Viabilidade econômica da produção de mirtilo (Vaccinium spp.)

July 6, 2017 | Autor: Erick Espinoza | Categoria: Horticulture, Plant Physiology
Share Embed


Descrição do Produto

1

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

VIABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE MIRTILO (Vaccinium spp.)

Erick Espinoza Núñez Vincent Pierre Michel Rey

TCC apresentado, para conclusão do Curso MBA – Agronegócios.

Piracicaba 2009

2

Erick Espinoza Núñez MSc. Eng. Agrônomo Vincent Pierre Michel Rey MSc. Administrador de Empresas

VIABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE MIRTILO (Vaccinium spp.)

TCC apresentado, para conclusão do Curso MBA – Agronegócios.

Piracicaba 2009

3

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, instituição centenária de excelência; aos seus professores; ao PECEGE; e ao nosso monitor, Lucas Brunetti, pela dedicação ao ensino que nos proporcionou uma visão geral da cadeia agroindustrial brasileira e que, com certeza, aprimorou a nossa base de conhecimento em geral. A Cláudia Roismann, do Pomar Vale do Dourado, pela sua amabilidade e gentileza quando visitamos seu pomar em Erechim-RS, para coletar os dados do estudo. Da mesma maneira, agradecemos a André Medeiros, da Associação dos Plantadores de Mirtilo da Serra Gaúcha, no município de Caxias do Sul-RS. Erick Espinoza agradece de maneira especial à sua companheira e amiga, Edjane, pelo constante apoio, amor, e auxílio na preparação da monografia. Ao coordenador do curso, Prof. Dr. Pedro Marques, pela bolsa concedida e a Tatiana Cantuarias, amiga excepcional, quem depositou sua confiança para a realização do presente trabalho.

4

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................. 7 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8 1.1 Objetivo........................................................................................................................ 8 2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 9 2.1 Descrição do cultivo ..................................................................................................... 9 2.2 Situação do mercado ................................................................................................... 11 2.3 Estudos econômicos do cultivo do mirtilo ................................................................... 17 3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 18 3.1 Fonte de dados ............................................................................................................ 18 3.2 Câmbio ....................................................................................................................... 20 3.3 Fluxo de caixa e indicadores de viabilidade econômica ............................................... 20 3.3.1 Valor Presente Líquido – VPL.............................................................................. 21 3.3.2 Taxa Interna de Retorno – TIR ............................................................................. 22 3.3.3 Período de Payback .............................................................................................. 22 3.3.4 Análise de sensibilidade ....................................................................................... 22 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 24 4.1 Custos de instalação .................................................................................................... 24 4.2 Custos variáveis .......................................................................................................... 25 4.3 Fluxo de caixa e indicadores econômicos .................................................................... 29 4.4 Análise de sensibilidade .............................................................................................. 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 34 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 35 ANEXO .............................................................................................................................. 38

5

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Produção de frutos e área plantada de mirtilo em 2007...............................

12

Tabela 2 - Período de produção do mirtilo em diferentes países.................................

13

Tabela 3 - Quantidade e valor exportado e importado de mirtilo no Brasil..................

16

Tabela 4 - Produção e colheita de frutos de um pomar de mirtilo em Erechim-RS ao longo de 10 anos..........................................................................................

20

Tabela 5 - Custos de instalação de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS.................................................................................................

24

Tabela 6 - Custos variáveis de um pomar de cinco hectares de mirtilo em ErechimRS.................................................................................................................

27

Tabela 7 - Indicadores econômicos de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS..................................................................................................

30

Tabela 8 - Análise de sensibilidade em função de diferentes preços e quantidades comercializadas em fresco, de um pomar de mirtilo de cinco hectares em Erechim-RS..................................................................................................

32

6

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Detalhe das flores e frutos do mirtilo..............................................................

9

Figura 2 - Evolução anual da produção mundial de frutos de mirtilo.............................

12

Figura 3 - Distribuição temporal da produção de mirtilo em cinco países, na safra 2008/09............................................................................................................

14

Figura 4 - Evolução anual das exportações e preços do mirtilo na Argentina.................

15

Figura 5 - Distribuição porcentual dos custos de instalação de um pomar de cinco hectares de mirtilo...........................................................................................

25

Figura 6 - Distribuição porcentual dos custos variáveis anuais de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS................................................................

29

Figura 7 - Influência da taxa mínima de atratividade sobre o VPL de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS.......................................................

31

Figura 8 - Influência do preço de venda do mirtilo fresco sobre o VPL de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim RS..................................................

31

Figura 9 - Influência da produtividade anual média sobre o VPL de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS.......................................................

33

7

RESUMO

Em nível mundial, a demanda por frutos de mirtilo cresce rapidamente, motivada pelas suas notáveis propriedades funcionais e nutracêuticas, que comprovadamente neutralizam os prejudiciais radicais livres. A colheita de frutos dos países sulamericanos ocorre na entressafra dos maiores produtores, permitindo-lhes receber altos preços. No Brasil, pequenos produtores iniciaram plantios com muitas dificuldades, entre as quais, a falta de informações do mercado e avaliações econômicas para tomada de decisões certas. O objetivo do trabalho é levantar os custos de produção e manutenção de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim, RS; e a partir deles, elaborar o fluxo de caixa e calcular os respectivos indicadores financeiros tais como VPL, TIR e payback. Nos resultados, observa-se que as maiores despesas nos investimentos são com a instalação da câmara de refrigeração e a compra das mudas. Enquanto, o maior custo variável foi em mão-de-obra, especialmente na colheita. Os indicadores financeiros apontam que o cultivo do mirtilo é altamente rentável com um VPL de R$ 397.270,75 e uma TIR de 22,56%. O período de recuperação do investimento inicial remunerado é de 6,11 anos. Palavras-chave: Vaccinium, custo de produção, análise econômica, mirtilo.

8

1 INTRODUÇÃO O interesse pelo mirtilo, por parte dos consumidores, tem crescido rapidamente na última década, especialmente, em países como Estados Unidos e Canadá onde seu consumo é de longa data; na Europa, em países como França, Alemanha, Reino Unido; e países Asiáticos, como o Japão. A procura pelo mirtilo é justificada quando consideradas as notáveis propriedades funcionais e nutracêuticas do fruto. Vários estudos científicos descrevem o mirtilo como uma fruta de altíssimo conteúdo de antocianinas e polifenóis. As antocianinas são sustâncias reconhecidas por sua capacidade antioxidante ajudando na neutralização dos radicais livres, que causam várias doenças degenerativas. A divulgação dessas propriedades e a tendência mundial por consumir alimentos saudáveis e pouco processados promoveram o aumento da demanda e, conseqüentemente dos preços. Para suprir a necessidade de fruta na entressafra norte-americana, vários produtores agrícolas dos países da América do Sul (Chile, Argentina, Uruguai e, recentemente, o Brasil) realizaram fortes investimentos na instalação de pomares. No Brasil, ainda não existem estatísticas oficiais sobre produção e área cultivada dessa espécie, entretanto, dados de pesquisadores e extensionistas apontam o crescimento da área cultivada, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. No estado de Rio Grande do Sul, pequenos agricultores iniciaram a produção de mirtilo tentando diversificar seus pomares, complementar sua renda e tornar sua propriedade sustentável. Porém, a cadeia produtiva do mirtilo está apenas se articulando e ainda existem muitos desafios pela frente em áreas como viveiros, tecnologia da produção e conservação de frutos, armazenamento, distribuição e promoção. Da mesma forma, dados de custos de produção, de manutenção do pomar e da rentabilidade são escassos ou não existem. Isto dificulta a tomada de decisão de novos empreendedores dispostos a investir e participar da cadeia produtiva do mirtilo. 1.1 Objetivo O estudo pretende levantar os custos de produção e manutenção de um pomar de mirtilo de cinco hectares em Erechim, RS; e a partir desses dados, elaborar o fluxo de caixa e calcular os respectivos indicadores financeiros tais como VPL, TIR e payback.

