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“O Francesco F rancesco” rancesco” do Bahiano e as expressões sexuais da revista O Rio Nú

JORGE VERGARA

Aproximadamente quinze anos antes da publicação de Paulicea, o Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) gravou para a Casa Edison a cançoneta “O Francesco”. A letra supõe a associação entre “Francesco”, “fresco” e “largo do Rocio”. Explica-se através da narrativa da época: Há uns certos “meninos” que se dão ao luxo de ir tomar fresco nos bancos do jardim do largo do Rocio. Mas não tomam só fresco. Vão mais longe. Costumam juntar-se a uns senhores e... muito agarradinhos, muito agarradinhos... com tregeitos de viuvinha ainda donzella, lá vão elles para... (é facil de calcular para onde). E as familias que ali vão passear, e, principalmente, as moças casadeiras, estão desgostosas com a preferencia dada pelos cavalheiros a esses “mocinhos” indecentes. Mas não tem razão; porque, em verdade, fresco, bom fresco, só no largo do Rocio. É tradicional (O RIO NÚ, 1912, p. 3).

Na letra da canção há referências ao sexo anal, à prostituição noturna ou à tarde no Largo do Rocio no Rio de Janeiro. O texto em primeira pessoa e a interpretação da música (a ênfase e o retardo em “trimeliques”, a hesitação e oscilação melódica antes de “Gregório”, as interjeições) caracterizam o prostituto de forma engraçada: Aqui estou eu que sou faceiro e bem macio, Bem vestidinho ando sempre por detrás, Sou morador aqui no Largo do Rocio, Meu bons senhores, aqui estou pra tudo o mais. Ai que frescuras, que rochuras1 já se vê, Sou bonitinho, faceirinho como que! Lá no Rocio em tom macio sei falar, Depois das onze ganhou meu bronze até fartar. Bonitinho bem vestido em boa roda, Flor no peito, bengalinha assim na mão, Chapéu de palha, paletó curtindo a moda, Faço nos homens trimeliques e sensação! Com pó de arroz aqui nas bases sou finório, Um cortinado tenho até no meu chatô, Onde recebo muitas vezes o... Gregório, Amigo meu, que lá já foi e que gostou! Ai que rochuras, que frescuras já se vê, Sou bonitinho e apertadinho como que! 1

Tesão ou desejo sexual.

Lá no Rocio em tom macio sei falar, Depois das onze ganhou meu bronze até fartar. Depois do que, ali no Largo é um sucesso, Eu sou ouço: “bonitinho, venha a cá”, Não levo a chicha [?] porque logo cobre preço, Pois sem arames2 o tubarão não entrará. É que o famoso peixe-espada é arriscado3, E por isso eu não vou no arrastão, Tenho medo de ficar todo engasgado, E me estragarem a panela do feijão, ai ai! (BAHIANO, 1907-1912).

Na Hemeroteca Digital se encontraram as palavras da cançoneta em textos da revista O Rio Nú. Nela se escreve sobre o Largo do Rocio e a prostituição masculina ao usar termos como “bronze”, “tubarão” (aquele que procura “gente fresca”) e “depois das onze” (O RIO NÚ, 1898, p. 1; 1899, p. 2; 1900b, p. 3). Bronze alude à relação entre as estátuas e os frequentadores do lugar. Expressões como “eu sou de bronze” são referência aos que procuram rapazes ou à pertença destes ao grupo de frescos ou “doentes” ativos4, mas na cançoneta a referência inclui a obtenção do prazer físico e não apenas o dinheiro ganho. Na seção “Concurso de resposta” se propõe a escolha entre o sistema “moderno” ou “antigo” (sexo vaginal ou sexo anal). Os leitores inventam versos para o sexo anal: “Pois além de sujar o grão dedo/ Inda esfolla-se o dito Papai”; registram o nome que é codigo para o ativo: “Tem por certo mais perigo,/ Mas eu cá não sou Gregório”; e utilizam a frase da cançoneta: “Cá na minha opinião/ Gosto mais é pelo antigo,/ Pois, não sou lá muito amigo/ Da panella do feijão!”5 (O RIO NÚ, 1900a, p. 6). Existe congruência no uso dos termos na cançoneta e nos artigos de O Rio Nú; os conjuntos sugerem a existência de vocabulário comum entre as pessoas que conheciam o ambiente homoerótico. A leitura paralela da letra da cançoneta com textos da revista O Rio Nú reforça os sentidos aludidos na música: as relações entre o homem másculo e o efeminado, entre quem pode pagar e quem oferece serviço sexual, o

