Vanguarda e “povo” no cinema: o caso \"Actas de Marusia\" (1976), de Miguel Littín, 2015

June 4, 2017 | Autor: Alexsandro Silva | Categoria: History, Latin American politics, Cinema
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Vanguarda e “povo” no cinema: o caso Actas de Marusia (1976), de Miguel Littín

Resumo: A apresentação analisa como os personagens são representados no filme Actas de Marusia (México, 1976), do chileno Miguel Littín. No enredo, uma greve de trabalhadores do salitre é violentamente reprimida pelos militares, em uma analogia à ditadura pinochetista. Os conflitos entre os líderes dos mineiros, Gregorio e Domingo Soto, expõem uma leitura do filme sobre as divergências das esquerdas chilenas, realizada na autocrítica feita por artistas e militantes políticos no exílio.

Resumo Expandido: A apresentação busca analisar as tensões em torno dos personagens no filme Actas de Marusia (1976), primeiro longa-metragem dirigido no exílio de Miguel Littín. Anteriormente, o diretor construiu uma carreira cinematográfica no Chile em diálogo com as esquerdas rupturistas, que defendiam a ação direta dos movimentos sociais e a via armada para alcançar a revolução. Com o golpe militar de 1973, o cineasta asila-se na embaixada mexicana em Santiago e parte para o exílio. No México, o chileno consegue apoio estatal para realizar uma “super produção”, contando com a presença do ator italiano Gian Maria Volonté no papel de Gregorio Chasqui, e do músico grego Mikis Theodorakis na composição da trilha musical, além de toda a estrutura fornecida pela produtora CONACINE financiada pelo Banco Cinematográfico de México. Actas de Marusia é uma adaptação do livro homônimo do compositor Patricio Manns, no exílio em Cuba. Contextualizado historicamente na primeira década do século XX, o enredo fílmico trata da resistência de trabalhadores do salitre frente à escalada de violência na mina inglesa Marusia Company, no norte do Chile, até serem derrotados pela tropa militar comandada pelo capitão Troncoso. No movimento obrero, há um desacordo entre as duas principais formas de resistência: a primeira é encabeçada pelo líder do sindicato, Domingo Soto, e constitui no diálogo com os patrões e militares e no

recurso à greve como a principal forma de oposição; a segunda é defendida por Gregorio Chasqui e se vale de diferentes estratégias de enfrentamento, da greve ao uso de fuzis e dinamites. Enquanto não existe um consenso dentro da “vanguarda política”, as “massas”, “desorientadas”, tornam-se reféns das atrocidades dos militares, sendo que alguns mineiros recorrem a medidas isoladas para enfrentar os inimigos. As cenas de violência militar contra os pobres remetem à repressão dos ditadores chilenos, no contexto de realização do filme, uma forma de denúncia por parte da película. O descompasso na narrativa entre “vanguarda” e “povo”, ou seja, entre Gregorio, Soto e os trabalhadores, constitui a nosso ver uma intrincada forma de representação fílmica das principais tensões entre as esquerdas chilenas pós-1973. Entre elas, está a avaliação do fracasso das esquerdas gradualistas, defensoras da experiência política da Unidade Popular em chegar ao socialismo pela via democrática-institucional. Esta leitura fílmica ocorre no contexto dos primeiros anos do exílio dos chilenos, período de autocrítica e reorganização de forças políticas no exterior em países como França, Alemanha Oriental, Rússia, México e Cuba. Acreditamos que o embate entre os personagens evidencia uma estratégia de legitimação da via armada para o socialismo e de condenação do “reformismo” das esquerdas “moderadas”.

Bibliografia: GARCÍA RIERA, Emilio et al. Hojas de cine: testimonios y documentos del nuevo cine latinoamericano. Vol. 2: México. México, D.F.: Secretaría de Educación Pública; Universidad Autónoma Metropolitana; Fundación Mexicana de Cineastas, 1988. MOUESCA, Jacqueline. Plano secuencia de la memoria de Chile. Veintecinco años de cine chileno (1960-1985). Madrid: Ediciones del litoral, 1988. PINTO VALLEJOS, Julio. Hacer la revolución en Chile. In: PINTO VALLEJOS, Julio (Coord, Ed.). Cuando hicimos historia: la experiencia de la Unidad Popular. Santiago de Chile: LOM Ediciones, 2005, p. 09-33. RAMOS, Alcides Freire. Canibalismo dos Fracos. Cinema e História do Brasil. Bauru: EDUSC, 2002. ROJAS MIRA, Claudia F. El exilio político chileno: la Casa de Chile en México (1973-1993), una experiencia singular. 2013. 225 f. Tesis (Doctorado en Estudios Americanos con mención en Historia) – Facultad de Humanidades, Instituto de Estudios Avanzados, Universidad de Santiago de Chile, Santiago de Chile, 2013. SZNAJDER, Mario; RONIGER, Luis. The Politics of Exile in Latin America. New York: Cambrigde Unversity Press, 2009.

Dados do Autor: Nome: Alexsandro de Sousa e Silva Títulação máxima: Bacharel em História Instituição de Origem: Universidade de São Paulo (USP) E-mail de contato: [email protected] GT indicado: Cinema e Audiovisual: Memória, História e Arquivo Breve biografia: Bacharel e licenciado em História pela USP (2011), mestrando em História Social (USP), participante dos seguintes grupos de estudo: História e Audiovisual: Circularidades e Formas de Comunicação (Escola de Comunicação e Artes - ECA, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH/USP), Laboratório de Estudos de História das Américas (LEHA - FFLCH/USP), Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas (ANPHLAC), e Grupo de Estudos Cinema Latino-Americano e Vanguardas Artísticas (GECILAVA). É professor da rede estadual de educação básica de São Paulo.

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