Verbalizar a violência do campo de concentração. De A Centelha da vida ao Ensaio sobre a cegueira.

June 23, 2017 | Autor: Orlando Grossegesse | Categoria: Holocaust Literature, Literary translation, José Saramago, Erich María Remarque
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Orlando Grossegesse (Universidade do Minho , Braga) Verbalizar a violência do campo de concentração. De A Centelha da vida ao Ensaio sobre a cegueira . “O esqueleto 509 ergueu lentamente a cabeça e abriu os olhos”. Começa assim o romance A Centelha da vida (Der Funke Leben, 1952) de Erich Maria Remarque, em tradução de José Saramago, realizada a partir da edição francesa de Michel Tournier (1953) e publicada em 1955 (Ed. Europa-América). Esta narrativa, sem base testemunhal, descreve o dia-a-dia num campo de concentração nazi imaginário nos meses que antecedem o fim da guerra. Na época, o livro chegou a ser logo um bestseller internacional, ao contrário de Se questo è un uomo (1947) de Primo Levi, que só a partir da reedição de 1958 teve maior divulgação, afirmando-se nos anos oitenta como texto canónico da literatura do holocausto. Em 1954, o tradutor Saramago tinha que verbalizar os horrores e o sofrimento coletivo sob condições infra-humanas sem pontos de referência. Quatro décadas mais tarde escreve o seu romance Ensaio sobre a cegueira (1995), que cria a ficção de outro campo de concentração – ponto alto de um processo evolutivo da escrita sobre a violência. Conforme nossa tese, a tradução de L’Étincelle de vie pode ter contribuído para a aprendizagem de modos de representação (descritiva / narrativa) no que se refere a processos de desumanização / coisificação e à perseverança do humano que se reflete no romance posterior. Esta análise comparativa conduz a questões do sentido político do ‘romance concentracionário’, de Remarque e de Saramago.

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