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Sem arames quer dizer sem cobrar dinheiro. Peixe espada é alusão ao portador de membro avantajado ou ao próprio membro. 4 “De noite fomos passear/ Faça calor, fresco ou frio/ Um sugeitinho encontrar.../ Isto lá depois das onze/ Todo cheio de massada.../ O tal sujeito é de bronze./ E quer conversa fiada!” (O RIO NÚ, 1899, p. 2). “Gregorio” que “costuma passeiar por aquelle largo á procura de meninos” é “famigerado doente” (1905a, p. 2). 5 Existe a expressão que liga panela e bronze, na história de certo “cavalheiro bem apessoado, que negociou durante muitos annos, no largo do Rocio, em panellas de bronze, tem uma panella grande que vende por qualquer preço” (O RIO NÚ, 1904, p. 2). Em outra data o assinante com nome “Tubarão” expõe: “Mas Gregório é que é o nome aprovado e legal...” para quem “anda á noite á cata de pequenos” (1900b, p. 3). Pode-se supor que “peixe-espada” se relacione com “tubarão” apenas em relação à atividade, mas em O Rio Nú, “peixe-espada” é termo substituto de pênis em receita de comida para “meninas quando passam ao estado de mulheres”, com detalhes: “depois de untar o bom peixe espada com azeite de Thomar, vá pouco a pouco introduzindo-o no seu buraco” (1911, p. 6). 3

ativo e o passivo, o maduro e o jovem, e principalmente o segredo público das práticas sexuais entre homens.

BAHIANO. O francesco. [S.l.]: Odeon, 1907-1912. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles. _______________. O Fr(anc)esco. In: Proibidão.org. . Acesso 26 de junho de 2016. O RIO NÚ. Annuncios especiaes. Rio de Janeiro. 26 de março de 1904, p. 2. _______________. Cartas sem... sê-lo. Rio de Janeiro. 27 de maio de 1905, p. 2. _______________. Concurso de resposta. Rio de Janeiro. 15 de setembro de 1900, p. 6. _______________. Concurso de resposta. Rio de Janeiro. 22 de agosto de 1900, p. 3. _______________. Conversa fiada. Rio de Janeiro. 19 de abril de 1899, p. 2. _______________. Motte a concurso. Rio de Janeiro. 19 de agosto de 1905, p. 6. _______________. Receita: peixe-espada ao natural. Rio de Janeiro. 15 de novembro de 1911, p. 6. _______________. Reclamam ao Rio Nú!. Rio de Janeiro, 20 de abril de 1912, p. 3. _______________. [Sem título]. Rio de Janeiro. 20 de novembro de 1898, p. 1.

Expressões Expressões sexuais na revista O Rio Nú Berimbáos: Vagina “300 mocinhas irão, vestidas de Cupidos, tocando em seus berimbáos apimentados e rebolativos tangos argentinos e maxixes brasileiros para provarem que berimbáo não é gaita, e aquillo não é assobio” (21 de fevereiro de 1914, p. 4). “Esta mulher não é boa Para tocar birimbau Mas garanto ser gostosa Para aguentar este pau Ella agora é bem mocinha Tanto assim que anda de touca P’ra lembrar-se do seu tempo, Quando levava na boca” (19 de outubro de 1898, p. 3) Cavar: sexo anal

