tornam-se um importante objeto de estudo deste espaço, principalmente para o geógrafo, que pode fornecer uma perspectiva lógica da trama locacional da área de influência da educação na zona rural. O Sistema de Informação Geográfico (SIG) é uma ferramenta capaz de coletar, armazenar, manipular, analisar e exibir dados espaciais e não espaciais que pode ser útil na interpretação do espaço no campo. Neste sentido, são inúmeras as escolas que podem ser analisadas no contexto brasileiro através do SIG, pois o governo federal vem incentivando a Educação do Campo em diversas modalidades: Escolas Família Agrícola (EFA), Casas Familiares Rurais (CFR), Escola Ativa e Nucleação 1. Também existem as Escolas Técnicas Estaduais (ETEC's) de caráter agrícola, são 35 unidades escolares somente no Estado de São Paulo que são mantidas pelo Centro Paula Souza e muitas delas localizadas no campo2. Há ainda as escolas nas zonas rurais que são mantidas pela iniciativa privada, instituições de ensino superior voltadas para as ciências agrárias que são grandes fazendas e, por fim, escolas agrícolas municipais. 1

Ver: < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14134:educacao-docampo&catid=194:secad-educacao-continuada>. 2 Ver: < http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/etec/Escolas/>.

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Tendo como enfoque a educação no campo, o objetivo deste trabalho é apresentar uma proposição metodológica de análise espacial com a utilização do SIG. Justifica-se este objetivo a falta de trabalhos que versem sobre a análise espacial da educação no campo, assunto este que tem crescido na Geografia Agrária, porém com pouca ênfase. Prova disto é que nos últimos três Encontros Nacionais de Geografia Agrária (ENGA) notamos um aumento de trabalhos no eixo Educação no/do Campo, sobretudo em 2010 com 17 artigos, superando os seis apresentados no XVIII e XVX ENGA. Em nenhum deles abordou-se as questões relacionadas ao uso do SIG para as análises espaciais3. Para nossa exposição dividimos o texto em três partes , além da introdução: 1ª) pressupostos definidores de instrumentos de análise; 2ª) procedimentos metodológicos propositivos para a análise espacial; e 3ª) considerações finais. Na primeira parte procuramos expor a definição de quatro conceitos utilizados no trabalho: Análise Espacial, SIG, Território e Educação no Campo. Posteriormente explicitamos uma metodologia que permite a construção de produtos cartográficos - mapa de localização, mapa de delimitação territorial da escola e de zoneamento, mapa de uso das terras no território escolar - capazes de fornecer subsídios para a análise espacial da educação no campo. Por fim, na terceira etapa, há um balanço das potencialidades e dos limitantes a este tipo de análise, concluindo que o SIG, se bem utilizado, pode fornecer um enfoque distinto para o estudo da Educação no Campo. Este artigo é parte da pesquisa da dissertação de mestrado intitulada “Educação no Campo: o caso da Escola Agrícola de Rio Claro-SP”, que se encontra na etapa de finalização.

PRESSUPOSTOS DEFINIDORES DE INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

Análise Espacial - concordamos com Rosa (2011, p. 276), que acredita que este tipo de análise está:

3

Ver os anais do XX e XIX ENGA em : < https://sites.google.com/site/xxenga/ > e < http://www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/Anais%20XIXENGA/trabalhos.htm>.

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obrigatoriamente associada à Geografia, corresponde ao estudo da distribuição espacial de qualquer fenômeno, à procura de padrões espaciais. A análise espacial faz a ligação entre o domínio essencialmente cartográfico e as áreas de análise aplicada, estatística e a modelagem, permitindo combinar variáveis georreferenciadas e, a partir delas, criar e analisar novas variáveis. Analisar significa fragmentar, decompor em partes ou componentes visando uma identificação da estrutura e compreensão de um sistema. A complexa realidade do espaço geográfico pode ser, em um contexto de análise espacial, fragmentada nas suas componentes ou derivadas obtidas a partir de uma base informativa geral. Assim análise espacial significa também extrapolação e criação de nova informação susceptível de permitir uma melhor compreensão, numa perspectiva isolada ou integrada.

