Viajar para aprender. Maria Guilhermina Loureiro de Andrade e sua viagem à cidade de Nova York (1883-1887)

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Eixo: Formação de Professores

Viajar para aprender. Maria Guilhermina Loureiro de Andrade e sua viagem à cidade de Nova York (1883-1887) Vinicius Monção (PPGE-UFRJ)1

Resumo: Este texto tem como objetivo situar a viagem realizada pela professora Maria Guilhermina Loureiro de Andrade (1839-1929) a cidade de Nova York entre os anos de 1883 e 1887 e aspectos que se relacionaram com sua profissionalização docente na metodologia froebeliana do Jardim de Infância. Como aporte teórico-metodológico me apoio da produção dedicada a discussão de gênero, biografias, história da educação e história das mulheres e das relações de gênero. As fontes utilizadas referem-se a artigos publicado em periódicos da época que foram escritos pela professora ou escritos de outros personagens sobre ela. Como resultados, considero que analisar de maneira interdisciplinar a trajetória profissional de uma personagem possibilita alargamento de discussões e compreensões sobre a construção da história, este enquanto processo e arena de disputas. No caso da personagem Maria Guilhermina, especificamente a partir do olhar da história da educação que bebe da fonte da história das mulheres e das relações de gênero, é favorecer outras problematizações no que se refere ao processo de feminização do magistério e também a profissionalização feminina entre os séculos XIX e XX.

Palavras-chave: Maria Guilhermina Loureiro de Andrade; viagem; história das mulheres e das relações de gênero; história da educação; profissionalização docente

Introdução A partir da inserção de discussões das categorias Gênero, Biografia e História das Mulheres e das Relações de Gênero, me aproximei de um corpo teórico e metodológico

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação – Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE-UFRJ), Rio de Janeiro, Brasil. e-mail: [email protected] 1 Vinicius Monção.

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que, aos poucos, forneceu elementos que foram inseridos como marcos direcionais no processo de pesquisa da tese de doutoramento em andamento em História da Educação2. Instigado pelas proposições da História sobre as categorias mencionadas, em determinado momento, me indaguei sobre quais seriam as possibilidades e contribuições que as perspectivas histórico-feministas poderiam favorecer à produção de pesquisa inserida no campo da história da educação? Certo de que as respostas possíveis são múltiplas apresento algumas que considero necessárias para esse exercício reflexivo. A primeira refere-se à necessidade do deslocamento de olhares sobre possíveis objetos de pesquisa que são, geralmente, selecionados a partir de uma perspectiva (dominante) masculina 3. Em uma área de produção de conhecimento formada majoritariamente por mulheres é possível identificar uma tendência em investigações voltada para a ação efetuada por homens, estes enquanto personagens centrais, e pouca atenção dada para investigar a atuação de mulheres no cenário educativo brasileiro. A segunda, à necessidade de maiores problematizações sobre as relações de gênero existentes na estruturação e constituição do cenário educativo nacional, no que compete ao estabelecimento de funções e tarefas para mulheres e homens no decorrer desse processo. Ao voltar o olhar para a pesquisa de tese em desenvolvimento considero pertinente pensar a professora Maria Guilhermina Loureiro de Andrade (1839-1929) a partir de uma perspectiva que priorize dar visibilidade, protagonismo e agência no processo do fazer histórico, bem como as tensões e disputas existentes nas relações de gênero (SOIHET, 2009), no cenário brasileiro na segunda metade do Oitocentos. Em um contexto de disputas, criação e estabelecimento de papéis sociais para sexos distintos, Maria Guilhermina se inseriu no cenário nacional e internacional das discussões sobre políticaeducacional acerca da escolarização da população infantil brasileira. A pesquisa de tese intitulada “Entre idas e vindas: relações da viagem de Maria Guilhermina Loureiro de Andrade aos Estados Unidos da América com sua trajetória profissional (1883-1910)” tem como interesse analisar a trajetória profissional da professora primária Maria Guilhermina Loureiro de Andrade (18391929) a partir da experiência de viagem e formação obtida na cidade de Nova York, entre os anos de 18831887. Tem orientação da prof. dr.ª Irma Rizzini, e está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa História, Sujeitos e Processos Educacionais. A previsão de defesa é 2019.1. 3 A questão da proeminência de estudos voltados para personagens masculinas em detrimento de personagens femininas em pesquisas na História da Educação, bem como a não discussão sobre as relações de gênero, podem ser entendidas como um alargamento da discussão empreendida por Bourdieu. Ver: Soihet, 2009. 2

