VIAJANDO COM DEUS: UM ESTUDO SOBRE O TURISMO EVANGÉLICO NO BRASIL

July 6, 2017 | Autor: Miriane Frossard | Categoria: Tourism Studies, Turismo, Ciências da Religião, Turismo Religioso
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DIVERSIDADE E MERCADO RELIGIOSO VIAJANDO COM DEUS: UM ESTUDO SOBRE O TURISMO EVANGÉLICO NO BRASIL1

MIRIANE FROSSARD

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

[email protected]

RESUMO A dinâmica das transformações das relações sociais no que tange a religião tem se dado de forma bastante acelerada. Em um universo diversificado de religiões, templos e crenças, a escolha de uma fé depende dos mais variados fatores. Nesse sentido, buscando se posicionar frente à realidade social a qual se insere, as religiões têm buscado apresentar-se no espaço público de forma mais efetiva, colocando-se como uma melhor opção religiosa. Diante dessa pluralidade é que os evangélicos brasileiros se apresentam como uma das mais “bem sucedidas” experiências do mercado religioso brasileiro, em termos numéricos e também na ocupação do espaço público. Presentes intensivamente na política, na mídia e no mercado, os evangélicos têm se tornado um importante objeto de estudos das ciências sociais. É nesse espaço que busco apresentar a contribuição desse trabalho, oferecendo um panorama a respeito dos evangélicos no turismo, como mais uma faceta de sua inserção e apropriação do espaço “coletivo”. Esse estudo é fruto de um trabalho mais amplo, apresentado em minha dissertação de mestrado, onde procuro compreender esse tipo de turismo evangélico. Para esse artigo, baseio-me essencialmente na pesquisa de gabinete, com a busca em livros, artigos, sites, revistas e outros, para procurar compreender e encontrar parâmetros em que embasar minha pesquisa. Assim sendo, este artigo busca tornar manifesto um tipo de turismo ainda pouco estudado, pesquisado e sistematizado. PALAVRAS-CHAVE: turismo, religião, evangélicos.

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Trabalho apresentado na XIV Jornadas sobre Alternativas Religiosas en América Latina, em Buenos AiresAR, 2007.

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INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade, religião e viagens encontravam um lugar comum na vida dos povos. Na civilização grega, celebrações religiosas produziam grandes fluxos de viajantes. Os romanos também realizavam suas viagens com fins religiosos, especialmente após o surgimento do cristianismo. Também na Idade Média, diversos grupos buscavam vivenciar sua fé através da visita a locais sagrados. E desse mesmo modo vem ocorrendo ao longo de toda a existência humana (ACERENZA, 2002). As transformações pelas quais o fenômeno das viagens passou, ao longo dos anos, geraram o que hoje podemos denominar de Turismo. O turismo tem se colocado hoje como um importante campo de pesquisas para as ciências humanas. Urry (1996) afirma que o fenômeno turístico permite ao pesquisador compreender o conceito de “afastamento”, em que as rotinas e as práticas do cotidiano são, por um período de tempo, rompidas. Também pode ser explicada pelo fato de que o turismo, enquanto um ritual da sociedade moderna, permite que sejam realçadas dinâmicas sociais que podem passar despercebidas no fluxo cotidiano (DAMATTA, 1997). Urry (1996, p. 17) infere ainda que “levar em consideração como os grupos sociais constroem seu olhar turístico é uma boa maneira de perceber o que acontecendo na ‘sociedade normal’”. Assim sendo, o turismo se coloca como um importante espaço para se pensar a religiosidade no contexto contemporâneo. Ao realçar determinados aspectos das dinâmicas sociais – e aí se inclua a religião – o turismo permite que se lance um olhar a partir de uma outra perspectiva sobre esse objeto. O que me proponho nesse artigo é procurar compreender parte do processo de transformações que o fenômeno religioso vem passando ao apresentar o turismo como lente pela qual analisá-lo. Para isso, lanço luzes sobre uma pequena parte desse fenômeno, que é o segmento evangélico no Brasil. Através desse grupo, busco apresentar parte dessa nova forma de se vivenciar a religiosidade (pós) moderna. Esse artigo é parte de minha dissertação de mestrado em que procuro traçar alguns aspectos gerais de “um turismo evangélico”, estudando o caso de Belo Horizonte-MG. Nesse artigo, procuro mapear alguns aspectos das viagens religiosas dos evangélicos focando as agências de turismo. Para isso realizo uma pesquisa de gabinete, buscando especialmente em revistas evangélicas e em sites de agências, uma base para este estudo. Procuro fundamentar tais pesquisas nos estudos de antropólogos e sociólogos tanto da religião quanto do turismo, tais como Berger (1999, 2001), Herviéu-Léger (CAMURÇA, 2003), Urry (1996), Birman (2001, 2003) dentre outros. 2

