Variabilidade inter e intra-sujeito no desenvolvimento fonológico de crianças gêmeas e não gêmeas

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Descrição do Produto

Variabilidade inter e intra-sujeito no desenvolvimento fonológico de crianças gêmeas e não gêmeas Mesa redonda - processos de aquisição/desenvolvimento da linguagem: infância e envelhecimento e seus pontos de (des)encontros

Profa. Dra. Maria de Fátima de Almeida Baia Departamento de Estudos Linguísticos e Literários/PPGLin GEL - Julho/2016

Resumo dos tópicos • GEDEF • Sistemas adaptativos complexos • Emergência dos aspectos fônicos • Whole-Word Phonology/Templates • Desenvolvimento linguístico de gêmeos • Estudo piloto com gêmeos e não gêmeos • Considerações finais

GEDEF: Grupo de estudos de desenvolvimento fonológico • Desenvolvimento fonológico típico de crianças gêmeas, não gêmeas e bilíngues (2016 - ) Neste projeto, são investigados aspectos prosódicos e segmentais do desenvolvimento fonológico de crianças gêmeas e não gêmeas adquirindo o português como língua materna, como também de crianças adquirindo mais de uma língua materna além do português e adultos adquirindo uma língua estrangeira. A perspectiva teórica assumida é a dos Sistemas Adaptativos Complexos (THELEN e SMITH 1994, KELSO 1995, LARSEN-FREEMAN e C, 2008), segundo a qual o desenvolvimento da linguagem pode ser entendido como um processo comportamental e emergente (De BOT 2008), sendo a linguagem uma habilidade cognitiva que depende de capacidades motoras auditivas e, principalmente, do estímulo do ambiente (VIHMAN et al. 2008). Os dados analisados são naturalísticos e experimentais, com uma parte já presente na base de dados do GEDEF (Grupo de Estudos de Desenvolvimento Fonológico) e outra em processo de coleta e transcrição com uso da ferramenta Phon (ROSE 2003).

GEDEF: Grupo de estudos de desenvolvimento fonológico

Projeto de pesquisa: Desenvolvimento fonológico típico de crianças gêmeas, não gêmeas e bilíngues 2016 -

GEDEF: Grupo de estudos de desenvolvimento fonológico

Dra. Maria de Fátima Baia – Coord.

Catarina Oliveira- IC Psicologia Gláubia Ribeiro - Mestrado.

Laís Bockorni - IC Letras.

Paloma Maraísa – Mestrado.

Fábio Bastos – IC Letras

Gláucia Daniele - Mestrado

Fátima Nascimento - IC Psicologia

GEDEF: Grupo de estudos de desenvolvimento fonológico

GEDEF: Grupo de estudos de desenvolvimento fonológico • Estudo longitudinal – 4 crianças – 0;8 – 3;0 – Coleta quinzenal – CHAT - Phonbank • Estudo longitudinal – 3 pares de crianças gêmeas não idênticas e 1 par de crianças gêmeas idênticas – 1;0 – 3;0 – Coleta quinzenal – CHAT Phonbank

Sistemas Adaptativos Complexos

Thelen; Smith 1994

Sistemas Adaptativos Complexos • Cognição – sistema dinâmico que opera na relação com três níveis: o sistema nervoso, o corpo e o ambiente (THELEN e SMITH 1994). • Desenvolvimento da linguagem – processo comportamental e emergente (DE BOT 2008). • Linguagem – habilidade cognitiva que depende de capacidades motoras e auditivas e, principalmente, do estímulo do ambiente (VIHMAN et al. 2008). • Interação, variabilidade, auto-organização, instabilidade. (THELEN e SMITH 1994).

Sistemas Adaptativos Complexos

[...] dynamic – meaning constantly changing, unfolding in time, permanently becoming rather than simply being. (SZREDER 2012, p. 30)

Emergência dos aspectos fônicos

Emergência dos aspectos fônicos

Há um grande descompasso entre o que a criança percebe e o que ela produz.