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É importante apontar que mesmo a partir de uma perspectiva de construção histórica que busque levar em consideração a inserção da personagem em uma trama de disputas, na e pela participação política e social, os constrangimentos e limitações estão presentes quando observamos a partir da perspectiva de análise sobre gênero. Contudo é a partir das brechas e possibilidades de atuação e inserção da mulher no contexto da segunda metade do século XIX que Maria Guilhermina e outras mulheres encontraram espaços para se inserirem em um espaço “hostil” para elas. Com relação aos estudos voltados à participação de mulheres no processo de construção histórica, Soihet e Pedro (2007) indicam que eles são de múltiplas matrizes teóricas e metodológicas. Apresentam divergências de posições, debates e controvérsias que perpassam desde uma perspectiva inicial de feitura de uma “história das mulheres” a perspectivas das relações de gênero e aquelas pós-estruturalistas, de relativização de conceitos, sentidos e significados, criados e experimentados sobre sexos (SOIHET, PEDRO, 2007). No desenrolar dos estudos históricos sobre as mulheres Facina e Soihet (2004) apontam que aqueles voltados para a história das mulheres obtiveram destaque e ampliação a partir da década de 1960. Tal aspecto está relacionado às ações e mobilizações do Movimento Feminista e por contribuições da História Social, História das Mentalidades/Cultural e também do desenvolvimento de pesquisas em Antropologia e suas influências nas ciências humanas. Nesse contexto revelavam-se, no cenário internacional, mulheres pioneiras que enfrentariam a questão de abordagens inéditas e que, por sua vez, oportunizaram consideráveis contribuições ao campo como, Michelle Perrot, Arlette Farge e Natalie Davis, principalmente, nas discussões com enfoque na atuação das mulheres no campo político. Nos anos seguintes observou-se o surgimento de discussões em torno do termo “gênero” como forma de teorizar sobre as diferenças sociais desenvolvidas entre os sexos masculino e feminino. Ambos os movimentos, segundo Soihet (2003), são complementares e possibilitaram a desnaturalização das diferenças sexuais (SOIHET, 2003). Além disso, podem ser considerados como elemento de uma “virada nos estudos históricos” que passaram a se preocupar com questões não tratadas pela historiografia clássica e dominante. Esse movimento, segundo a autora, ocasionou a criação e

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manutenção de uma dualidade entre os gêneros, “especialmente, da divisão binária da humanidade, a partir das construções baseadas no sexo” (SOIHET, 2003, s/p). Seguindo a trajetória da formação e discussão do campo da História das Mulheres e das Relações de Gênero, Soihet aponta que Joan Scott, tem destaque nas discussões por ser uma entusiasta do termo gênero e por propor a criação de uma teoria própria que permitiria sustentar as análises realizadas e ainda a criação de um novo paradigma. Ela, Scott, considerava a possibilidade de formação de uma “epistemologia mais radical” que a desenvolvida pela História Social, pautada, por sua vez, pelo paradigma pósestruturalista de Michel Foucault e Jacques Derrida, e que permitiria uma outra “perspectiva analítica”. Segundo Soihet (2003), Scott defendia, sobretudo, a rejeição de uma oposição binária, entre masculino e feminino, em função da desnaturalização de uma ideia hierárquica, de superioridade e inferioridade entre gêneros, vista como algo natural das coisas (SOIHET, 2003). Apresentando outra forma possível de abordagem das questões, Soihet (2003) aponta para Louise Tilly e Eleni Varikas. As duas historiadoras concordavam em discordar do pensamento de Scott, o qual considerava a História Social como campo limitador para a discussão dessas questões, campo “demarcado pelo determinismo econômico” nas análises empreendidas. Lembram que as primeiras discussões foram realizadas nesse espaço justamente por questões sociais e econômicas que Scott compreendia como limitadoras para o avanço das pesquisas. Ambas não consideram que a perspectiva pós-estruturalista poderia, de fato, contribuir para o desenvolvimento de uma “teoria de gênero” (SOIHET, 2003). De acordo com Soihet (2003), a grande contribuição de Scott, na dimensão da inovação no terreno teórico e na produção do conhecimento histórico, é atuar sobre “a política como domínio de utilização do gênero para análise histórica”.