SIG - o Sistema de Informação Geográfica é uma ferramenta computacional para o geoprocessamento, que permite "realizar análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados georreferenciados" (LOPES, 2002, p. 2). Território - entendemos, assim como Haesbaert (2004, p. 40) que é um conceito relacionado com poder/influência, vinculado a três concepções, que podem se manifestar de forma integrada ou não, são elas: 1ª) Política (referida às relações espaçopoder em geral) ou jurídica-política (relativa a todas as relações espaço-poder institucionalizadas); 2ª) Cultural ou simbólico-cultural (prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobretudo, como produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido); 3ª) Econômica (enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas). Educação no Campo - compreendemos sobre duas perspectivas: 1ª) semântica, que se constitui como o oferecimento de educação, formal ou informal, nas áreas rurais. Por isso que a combinação da preposição em com o artigo definido o, já indica especificamente o local da educação: no Campo. 2ª) Política, que se estabelece hoje no contexto brasileiro sobre a forma da Educação do Campo, que na maioria das vezes ocorre no campo, pois: Art. 1º A Educação do Campo compreende a Educação Básica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de nível médio integrada com o Ensino Médio e destina-se ao atendimento às populações rurais em

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suas mais variadas formas de produção da vida – agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da Reforma Agrária, quilombolas, caiçaras, indígenas e outros (CNE/CEB, 2008, p. 1, grifo nosso).

Então, uma vez definido os conceitos que nos pautarão, urge a reafirmação de que é coerente fazermos a análise espacial da escola localizada na zona rural, pois esta é a concretização da educação formal no campo. Para esta análise, utilizaremos o SIG como ferramenta para facilitar a delimitação do território da escola, que uma vez delimitado, permitirá a correlação das variáveis georreferenciadas com outras variáveis presentes no raio de influência da escola.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PROPOSITIVOS PARA A ANÁLISE ESPACIAL DA EDUCAÇÃO NO CAMPO

Dividimos esta seção em três partes que, consequentemente, resultaram em três produtos exemplificadores de nossa proposição metodológica de análise espacial da educação no campo com a utilização do SIG como ferramenta. As figuras abaixo (Figura 1, 2 e 3) são ilustrações do passo a passo da análise e também demarcam as divisões desta seção. Também chamamos a atenção para elementos fundamentais que devem estar presentes em mapas desenvolvidos por geógrafos e que facilitam a análise, como: coordenadas geográficas ou UTM, escala, legenda e a direção do norte.

Figura 1 - Estrutura do mapa de localização da escola na zona rural.

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Organização: Silas Nogueira de Melo, 2012.

O mapa de localização, confeccionado desta maneira, evidencia elementos importantes para se entender o desenvolvimento da educação no campo na localidade pesquisada: 

A primeira coisa a ser destacada é o país e a região que abrigam o município a ser estudado. Juntamente com a exposição deste mapa, pode-se falar sobre o contexto nacional e regional do campo na localidade. O que pode ajudar nesta fase, no caso do Brasil, é a pesquisa em dados secundários em bases do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também fornece shapes do país e regiões.



Na representação do município, é importante ressaltar os atributos naturais juntamente com os artificiais. Na Figura 1 vemos onde está o perímetro urbano, a escola no campo, a drenagem e as principais rodovias. Isto permite enxergar elementos geográficos fundamentais como escala, distância, extensão, etc. O que pode ajudar na elaboração deste mapa são fotografias aéreas e imagem de satélites.

Ambos

podem

ser

facilmente

encontrados

em

prefeituras,

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universidades ou até mesmo na internet, como por exemplo, as imagens do Google Maps. Além disto, a análise espacial da educação no campo pode ser enriquecida neste momento ao se explicar a história da escola, pois talvez o porquê de sua localização possa ser esclarecido com alguns atributos espaciais.

Figura 2 - Estrutura do mapa de delimitação territorial e de zoneamento da escola no campo.

Organização: Silas Nogueira de Melo, 2012.

Após a localização a próxima etapa seria a de delimitar o território da escola e fazer um zoneamento da mesma. 