“O Barroso anda impressionado que o tal francez afeminado e surdo que mora nos fundos do bilhar, em vez de pu... ritano é um bom fan... chulo! Ora, seu Barroso, o francez cultiva o supremo goso de cavar p’ra dentro; basta, para o affirmar andar em companhia do cor’nel H. Pito, o maior ‘papão de garotos’ do Meyer!” (23 de maio de 1914, p. 6). Clyster moderno: sexo anal “O clyster é bom, é unico em taes casos! E si for dado pelos processos modernos, isto é, com apparelhos adrede, macios, curtos ou compridos, finos ou grossos, com remexidos ou mais, ainda será melhor. Experimente. Vá ao largo do Rocio ali pela volta das 10 da noite e logo que lhe apparece algum velho dos chamados doentes, ribombe para o lado dele, que há de ver o gosto supimpa de um clyster moderno” (31 de outubro de 1914, p. 5). Comichão de frente: pênis “Comichão de frente 100 elegantes cavalheiros rigorosamente trajados de roupa de banho de mar abrem o tróço, cavalgando varios bichos cavalgáveis taes como: cobras sem cabeça, lombrigas, minhocas, etc.” (21 de fevereiro de 1914, p. 4). Corista: prostituta. 69: posição sexual desse nome. “De novo esta collocada a corista Palnegra. É esta a sua 69ª collocação, e não lhe foi preciso annunciar pelos jornaes as suas habilidades... artísticas” (25 de julho de 1908, p. 3). Doente: homossexual “Um milhão de velhos doentes e meninos espertinhos, vestidos de caboclos da estatua do Pedro I, extasiarão o publico com complicados compassos de tymbales” (21 de fevereiro de 1914, p. 4). Flautas de pelle sem buracos: pênis. Sciencias quadrupedes: sexo. Para solemnizar a formatura de seu filho Pinto Pellado, em sciencias quadrupedes, o coronel Pega Nomeu reuniu em seu aprasivel water-closet do largo do Paço grande numero de convidados [...]” no programa “e) duetto das bananas, em flautas de pelle sem buracos. Magnifica concepção artistica do maestro Jaty Arrombey, do Conservatorio de Barbada” (21 de novembro de 1908, p. 2). [bananas em duetto: alusão homoerótica]. Fresco, meninos, mocinhos: afeminados, homossexuais, às vezes prostitutos. Viuvinha ainda donzella: mulher carente de sexo. “Há uns certos ‘meninos’ que se dão ao luxo de ir tomar fresco nos bancos do jardim do largo do Rocio. Mas não tomam só fresco. Vão mais longe. Costumam juntar-se a uns senhores e... muito

agarradinhos, muito agarradinhos... com tregeitos de viuvinha ainda donzella, lá vão elles para... (é facil de calcular para onde). E as familias que ali vão passear, e, principalmente, as moças casadeiras, estão desgostosas com a preferencia dada pelos cavalheiros a esses ‘mocinhos’ indecentes. Mas não tem razão; porque, em verdade, fresco, bom fresco, só no largo do Rocio. É tradicional” (20 de abril de1912, p. 3). Gouveia: homossexual, geralmente ativo. Pode ser heterossexual que faz anal com mulher. Fazer feira: pegação, procurar homens para fazer sexo. Modernista: homossexual[ista]. “O Juquinha Dengoso como na roda elle era conhecido, (quero dizer: na roda dos Gouveias...) [...] Costumava fazer a sua ‘feira’ No antigo e velho largo do Rocio... Onde era visto mal a noite vinha, Quer fizesse calor o mesmo frio [...] Do Rocio, o Juquinha Foi sem mais abordado Por um Gouveia roxo... um tal Camargo, Sujeito que tinha de ha muito a fama tinha De ser um modernista inveterado” (5 de novembro de 1910, p. 2). “O Gouveia, rapaz decidido e famoso na arte de conquistar moças solteiras, depois de comer a isca a muitas e fazer negaças no anzol a todas, andava namorando a Rosalina [...] Si tu soubesses! quando me negavas um beijo, eu ficava tão enfiado... - Perdôa, meu querido. Hoje nada te recuso... Não quero que enfies... pelo menos daquelle modo” (8 de agosto de 1905, p. 3). Gregorio: homossexual ativo. Criança: Criança: frescos, homossexuais passivos e jovens. Ardencia: desejo sexual “Por isso é que o Gregorio, o bom amigo Das criancinhas que não fazem mal. É hoje do Prefeito um inimigo Terrivel, figadal! Não lhe perdôa a torpe irreverência De transformar o largo do Rocio, Onde, nas noites de escaldante estio, Para acalmar a natural ardencia, Alli se achava o fresco necessario De forma differente e gosto vario...” (8 de julho de 1904, p. 2). Gregorio “não gosta de andar na frente”, “aquelle sujeito é roxo por uma dessas aventuras [procura de meninos desvalidos]” (27 de maio de 1905, p. 2).