9

2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Descrição do cultivo O mirtilo é uma espécie nativa de regiões temperadas do continente norte-americano e Europeu pertencente ao gênero Vaccinium; apresenta hábito arbustivo, com altura média entre 1,5 m a 3,0 m (RASEIRA, 2004). É lenhosa, caducifólia e perene, alternando seu ciclo anual entre um período de dormência no inverno e um período de crescimento ativo na primavera e verão. As frutas são produzidas em agrupamentos, localizadas em ramos de ano de idade, e são colhidas em várias passadas, pois amadurecem de forma irregular. O fruto é uma baga de cor azul-escura, recoberto de cera, globoso, de diâmetro entre 1,0 a 2,5 cm, peso de 1,5 a 4,0 g e em cujo interior alberga muitas sementes pequenas. Na maturidade, 2 a 3 meses após a floração, o sabor do fruto é doce-ácido a ácido (FACHINELLO, 2008) (Figura 1).

Figura 1 - Detalhe das flores e frutos do mirtilo Fonte: USHBC (2009)

Alguns estudos científicos têm indicado que a capacidade antioxidante do mirtilo é uma das mais altas entre todas as frutas e verduras (KALT; McDONALD, 1996). Seus frutos contêm vitamina C, minerais, fibras e fitonutrientes tais como antocianinas, polifenóis e ácidos hidroxicinâmicos. Está comprovado que a capacidade antioxidante não é devida ao conteúdo de vitamina C, mas, sim, aos fitonutrientes, especialmente, a quantidade de antocianinas (que dão aquela cor azul ao fruto) (WANG; MAZZA, 2002). Os antioxidantes ajudam a neutralizar radicais livres, que são moléculas instáveis relacionadas ao desenvolvimento de várias doenças e condições degenerativas incluindo câncer, doenças

10

cardiovasculares, deterioro cognitivo, disfunções da imunidade, catarata e degeneração macular (USHBC, 2009). As espécies de mirtilo são divididas em três grupos, de acordo com o genótipo, requerimento de frio, hábito de crescimento e tipo de fruto:

a) Highbush (Vaccinium corymbosum L.), são espécies tetraplóides, auto-férteis e de excelente qualidade dos frutos, a melhor entre os demais grupos, em termos de tamanho e sabor, o que justifica sua aceitação e comercialização nos mercados internacionais (RASEIRA, 2004). Nos pomares brasileiros são bastante difundidos, principalmente desde a introdução de cultivares com menos requerimentos de frio como a „O‟neal‟ e „Misty‟, outras mais antigas são: „Sharpblue‟, „Flordablue‟, „Avonblue‟; „Gulf Coast‟ (ANTUNES; MADAIL, 2005). Durante a década dos 90, a Universidade da Flórida desenvolveu cultivares com requerimentos de frio muito baixos até médios, incluindo-as num novo grupo denominado Southern Highbush (híbridos interespecíficos de V. ashei, V. corymbosum e V. darrowi) (WILLIAMSON, 1994). Essas cultivares têm maturação precoce, são mais vigorosas, mais produtivas, têm melhor qualidade de frutos em termos de firmeza, coloração, tamanho e sabor, dentre outras características. As cultivares mais conhecidas são: „Star‟, „Jewel‟, „Emerald‟, „Southern Bell‟, „Millenia‟, „Primadonna‟, „Snow Chaser‟, „Spring Wide‟, „Spring High‟ e „Sweet Crisp‟ (FBG, 2009). Atualmente, nenhuma cultivar desse grupo se encontra no Brasil, mas sua introdução modificaria completamente a cadeia agroindustrial do mirtilo, uma vez que seu cultivo poderia se estender a regiões de climas amenos como SP. Igualmente, menciona-se que essas cultivares apresentam menor período de colheita, aproximadamente de quatro semanas, o que reduziria os custos com mão-de-obra na colheita. Além do mais, os mercados, cada dia mais sofisticados, pagam maiores preços por frutas dessas cultivares.1

b) Rabbiteye (Vaccinium ashei R.), são espécies hexaplóides com frutos de menor tamanho e menor qualidade que os highbush. Entretanto, apresentam alta produtividade e os frutos são mais resistentes ao manuseio e ao transporte. É o grupo mais plantado no Brasil devido à tolerância ao calor e a seca e aos baixos requerimentos de frio (RASEIRA, 2004). Cultivares

1

Zúñiga, M.L. Diretor Executivo dos Viveiros Sunnyridge (Chile). Comunicação pessoal, 2009.

11

importantes deste grupo são: „Beckyblue‟, „Bonita‟, „Climax‟, „Brightwell‟, „Tifblue‟ e „Powderblue‟ (HOFFMANN; ANTUNES, 2004).

c) Lowbush (Vaccinium angustifolium), são espécies diplóides, com hábito de crescimento rasteiro e produzem frutos pequenos. Não são encontrados no Brasil, pois tem elevados requerimentos de frio (RASEIRA,2004).

A planta do mirtilo necessita de solos medianamente ácidos (pH entre 4,0 a 5,5), ricos em matéria orgânica, de 2 a 3%, e com boa drenagem (PAGOT, 2009; WILLIAMSON; LYRENE, 2004). A irrigação é um fator determinante no crescimento e na produção do mirtilo, pois seu sistema radicular é superficial e com escassos pêlos radiculares restringindo sua capacidade de absorver água (HOLZAPFEL et al., 2004). Os períodos críticos, quando a planta é mais prejudicada, são os estágios de fixação e de crescimento do fruto. O inadequado fornecimento de água nas últimas 2 a 3 semanas de desenvolvimento do fruto pode prejudicar, seriamente, o tamanho e a coloração final dos frutos (IRELAND; WILK, 2006). Os frutos são colhidos na maturidade e, se bem conservados em câmaras frias, podem ser comercializados em até 30 a 35 dias sem prejuízos à qualidade ou perdas significativas (COUTINHO; CANTILLANO, 2004). A colheita dos frutos é realizada a cada 4 a 14 dias por, aproximadamente, oito semanas em forma manual e tomando-se especial cuidado quando a fruta é destinada para o consumo in natura. Esta operação é intensiva e precisa que os trabalhadores sejam treinados para diminuir danos aos frutos que prejudicam sua conservação pós-colheita. Também, é uma das atividades que mais eleva os custos de produção uma vez que exige muita mão de obra (IRELAND; WILK, 2006). Os frutos podem ser consumidos in natura ou industrializados por congelamento, desidratação, enlatamento ou por fabricação de geléias, licores, sucos, sorvetes e doces (PAGOT, 2009).

2.2 Situação do mercado Nos últimos 15 anos, o mundo todo participou do rápido crescimento do cultivo do mirtilo. De 1995 a 2007, a área plantada aumentou em 63%, passando de 41.647 para 67.768 hectares (FAO, 2009). Em 2007, foram produzidas no mundo 279.156 toneladas de fruta fresca e deve alcançar em 2012, segundo estimações, 362.880 toneladas (LEHNERT, 2008) (Figura 2).

12

Todo esse interesse veio dos elevados preços registrados em safras passadas o que levou ao plantio desmedido em vários pontos do planeta como Filipinas, Coréia do Sul, Japão, Ucrânia, Romênia, Áustria, Dinamarca, Holanda, Irlanda, Suécia, Suíça, Reino Unido, México, Peru, Colômbia e o Brasil, entre outros (LEHNERT, 2008).

300

Produção (toneladas) x 1000

USA

Canadá

Polónia

Resto do mundo

250 200 150 100 50 0

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Figura 2 - Evolução anual da produção mundial de frutos de mirtilo Fonte: FAO (2009)

Atualmente, os maiores produtores do mundo são os Estados Unidos e o Canadá que respondem por 59% e 27% da produção, respectivamente (Tabela 1). Entre esses dois países existe um intercâmbio comercial intensivo da fruta, tornando-os também os maiores importadores e exportadores mundiais (FIGUEROA, 2005). Tabela 1 – Produção de frutos e área plantada de mirtilo em 2007 Países

Área

Produção

% produção mundial

USA Canadá Chile Argentina Mundo

---Ha-21.620 30.274 8.500 5.000 67.768

--Toneladas-165.120 77.400 22.500 8.000 279.156

59,15% 27,73% 8,06% 2,87% 100,00%

Fonte: FAO (2009) e ALCOVER (2008)

13

Nos países do hemisfério norte, a colheita do mirtilo inicia em maio e finaliza em outubro, provocando escassez e elevação dos preços dos frutos nos meses restantes. Essa “janela” comercial impulsionou as plantações nos países do hemisfério sul, que colhem entre outubro e abril. Quando comparado à safra principal, o tamanho do mercado da entressafra norte-americana é ainda pequeno, 15% do total, porém com reais possibilidades de expansão (GARCES, 2007) (Tabela 2).