No intuito de traçar uma linha de pensamento procuro, de início, apresentar as “novas experiências religiosas” como pano de fundo para o turismo evangélico; em um segundo momento, busco descrever um pouco desse turismo fazendo um recorte daquele realizado pelas agências de turismo; e, por fim, apresento algumas considerações finais sobre o tema. “NOVAS EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS”: PANO DE FUNDO PARA O TURISMO EVANGÉLICO

Para se compreender alguns aspectos do turismo evangélico que ocorre atualmente no Brasil, é necessário que as bases históricas e sociais em que se firmaram essa experiência religiosa/turística

contemporânea

sejam

lançadas.

Teorias

como

secularização,

dessecularização, pluralismo, mercado religioso, modernidade e (pós) modernidade precisam ser brevemente explanadas, uma vez que se apresentam como pano de fundo de nosso objeto de estudo. Assim sendo, esse artigo parte de uma explanação mais ampla, tratando um pouco das teorias supracitadas, para, num segundo momento, dirigir nosso olhar para o fenômeno do turismo evangélico. Alguns estudiosos da religião, observando as mudanças que vinham ocorrendo na sociedade, com o advento da modernidade, previam o declínio da religião. No entanto, conforme alega Berger (2001), essa teoria apresenta diversos equívocos. Segundo ele, excluindo-se raros casos, o que se percebe é um mundo extremamente religioso, contrapondose à idéia do fim da religião. Berger (2001) afirma que a modernidade, de fato, trouxe certos efeitos secularizantes, mas também foi a responsável pela aparição de poderosos movimentos contra-secularização, instaurando uma nova situação. Hervieu-Léger, trazendo um outro posicionamento sobre a teoria da secularização, propõe uma análise baseadas nas “novas experiências religiosas”, conforme Camurça (2003, p.260 e 261) explicita: [...] constituídas na intensidade afetiva das relações de seus membros e através da manifestação física disto (beijos, abraços) (1990b); na busca estética e ecológica de um espaço favorável à convergência emocional dos participantes e na atenção dispensada às formas não-verbais de expressão religiosa; na preeminência do corpo e dos sentidos sobre a formalização doutrinal-teológica, numa rejeição à ‘religião intelectual’ e a seus especialistas (1990c; 1996a). Instauraram o primado da experiência sobre qualquer norma ou controle, o que implica numa fragilidade no contorno dos grupos: entra-se e sai-se dele com facilidade, pois não há laços formais de identificação. A idéia de obrigação e permanência está ausente das ‘comunidades emocionais’, pois é a fluidez expressa pela instabilidade dos estados afetivos que serve de critério para autenticidade da experiência espiritual. (CAMURÇA, 2003, p. 260 e 261)