“Na rua do Ouvidor: Vi hoje outra vez um bond Atropelar uma criança; Felizmente ella sahiu illesa. - É que o cocheiro era com certeza um principiante!” (4 de julho de 1903, p. 7). Guerra ao sexo fraco: homossexualista “Mestre Pintinho Grijó, desprendendo-se definitivamente de pilar que o prendia, uniu-se ao Cunha e juraram guerra de morte ao sexo fraco. Ah! elle é isso? Sodoma para elles” (25 de julho de 1908, p. 3). Lobisomem, tubarão: homossexual ativo maduro. “Se anda de noite gentil flanando, De olhar attento, pelo Rocio, Sem receiar-se do vento frio, Velho que sempre faz figurão, Vendo os meninos, todo dengoso, - Figura esplendida e romanesca - , Vae em procura de gente fresca: É lobisomem, e tubarão!” (22 de agosto de 1900, p. 3). Mangueira: pênis. Dois quartos separados por vão: vagina. “Precisa-se de um bombeiro ágil, que saiba fazer funccionar a mangueira, para apagar um incêndio que está abafado entre dois quartos separados por um vão... áquella parte. Cartas a Cambrone, no outro mundo” (26 de março de 1904, p. 2). Modernidade, art noveau, progresso: sexo anal, sexualidade perversa ou imoral. “O Joaquim era um reformista intransigente. Verdadeiro amante do progresso, elle não admittia coisa alguma que não fosse feita pelo moderno. A tal ponto chegava o seu enthusiasmo, que até em materia de amor havia de ser todo art-noveau. Uma noite destas, o Joaquim andava perambulando pelo largo do Rocio em busca de aventuras, quando a presença de um rapaz de seus 18 a 20 annos lhe chamou a atenção [...] No outro dia, Joaquim não podia sentar-se direito nas cadeiras [...] ‘eu já estou mais do que curado’” [do modernismo] (1 de maio de 1915, p. 4). Paletot apertado: moda dos afeminados ou homossexuais “O Affeminado tem a mania de querer andar, contra o gosto dos papas, com o paletot muito apertadinho. Ora, seu pu... ritano, si tem comichões, vá ao tenente que elle o cura” (24 de outubro de 1914, p. 6).