Tabela 2 - Período de produção do mirtilo em diferentes países Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

USA Canadá Espanha França Alemanha Polônia Austrália Nova Zelândia Chile Argentina Brasil Fonte: Adaptado de Garces (2007)

Na América do Sul, o país mais técnica e comercialmente preparado para a produção e exportação de mirtilo é o Chile, que é reconhecido mundialmente como provedor sério e estável de frutas de excelente qualidade. Quase toda sua produção é destinada para exportação para os Estados Unidos e Canadá (86,3%), Holanda (5,2%), Inglaterra (3,4%) e Japão (3,4%) (ASOEX, 2009). As exportações para os Estados Unidos tem sido constantes e cada vez maiores; em 2008, foram exportadas 38.000 toneladas, o que significa 455% mais que em 2004 (ASOEX, 2009). O Chile abastece os mercados entre dezembro e março e utiliza preferencialmente a via marítima (75% das exportações) para realizar suas vendas (ALLENDE, 2009). É o único pais livre da mosca-da-fruta e possui acordos de preferências comerciais com vários países, como o TLC (Tratado de Livre Comércio) com os Estados Unidos (FIGUEROA, 2005). Na Argentina, a produção de mirtilos cresceu 3125% entre 2001 e 2008, passando de 320 toneladas para aproximadamente 10.000 toneladas (ALCOVER, 2008). Dessa produção, 94% é dirigida para o mercado de exportação de fruta fresca. Entre 2001 e 2006, as exportações do país cresceram 2189% e os maiores destinos foram Estados Unidos (67%), Reino Unido (20%) e Holanda (7%) (FIGUEROA, 2005). Embora próximos, a Argentina e o

14

Chile não são fortes competidores, pois colhem em períodos diferentes complementando-se mutuamente. A maior parte da colheita Argentina (97%) sai entre outubro e dezembro, entretanto, 81% da colheita chilena sai entre dezembro e janeiro (SAGPyA, 2009) (Figura 3). Só em dezembro são concorrentes. Contudo, em 2011, a colheita da Argentina poderá ser mais concentrada em outubro, quando as novas plantações terão alcançado seu potencial produtivo (GALLAGHER, 2006).

4500 Estados Unidos

Argentina

Chile

Nova Zelândia

Austrália

4000 50.700.000 Caixas de 2,0 Kg x 1000

3500 3000 2500 2000 Total do Hemisfério Sul: 30.000.000

1500 1000

7.000.000

20.000.000

500 3.000.000 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 1 3 5 7 9 11 13 Semanas do ano

Figura 3 - Distribuição temporal da produção de mirtilo em cinco países, na safra 2008/09 Fonte: Adaptado de Garces (2007)

Atualmente, as colheitas adiantadas permitem aos exportadores argentinos se beneficiar com altos preços, tanto como 32 US$/Kg, muito superior aos 5 US$/Kg recebidos em dezembro (GALLAGHER, 2006). Para aproveitar os preços elevados, quase 90% das exportações são via aérea, entretanto, há poucos anos começou a enviar por via marítima para a Europa, nos meses de maior oferta. Os fretes marítimos até a Europa, em 2008, custaram em média 0,50 US$/Kg, ao passo que, os fretes aéreos 4,0 US$/Kg. Contudo, nos últimos anos, observa-se com preocupação, uma clara tendência da diminuição dos preços nos principais mercados internacionais, devido à maior oferta, desorganização da cadeia produtiva e baixa qualidade da fruta (SKIARSKI, 2009) (Figura 4). Os preços elevadíssimos dos anos passados, aparentemente, criaram uma oferta sem precedentes. Até 2011, estima-se que os preços e a oferta devem estabilizar-se e selecionar os

15

produtores mais eficientes, que consigam enviar fruta de excelente qualidade e em quantidade elevada (ALLENDE, 2009; GALLAGHER, 2006). Exportações Toneladas 7000 19 Exportações

6000

As exportações de mirtilo aumentaram 115% em relação a 2005

Preço US$/Kg 20 Exportações

18 5.800

16

5000

14 12

4000

10 3000 Tendência decrescente no preço médio por tonelada exportada

2000

8 8

6 4

1000

2 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Ton. US$/Kg.

Figura 4 - Evolução anual das exportações e preços do mirtilo na Argentina Fonte: Adaptado de Alcover (2008)

Apesar de introduzido em 1983 no Brasil, os primeiros pomares de mirtilo com fins comerciais são recentes e motivados pela alta demanda e preços atrativos. Embora não existam estatísticas oficiais que relatem dados da área plantada, produção e consumo (SILVA, 2007), estima-se que a área plantada no Brasil seja superior a 100 hectares, localizadas no Estado de Rio Grande do Sul (Vacaria, Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha), Santa Catarina (Itá), Paraná, São Paulo (Campos do Jordão e São Bento de Sapucaí) e Minas Gerais (Barbacena) (ANTUNES; MADAIL, 2005; PAGOT, 2009). As plantações, na maioria das vezes, são menores que dois hectares, utilizam irrigação localizada e grande parte dos tratos culturais é realizada pelos membros da família do produtor (PASETTO, 2007). Em comparação aos países vizinhos, a cadeia agroindustrial do mirtilo no Brasil está apenas começando e com muitos desafios futuros nas áreas de: produção de mudas, tecnologia de produção, assistência técnica, sistemas de proteção contra granizo e geada, manejo pós-colheita dos frutos, logística de armazenamento e distribuição da fruta e

16

promoção das qualidades nutracêuticas do mirtilo (HOFFMANN; ANTUNES, 2004). Contudo, empresas internacionais líderes na produção e comercialização de mirtilo enxergam no Brasil um mercado com muitos consumidores potenciais, e uma região com possibilidades de colher entre setembro e outubro, época na qual, a oferta mundial de fruta é menor.2 A comercialização das frutas é realizada diretamente pelos produtores, por associações de produtores ou através de empresas dedicadas à comercialização interna e externa. Quando realizada diretamente pelos produtores, a venda da fruta é feita em mercados locais, embaladas em cumbucas de 100 gramas a um preço entre 2 e 3 reais, que equivale, a 20 a 30 R$/Kg de fruta fresca, sem descontar os gastos de embalagem, transporte e comercialização (PAGOT, 2009). Uma grande porcentagem da colheita, entre 40% a 60%, é vendida congelada para a indústria de sucos e geléias recebendo entre 9 e 15 R$/Kg. No caso em que os produtores negociam sua produção com as empresas comercializadoras, recebem entre 10 a 15 R$/Kg de fruta fresca, dependendo do local, qualidade e quantidade da fruta e época da colheita (ANTUNES; MADAIL, 2005; PAGOT, 2009). Essas empresas estão empenhadas em desenvolver o mercado nacional interno, inicialmente, em São Paulo e Rio de Janeiro, e exportar para os mercados da Europa. As exportações têm sido em baixa quantidade e principalmente para Itália (70%) e Holanda (15%); com preços FOB superiores a 10 US$/Kg (FAO, 2009) (Tabela 3).

Tabela 3 - Quantidade e valor exportado e importado de mirtilo no Brasil 2005

2006

2007

Quantidade FOB

Quantidade FOB

Quantidade FOB



Kg

US$

Kg

US$

6.361

51.370

6.361

71.965

934

12.339

2.192

33.709

Kg

2009†

2008

US$

Exportações 5.789 97.558 Importações 2.631 30.671

Quantidade

FOB

Quantidade

FOB

Kg

US$

Kg

US$

9.187

102.741

3.712

35.070

2.980

31.419

17.681 103.918

Dados até junho. Fonte: MDIC (2009)

A maior parte das cultivares plantadas no Brasil são do grupo Rabbiteye, tais como „Aliceblue‟, „Bluebelle‟, „Bluegen‟, „Briteblue‟, „Climax‟, „Delite‟, „Powderblue‟ e „Woodhard‟; e do grupo “Highbush” como „Bluecrop‟, „Coville‟ e „Darrow‟. Essas cultivares são consideradas antigas e pouco apreciadas pelo mercado internacional devido à casca grossa 2

Lima, J.M.V. Diretor Geral da Berry Good. Comunicação pessoal, 2009.