No âmago da questão, para Hervieu-Léger, o que está em jogo é o aspecto intrinsecamente contraditório do próprio processo de secularização, propondo, assim, uma 3

terceira via, nem “secularizante”, nem “dessecularizante”, mas a do contraditório. Para ela, está ocorrendo um radical processo de mudança na idéia de secularização na modernidade ocidental (CAMURÇA, 2003). Nesse sentido, ela afirma que a “secularização é um processo cultural complexo, que combina a perda de controle dos grandes sistemas religiosos [...] e a recomposição (sob uma forma nova) das representações religiosas.” (HERVIEU-LÉGER apud CAMURÇA, 2003, p. 263). Segundo Hervieu-Léger, na sociedade contemporânea, a religião se insere e se dissemina de forma desregulamentada e desinstitucionalizada. Esse afastamento das formas institucionalizadas dominantes se apresenta na forma como se dá o processo de transformação da religião na atualidade. Esse processo caminha no sentido de um novo “ethos religioso” (CAMURÇA, 2003, p. 264), fortemente emocional e que transita por diferentes espaços da sociedade. Com o aporte da tradição e da “grande narrativa” das religiões institucionalizadas, as novas expressões religiosas assentam suas “pequenas narrativas” individuais ou grupais, em que se entrelaçam emoção e “errância com os valores e normas tradicionais” (CAMURÇA, 2003, p. 264). Diante das teorias propostas por Berger (1999, 2001) e Hervieu- Léger (CAMURÇA, 2003), o que se percebe é que a religião tem ultrapassado os limites de seu templo, marcada fortemente pela instituição, e que vem adentrando espaços dantes pertencentes a outros aspectos. O fenômeno do pluralismo religioso levou ao surgimento de novas formas de religiosidade, uma vez que cada religião procura se colocar como a melhor opção no mercado religioso. Numa situação de mercado, a escolha da religião se dá por meio do indivíduo, que opta por uma ou mais afiliações religiosas (BERGER, 1999). Uma presença marcante no espaço público pode levar à escolha por um determinado segmento. Desse modo, a religião irrompe no social. Entretanto, isso ocorre de forma “desinstitucionalizada” e “desregulada”, atravessando diversos domínios ou combinando-se com eles, tais como a economia, o poder, a tecnologia e o turismo. Se por um lado a modernidade traz consigo a diferenciação estrutural, o desenvolvimento separado por inúmeras esferas institucionais e normativas de campos como a família, a ciência e a economia, a (pós) modernidade envolve a desdiferenciação. Nesse caso o que há é uma ruptura do caráter distinto de cada uma das esferas de atividades sociais, implodindo umas sobre os outras (URRY, 1996). Tornando-se cada vez mais “borradas” as fronteiras que separam diversas dimensões da sociedade, a (pós) modernidade trouxe uma abertura para o entrelaçamento de espaços e atividades sociais antes distintas e distantes. Nesse contexto, a religião vem sendo vivida em/através de elementos seculares. A imbricação desses campos, bem como o consumo de 4

bens religiosos parecem permitir e facilitar a fusão de produtos e posturas “religiosas”e “nãoreligiosas”, tais como o turismo, se tornando mais uma forma de experimentar a espiritualidade (FROSSARD, 2006). Assim como as mudanças ocorridas no campo da religião nos últimos tempos, o turismo também vem sofrendo fortes influências da (pós) modernidade e é, em si, parte da própria experiência contemporânea da (pós) modernidade. Nesse sentido, percebe-se que os padrões turísticos não são fixos, permitindo sempre questões, situações e circunstâncias em que o consumo do turismo se apresenta de maneira diferenciada (FROSSARD, 2006). No contexto (pós) moderno da religião e do turismo as imagens, signos, símbolos e representações sociais são (re)apropriados entre si, permitindo uma diferente experiência religiosa e turística, fruto deste novo tempo (SILVEIRA, 2003a). Nessas circunstâncias, paralelamente à operacionalização ou aparelhamento de alguns aspectos religiosos com o aparato turístico, o mercado turístico tem procurado usufruir das imagens, dos signos, dos símbolos e das representações sociais do fenômeno religioso, gerando, assim, o turismo religioso (FROSSARD, 2006).

