Variação na forma do diminutivo

May 29, 2017 | Autor: Sebastião Milani | Categoria: Languages and Linguistics, Dialectology
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Variação na forma do diminutivo Consoante ao que foi escrito no item anterior, as marcas de masculino desaparecem com grande facilidade na evolução das formas lexicais dos nomes no português brasileiro. Observa-se que se está discutindo uma fala pertencente a uma ampla variante brasileira chamada caipira. Essas classificações são sempre muito difíceis de serem feitas, porém constitui uma tarefa relativamente simples reconhecer os traços que distinguem, sobretudo, foneticamente, as variantes chamadas caipira, nordestinas, nortistas, sulinas, carioca, paulistana, mineira etc. É claro que existem misturas de traços fonológicos entre elas, daí a dificuldade de estabelecer com clareza como elas são e qual seu espaço diatópico. Além disso, essas variantes ocupam espaços diatópicos enormes e assim apresentam reconhecidas diferenças fonéticas e lexicais entre seus falantes; é o caso da variante caipira, a qual já foi subdividida diversas vezes, sendo que Goiás quase sempre é chamada de sertaneja. O masculino na forma do diminutivo depende de algumas transformações anteriores para que seja suprimido da forma falada. Isso é possível por força da constituição linguística do sistema da língua portuguesa que permite que o masculino, como gênero nos nomes, não seja totalmente marcado. O feminino é mais marcado que o masculino, em algumas formas se reconhece o masculino pela forma marcada do feminino. Entretanto, existem muitos nomes masculinos e femininos em português construídos com a terminação fonética [ɪ], nesses nomes não se distingue o gênero pela marca vocálica da última sílaba, mas por gramemas dependentes ou por determinantes adjetivos. No geral os teóricos apontam como marcas de feminino [ɐ] - ['moskɐ] e [ɪ] –

['fɾẽʧɪ] e [tẽpes'tadɪ]- escritos a e e, e para o masculino [ʊ] - ['bɾabʊ] - e [ɪ] - ['kɔɽʧɪ] escritos o e e, além dessas o masculino e feminino apresentam formas lexicais com zero de marca, ou seja, alomorfe ϴ. Esse terceiro caso, o alomorfe ϴ, tem muito mais nomes no masculino, sobretudo, nomes para profissões, mas também tem no feminino, como na palavra ['floɽ], escrita flor. Apesar dessa descrição aparentemente simétrica, muitos nomes masculinos não marcados têm formas femininas marcadas, como professor e professora. Esse fato é uma prova irrefutável de que o masculino é a forma não marcada na língua e o feminino é forma marcada. Portanto, a lógica do sistema do português caipira brasileiro de suprimir ostensivamente a marca do masculino de palavras está baseada na herança cultural estabelecida no espírito nacional do povo brasileiro: masculino é a forma não marcada, que representa o grupo no plural. Exemplos levantados no ALINGO: 1)

[kɔxigʊ'zῖɲʊ]>[kɔɽgʊ'zῖɲʊ]>[kɔɽ'gĩʊ]>[kɔh'gῖ],[kɔɽ'gῖ],[kɔr'gῖ]

2)

[xiw'zĩɲʊ]>[xiw'zĩʊ]>[xiw'zĩ]>[xij'zĩ]

3)

[mo'xῖɲʊ]>[mo'xῖ]

4)

[xeʤimʊ'ĩɲo]>[xeʤimʊ'ĩɲʊ]>[xiʤimʊ'ĩɲʊ]>[xiʤi'muj]X ,[xidi'muj]X >

[xiʤimu'ĩ] 5)

[xeʤi'mũɲʊ]>[xεʤi'mũɲʊ]>[xeʤimʊ'ĩʊ]>[xeʤimʊ'ĩ]

6)

[ʃuvɪs'kejɾʊ]>[ʃuvɪs'keɾʊ]>[ʃuviske'ɾĩ]

7)

[baɽ'zῖɲʊ]>[baɽ'zĩʊ]>[baɽ'zῖ]