17

e muitas sementes dos frutos (ANTUNES; MADAIL, 2005). Segundo os técnicos, o primeiro passo para modernizar a cadeia agroindustrial do mirtilo será importar materiais genéticos melhorados da Universidade da Flórida, que desenvolveram o grupo Southern Highbush. As plantas dessas novas cultivares são menos exigentes em frio, mais produtivas, mais precoces e de melhor qualidade de frutos em termos de firmeza, coloração, tamanho e sabor (WILLIAMSON, 1994).

2.3 Estudos econômicos do cultivo do mirtilo As atividades agrícolas por natureza possuem riscos atrelados que dificultam a determinação dos custos de produção e manutenção e, mesmo, a rentabilidade do cultivo. Existem incertezas com relação aos preços futuros e aos riscos climáticos e fitossanitários. Contudo, alguns pesquisadores relataram que o custo de preparação do solo gira em torno de R$/ha 3100; em insumos e equipamentos, aproximadamente, R$/ha 23.930; e na implantação da lavoura R$/ha 3525; perfazendo R$ 30.555 por hectare (SANTOS, 2007). Na Flórida, o custo de implantação de um hectare de mirtilo, cultivar southern highbush, pode chegar a US$/ha 37.000, sem incluir o custo da terra. Enquanto, o custo de manutenção está entre US$/ha 2500 e US$/ha 3700 dependendo do tamanho do pomar e o nível de mecanização (WILLIAMSON; LYRENE, 2004). No Chile, região VIII, um empreendimento de 10 hectares, com uma densidade de 5.051 plantas por hectare (3,0 x 0,66 m), deve investir inicialmente US$ 219.397, na compra e preparação da terra, instalação do sistema de irrigação, compra das mudas e implantação do pomar. Em ativos, investe-se US$ 80.739, na compra de maquinárias, ferramentas, construções e instalação da câmara de refrigeração. Em despesas operacionais, US$ 16.444 anuais, em adubos, podas, controle de pragas, doenças e colheita. Em despesas gerais e administrativas, US$ 44.591 anuais. Em poucas palavras, o gasto no primeiro ano, nos 10 hectares, chega a US$ 361.171 (JOFRE, 2009). Em outro estudo na região VIII, no Chile, determinou-se os indicadores de rentabilidade de um pomar de mirtilo de 10 hectares, com uma produtividade de 12.000 Kg/ha e 4,5 US$/caixa de 2 Kg de fruta fresca. O VPL, a uma taxa de 15%, foi de US$ 49.980.810. A TIR foi de 20% e o período de recuperação do investimento foi 6 anos (GARCES, 2007).

18

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Fonte de dados O levantamento dos custos de produção, fixos e variáveis, do cultivo de mirtilo foram realizados diretamente com Cláudia Roismann, produtora e proprietária do Pomar Vale do Dourado no município de Erechim-RS, e com André Medeiros, da Associação dos Plantadores de Mirtilo da Serra Gaúcha, no município de Caxias do Sul-RS. Informações complementares foram coletadas com técnicos, pesquisadores e extensionistas envolvidos diretamente na produção e na comercialização do mirtilo. Foram consultados também estudos econômicos internacionais, principalmente feitos no Chile, Argentina e Estados Unidos. Os poucos estudos realizados no Brasil foram, da mesma maneira, analisados e levados em consideração para a discussão dos resultados. O horizonte de tempo considerado para o fluxo de caixa foi de 10 anos, período de vida útil de um pomar bem manejado de mirtilo. A área estudada foi de cinco hectares, pois acredita-se que essa superfície seja suficiente para o projeto ser viável.

3.2 Coeficientes técnicos As cultivares de mirtilo consideradas no estudo foram „Misty‟ e „O‟neal‟, que pertencem ao grupo Highbush. Adotaram-se duas cultivares para estender o período de colheita e, assim, dispor de fruta por mais tempo. Essas cultivares produzem frutos de qualidade adequada para o mercado de fruta fresca e a necessidade de frio das plantas é moderada, adaptando-se perfeitamente às condições ambientais da região de estudo (ANTUNES; MADAIL, 2005). Na implantação do pomar de mirtilo, as despesas foram decorrentes da compra das mudas nos viveiros da região, do custo da terra, da preparação e do acondicionamento do solo, da instalação do sistema de irrigação e da instalação da câmara de refrigeração. Os trabalhos da preparação do solo como subsolagem, gradagem e construção de camalhões foram realizados com maquinarias alugadas na região a um custo de 60,00 R$/hora. O espaçamento adotado foi de 3m x 1m perfazendo 3333 plantas por hectare, aos quais foi adicionado 5% por ventura da morte de mudas no campo (IRELAND; WILK, 2006). No que se refere à adubação e ao acondicionamento do solo, foram adotadas as quantidades recomendadas pelos produtores da região, as quais consistem geralmente na

19

incorporação de materiais orgânicos como serragem, acícula de pinus e esterco de gado. Na ocasião da preparação do solo, foi incorporado fósforo, como superfosfato triplo, no fundo da linha de plantação e, dessa maneira, facilitar a sua absorção pelas raízes da planta do mirtilo. A adubação mineral de manutenção foi realizada com uréia (46% nitrogênio) e fosfato monopotássico solúvel (MKP; 52% de potássio e 34% de fósforo) através do sistema de irrigação (BUENO, 2007). O fornecimento de água às plantas foi mediante o sistema de irrigação por gotejamento, com distância de 33 cm entre gotejadores (PAGOT, 2009). Na entrelinha das plantas foi assumido a semeadura de amendoim forrageiro como cultivo de cobertura, para a proteção do solo contra erosão. Para conservação dos frutos, uma vez colhidos, foi assumido a instalação de três câmaras de refrigeração com dimensões de 5 m x 10 m x 2,7 m. No levantamento das despesas operacionais foram consideradas aquelas mais usuais no cultivo do mirtilo: adubos, controle de pragas e doenças, podas, colheitas e gastos administrativos, entre outros. Os tratos culturais foram realizados nas épocas e nas quantidades requeridas pelo cultivo, que são atrelados ao desenvolvimento da planta. Em relação às despesas de mão-de-obra, foi assumido o valor da diária, praticado na região, de R$ 25,00. É importante ressaltar que a colheita dos frutos é a atividade que mais demanda mãode-obra, e a que mais encarece o cultivo do mirtilo. Num pomar novo, as pessoas conseguem colher por dia de 15 a 20 Kg de fruta, enquanto em pomares adultos, podem colher de 30 a 40 Kg (JOFRE, 2009). As podas foram realizadas em dois períodos do ano (no verão e inverno), com o objetivo de equilibrar o crescimento vegetativo e reprodutivo da planta; e eliminar ramos doentes e mal localizados. Para manter a sanidade do cultivo, garantir alta produtividade e qualidade dos frutos foram consideradas aplicações periódicas de inseticidas, formicidas e fungicidas. Da mesma maneira, para garantir uma maior porcentagem de flores polinizadas, e, por conseguinte, maior número de frutos foram instaladas cinco colméias de abelhas por hectare. Dentro dos gastos administrativos foram levadas em conta despesas com administrador, consultoria técnica, contabilidade, energia e telefone. As receitas foram resultantes das vendas dos frutos frescos e/ou congelados ao fim de cada estação. Embora a planta de mirtilo comece a produzir no primeiro ano, esses frutos foram derrubados para favorecer o completo desenvolvimento da planta. A partir do segundo ano, a planta aumenta a produção gradativamente até o oitavo ano, quando alcança sua maturidade e a produção estabiliza-se (Tabela 4). No estudo inicial, assumiu-se que 60% da colheita foi comercializada como fruta fresca e o restante, 40%, como fruta congelada. Os preços considerados foram de R$ 10,00 por quilograma de fruta fresca, ao passo que,

20

normalmente, a fruta congelada é comercializada por a metade do preço, ou seja, R$ 5,00. Esses preços foram obtidos com produtores da região e são livres de gastos de embalagem, transporte e comercialização. Tabela 4 – Produção e colheita de frutos de um pomar de mirtilo em Erechim-RS ao longo de 10 anos Anos 1

2

3

4

Produção de frutos (Kg/ha) 0 1370 2840 4310 Colheita de frutos (Kg/homem/dia) 20 23 24

5

6

7

8

9

10

5675

6725

7775

8195

8195

8195

25

28

30

30

30

30

Fonte: Dados resultantes da pesquisa

3.2 Câmbio Considerando a atual estabilidade econômica do Brasil, a moeda adotada foi a Real. O valor do dólar comercial foi de R$ 1,8317 para a compra e venda (BCB, 14/08/2009).