Na fase de delimitação do território, é necessário que o pesquisador saiba da localização da residência dos alunos e professores. Para conseguir estes dados e georreferenciá-los não é muito fácil. No entanto, pelos prontuários escolares é possível saber onde moram estes agentes, e com ajuda de um GPS ou uma imagem georreferenciada do município podemos ter estes dados em mãos para criar um banco de dados georreferenciado. Este exercício nos permitirá ter a noção de densidade de alunos e professores advindos de uma determinada área do município.

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Mas para facilitar a análise espacial é necessária uma divisão deste território. No caso da Figura 2 propomos uma divisão baseada em quatro zonas: Norte Sul, Leste e Oeste. O recorte levou em consideração as principais rodovias e o tamanho razoavelmente igual das zonas. Com este zoneamento podemos inferir possíveis influências dos alunos e professores com outras localidades, por exemplo, municípios limítrofes, proximidades das rodovias ou da zona urbana, etc.

Figura 3 - Estrutura do mapa de uso das terras no território escolar.

Organização: Silas Nogueira de Melo, 2012.

O mapa de uso das terras, conforme a estrutura da Figura 3, serve para sabermos como está sendo utilizado o território da escola. 

A primeira coisa a ser feita é conseguir fotografias aéreas e construir o mosaico ou uma imagem de satélite que abranja o território da escola. Esta última opção parece ser mais viável financeiramente para o caso brasileiro, pois há a disponibilidade de imagens Landsat gratuitas no site do Instituto Nacional de

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Pesquisas Espaciais (INPE)4. Com um programa de tratamento e processamento de imagens é possível definir classes de uso da terra, como foi demonstrado no exemplo. Outra sugestão é o software livre SPRING, desenvolvido também pelo INPE5. Esta fase de criação de classes é importante para a análise espacial da educação no campo porque as classes a serem criadas demonstram aquilo que o pesquisador deseja explicitar. Outra vantagem da construção deste mapa é a capacidade de interpretar problemas como concentração fundiária, áreas de expansão da monocultura entre outros. 

Com a justaposição do mapa de uso da terra com o mapa de residência dos alunos podemos, ainda, criar outro produto que nos forneceria indiretamente a informação da atividade desenvolvida pelas famílias dos alunos da escola no campo, ou então a relação destas famílias com a zona rural. Esta análise nos permitiria, por exemplo, questionar, no contexto local, o porquê da Educação do Campo no campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos sobre a educação no campo vêm crescendo nos últimos anos na Geografia, porém poucas são as pesquisas que buscam verdadeiramente uma perspectiva espacial, sobretudo com a utilização de recursos tecnológicos como o SIG que proporcionam mapas sínteses que possibilitam análises espaciais de diversos tipos: localização no âmbito nacional, regional e municipal da unidade escolar; delimitação territorial das escolas localizadas no campo; zoneamento do território escolar; mapa de uso da terra. No entanto, nem sempre é fácil fazermos este tipo de análise para a educação no campo, pois existem alguns limitantes de diversas ordens: falta de conhecimento técnico ao geógrafo para utilizar as ferramentas do SIG; dificuldade de georreferenciamento de propriedades rurais, uma vez que as zonas rurais são extensas;

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Ver: . Pode ser baixado gratuitamente no site: .

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não fornecimento de dados pelas escolas e prefeituras sobre a residência dos alunos e professores. Porém, se estes limitantes forem superados os resultados podem ser melhores que o esperado, podendo gerar novas varáveis a serem analisadas, deixando o trabalho mais rico em detalhes. No decorrer do presente artigo propusemos um caminho com possíveis soluções diante dos limitantes. Claro que se o pesquisador quiser ir além encontrará novos limitantes, mas caso isto ocorra a educação no campo pode ganhar uma compreensão cada vez mais lógica de sua organização espacial.

REFERÊNCIAS BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (CNE/CEB). Resolução nº 2, de 28 de abril de 2008. Diretrizes complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo. Brasília, DF, 2008. Disponível em: . Acesso em: 29 mai. 2012. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multi-territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. LOPES, Eymar Silva Sampaio. GIS – Conceitos, Aplicações e Tendências. Curso CI, GEOBrazil, BrazilGEO: São Paulo, 2002. CD. ROSA, Roberto. Análise espacial em geografia. Revista da ANPEGE, Vol.7, Nº 1, p. 275-289, 2011.

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