Vale dos Vinhedos (Brasil): historia, identidade e desenvolvimento como rota de vinhos

June 5, 2017 | Autor: Joice Lavandoski | Categoria: Tourism Studies, Wine Tourism
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Conferência Internacional sobre Turismo e Vinho - Itinerários Vitivinícolas: Retrospectivas e Espectativas. Instituto Superior da Maia, 23 e 24 de Fevereiro de 2012

Vale dos Vinhedos (Brasil): história, identidade e desenvolvimento como Rota de Vinhos JOICE LAVANDOSKI Doutoranda em Turismo Universidade do Algarve (Ualg) / Membro CIEO (Ualg) / Bolseira Capes (Brasil) (BEX 5618/10-0) Resumo Esta comunicação tem como objetivo analisar o processo de desenvolvimento do enoturismo no importante destino de enoturismo localizado ao Sul do Brasil, o Vale dos Vinhedos. Através de um recorte histórico, sustentado pelos imigrantes italianos que colonizaram a região, oportuniza compreender a formação identitária da região, descrever sua organização e característizá-la como rota turística com foco nos atrativos ligados ao vinho. Palavras-Chave: Vale dos Vinhedos, Enoturismo, História, Identidade. Para um destino se desenvolver como uma rota de enoturismo necessita de recursos específicos relacionados ao produto vinho e, por sua vez, inerentes ao seu território e sua cultura. É nesse sentido que diferentes regiões produtoras de vinho espalham-se, mundialmente, dando origem a diferentes formas de enoturismo. O vinho e o turismo estão ligados há muito tempo, mas apenas recentemente têm sido reconhecido em nível governamental, empresarial, acadêmico e como atividade turística (Hall, 2002). De um lado, o vinho é um importante atrativo e motivador para aqueles que se interessam pela cultura envolta da produção dessa bebida. Do outro, a atividade enturística pode ser uma maneira de reforçar a identidade e a memória coletiva dos autóctones, favorecendo processos de preservação e de manutenção dessa identidade e cultura. As diferentes rotas de vinho, como as “classic wine destinations” (Brown e Getz, 2005), França, Itália, Portugal, são referência em termos de oferta turística devido a concentração de história, cultura, paisagens e demais atrativos particulares de cada região. Nesse sentido, a identidade existente nas rotas enoturísticas localizadas no Brasil se diferencia das construídas nas rotas francesas ou italianas, por exemplo. Embora todas tenham como motivador principal o vinho e sua produção, cada uma possui uma identidade em particular e que é comercializada enquanto produto turístico. Mesmo sofrendo influência da globalização, cada rota enoturística mantém sua especificidade objetivando atrair o turista cultural, o enoturista, o viajante. No Brasil, esforços da iniciativa privada, do poder público em conjunto com a comunidade desenvolveram rotas de enoturismo em regiões onde há atividade vitivinícola. A vitivinicultura se concentra no Brasil na região sul, sudeste e, mais recentemente, no nordeste do país. Apesar desta expansão vitivinícola, a principal região vitivinícola do país concentra-se no sul, no estado do Rio Grande do Sul, sendo este o maior produtor de uvas e vinhos, responsável por 90% da produção nacional onde estão cerca de 40 mil hectares de vinhedos. É nessa região que se localiza o Vale dos Vinhedos, pioneiro e mais importante destino de enoturismo do Brasil.

No Vale dos Vinhedos a construção da identidade emerge dos imigrantes italianos provenientes, em sua maioria, das regiões de Trento e do Vêneto que colonizaram a região em 1875. Esses imigrantes trouxeram consigo uma série de aspectos culturais do seu país de origem, como o modo de falar (dialeto italiano), a religiosidade, as danças e os corais típicos, a gastronomia e os filós (uma espécie de encontro entre as famílias em momentos de alegria ou sofrimento). Outro aspecto cultural introduzido pelos imigrantes italianos, e este com grande destaque, é a produção de vinhos e o cultivo de uvas, transformando e modificando o território local para seu usufruto (Lavandoski, 2008). Todas essas manifestações culturais são passadas de geração para geração e acabam por catacterizar e compor a rota do Vale dos Vinhedos, que tem como principal elemento de sua formação, a cultura envolta da uva e do vinho. Em termos gerais, a década de 90, no Vale dos Vinhedos foi marcada pelo fortalecimento de vinícolas familiares. Em 1995, seis dessas vinícolas familiares se associaram e fundaram a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Uma associação pioneira e com vários objetivos, dentre eles, a qualificação dos produtos vinícolas e derivados e o estímulo e a promoção do potencial turístico da região. O apoio governamental através da facilidade de crédito, a divulgação turística em âmbito nacional, os esforços de crescimento dos produtores vinícolas do Vale em conjunto com a Aprovale e a capacitação profissional promoveram a melhoria da oferta, em relação à quantidade e qualidade dos serviços oferecidos nas vinícolas. Neste período iniciou a fase de estruturação de uma rota turística no Vale dos Vinhedos. A instalação de empreendimentos turísticos no setor hoteleiro como pousadas, hotel e mais tarde, a construção de um Spa do Vinho em parceria com uma grande empresa vitivinícola instalada no local, além de restaurantes, comércio e demais equipamentos de suporte turístico também foram necessários para a diversificação da oferta. Paralelamente, à adoção de um calendário de eventos no Vale dos Vinhedos, o desenvolvimento das certificações para o vinho, as primeiras preocupações ambientais e os primeiros estudos e pesquisas acadêmicos na área geográfica. O crescimento e o desenvolvimento da rota e, por conseguinte, do Vale dos Vinhedos como um destino de enoturismo é percebido no aumento do número de visitantes, mais de 185 mil turistas/ano, bem como no incremento de serviços e equipamentos por parte da oferta. Atualmente, a rota é formada por, cerca de 31 vinícolas e 39 associados não produtores de vinhos, como meios de hospedagem, restaurantes, artesanato, comércios de produtos regionais, entre outros empreendimentos que oferecem um atendimento turístico. É notável a relevância que o enoturismo teve na região. Ele foi a âncora do processo de desenvolvimento turístico do Vale dos Vinhedos e é sustentado pela história, identidade e cultura dos imigrantes italianos que colonizaram a região. Bibliografia: Hall, M. (et al.), 2002, Wine tourism around the world: development management and markets, Butterworth-Heinemann, Oxford. Brown, G. and Getz, D., 2005, Linking wine preferences to the choice of wine tourism destinations, Journal of Travel Research, Vol. 43, pp.266-276. Lavandoski, J., 2008, A paisagem na rota enoturística Vale dos Vinhedos (RS), na perspectiva do visitante, Dissertação mestrado, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, BR.

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