3.3 Fluxo de caixa e indicadores de viabilidade econômica O fluxo de caixa é composto de valores monetários que refletem as entradas e saídas de recursos e produtos por unidade de tempo que formam uma proposta de investimento (NORONHA, 1987). Nos fluxos de entrada são considerados os valores de venda do mirtilo ao fim de cada ciclo de produção e os valores residuais dos bens de capital. Os fluxos das saídas são representados pelo investimento inicial e os fluxos de investimento posteriores relacionados com os custos de manutenção do pomar. Depois de coletar os dados projetamos o fluxo de caixa considerando uma taxa de atratividade de 8,5% e obteve-se o resultado final da integração das entradas e saídas de caixa no período pré-estabelecido. Em seguida procedeu-se com a avaliação da viabilidade do cultivo do mirtilo nessa região. A construção do fluxo de caixa passou pelas etapas seguintes:  Definição dos investimentos e recebimentos.  Custo total  EBITDA, Amortização depreciação

21

Após a construção do fluxo de caixa foram determinados os indicadores de avaliação econômica que seguem:  Valor Atual ou Presente Líquido (VAL ou VPL)  Taxa interna de retorno  Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE) ou Valor Uniforme Líquido (VUL)  Tempo de Retorno de Capital (Payback)  Análise de sensibilidade 3.3.1 Valor Presente Líquido – VPL

O VPL compara todas as entradas e saídas de capital na data inicial do projeto, descontando todos os valores futuros do fluxo de caixa a determinada taxa de juros préestabelecida, que mede o custo de capital. Basicamente, é o cálculo de quanto os futuros pagamentos somados estariam valendo no presente (PIMENTEL et al., 2007). A TMA (Taxa Mínima de Atratividade) refere-se ao retorno mínimo que deve ser obtido por um projeto, de forma a manter inalterado o valor de mercado do negócio. Funciona como um indicativo de rentabilidade do capital investido e obtém-se subtraindo o investimento inicial de um projeto do valor presente das entradas de caixa, descontadas a uma taxa igual ao custo de capital da empresa. De acordo com Noronha (1987) as vantagens do método do VPL são:  Incorpora expectativas de crescimento  Quantifica valores não tangíveis  Pode ser utilizado no caso de projetos com fluxo de caixa misto (fluxo de caixa alterando valores positivos e negativos).  Se o VPL for positivo, aceita-se o projeto, pois há indícios que o cultivo do mirtilo é um projeto que gera lucro, e que, portanto tem viabilidade econômica.  Se o VPL for igual à 0, o projeto atende a taxa requerida mas não acresce valor a empresa. O valor uniforme líquido (VUL), é o método que converte todo o valor presente líquido do projeto numa série de pagamentos iguais e postecipados entre as datas 1 e n (LAPPONI, 2007).

22

3.3.2 Taxa Interna de Retorno – TIR

A TIR é provavelmente a ferramenta mais utilizada e também a mais sofisticada na avaliação de alternativas de investimentos. Ela é a taxa de desconto que torna o Valor Atual Líquido do investimento igual a zero, também chamada de taxa interna efetiva de rentabilidade. É uma taxa que equaliza o valor presente dos fluxos futuros, com o valor inicial (PIMENTEL et al., 2007). A TIR deve ser comparada com a Taxa Mínima de Atratividade (TMA), para aceitação ou não de um projeto. Se a TIR for maior que o custo de capital o projeto deve ser aceito. Se for menor, o projeto deve ser rejeitado. A utilização da TIR como critério, garante ao investidor, pelo menos, uma taxa equivalente ao seu custo de oportunidade. A sua grande vantagem é que prescinde de informações externas ao projeto, sendo necessário apenas ter o perfil do projeto e uma noção da taxa de juros ou do custo de oportunidade do capital. 3.3.3 Período de Payback

Os períodos do payback são utilizados como critério para avaliação da viabilidade e atratividade para investimentos a serem ou não realizados. O período de payback é o intervalo de tempo exato necessário para que o empreendimento possa recuperar o investimento inicial, a partir das entradas de caixa (LAPPONI, 2007; NORONHA, 1987). Constitui-se em uma ferramenta de análise econômica muito utilizada e que pode tanto ser aplicado a valores nominais ou ainda como o valor de dinheiro no tempo, através do desconto do fluxo de caixa para se obter o valor presente. Em relação ao tempo de retorno do capital, usaremos o método do fluxo de caixa descontado, que é diferente do payback simples, que não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo. Quanto menor o tempo do payback, melhor é o projeto. Sua análise também fornece uma idéia de liquidez e segurança dos projetos (LAPPONI, 2007).

3.3.4 Análise de sensibilidade

Após a determinação do VPL e a TIR, é comum querer saber qual é a sensibilidade do valor obtido em relação à determinada variável do fluxo de caixa (NORONHA, 1987). Quando procedemos com a análise de sensibilidade normalmente procuramos modificar apenas uma variável de cada vez, deixando os demais níveis originais. Com isto estamos

23

pressupondo que cada variável afeta o resultado do projeto independentemente das demais. Por tanto, quando sabemos que duas variáveis estão correlacionadas positivamente, examinamos o efeito total das duas. A análise de sensibilidade serve para alertar o analista de projetos para o caráter marginal do projeto. Quando observamos que pequenas variações em algumas variáveis-chaves do projeto tornam o projeto inviável, concluímos que se trata de um projeto marginal (NORONHA, 1987). Para realizarmos a análise de sensibilidade, foram flexibilizadas as variáveis produtividade anual, porcentagem de frutos comercializados em fresco e congelado, e o preço de comercialização da fruta. Esses cenários simulados pretendem alertar os produtores dos riscos aos quais estariam sujeitos caso a produtividade anual diminua (por geadas tardias, doenças, granizo, seca prolongada, roubos, entre outros); ou a quantidade comercializada como fruta fresca seja menor (por falta de mercado, falta de transporte, etc.) ou exista diminuição dos preços (por excesso de oferta, qualidade inferior, etc.). Foram simulados, igualmente, cenários mais positivos nos quais a produtividade anual é maior, com mais fruta comercializada em fresco e com preço mais elevado.

24

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Custos de instalação

No ano de implantação, o valor dos investimentos alcançou R$ 320.254,93 (Tabela 5), distribuídos segundo a representação da Figura 5. A maior despesa foi decorrente da instalação das câmaras de refrigeração, indispensável para a conservação da fruta colhida. Entretanto, o custo da câmara poderia ser reduzido, caso os produtores associados construíssem centros de armazenamento e refrigeração comunitários (PASETTO, 2007). As associações permitiriam também que, nos períodos sem mirtilo, outros produtos possam ser conservados nas câmaras, diminuindo com isso os custos fixos do cultivo (Tabela 4). Tabela 5 – Custos de instalação de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS Operações INVESTIMENTOS Preparação do Solo Subsolagem (2x) Gradagem Construção camalhões

Unidade

R$/unidade

Quantidade

R$

Hora/máquina Hora/máquina Hora/máquina

60,00 60,00 60,00

30 12,5 16,25

3.525,00 1.800,00 750,00 975,00 35.721,00

Sistema de irrigação (gotejamento) m3 m3

20,00 10,00

1500 250

37.600,00 30.000,00 2.500,00

Dia/homem Hora/máquina Hora/máquina

25,00 60,00 60,00

30 40 32,5

750,00 2.400,00 1.950,00

Plantio Mudas Trabalho manual Replantio (5%)

Muda Dia/homem Dia/homem

5,00 25,00 25,00

17500 15 2,5

87.937,50 87.500,00 375,00 62,50

Cultivo de cobertura Sementes Trabalho manual

Kg Dia/homem

60,00 25,00

50 10

3.250,00 3.000,00 250,00

Custo da terra

Hectare

10.000,00

5

50.000,00

Câmara de refrigeração

Máquina

34073,81

3

102.221,43

Acondicionamento do Solo Bagaço de cana e serragem Acícula de pinus Distribuição de materia orgânica Trabalho manual Trabalho máquina Incorporação de material orgânico