Panella de bronze: bunda ou sexo anal. Largo do Rocio: no Rio de Janeiro, frequentado por prostitutos, afeminados ou homossexuais. “Um cavalheiro bem apessoado, que negociou durante muitos annos, no largo do Rocio, em panellas de bronze, tem uma panella grande que vende por qualquer preço. Cartas anonymas a D. Pedro I. indicando a hora do negocio” (26 de março de 1904, p. 2) “Inaugura-se uma fabrica de panellas de bronze, no largo do Rocio” (19 de outubro de 1904, p. 2). Panella de feijão: sexo anal (sistema antigo) “Cá na minha opinião Gosto mais é pelo antigo, Pois, não sou lá muito amigo Da panella de feijão!” (15 de setembro de 1900, p. 6). Professor ou aluno de música: homossexual ou afeminado. Tocar clarineta clarineta ou fagote: sexo oral. Tomar fresco: buscar ou transar com o homossexual passivo. “O professor moleque Ventura já começou as aulas de clarineta e fagote. Esse moleque só faltava era tomar fresco na zona Largo do Rocio mas agora concluiu seus estudos e predicados, pois das onze horas da noite em diante o afeminado rapaz está firme na zona!” (19 de fevereiro de 1916, p. 7) [aqui se confunde professor com aluno, ativo com passivo, quem procura e quem oferece serviço sexual]. Rabada: sexo anal hetero ou homo “Este prato é um dos mais antigos e procurados; fez as delicias dos romanos e dizem os mais abalisados historiadores que foi inventado por um habil coseinheiro da antiga cidade de Sodoma [...] A dificuldade deste petisco não está na sua confecção, mas no encontrar uma rabada em condições, isto é; gorda, nova, fresca, e gelatinosa. Achada uma com estes requisitos, dá-se em cima do dono ou dona e procura-se o geito de passarlhe a mão. Isto feito, mune-se a gente de um bom tróço de paio e dois ovos bem frescos que é para terem muita clara, porquanto é esse o primeiro ingrediente para comer uma rabada” (22 de novembro de 1911, p. 2). Roxuras: tesão. Montado: penetrado. Banana, Banana, paio: paio: pênis “Roxuras Eu passei, tu sorriste, eu grelei! Me chamaste, e eu risonho subi... E depois?... e depois?... Tó nem sei. Fui a pé mas... montado sahi” (4 de abril de 1900, p. 1). (é caso heterossexual?) “Vi a priminha no ensaio,

Com voz turbada, a gemer, Como quem está p’ra morrer Nas roxuras de um bom paio!” (8 de agosto de 1908, p. 3). “Num brodio que dá Sampaio A esposa do Braz Tizava Se atola com fúria insana Nas roxuras de um bom paio; S’engasga, tem um desmaio, Se lhe transfigura o rosto E cai no sofá no enconsto Deêm-me, diz ella, - banana E aos lábios pondo-a com garra Geme mesmo, de gosto” (8 de agosto de 1908, p. 3). Ser de bronze: por alusão as estátuas no centro do largo do Rocio, homossexual “Quando ao largo do Rocio De noite fomos passear Faça calor, fresco ou frio Um sugeitinho encontrar... Isto lá depois das onze Todo cheio de massada... O tal sujeito é de bronze. E quer conversa fiada!” (19 de abril de 1899, p. 2). Ser vaccinada: penetração. Lanceta: pênis. Em texto que zomba da vacinação obrigatória: “Si fôr mulher: b) Não gemer no momento de ser vaccinada” “As lancetas podem ser de pontas finas ou rombadas, á vontade do freguez ou da fregueza” “Ninguém póde ser homem sem estar vaccinado. Aquelle que não o fôr será obrigado a virar mulher no praso de 24 horas” (16 de novembro de 1904, p. 4). Sistema antigo e sistema sistema moderno: sexo vaginal e sexo anal “Eu bem sei que o moderno é supimpa, Que é de luxo, da moda, e gostoso, Que se encontra no cujo outro goso Differente do antigo... mas ai! É de estrondo esse tal grande invento, Do qual tremo, deveras, com medo, Pois além de sujar o grão dedo Inda esfolla-se o dito Papai” (15 de setembro de 1900, p. 6).