Emergência dos aspectos fônicos • Percepção - Bebês desenvolvem audição por volta da 25ª semana de gestação (UZIEL 1991). - Mas na 16ª semana já respondem pulsos sonoros (SHAHIDULLAH; HEPPER 1992) -Escutam sons do ambiente. - Experimento com ovelhas: dentro do útero há acesso apenas à estrutura prosódica (rítmica e entoacional).

Emergência dos aspectos fônicos • Crianças com horas de vida têm percepção categorial do contínuo sonoro; • Crianças com 51 horas percebem mudança de ordenação entre [pst] e [tsp]. • Com 4 dias distinguem mudança de língua; • Antes de produzirem os primeiros sons, os bebês percebem padrões acentuais; • Entre 8 e 10 meses perdem a habilidade de perceber contrastes que não estão presentes na língua- alvo. Perda total da habilidade por volta dos 12 meses.

Emergência dos aspectos fônicos • Tarefas da criança: i. mapear o contínuo acústico em unidades discretas como, por exemplo, em sentenças com sândi externo (degeminação, elisão e ditongação); ii. fazer distinções/contrastes entre os sons; iii. descobrir regras fonotáticas/fonológicas da língua sendo adquirida; iv. lidar com aspectos segmentais e prosódicos ao mesmo tempo. Santos (2008)

Emergência dos aspectos fônicos • Estudos com fetos: - Microfone instalado na parede do útero. Taxa de recuperação (pelo batimento cardíaco). • Estudos pós-natais - Técnica baseada Techinique)

na

sucção

(High-Amplitude

Sucking

Emergência dos aspectos fônicos Técnicas de imagem do cérebro (Brain Imaging Techniques): • O avanço mais recente... • Várias técnicas de uso com adultos, mas com crianças usam mais ERP (Event Related Potentials); • As técnicas medem mudanças na circulação sanguínea, captação de glicose ou atividade cerebral enquanto a criança (ou adulto) processa um estímulo acústico ou visual.

Emergência dos aspectos fônicos

Emergência dos aspectos fônicos Produção - Bebês começam vocalizando - 0 a 6 meses: diversidade de sons de alturas diferentes. Primeiras semanas: sons vegetativos (arrotar, engolir e balbucio inicial). - A partir dos 6 meses: sons mais próximos do sistema da língua sendo adquirida.

Emergência dos aspectos fônicos • Métodos de produção: • Fala espontânea: 6 meses ou mais velhos; • Fala imitada: 18 meses ou mais velhos; verifica como as crianças mudam o enunciado alvo na sua imitação; • Produção elicitada: 18 meses ou mais velhos; verifica quantas palavras ou sentenças a criança e capaz de produzir corretamente.

Emergência dos aspectos fônicos • Estudos com diários (1876 -1926); estudos com maiores amostras (1926 – 1957); estudos longitudinais (1957 até o presente);

• Estudo

longitudinal

• Estudo experimental.

e

estudo

transversal;

Emergência dos aspectos fônicos • Descontinuidade entre o balbucio e as primeiras palavras (Jakobson 1972/1941): Argumentos: - Balbucio é um período com produção universal de sons; - Balbucio é composto por sons aleatórios; - Ruptura; - Ausência de unidades fonológicas distintivas.

Emergência dos aspectos fônicos • Continuidade entre balbucio e primeiras palavras: Argumentos: - Características segmentais, prosódicas e fonotáticas similares compartilhadas pelos dois períodos (VIHMAN et al. 1985); - Balbucio e palavras são produzidos paralelamente na fala inicial (ELBERS e TON 1985)

Emergência dos aspectos fônicos • Emergência da fonologia a partir: - Contraste fonêmico ou de traços: Jakobson (1972 [1941]) e Mota (1999); - Sílabas: Levelt et al. (2000); - Pé métrico: Demuth (1996); - Palavra: Ferguson; Farwell, 1975; Vihman; Croft, 2007; Fikkert; Levelt, 2008.

Whole-word phonology/templates • Modelo cognitivo/reação dedutivos.

contra

os

estudos

de

padrão”

• A palavra é o princípio organizador. • Substituições fonológicas/ (MACKEN, 1979).