TOTAL DE INVESTIMENTOS

320.254,93

Fonte: Dados resultantes da pesquisa

A respeito do plantio, a maior despesa é resultante do valor das mudas (27,32%), as quais são comercializadas por poucos viveiros e a preços elevados. Esta situação afasta novos

25

produtores, que encontram dificuldades na hora de querer estabelecer seus pomares. Novas empresas deverão, no futuro, investir na produção de mudas de modo a disponibilizar cultivares novos, em maior quantidade e menor preço (Tabela 5). O custo da terra é de 10.000,00 R$/ha, representando 15,61% dos investimentos; esse valor está entre os mais elevados do Brasil, pois as terras são férteis, com disponibilidade de umidade e tradicionalmente dedicadas ao cultivo da uva ou maçã (AGRIANUAL, 2008). As despesas em acondicionamento do solo e instalação do sistema de irrigação, embora elevadas, são indispensáveis no cultivo do mirtilo (Tabela 5). Conforme relatado, as plantas de mirtilo precisam da irrigação para favorecer a absorção de água e nutrientes devido a que apresentam seu sistema radicular delicado e pouco desenvolvido (HOLZAPFEL et al., 2004).

Figura 5 – Distribuição porcentual dos custos de instalação de um pomar de cinco hectares de mirtilo Fonte: Dados resultantes da pesquisa

4.2 Custos variáveis

Em relação às despesas com custos variáveis, anualmente por hectare foram gastos R$ 8.703,45 em média. Dessa quantidade, a maior porcentagem (56,31%) foi devida aos gastos com mão-de-obra na colheita dos frutos, realizada entre dezembro e janeiro (Tabela 6). Considerando que uma pessoa consegue colher por dia, aproximadamente, 30 Kg de fruta, em pomares adultos; no pico da colheita, a demanda por mão de obra é altíssima (PASETTO,

26

2007). Nesse contexto, muitos pequenos produtores das regiões de Erechim e Caxias do Sul utilizam seus próprios familiares para realizar esta atividade, pois de outra maneira, seria difícil assumir essa despesa (PAGOT, 2009). Em países com maiores áreas de produção, a colheita do mirtilo, que se destina a indústria, é realizada de forma mecânica, reduzindo substancialmente os gastos com mão-de-obra (WILK; IRELAND, 2008). Os gastos administrativos e tratos culturais representam 43,11% dos custos variáveis anualmente (Figura 6). Os itens mais custosos dentro dos tratos culturais são adubação, manejo de doenças, manejo de plantas daninhas e poda (Tabela 6).

27

Tabela 6 – Custos variáveis de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS (Continua) Ano 1 Operações CUSTOS VARIÁVEIS Poda Verão Inverno

Unidade

R$/unid Quantidade

R$ Quantidade 250,0 250,0 0,0

Dia/homem Dia/homem

25,00 25,00

Manejo de doenças

Kg

9,96

Manejo de pragas Inseticida Formicida

Kg Kg

16,40 7,55

0 20

151,0 0,0 151,0

Adubação Superfosfato triplo Uréia MKP solúvel

Kg Kg Kg

0,90 0,99 3,94

1000 500 250

2380,0 900,0 495,0 985,0

Colméias de abelhas Manejo de plantas daninhas Trabalho manual na linha Roçada na entrelinha Combustíveis Análise de solo e de folhas Colheita Trabalho manual Bandejas colhedeiras

10 0

Ano 2

Ano 3 R$ Quantidade

Ano 4 R$ Quantidade

Ano 5 R$ Quantidade

R$

1.062,5 17,5 437,5 25 625,0

1.062,5 17,5 437,5 25 625,0

1.062,5 17,5 437,5 25 625,0

1.062,5 17,5 437,5 25 625,0

128,8 1.282,4

128,8 1.282,4

128,8 1.282,4

128,8 1.282,4

2,3 10

113,2 37,7 75,5

2,3 10

1.480,0 500 250

495,0 985,0

113,2 37,7 75,5

2,3 10

113,2 37,7 75,5

2,3 10

113,2 37,7 75,5

1.480,0

2.220,0

2.220,0

500 250

495,0 985,0

750 742,5 375 1.477,5

750 742,5 375 1.477,5

Unidade

100,00

25 2.500,0

Dia/homem Dia/homem Litros

25,00 25,00 3,48

35 7,5 30

1166,9 875,0 187,5 104,4

35 7,5 30

1.166,9 875,0 187,5 104,4

35 7,5 30

1.166,9 875,0 187,5 104,4

35 7,5 30

1.166,9 875,0 187,5 104,4

35 7,5 30

1.166,9 875,0 187,5 104,4

Unidade

49,00

5

245,0

5

245,0

5

245,0

5

245,0

5

245,0

Dia/homem

25,00 4,00

14.625,0 345 8.625,0 1500 6.000,0

15.500,0 620 15.500,0

22.500,0 900 22.500,0

28.375,0 1135 28.375,0

Gastos administrativos

10095,0

10.095,0

12.080,0

12.740,0

14.065,0

TOTAL C. VARIÁVEIS Fonte: Dados resultantes da pesquisa

14287,9

32.570,0

32.930,0

41.330,0

48.530,0

28

Tabela 6 – Custos variáveis de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS (conclusão) Ano 6 Operações CUSTOS VARIÁVEIS Poda Verão Inverno Manejo de doenças

Unidade

R$/unid Quantidade

17,5 25

1.062,5 437,5 625,0

128,8

1282,4

128,8

1282,4

2,3 10

113,2 37,7 75,5

2,3 10

113,2 37,7 75,5

9,96

128,8

1282,4

2,3 10

113,2 37,7 75,5

Kg Kg Kg

0,90 0,99 3,94

Unidade

Manejo de plantas daninhas Trabalho manual na linha Dia/homem Roçada na entrelinha Dia/homem Combustíveis Litros Unidade

R$

1.062,5 437,5 625,0

Kg

Adubação Superfosfato triplo Uréia MKP solúvel

R$ Quantidade

17,5 25

25,00 25,00

16,40 7,55

Ano 8 até 10

1.062,5 437,5 625,0

Dia/homem Dia/homem

Kg Kg

Análise de solo e de folhas

R$ Quantidade

17,5 25

Manejo de pragas Inseticida Formicida

Colméias de abelhas

Ano 7

2.220,0

2.220,0

2.220,0

750 742,5 375 1.477,5

750 742,5 375 1.477,5

750 742,5 375 1.477,5

100,00 25,00 25,00 3,48

35 7,5 30

1.166,9 875,0 187,5 104,4

35 7,5 30

1.166,9 875,0 187,5 104,4

35 7,5 30

1.166,9 875,0 187,5 104,4

49,00

5

245,0

5

245,0

5

245,0

30.000,0 1200 30.000,0

32.375,0 1295 32.375,0

34.125,0 1365 34.125,0

Gastos administrativos

14.065,0

14.065,0

14.065,0

TOTAL C. VARIÁVEIS

50.155,0

52.530,0

54.280,0

Colheita Trabalho manual Bandejas colhedeiras

Dia/homem

25,00 4,00

29

Figura 6 – Distribuição porcentual dos custos variáveis anuais de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS Fonte: Dados resultantes da pesquisa

4.3 Fluxo de caixa e indicadores econômicos

As receitas são atreladas à produtividade da planta; iniciaram no segundo ano e foram gradativamente aumentando até o último ano de estudo (Anexo 1). Nos dez anos de cultivo, as receitas acumuladas alcançaram o valor de R$ 2.181. 200,00 (Anexo 1). O VPL do fluxo de caixa do projeto, a uma taxa de atratividade de 8,5%, resultou em R$ 397.270,75 (Tabela 7). Em outras palavras, o cultivo do mirtilo é altamente rentável, gerando valor para os produtores ou empresas que decidiram investir. O período para recuperar somente o investimento inicial, com a taxa requerida igual a zero, foi calculado em 5,15 anos pelo método do payback simples. Ao passo que, utilizando o método do payback descontado, o tempo necessário para recuperar o custo inicial remunerado foi de 6,11 anos (Tabela 7).