“Ora bolas, cebolorio! O que eu prefiro é o antigo; Tem por certo mais perigo, Mas eu cá não sou gregorio!” (15 de setembro de 1900, p. 6). “Mas se, amuada a pequena Me nega o sorriso terno E me vira a contra scena, Vou mesmo pelo moderno” (15 de setembro de 1900, p. 6). Sodomia: ofender por detrás. “- Minha filha, sodomia é... é... quer dizer... quando se offende outra pessoa por detrás...” (21 de novembro de 1914, p. 3). Solos de clarineta, clarineta, clarinetist c larinetista, larinetista, dar d ar lição de clarinete, clarinete, pegar pegar no trombone: fazer ou oferecer sexo oral. Casa de moda: casa de prostituição ou lugar de sexo perverso. “A Julinha Boca de Chupeta da zona Haddock-Lobo [...] disse que não ligava ao que dizia ‘O Rio Nu’. Nada nos admira dessa modernissima clarinetista, funcionaria rebocadeira do Largo do Rocio” (23 de março de 1911, p. 7). “Disse a Roberta que apreciou a Isaura da casa de... modas da Rosita, zona Barbara de Alvarenga, pegar no trombone do Nelito pianista e levá-lo á bocca” (23 de março de 1911, p. 7). “Disse-nos o Bororó que, tendo a Eugenia Meio Kilo mandado cahir na rua o Pequenino, este foi bater á porta da Ricardina Cascalho, allegando ter ali mais vantagens; pois, além das diarias, encontra passagens para Orópa e solos de clarineta” (23 de março de 1911, p. 7). “Gaba-se o menino Angelo que a Olivia Papuda não dá uma folga no telephone dos ‘Democraticos’ chamando-o para fornecer-lhe passagens para Orópa, e dar lições de clarinete” (23 de março de 1911, p. 7). Tomar: sexo (anal) “O largo do Rocio já deu o que tinha que dar... até á véspera do desmantelamento da grade. Quatro soldados puzeram num quadrado onze rapazolas bonitos e levaram os innocentes á delegacia próxima [...] - Que fazia o senhor? - Eu estava tomando... banho, seu doutor” (8 de julho de 1904, p. 2). Tomar chá: sexo, talvez sexo oral. “O gordo commendador Vem á casa da Leonor, Porque o convidou a bella, Para tomar chá com Ella.

Mas tendo chegado alguem Quando o nosso amigo vem, Diz-lhe a criada: - ‘Minh’ama Já está mettida na cama Porque doente Ella está E não pode tomar chá.’ - Não pode tomar? Zombando Você está da minha vida Aposto que está tomando Dentro do quarto, escondida” (27 de junho de 1903, p. 5). “Uma dama perseguida Na rua, por um sujeito Pelintra, de flor no peito. Faz, já muito aborrecida De impaciencia um assomo E exclama: - Meu Deus, que horror! ‘Ve-se logo que o senhorr ‘Não tomou chá em pequeno!’ -‘Não tomei?! diz o sujeito, Fazendo a sorrir um momo ‘Não me tenha em tal conceito!’ ‘Ha muito tempo que eu tomo! E acrescenta assim com um ar, Que elle julga altivo e regio: - ‘Eu comecei a tomar, Quando estava no collegio” (4 de julho de 1903, p. 3). Tomar leite: sexo oral “O Orlando continua a tomar leite a viver apaixonado por olhos verdes... Assobiando, assobiando sempre” (17 de março de 1900, p. 2).

Casos na revista O Rio Nú. Após o longo rompimento de relação afetiva com Cobra, Macaco explica o amor. “O amor, minha amiga, é uma picadura” (31 de outubro de 1914, p. 7). AntiAnti- platônico “Ficou a chuchar no dedo