EVANGÉLICOS NO ESPAÇO PÚBLICO: UM TURISMO EVANGÉLICO

Perante uma variedade quase inesgotável de religiões, cada uma delas vem buscando se posicionar frente à realidade social a qual se insere. Aproveitando as transformações ocorridas no campo religioso, os evangélicosi brasileiros vêm utilizando o espaço público como uma importante vitrine para a sua religiosidade. Percebe-se nas últimas décadas uma verdadeira inquietação referente aos números cada vez mais surpreendentes a respeito do crescimento dos evangélicos no paísii. Segundo Birman (2003, p. 236) “os ‘evangélicos’ não somente crescem em número, mas crescem em visibilidade pelo modo como exercem a sua fé”. Ao adentrar o espaço público, os evangélicos têm buscado ampliar sua capacidade de influência, seja por meio da política, da mídia, do mercado ou da filantropia. Birman (2001) afirma que independente do sentido que essa prática tenha, um ponto parece comum em todas elas: “a apresentação de si no espaço público por meio de um pertencimento religioso que reclama por lugar social” (BIRMAN, 2001, p. 79). A influência dos evangélicos no espaço públicoiii brasileiro até pouco tempo atrás se davam na maior parte dos casos na construção de colégios e de hospitais, conforme explicita Bittencourt Filho (2003). Atualmente, estes têm buscado fazer parte do cotidiano brasileiro de forma mais intensiva e marcante. Uma maior exposição dos evangélicos nas revistas, 5

jornais, rádios e emissoras de televisão têm sido visível nos últimos anos no Brasil. Na política, um grupo de parlamentares é conhecido por “bancada evangélica”. No mercado, o surgimento de produtos gospel ou evangélicos, e uma investida consistente em estratégias de marketing têm feito com que muitos comerciantes passem a disponibilizar esses produtos em seus comércios. Nesse mercado encontram-se desde livros a viagens a locais como a Terra Santa. Em outros espaços os evangélicos também têm se feito presentes, tais como na assistência social, nos esportes e no turismo, que é o que nos importa nesse trabalho. Com o crescimento do número de evangélicos e de sua expressão no espaço público, o mercado turístico se despertou para uma potencial demanda desse segmento. Marcado fortemente pelo turismo no âmbito do catolicismo, algumas empresas têm começado a explorar esse segmento religioso como um nicho de mercado, conforme pode ser visto a seguir: As viagens com roteiros cristãos, montadas estrategicamente para este tipo de público, têm se tornado um filão de mercado há pelo menos uma década. Sobretudo os roteiros internacionais evangélicos. O Ministério do Turismo não dispõe de números, já que não existem estudos que discriminem o segmento nos quais agências e operadoras de turismo trabalharão quando se cadastram, mas a assessoria de comunicação admite que, ao longo dos anos 90, o turismo religioso vem se firmando como uma importante vertente do mercado. Da mesma forma, o número de evangélicos aumentou no decorrer dos anos 90. [...] As agências de viagens vislumbraram um nicho de mercado para roteiros que, inspirados no périplo de Jesus ou no dos apóstolos, constituem novas perspectivas. Especialmente os internacionais. Neste caso, tenta-se reconstituir — nos cenários da Bíblia — a trajetória sagrada (TURISMO, 2003).

Esse trecho permite contemplar a importância recente dada a esse tipo de turismo, o que tem direcionado as operadoras de turismo à abertura de novos mercados, como os roteiros citados. Se tornando cada vez mais um bem de consumo, a fé tem encontrado no turismo mais um caminho para tal realização. Segundo Frossard (2006), esse segmento de turismo pode ser categorizado em pelo menos seis tipos específicos: Viagens à Terra Santa, Caminhos, Eventos, Cruzeiros, Viagens Missionárias e Intercâmbio entre Igrejas. Essas modalidades começam a apontar para algumas possibilidades para pensarmos o turismo evangélico no Brasil. O enfoque desse trabalho é o turismo realizado através de agências de turismo e será a partir dele que buscarei apresentar um pouco da configuração desse tipo de turismo. O surgimento de agências de turismo especializadas no segmento evangélico é uma dessas possibilidades. Hoje é perceptível o forte vínculo entre as agências de turismo e a religiosidade evangélica. Para se colocar nesse mercado, as agências utilizam de diversas artimanhas. A agência TKR, por exemplo, se auto intitula como “a nº 1 em turismo evangélico”, como pode ser comprovado pelo encarte promocional de uma revista evangélica: 6

Figura 1 - Promoção de pacote pela TKR na revista Eclésia. (Eclésia, Ano 10 – Número 112, p. 51)

A Travel Club é uma das mais conhecidas agências de turismo no meio evangélico. Em seu site, como pode ser visto, se diz “líder no mercado brasileiro de viagens e eventos dirigidos ao público cristão.”

