VATIN, X. \"A religião dos oprimidos\". Correio da Bahia. 29/10/2015.

May 28, 2017 | Autor: Xavier Vatin | Categoria: Discrimination, Candomblé, Religious Studies
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Salvador 29.outubro.2015 PREVISÃO TEMPO Sexta

Hoje

Sol com algumas nuvens; não chove

30º 24º

Sol com nuvens; pancadas de chuva à tarde e à noite

30º 24º

Sábado

Sol com chuva de manhã; noite com poucas nuvens

32º 24º

DOM

Sol com algumas nuvens; não chove

33º 24º

Maré hoje

Maré amanhã

ALTA 4h53 2.6m 17h09 2.5m

ALTA 5h38 2.4m 17h54 2.3m

BAIXA 10h53 0.1m 23h15 0.1m

BAIXA 11h34 0.3m

BAHIA: previsão de tempo parcialmente nublado a nublado passando a encoberto com chuva isolada do Sul e Oeste; claro a parcialmente nublado nas outras áreas do estado

Domingo passado fui convidado para assistir uma saída de iaôs (momento em que recém-iniciados são apresentados para a comunidade religiosa e revelam seu novo nome africano, marcando assim o renascimento simbólico da iniciação) na Roça do Ventura, em Cachoeira, templo religioso tombado pelo Iphan como parte do patrimônio da nação brasileira. A Roça do Ventura é um dos mais antigos terreiros de candomblé do Brasil. Localizado no alto da Ladeira da Cadeia, em Cachoeira, mantém um patrimônio material e imaterial bicentenário, além de estar inserido em um conjunto botânico absolutamente deslumbrante, cuja biodiversidade é preciosamente preservada pelo povo de santo. Um lugar único, carregado de história, espiritualidade...e sofrimento. Em 2010, quatorze hectares da Roça do Ventura foram devastados por um advogado/empresário local. Após cinco anos de luta judicial, o templo religioso foi finalmente tombado pelo Iphan e o invasor punido judicialmente. Contudo, as árvores sagradas e o acervo arqueólogico devastados foram perdidos para sempre.

ArtigoXavier Vatin

A religião dos oprimidos Ao longo dos últimos 20 anos, meu ofício de antropólogo me levou a assistir, em toda a Bahia, cerca de 400 cerimônias de candomblé. Nesta terra erguida por braços negros, vejo o candomblé como o locus de resistência cultural e espiritual dos povos africanos deportados para o Brasil e mantidos a muito custo por seus descendentes. Neste sentido, vejo ainda hoje o candomblé como a verdadeira religião dos oprimidos. Não de forma condescendente e paternalista, mas sim de modo a reconhecer a contribuição essencial do povo negro para a cultura deste país. Pois, muito além de religião (cuja prática continua sendo atacada e demonizada diuturnamente por milhões

No lugar de perpetuar a cultura do ódio, venha conhecer o candomblé! de brasileiros manipulados por empresas eclesiais detentoras de impérios midiáticos, financeiros e políticos), o candomblé carrega em si boa parte da cultura brasileira. Religião de exaltação da natureza, da vida e do ser humano na sua mais irredutível diversidade, o candomblé é dança (um acervo coreográfico riquíssimo), música (centenas de cantigas), linguística (preservação das línguas africanas como yoruba, kimbundu, fon), mitologia (um panteão extraordinário de deuses africanos com seus respectivos mitos), ritmo (to-

ques de atabaques de onde surgiram o samba, os afoxés, os blocos afros), ecologia em ação (o povo de santo luta arduamentepelapreservaçãodomeio ambiente,daflora,daágua),etnobotânica (o encontro entre africanos e índios nos quilombos e a prática do candomblé promoveram a constituição de um conhecimento incomparável do uso das plantas com fins medicinais), resistência culturaldopovonegrooprimido,humilhado, mantendo sua dignidade na fé dos orixás, voduns, inquicesecaboclos.Candomblé é celebração da vida. Portanto, você, amiga, amigo, quem anda dizendo que candomblé é coisa de macumbeiros, de adoradores do diabo, deixe de lado sua ignorância, seu preconceito, seu

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racismo. Intolerância religiosa é crime! No lugar de perpetuar a cultura do ódio, venha conhecer o candomblé! Não para se converter, pois o candomblé é uma religião de escolhidos. Não há conversão nem proselitismo. Ninguém no terreiro vai lhe dizer que Olorum é o único caminho para a salvação. Pois no candomblé, o homem e a mulher não cometeram nenhum pecado original. Portanto, não há necessidade de salvação. Assim como não tem o diabo que os cristãos inventaram para controlar as massas. No candomblé, há uma ética e uma moral universais, resumidas na seguinte regra de ouro (regra esta tão frequentemente esquecida pelos que se autoproclamam seguidores de Jesus): não faça a ninguém aquilo que você não quer que alguém lhe faça. Respeite o outro, na sua mais irredutível alteridade. Respeite os mais velhos. Preserve a natureza. Preserve a vida. Estes são os princípios norteadores do povo de santo. Então amiga, amigo, venha conhecer o candomblé e verás como a vida pode ser bela e preciosa na Boa Terra afrolusoindígena da Bahia! Xavier Vatin é professor de Antropologia na UFRB

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Guia* Toda quinta-feira tem nova programação de cinema no Guia do CORREIO. Então confira no www.correio24horas.com.br/guia. Tem todas as salas da cidade, com críticas e indicações do Clube Correio. Esta semana, destaque para os lançamentos Os 33 e Straight Outta Compton e reapresentação de Sexta-feira 13 no Cinemark.

Brinquedo A ex-BBB Michelly Crisfepe, casada há dois anos com o personal trainer Carlos Tomaiolo, contou que tem um vibrador de R$ 1 mil e que curte o brinquedo. “Nunca fui muito de sex shop. O Carlos adora. Esse homem mudou minha vida. Hoje, por exemplo, tenho um vibrador que custou R$ 1 mil. Incrementou a relação”, disse ao Ego.

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