Por ser cabra metaphorico E querer da sua amada Um prazer todo theorico” (19 de outubro de 1898, p. 3). Ativo e passivo “Copeiro moço e, no physico, Um pouquinho... afeminado, Pela certa, era barrado... [no emprego] De um modo mui positivo. - Pois sim!... (Dizia a si própria) [a mulher com marido infiel] É guarda-livros, o Oscar, Quér, portanto, escripturar... O Activo junto ao Passivo...” (15 de maio de 1915, p. 5). Aulas de sexo “Foi eleito membro da Sociedade Musical Harpas e Doçuras, o maestro Tres com Gomma6. Estimado como é, maestro na qualidade de Membro estará sempre duro, para leccionar senhoras” (21 de novembro de 1908, p. 7). Bombeiros Bombeiros e suas mangueiras contra a destruição de Sodoma “Estávamos na época das revoluções intestinas, provenientes dos oleos de rícino7, quando se deu a derrocada de Sodoma e Gomorrha, destruídas pelas chammas expellidas pelo mar amarelo8. Os bombeiros, lançando mão de suas mangueiras... faziam ingentes esforços por conseguir dominar os nuvens de gafanhotos que então surgiram, vindas da Argentina, por ordem do Zeballos Maluco. Foi um horror! a gafanhotada argentina cahiu sobre o capim e comia-o como um Burro ou como um Cavallo esfomeado9. Um pobre Touro que nos campos pastava, suppondo que os gafanhotos fossem urubus malandros ou Aguias condoreiras, deu uma chifrada n’um porco que por ali andava, fazendo-o cahir sobre os chifres de uma Cabra, que disparou como se fosse um Veado perseguido pelo caçador. De repente, como si surgisse das entranhas da terra, appareceu no local um grandíssimo Elephante, trazendo enrolado na Tromba um inoffensivo Leão10, que bradou: - ‘Meu Deus, que noite sonora! Agora que estou mesmo arranjadinho! 6

Pode ser o pênis, dois ovos e o leite, na linguagem da revista. Era usado como purgante, segundo os comentários na revista. 8 A diarréia impede o sexo anal? 9 Capim é referência ao passivo (homem ou mulher)? 10 Leão efeminado. 7

Ouvindo aquillo a gafanhotada firmando-se nas patas traseiras, soltou meia dúzia de traques e buscapés, e rodou depois de deixar os seguintes palpites:” (31 de outubro de 1908, p. 7). Comida para meninas casadeiras. Peixe-espada, “para as meninas quando passam ao estado de mulheres”, com muito tempero dá “inchaço na barriga”, o peixe “quanto maior elle tiver a cabeça melhor será” e “depois de untar bem o peixe espada com azeite Thomar, vá pouco a pouco introduzindo-o no seu buraco, deixando que elle mesmo rasge a pellicula resguardadora11” (15 de novembro de 1911, p. 6). “Que bom peixe d’escabeche! Oh! que pirão succulento” Já não posso, eu arrebento! Remexe meu bem, remexe, Antes que a coisa se... feche! - Tira dahi esse prego Safam, aleijado! Arrenego Comer o teu peixe espada! - Pois não coma, idolatrada... Mas não maltrate seu nego” (19 de agosto de 1905, p. 6). Cura gay do século vinte “O Affeminado tem a mania de querer andar, contra o gosto dos papas, com o paletot muito apertadinho. Ora, seu pu... ritano, si tem comichões, vá ao tenente que elle o cura” (24 de outubro de 1914, p. 6). Largo do Rocio “Proposta Queres que eu large o assobio? E imploras em tom amargo. Só largo vendo o teu... largo Lá no largo do Rocio” (20 de março de 1907, p. 7). Humildade e caridade de catolicismo exemplar “Gregorio de Gouveia era um modesto e humilde frade, que não gostava de tomar a dianteira de ninguem; preferia andar sempre atraz dos outros, principalmente de seus companheiros de convento, a quem consolava por obras e palabras. Muito amigo dos meninos, na idade em que estes passam a rapazes, tinha quase sempre um na sua cella e tratava-o com muito carinho, ensinando-lhe praticamente que esta vida é um valle de

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O hímen.