30

Tabela 7 - Indicadores econômicos de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS Indicadores VPL (8,5%) VUL TIR Payback simples Payback descontado

R$ R$

Valor 397.270,75 60.547,12 22,56% 5,15 anos 6,11 anos

Fonte: Dados resultantes da pesquisa

4.4 Análise de sensibilidade

Na Figura 7, pode-se observar que conforme a taxa de juros aumenta, o VPL diminui até atingir o valor zero no intervalo de 20% a 25%. A taxa mínima de atratividade que anula o VPL é a taxa interna de retorno ou TIR, cujo valor é 22,56% (Tabela 7). Os indicadores, portanto, apontam que o cultivo do mirtilo, nas condições do estudo, gera lucro para os produtores e para a sociedade de forma geral como poupança e trabalho. Esses resultados explicam o rápido aumento das plantações em nível mundial e o interesse dos produtores brasileiros (ALLENDE, 2009; ANTUNES; MADAIL, 2005; BUENO, 2007; WILK; IRELAND; 2008; FIGUEROA, 2005) Apesar dos resultados serem animadores, existem fatores que poderiam comprometer sua rentabilidade no médio prazo como: i) a comercialização dos frutos foi realizada nos mercados locais, que, naturalmente, são muito limitados na demanda. O aumento da produção poderia ocasionar uma diminuição rápida dos preços e comprometer sua viabilidade; ii) ao procurar novos mercados, mais distantes, como São Paulo e Rio de Janeiro, expõem-se algumas deficiências, especialmente, a falta de infraestrutura para conservação e a logística do transporte (CANTILLANO; CASTAÑEDA, 2005). São poucas as empresas que prestam serviços de transporte refrigerados necessários para conservação da qualidade dos frutos; iii) nos dois últimos anos, os preços internacionais do mirtilo têm despencado rapidamente devido a várias razões como: desorganização dos produtores, falta de infraestrutura, aumento da oferta e deficiência na qualidade da fruta (ALLENDE, 2009). Esse cenário incentivou o Chile a fazer mais envios, via rodovia, ao Brasil (MDIC, 2009).

31

700

VPL (R$) x 1000

600

500 400 300

TIR

200 100 0

-100 -200 0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Taxa mínima de atratividade

Figura 7 - Influência da taxa mínima de atratividade sobre o VPL de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS Fonte: Dados resultantes da pesquisa

Nas condições do estudo, o preço igual a R$ 5,52 por quilograma de fruta fresca traz um VPL igual a zero, o que significa que, esse seria o preço mínimo para assegurar a rentabilidade do cultivo, isto, naturalmente, se as outras variáveis permanecerem constantes (Figura 8).

1.000,00

VPL (R$) x 1000

800,00 600,00

400,00 200,00 0,00

-200,00 -400,00

-1

1

3

5

7

9

11

13

15

Preço do mirtilo fresco (R$)

Figura 8 - Influência do preço de venda do mirtilo fresco sobre o VPL de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim RS Fonte: Dados resultantes da pesquisa

32

Os resultados da análise de sensibilidade entre o preço e a quantidade de frutos comercializados em fresco, indicam que o cultivo do mirtilo foi inviável quando praticado o preço de R$ 3,00 por quilograma de fruta fresca (Tabela 8). O VPL começa a ficar positivo a partir de R$ 5,00 por quilograma e 76,8% da fruta comercializada como fruta fresca. Maiores valores no preço e na quantidade comercializada como fruta fresca resultam em VPL positivo e asseguram maiores ingressos para o produtor (Tabela 8).

Tabela 8 - Análise de sensibilidade em função de diferentes preços e quantidades comercializadas em fresco, de um pomar de mirtilo de cinco hectares em Erechim-RS VPL

Quantidade de mirtilo comercializado em fresco

R$ 397.270,75

100%

60%

30%

0%

Preço R$ 3,00 R$ 5,00 R$ 10,00 R$ 15,00

-157.530,39 64.390,06 619.191,20 1.173.992,34

-224.106,53 -46.570,16 397.270,75 841.111,65

-274.038,63 -129.790,33 230.830,41 591.451,14

-323.970,73 -213.010,50 64.390,06 341.790,63

Fonte: Dados resultantes da pesquisa

Em média, a produtividade anual das cinco hectares foi de 29.600 Kg, que equivalem a 5.920 Kg por hectare (Tabela 4). Na análise de sensibilidade, essa variável foi flexibilizada diminuindo e aumentando seu valor em 20%, 50% e 80% (Figura 9). Observou-se que a produtividade anual de 16.353 Kg (ou 3270,6 Kg/ha) resulta em um VPL igual a zero. A queda na produtividade pode ser resultado de vários fatores como geadas tardias (em setembro, outubro e novembro), granizo, seca prolongada, ataque de doenças aos frutos (como Botrytis sp.), falta de mão-de-obra para colher os frutos, entre outros. De outro lado, a produtividade pode ser maior quando o pomar é manejado de acordo com as recomendações técnicas e quando as condições climáticas são favoráveis.

33

1200

VPL (R$) x 1000

1000 800 600

400 200 0 -200

-80%

-50%

-20%

+20%

+50%

+80%

5920

14.800

23.680

35.520

44.400

53.280

-400

Produtividade anual (Kg/5ha)

Figura 9 – Influência da produtividade anual média sobre o VPL de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS Fonte: Dados resultantes da pesquisa

34

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas condições do estudo, o cultivo do mirtilo mostrou-se altamente rentável com um VPL de R$ 397.270,75 e uma TIR de 22,56%. O período de recuperação do investimento inicial remunerado é de 6,11 anos. Essa condição, no médio prazo, pode ser ameaçada pela entrada, cada vez maior, de frutas provenientes principalmente do Chile. Entretanto, é uma oportunidade de negócio ímpar que remunera com altos benefícios aqueles produtores preocupados com a qualidade da fruta. Por outro lado, para consolidar as exportações de fruta aos países europeus, durante a entressafra norte-americana, os agricultores brasileiros têm muitos obstáculos e desafios a superar, mas, da mesma maneira, existem novas oportunidades comerciais para aproveitar. Os obstáculos mais evidentes são: falta de organizações sólidas de produtores e comercializadores que atuem no mercado como um organismo único; poucas instalações preparadas para a conservação de frutas, especialmente, câmaras de refrigeração; logística de distribuição deficiente, pela falta de transportes com refrigeração; a presença da mosca-da-fruta no Brasil constitui uma barreira sanitária limitante em alguns mercados; crescimento desordenado da oferta, por parte de vários países como Argentina, México, Uruguai, África do Sul, entre outros; drástica diminuição dos preços em anos recentes; mercado interno de consumo muito baixo; falta de padrões de qualidade e adoção de Boas Práticas Agrícolas para padronizar a produção; falta de instituições encarregadas de apoiar aos exportadores com informações e fomentando encontros entre exportadores e compradores. Entretanto, existem, da mesma maneira, fatores que favorecem a entrada do Brasil ao mercado externo como condições ambientais favoráveis, que permitiriam entrar ao mercado nos meses de menor oferta mundial, especialmente com a utilização das novas cultivares de baixos requerimentos de frio; disponibilidade de água e terras aptas para o cultivo do mirtilo; tendência mundial crescente por consumir mais quantidade de mirtilo, pelas suas propriedades funcionais e nutracêuticas; menor distância entre o Brasil e os mercados compradores da Europa, em relação aos concorrentes da América do Sul.