“força

• A abordagem holística (WATERSON, 1971).

Whole-word phonology/templates PROCESSOS

-

TEMPLATES

ESTRATÉGIAS

Whole-word phonology/templates • Templates: Padrões fonológicos específicos de palavras. • Respostas da criança para a forma-alvo que a desafia.

• Ocorre por causa de limitações/idiossincrasias no planejamento articulatório, memória, tendências/preferências. • Diferenças individuais. • Selecionado: semelhante à forma-alvo/ Adaptado: distorção da forma-alvo.

Whole-word phonology/templates Templates na aquisição do Francês: Templates na aquisição do Harmonia Consonantal Norueguês : dissílabos com C labial Criança [dədɔ] [bɛbɛ] [tato] [təta]

Alvo dedans bébé bateau guitare

Glosa dentro bebê barco guitarra

Criança [bibi] [pipi] [pusæ:æ] [pyʃæ] [bɭæbəj] [piʃæ]

Alvo babyen pose eple spise

Glosa bebê bolsa maçã comer

Garmann (2011)

Wauquier & Yamaguchi (2011)

Estudo sobre a aquisição das africadas PB (MG) PB 1;9 CVCV(C) - (Ccoda): [w] or [m]. Oliveira Guimarães (2008)

Whole-word phonology/templates

Whole-word phonology/templates • Baia e Correia (2016) - submetido para Revel “Sistemas Complexos”: templates na aquisição do PE e PB

Whole-word phonology/templates

Criança M. brasileiro

Faixa Etária 09 – 2;0

Total de produções Palavras: 1975 tokens

16 sessões/meses

C. portuguesa

10 – 1;8 10 sessões/meses

Palavras: 394 tokens

Whole-word phonology/templates 0;9

T

0;10

0;11

C1V1.ˈC1V1 C1V1.ˈC1V2

C1V1.ˈC1V1 C1V1.ˈC1V2

M:

1;0

1;1 1;2

1;3

1;4

CV

CV

C1V1.ˈC1V1 C1V1.ˈC1V2

1;5

1;6

1;7

1;8

1;9

1;10

i. reduplicado (C1V1.ˈC1V1 e C1V1.ˈC1V2) ii. CV

1;11 2;0

Whole-word phonology/templates 0;11 T

1;0

1;1

V.ˈCV

C:

1;2

1;3

C1V1.ˈC1V1 C1V1.ˈC1V2

1;4

1;5

1;6

1;7

V.ˈCV

i. V.ˈCV ii. reduplicado (C1V1.ˈC1V1 e C1V1.ˈC1V2) [a.ˈβe]

bebê

1;8

Whole-word phonology/templates

Adaptação do gráfico Min-Max Móvel (Bollinger), o qual permite apresentar os dados em forma de banda que demarca a variação esperada em torno da média central (conf. GEERT & DIJK 2002).

Desenvolvimento linguístico de gêmeos • Gêmeos idênticos/univitelinos/monozigóticos: um óvulo fecundado por um espermatozoide se divide em duas células completas – morfologicamente idênticos. • Gêmeos fraternos/bivitelinos/dizigóticos: não idênticos. Dois óvulos diferentes no mesmo ciclo ovariano. Geneticamente eles têm em média de 50% de compartilhamento genômico.

Desenvolvimento linguístico de gêmeos • Comunicação atrasada é o fenômeno mais comum em crianças com menos de 3 anos, afetando 5-10% da população. • Fatores biológicos: baixo peso, tempo de gestação ou prematuridade, escala de apgar. • Variáveis ambientais: menos fala dirigida para os gêmeos. Mais importantes que as variáveis biológicas.

Desenvolvimento linguístico de gêmeos • Tendência de completar a sentença um do outro; • Adaptações sintáticas e semânticas; • Gêmeos usam menos o seu nome próprio que as demais crianças; • Idioglossia/criptofasia: sistema único que funciona entre os gêmeos. • Usam linguagem mais simplificada entre eles.