lagrimas e que a gente não póde deixar de exercer a caridade, tendo em vista que ‘quem tem o seu dá-o a quem quer’. Mesmo com os rapazes, a humildade de Gregorio se manifestava, pois nunca lhes falava de frente, preferindo sempre tratar com elles pelas costas. Foi essa humildade que lhe garantiu a entrada no reino dos céos. S. Gregorio de Gouveia é o padroeiro da Liga Contra as Mulheres” (1 de maio de 1912, p. 2). Moça se veste de homem para procurar seu amante. “A essa trafega rapariga que, vestida de homem, deixou a pensão Rachel e foi para o theatro Recreio Dramatico em busca do amante” (27 de maio de 1905, p. 2). Não há há sexo sem pau duro “Seu negro manto a noite desenrola... - Noite sem lua, aterradora e fria E eu da mulata em frente á gelosia, Suspiro, aos sons da tremula viola: Abre a janella, ó divina Maria! E, d’essa amena voz, que me consola E as minhas fundas magnas allivia, Vem dar-me, agora, a caridosa esmola!... E, longo tempo assim, convulso, louco, A tentar de frio, ancioso e... rouco, Ouvido ser, da bella em vão procuro... Subito enfim, entreabre-se a janella E escuto, então, dizer-me a minha bella: - Não pode ser, irmão; não tem pão duro...” (30 de setembro de 1908, p. 7). Ode à pica “Charadas sem numero Ha quem a tenha deitada Outros tem vasia até, Mas eu gosto d’esta cheia, E cá p’ra mim é em pé. É de cor um pouco incerta

Mais clara, ou mais escura; Na apparencia sendo mole Apalpem que ella está dura. Roliça, sobre o comprido De palmo ou mais: palmo e terça; Mas tem mais se lhe incluimos Gargalo, corpo e cabeça. Na cabeça tem buraco Donde sai o quer que seja, Ou grosso como melado Ou fino como cerveja, P’ra tirar-lhe o conteido, É preciso por-lhe a mão, E tambem com certo geito Pol-a em outra posição. Nem é preciso conceito Qualquer o dispensará Mas fiquem sabendo que Esta coisa tem um rá D. Pepino” (19 de outubro de 1898, p. 3).

Padroeira dos lingüistas. “De Santa Mimi pouco diz o nosso Flos Sanctorum. Informa apenas que ella vivia numa gruta, onde cultivava um grelo em que empregava todo seu carinho, a ponto de, não o podendo negar, lambe-lo, lubrifica-lo constantemente com a lingua. Dahi o tomarem-na para padroeira os linguistas” (5 de junho de 1912, p. 2). Pegação “No entanto, bolinar é mais indecente do que tangar: bolina-se nos bonds, nos trens, nos cinemas, nas igrejas; bolina-se quase sempre uma mulher desconhecida; ao passo que o tango é dansado no palco, no salão, estando de accordo o par e assistido a elle sómente quem quizer...” (31 de janeiro de 1914, p. 6). Pessoas transam em troca de dinheiro.

“Menino, sem arame [dinheiro], vá rodando e não me ame” (19 de abril de 1905, p. 7). Prostitutas francesas: profissionais “- Póde-se entrar, minha senhora? - Póde, mas não por ahi, dê volta e venha pelo outro corredor. - Bem, nesse caso já vejo que me enganaram. A senhora não é franceza. - Ora essa, porque? – Por que em casa de franceza entra-se por qualquer lado” (28 de abril de 1906, p. 4). Quando o sexo sexo anal mata. “Gregorio exasperou-se e enfio no Menino Michú o páo de que andava sempre armado; enfiou-o por detrás, á traição, e o pobre pequeno recolheu-se ao leito para curar-se do ferimento, o que não conseguiu, vindo a morrer em cheiro de santidade, arrependido das suas damnações” (5 de junho de 1912, p. 2). União civil estável entre pessoas do mesmo sexo em 1912 “Na capella do Campinho Casou-se a moça mais bella Com um filho do vizinho... Levava palma e capella... Toda chic, mui dengosa, Em taes adornos mettida, Ninguem diria da Rosa Nada de mal desta vida, Si não fosse o Agostinho, Um pequeno endiabrado, Garantindo que o visinho De ha muito estaca casado!...” (27 de janeiro de 1912, p. 7).

A revista Rio Nú está acessível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (RJ). Fiz um link com os artigos que usei: https://drive.google.com/open?id=0B3J08f6XX1LdOXktN0RQa0VpZ0k

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