Em todos os exemplos acima o processo de evolução fonológica passa pela transformação da palatal nasalizada numa ditongação do fonema vocálico alto

anterior /i/ nasalizado, depois para uma monotongação nasalizada e em seguida pela supressão do fonema marcador do morfema classificatório de gênero masculino. A coleta conseguiu registrar esse processo completo em alguns exemplos, relatados acima, mas em muitos casos, algumas etapas são puladas, ou seja, não apareceram na coleta. Assim, nos exemplos 1, 3, 5 e 7, isso ficou registrado na coleta, mas nos exemplos 2, 4 e 6 não apareceram na fala dos informantes a forma nasal [ĩʊ]. A erosão fonética da palavra consumiu a sílaba final inteira, reduzindo a forma à condição de oxítona. O que ocorreu não foi a retirada na marca de gênero, porque a palavra continua sendo masculina e continua sendo marcada por um fonema que classifica a forma como masculina, ou seja, o fonema /ῖ/ é marca de gênero masculino no português brasileiro caipira. Esse processo é muito comum nas variantes faladas em Minas Gerais e Goiás, as duas variantes estão dentro da diatopia chamada caipira, sendo que Minas Gerais parece ser a origem da intensificação desse traço fonológico e da transformação dele num hábito linguístico. Em Goiás apareceu em todo o território e também se tem notícias de sua incidência na mesma larga escala no Tocantins, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mas também no interior de São Paulo e do Paraná pode ser ouvido. O fonema /ῖ/ é marca de gênero masculino no português brasileiro caipira, como se afirmou acima, vejam-se as formas dos exemplos a seguir: 1)

[ma'tῖɲɐ]>[ma'ʧĩɐ]>[ma'ʧῖ]

2)

[bɔ'lῖɲɐ]>[bɔ'lĩɐ]>[bɔ'lĩ]

3)

[boni'ʧῖɲɐ]>[buni'ʧῖɲɐ]>[buni'ʧĩɐ], [buni'tĩɐ]>[buni'ʧĩ]

4)

[ɐmaɾε'lῖɲɐ]> [ɐmarε'lĩɐ],[mɐɾε'lῖɲɐ],[marε'lĩɐ]>[marε'lῖ]

5)

[kasʊ'lĩɲɐ]> [kasʊ'lĩɐ]> [kasʊ'lĩ]

Nos exemplos 1, 2, 3 e 4, o nome é feminino e vai sofrer a mesma erosão fonológica que aconteceu com as formas inicialmente masculinas relatadas acima. As formas evoluem na mesma sequência que nomes masculinos. A marca de gênero é suprimida, restando o fonema vocálico tônico /ῖ/, que é marca de masculino, transformando assim o gênero da palavra para masculino. Esse processo certamente acontece pela ação da analogia da língua, criada na execução dos muitos exemplos de nomes masculinos, processo, como já se disse, extremamente comum nesses falares. Na forma do exemplo 5 - [kasʊ'lĩɲɐ], um substantivo comum de dois gêneros, o gênero não é marcado, e termia com o fonema /a/. O processo é o mesmo das outras formas com gênero marcado. A partir da redução da forma à condição de oxítona com a vogal tônica /ῖ/, morfema classificatório do gênero masculino, a palavra passa para a condição de gênero marcado em masculino, exigindo que a forma feminina seja também marcada. Assim, a expressão fica o [kasʊ'lĩ] e a [kasʊ'lῖɐ], substantivos comuns biformes, que se referem a filhos de sexo macho ou fêmea no diminutivo, porque na forma normal tem-se [ka'sulʊ]/[ka'sulɐ] para o menino e para a menina somente [ka'sulɐ]. Um exemplo demonstrou uma variação nessa analogia. Assim, faz-se necessária uma discussão com a finalidade de aprofundar a temática e, talvez, sistematizar mais bem esse objeto. Então, em [ba'lῖɲɐ]>[ba'lĩɐ] não se encontrou a forma [ba'lĩ], não apareceu na coleta nem parece ser possível de ser falada. A forma parece resistir dentro do gênero feminino. Em tese parece ser uma exceção, pelo menos na coleta que se fez em todo o estado de Goiás não aconteceu de se registrar essa modificação

que levasse à mudança do gênero da palavra.

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