35

REFERÊNCIAS AGRIANUAL 2008: Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: Agros Comunicação / FNP Consultoria e Comércio, 2008, 504p. ALCOVER, P.A. El arándano Argentino. Universidad de Buenos Aires: Programa de Agronegocios y Alimentos. Disponível em: . Acesso em: 15 jul. 2009. ALLENDE, J.I. Análisis comercial de la situación actual de los arándanos chilenos de exportación: Desafíos y oportunidades. Disponível em: . Acesso em: 09 jun. 2009. ANTUNES, L.E.C.; MADAIL, J.C.M. Mirtilo: que negócio é este? Jornal da Fruta, v.13, p.8, 2005. ASOCIACIÓN DE EXPORTADORES DE CHILE - ASOEX: Sistema de Inteligencia de Mercado Frutícola, SIMFRUIT. Disponível em: . Acesso em: 17 jun. 2009. BANCO CENTRAL DO BRASIL. BCB Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: 8 ago. 2009. BUENO, P.M.C. Estimativa de custos de implantação e produção da cultura do mirtilo (Vaccinium spp). 2007. Trabalho de conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) - Setor de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, 2007. CANTILLANO, R. F. F.; CASTAÑEDA, L.M.F. Análise comparativa da logística de exportação de frutas do Brasil e do Chile. In: MARTINS, D.S. (Org.) Papaya do Brasil: Mercado e inovações tecnológicas para o mamão. Vitória - ES: Incaper, 2005, p. 25-39. COUTINHO, E.F.; CANTILLANO, R.F.F. Conservação pós-colheita. In: RASEIRA, M.C.B.; ANTUNES, L.E.C. (Eds.) A cultura do mirtilo. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004, p. 53-60. FACHINELLO, J.C. Mirtilo. Rev. Bras. Frutic., v. 30, p. 285-288, 2008. FAO. FAOSTAT: Statistical database. Disponível em: . Acesso em: 10 jun. 2009. FIGUEROA, G. Estudio de factibilidad de la producción de arándano en Catamarca, 2005. Ministerio de Producción y Desarrollo - Gobierno de Catamarca. Disponível em: < http://www.produccioncatamarca.gov.ar/Publicaciones/bibl_ficha.asp?id=9>. Acesso em: 20 jul. 2009.

36

FLORIDA BLUEBERRY GROWERS, FBG Variety Grower' s Guides. Disponível em: . Acesso em: 29 ago. 2009. GALLAGHER, D. Argentina Blueberries Voluntary 2006. GAIN Report. USDA/Foreign Agricultural Service. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2009. GARCES, M.L. Perspectivas de la producción de arándanos en Chile, 2007. Disponível em: . Acesso em: 09 jul. 2009. HOFFMAN, A.; ANTUNES, L. E. C. Mirtilo: Grande Potencial. Cultivar – hortaliças e frutas. v. 5, p. 28-30. 2004. HOLZAPFEL, E.A.; HEPP, R.F.; MARIÑO, M.A. Effect of irrigation on fruit production in blueberry. Agricultural Water Management, v. 67, p. 173-184, 2004. IRELAND, G.; WILK, P. Blueberry production in northern NSW. Primefact 195, NSW DPI, 2006. 8p. IRELAND, G.; WILK, P. Blueberry establishment and production cost NSW. Primefact 133, NSW DPI, 2008. 8p. JOFRE, M. Costos de producción, huerto de arándanos. Disponível em: . Acesso em: 28 jul. 2009. KALT, W.; McDONALD, J.E. Chemical composition of lowbush blueberry cultivars. J. Amer. Soc. Hort. Sci.,. v. 121, p. 142-146, 1996. LAPPONI, J.C. Projetos de investimento na empresa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 488 p. LEHNERT, D. Blueberry production is skyrocketing worldwide. Fruit Growers News, June 2008. Disponível em: . Acesso em: 13 jun. 2009. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. ALICEweb: Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet. Disponível em: . Acesso em: 10 jul. 2009. NORONHA, J.F. Projetos agropecuários. São Paulo: Editora Atlas S.A., 1987. 269 p. PAGOT, E. (Vaccinium ashei e Vaccinium corymbosum) Mirtilo. Associação dos produtores de pequenas frutas de Vacaria. Disponível em: . Acesso em: 28 jul. 2009.

37

PASETTO, R.C.R. Experiência da cooperativa Sanjo na produção de mirtilo. In: HOFFMANN, A.; SEBBEN, S.S. (Eds). IV Seminário brasileiro sobre pequenas frutas. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2007. p.49-50. PIMENTEL, L.D.; JUNIOR, A.W.; SANTOS, C.E.M.; BRUCKNER, C.H. Estimativa de viabilidade econômica no cultivo da castanha-do-Brasil. Informações Económicas, v. 37, p. 2636, 2007. RASEIRA, M.C.B. Classificação botânica, descrição da planta, melhoramento genético e cultivares. In: RASEIRA, M.C.B.; ANTUNES, L.E.C. (Eds.) A cultura do mirtilo. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004, p. 13-26. SANTOS, A. M. dos. Painel: Custos e investimentos em mirtilo no Brasil. In: 1º CURSO DE PRODUÇÃO DE MIRTILO DE BAIXO REQUERIMENTO DE FRIO, 2007, Pelotas. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. SECRETARÍA DE AGRICULTURA, GANADERÍA, PESCA Y ALIMENTOS DE LA REPÚBLICA ARGENTINA. SAGPyA: Estimaciones Agrícolas. Disponível em: . Acesso em: 07 jun. 2009. SILVA, P.R. Mercado e comercialização de pequenas frutas. In: HOFFMANN, A.; SEBBEN, S.S. (Eds). IV Seminário brasileiro sobre pequenas frutas. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2007. p.45-48. SKIARSKI, F. Análisis comercial de la situación actual del arándano en los mercados de Argentina y Uruguay y su relación con las exportaciones chilenas. Disponível em: . Acesso em: 09 jul. 2009. U. S. HIGHBUSH BLUEBERRY COUNCIL. USHBC Industry Page. Disponível em: . Acesso em: 29 jun. 2009. WANG, S.Y.; MAZZA, G. Inhibitory effects of anthocyanins and other phenolic compounds on nitric oxide production in LPS/IFN-gamma-activated RAW 264.7 macrophages. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 50, p. 850-857, 2002. WILLIAMSON, J.G. Dooryard blueberry production in Florida. Proc. Fla. State Hort. Soc., v. 107, p. 399-402, 1994. WILLIAMSON, J.G.; LYRENE, P.M. Florida`s commercial blueberry industry. Gainesville: University of Florida, IFAS, 2004. 4 p.

38

ANEXO

39

Anexo 1 – Fluxo de caixa da implantação e manutenção de um pomar de cinco hectares de mirtilo em Erechim-RS Anos Receita Total Custos Investimento Inicial Lucro antes da depreciação (LAJIRDA) Depreciação Lucro antes do IR (LAJIR) Imposto de renda Lucro Líquido Fluxo de caixa operacional Fluxo de caixa acumulado Fluxo de caixa descontado Fluxo de caixa descontado acumulado

0 0,0 320.254,9 320.254,9

2 54.800,0 32.570,0

3 113.600,0 32.930,0

4 172.400,0 41.330,0

5 227.000,0 48.530,0

-14.287,9

22.230,0 10.222,1 12.007,9 3.302,2 18.927,9

80.670,0 10.222,1 70.447,9 19.373,2 61.296,9

131.070,0 10.222,1 120.847,9 33.233,2 97.836,9

178.470,0 10.222,1 168.247,9 46.268,2 132.201,9

-14.287,9 -334.542,8 -13.168,6 -333.423,5

18.927,9 -315.615,0 16.078,4 -317.345,1

61.296,9 -254.318,1 47.989,8 -269.355,3

97.836,9 -156.481,2 70.596,6 -198.758,8

132.201,9 -24.279,4 87.920,2 -110.838,5

0,0 14.287,9 -14.287,9 10.222,1 -24.510,0

-320.254,9 -320.254,9 -320.254,9 Anos

1

6

7

8

9

10

Receita Total Custos Investimento Inicial Lucro antes da depreciação (LAJIRDA) Depreciação Lucro antes do IR (LAJIR) Imposto de renda Lucro Líquido

269.000,0 50.155,0

311.000,0 52.530,0

327.800,0 54.280,0

327.800,0 54.280,0

377.800,0 54.280,0

218.845,0 10.222,1 208.622,9 57.371,3 161.473,7

258.470,0 10.222,1 248.247,9 68.268,2 190.201,9

273.520,0 10.222,1 263.297,9 72.406,9 201.113,1

273.520,0 10.222,1 263.297,9 72.406,9 201.113,1

323.520,0 10.222,1 313.297,9 86.156,9 227.141,0

Fluxo de caixa operacional Fluxo de caixa acumulado Fluxo de caixa descontado Fluxo de caixa descontado acumulado

161.473,7 137.194,4 98.974,5 -11.864,0

190.201,9 327.396,2 107.450,0 95.586,1

201.113,1 528.509,3 104.713,5 200.299,5

201.113,1 729.622,4 96.510,1 296.809,6

227.141,0 956.763,4 100.461,1 397.270,7

Fonte: Dados resultantes da pesquisa

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.