Utopia e Falsa Universalização

Utopia e Falsa Universalização


Utopia é "utopus", "lugar nenhum" ou "sem lugar". O que é isso? É aquilo que não é lugar, logo, você não ocupa, nem aproveita nem anda. Você é um corpo que precisa de um espaço e uma história para existir. Esse "não lugar" você não estar e nem pode viver. É o lugar que não se caracteriza como lugar.
Não se deve confundir utopia com o impossível. A utopia é possível em tese e até mesmo com o avanço das condições tecnológicas serem alcançada e realizada. Na prática você pode imaginar que ela esteja para acontecer. As grandes utopias como Thomas Morus e Rousseau no Emílio, colocam uma situação de tamanho detalhe de cidades e de minucias de maneira a demonstrar que aquilo não é um lugar. Seria um exagero para o além, para contrapor as sociedades existentes e reais, de modo que você tem o "lugar" e o "não lugar" em contraposição, de modo que a partir daquilo que você não ocupa poder modificar aquilo que você ocupa. As utopias são protótipos de filosofia moderna e crítica social. O impossível tem outra característica segundo Derrida. As aporias são isso, onde o impossível dava base para o possível. Como exemplo, a dádiva e o dom (um presente). Só tem sentido um presente como aquilo que é entregue sem que nada se tenha em troca. Mas todas as vezes que você entrega algo para alguém mesmo que seja uma expressão de agradecimento, aquele outro que recebeu o que foi entregue se põe na situação de retribuir. A troca se estabelece na hora da troca da dádiva e do presente. Portanto, ela elimina a dádiva. A dádiva se realizando se perde. Mas sem o impossível da dádiva você não pode realizar a dádiva, ainda que ela quando se realiza seja uma troca. Outros exemplos: hospitalidade, justiça, democracia, etc. O impossível é impossível. A utopia é o que não tem lugar.
Ideário é diferente de ideologia política. A ideologia seria algo mais que um ideário e menos, pois ela tem uma parte de verdade e outra que se pondo como verdade é uma mentira, o falso. A ideologia tem um pé na propaganda que se faz como verdade, mas na verdade, é uma mentira. Como por exemplo, a falsa universalização. Imaginemos um acontecimento ou um elemento particular e você o universaliza dando a impressão que essa universalização é possível, mas na verdade essa universalização é mentirosa e impossível. Ela ocorre e tem força, mas na sua análise não tem caráter legítimo. Daí que surge o preconceito e várias tentativas de contar a verdade e ao contar a verdade fazer com que se espraia o falso e ao mesmo tempo o mentiroso.
Marx dizia que o Liberalismo era uma ideologia porque ele prega a liberdade e a igualdade, mas só o faz como igualdade e liberdade perante a lei e ele põe a igualdade perante a lei como toda e qualquer igualdade de modo a universalizá-la. Isso é errado. A igualdade perante a lei é uma parte da igualdade. Há muitas coisas que precisam ser iguais até para que a liberdade perante a lei ocorra. Segundo Marx o liberalismo seria uma doutrina verdadeira, mas ao mesmo tempo ideológica. Outra coisa é que tudo isso é diferente de Filosofia. A diferença entre Filosofia e ideologia é que não existe ideologia por detrás. Ela sempre fica na frente.
A Filosofia pode sim estar por detrás. Nas caravelas, por exemplo, o que está visível é a ideologia e não a Filosofia. A bandeira com a cruz nas caravelas é a religião transformada em ideologia. É a propaganda e chega primeiro. As filosofias, as bases marítimas, as discussões de comércio e tratamento com novos povos é da origem da doutrina e discussão filosófica. A descoberta de novas terras e novos povos pode ser enquadrada nisso, tratá-los-emos como iguais (como homens)? O que vai à frente para dizer se são ou não homens é o aparato ideológico (cruz). Filosofia é investigação sobre o mundo e sobre os homens. Muitas vezes a ideologia é um saber já feito para dizer que "nós chegamos", "nós somos os certos", "somos os corretos".







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