Figura 2 - Site da agência Travel Club. Disponível em: < http://www.travelclub.tur.br/index.htm> Acesso em: 20 de mai 2006.

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Outra agência, uma das precursoras nesse tipo de turismo foi a d’Ávila Tour, pertencente ao pastor Caio Fábio de Araújo Filho – um dos maiores líderes evangélicos na década de 1990. Desde essa época operava viagens para a Terra Santa e para outras localidades com intuitos religiosos. Na logomarca da agência podemos encontrar o termo “Turismo com fé”, conforme figura a seguir:

Figura 3 – Propaganda da d’Ávila Tour na revista VINDE (Ano II – no 23 – Outubro 1997)

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Em suas abordagens publicitárias, muitos anúncios utilizam de bordões bastante comuns no círculo evangélico. A d’Ávila Tour utiliza-se de diversas frases que buscam convencer o fiel a adquirir seus produtos, tal como a reprodução da fala do Rev. Caio Fábio na propaganda apresentada na Figura 2. Em outra publicidade, a agência afirma o seguinte: A d’Ávila entende que o sonho de todo cristão é conhecer Israel, a Terra Santa. Passar nos lugares onde Cristo mudou o rumo da história, pisar na Terra onde o Rei dos reis pisou, significa agregar valores a[sic] vida, principalmente, valores espirituais. Visando atender este anseio do povo cristão, é,[sic] que a d’Ávila criou a VIAGEM PLANEJADA CANAÃ. O nosso objetivo é propiciar a todas as pessoas a oportunidade de concretizar o sonho de ir a Israel. (VINDE, Ano II – no 20 – Julho 1997)

Ainda voltando ao anúncio da TKR (figura 1), a logomarca da agência é seguida pela insigna “Deus é Fiel”. A Viaje Bem Turismo, outra agência de turismo encontrada no meio evangélico, utiliza, ao final da descrição em seu site de seus pacotes para a Terra Santa, o seguinte lema: “ano que vem, em Jerusalém, pela Viaje Bem, posso ouvir um amém?”. Desse modo, é possível afirmar que essas viagens constituem uma experiência que vai muito além do simples ato de consumo de um produto e, em função disso, até mesmo consignas evangélicas são utilizadas para dar legitimidade a essas experiências, uma vez que se utilizam de símbolos e de signos, envolvendo o imaginário do fiel com dizeres religiosos. Até mesmo em uma forma não institucionalizada de turismo é possível encontrar essa apropriação pelo turismo de termos evangélicos, como na foto a seguir:

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Foto 1 - Muro pintado em frente à entrada da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte. Arquivo Pessoal. 2005.

Uma outra forma utilizada pelas agências para atrair os clientes/fiéis é o uso não só de palavras, mas de símbolos do cristianismo. No site da agência Maranatur, nome sugestivo a Maranata – termo que significa “Nosso Senhor Vem”, que é muito utilizado pelos cristãos evangélicos em sua fé – pode ser encontrado, ainda, como logomarca da empresa um peixe parecido com o que se refere ao cristianismo.

Figura 4 - Logomarca da agência Maranatur. Disponível em: Acesso em 20 de mai 2006.