Desenvolvimento linguístico de gêmeos

• Linguagem de gêmeos: palavras “inventadas” e generalização de palavras comuns.

• Erros sistemáticos que não acontecem no desenvolvimento típico de crianças não gêmeas.

Desenvolvimento linguístico de gêmeos • Desenvolvimento fonológico de gêmeos Poucos estudos que comparam a aquisição fonológica de gêmeos: - Block (1921): percurso idêntico; - Leornard et al. (1980): falta de semelhança na aquisição de fonemas; - Smith (2011): diferentes percursos segmentais/ templates idênticos.

Desenvolvimento linguístico de gêmeos • Dodd & McEvoy (1994): • Inventário fônico: tende a estar de acordo com o de crianças não gêmeas. • Processos fonológicos no desenvolvimento: alguns persistem (templates?). • Processão fonológicos não esperados: substituição inesperada de vogais, por exemplo.

• Crianças não compartilham fonológico mais usual.

o

mesmo

processo

Desenvolvimento linguístico de gêmeos • Entendem as adaptações de fala um do outro. • Algumas vezes o léxico dessas crianças exibe duas formas fonológicas para uma mesma palavra: a alvo e a do irmão. • Sujeitos desenvolvem sintaxe e vocabulário convencionais, mas adaptam devido ao seu status de gêmeos. • Atraso causado pela percepção linguística tardia da forma alvo.

Estudo piloto com gêmeos e não gêmeos

Estudo piloto com gêmeos e não gêmeos • • • •

Estudo longitudinal com crianças baianas; L. 8 meses – 2 anos; B. & M. (meninas) – 1 – 2 anos; Estratégias de estimulação de fala: ferramentas da musicoterapia, contação de histórias e atividades lúdicas.

Estudo piloto com gêmeos e não gêmeos • O trabalho com poesia aumenta as habilidades orais e de escrita, além de expandir o conhecimento das crianças a respeito do conteúdo discutido. (PINNELL e FOUNTAS 2004). • -

Atividades de contação de história com uso de livros: Habilidade narrativa: descrevem coisas e eventos; Ordem de eventos: início, meio e fim; O manuseio do livro; Novo vocabulário; 5 práticas: leitura, conversa, canto, escrita (desenho) e jogos.

Estudo piloto com gêmeos e não gêmeos • Benefícios no contexto pedagógico: - Melhora o humor; - Aumenta a concentração e atenção; - Reduz estresse e ansiedade; - Estimula a criatividade e inteligência etc. • Princípios da Gaston (1968) Music in therapy – a partir da segunda metade do século XX – terapêutica musical > musicoterapia. - Estabelecimento ou restabelecimento das relações interpessoais; - Obtenção da autoestima mediante auto realização; - Emprego do poder singular do ritmo para energia e organização.

Estudo piloto com gêmeos e não gêmeos • Percurso fonológico de L. – 8 meses – 2 anos • Balbucio B > B≈P > B+ P- > B- P+ • Templates manifestados: C1V1.ˈC1V1 CocluV1.ˈCocluV1 CV • Gestalt ? Analítica? (cf. PETERS 1977)

Estudo piloto com gêmeos e não gêmeos Irmãs gêmeas não idênticas

• B. (gêmea) 1 – 2 anos

• M. (gêmea) 1 – 2 anos

• Balbucio B+ P- > B≈P

• Balbucio B+ P-

• Templates manifestados: C1V1.ˈC1V1

• Templates manifestados: CV ˈ C1V1.ˈC1V1

• Gestalt ? Analítica? • Gestalt ? Analítica?

Considerações finais • Manifestação de templates na fala de crianças gêmeas e não gêmeas; • Balbucio tardio persistiu mais na fala das crianças gêmeas; • Variabilidade no percurso de L. e de B. & M.;

• Templates diferenciados no percurso fonológico de irmãs gêmeas; • Desenvolvimento fonológico inicial caracterizado por instabilidade no uso de padrões (rotinas) para expansão do léxico.

Agradecimentos Aos pais das crianças GEDEF Daniel Peres

Obrigada ;)

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