Observando os anúncios e os sites, percebe-se que o “carro chefe” dessas agências são as viagens à Terra Santa. Essas viagens, em grande parte dos casos, estão vinculadas a alguma igreja, pastor, cantor ou líder. De um lado, pode-se perceber que a presença desses líderes funciona como um atrativo a mais para a escolha de determinada viagem. Do outro, percebese que esses líderes conseguem uma repercussão ainda maior no meio evangélico. Nesse sentido, Frossard (2006, p. 187) verifica “que o turismo vem ‘sacralizando’ essas pessoas, a ponto de se tornarem capazes de serem ‘objetos’ de consumo, quer através de viagens, livros, cds, dvds e outros, numa via de mão-dupla.” Numa propaganda da Travel Club, pode-se ver claramente essa ligação entre as agências e as igrejas/líderes. Até mesmo a figura do pastor aparece na propaganda.

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Figura 5 - Promoção de pacote para Israel da Travel Club publicada na revista Ultimato (Ano XXXIX – No 299. Março-Abril 2006)

Já no site da Pastora Ludmila Ferber, cantora no meio evangélico, existe um link direto com a Viaje Bem Turismo, mostrando, assim, que as agências também se beneficiam

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do espaço conquistado por esses líderes, utilizando de seus sites pessoais, ou do site, púlpito ou programa de rádio e televisão da igreja em questão para a divulgação de seus produtos.

Figura 6 - Site do Ministério de Louvor Adoração Profética, com a pastora Ludmila Ferber. Em destaque, link na página principal do site para a agência Viaje Bem Turismo. Disponível em: Acesso em: 14 de mai 2006

Ainda no caso das viagens para a Terra Santa, os roteiros também se adequam à configuração do grupo de turistas, tanto em termos religiosos, quanto em termos demográficos. A exemplo disso, tomo aqui parte de um roteiro divulgado no site da Travel Club, com destino ao Egito e à Israel, chamado AHAVA. Nesse caso, a agência utiliza de citações de referências bíblicas em toda descrição do roteiro no sentido de dar legitimidade a esse produto/consumo. 6º Dia – 04 de Junho ( Eilat / Mar Morto / Galiléia ) Café da manhã no hotel, nossa primeira parada do dia será no Mar Morto, o mar mais salgado e baixo do mundo, onde ninguém afunda. Teremos tempo livre para esta experiência (não esqueça de levar uma toalha e roupa de banho). Seguiremos nossa viagem ao norte de Israel. No caminho passaremos pela área indicada como Sodoma e Gomorra, Massada (fortaleza construída por Herodes), Qunram (local onde encontraram os manuscritos do livro de Isaías escondidos pelos essênios durante a invasão romana nos anos 66 d.C aprox.). Chegaremos a Jericó que esta a frente do Monte Nebo onde Moisés avistou a Terra Prometida. Jericó [sic] local de muitos acontecimentos bíblicos, entre eles a Tentação de Cristo, visita à casa de Zaqueu e muitos outros. De Jericó seguiremos

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direto para a cidade de Tiberiades na Galiléia. Chegada ao hotel, acomodação e Jantar. Referências Bíblicas: Jericó (Js 6:2), (Hb 11:30), Zaqueu (Lc 19) , Cego de Jericó (Mc 10:46), Sodoma e Gomorra (Gn 19:23) 7º Dia – 05 de Junho ( Galiléia ) Café da manhã e saída para as visitas na região da Galiléia. Iniciaremos nosso dia com o Raffting no Rio Jordão (programa opcional [sic] consulte-nos para os detalhes). Seguiremos para região do Mar da Galiléia, local do inicio dos ensinamentos de Jesus. Iniciamos nossas visitas com o Monte das Bemaventuranças, local do Sermão da Montanha, após desceremos ao local que marca a multiplicação dos pães e peixes, Cafarnaum centro do ministério de Jesus, onde veremos as ruínas uma sinagoga, um local que marca a casa de Pedro. O próximo passeio será um maravilhoso passeio de barco pelo mar da Galiléia com louvor e ministração do Ap. Rina. Para finalizar o dia estaremos conhecendo o Yardenit, local apropriado para o batismo no rio Jordão. Jantar no hotel. Referências Bíblicas da Galiléia: (Jo 21, Jo 6), (Lc 6:17), (Mt 5). Disponível em:
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