Acredita que o aprofundamento da análise dos diversos usos do gênero para justificar ou explicação de posições de poder fará emergir uma nova história que oferecerá novas perspectivas às velhas questões; redefinirá as antigas questões em novos termos – introduzindo, por exemplo, considerações sobre a família e a sexualidade no estudo da economia e da guerra. Tornará as mulheres visíveis como participantes ativas e estabelecerá uma distância analítica entre a linguagem aparentemente fixada do passado e a nossa própria terminologia (SOIHET, 2003, s/p). 4

Assim, é proposto que se evite o binômio dominação/subordinação como terreno de confronto principal de produção de uma história das mulheres. Isso porque “apesar da dominação masculina, a atuação feminina não deixa de se fazer sentir” e ser percebido em diversas períodos e espaços sociais como através de complexas ações de “contrapoderes: poder maternal, poder social, poder sobre outras mulheres e ‘compensações’ no jogo da sedução e do reinado feminino”. A proposta metodológica colocada pelas pesquisadoras, Tilly e Varikas, é analisar as dimensões público e privado como unidade e não pelo tradicional enfoque dado, como dimensões e locais opostos, isolados e desconexos (SOIHET, 2003, s/p). Um autor que nos auxilia a identificar pistas da atuação das mulheres, na esfera pública e política da sociedade é Thompson (2011). Em episódios da cultura popular inglesa de “venda de esposas”, ele nos mostram a participação ativa de mulheres em uma prática social tida, por parte das feministas no período de publicação do estudo, como demonstração da pouca valia ou submissão da mulher na Inglaterra do século XVIII e XIX. Thompson, a partir da revisita às fontes, demonstrou, por sua vez, o contrário. Em grande parte do material por ele levantando e sistematizado, as mulheres eram participantes ativas da prática da venda de esposas, a qual acontecia pela autorização e desejo das próprias mulheres em muitos dos casos por ele arrolados. Diante dessa questão (e perspectiva), a análise de Thompson (2011) o conceito de agência, por ele proposto, contribui para problematizarmos a história das mulheres e das discussões sobre gênero a partir da figura de Maria Guilhermina no que se refere ao período de feminização do magistério que a personagem esteve inserida e foi participante. Soihet (1998) aponta também para a noção de dominação cultural proposta por Roger Chartier. Esta não pode ser vista como única dimensão da relação entre grupos sociais construídos e instituídos histórica, social e culturalmente diferentes. Ela prevê as formas de resistências, negociações e possíveis negações de forma que, de acordo com o contexto experimentado, permitem identificar e desvendar os matizes da atuação de mulheres nos períodos históricos analisados pelo historiador. “Mulheres e História interpenetram-se num movimento dialético, assinalado por trocas recíprocas (...)” (SOIHET, 1998, p. 83).

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Maria Guilhermina Loureiro de Andrade Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, natural de Ouro Preto, “nasceu em 5 de abril de 1839” e “faleceu no Rio de Janeiro em 3 de julho de 1929” 4. Filha primogênita de uma prole de 17 filhos. Por ser a mais velha dos filhos, ajudava sua mãe na criação dos irmãos mais novos e também em atividades exercidas pela sua progenitora, que era professora. Tal iniciação profissional, como aprendiz do ofício do magistério, a permitiu futuramente atuar e circular por essa área, tanto como professora primária como formadora de professoras5. Na segunda metade do século XIX, sua família se mudou para a cidade de Vassouras e lá criaram o “Colégio Andrade”. O colégio teve grande fama e repercussão na cidade e entorno. Por motivo de epidemia de febre amarela que arrasou a região do Vale do Café, na década de 1860, mudaram para o Rio de Janeiro, então capital da Corte. Nessa cidade, reestabeleceram o Colégio Andrade, em 1869, onde sua mãe e irmãs atuaram como professoras e ocuparam cargos relativos a administração escolar (CHAMON, 2008). Figura 1: Maria Guilhermina Loureiro de Andrade

Fonte: Jornal do Brasil, 29/5/1934, n. 126, p. 1 4

Jornal do Brasil, 29/5/1834, n. 126, p. 1. Alguns estudos se dedicaram com mais afinco a apresentar a biografia de Maria Guilhermina. Para saber mais ver: Chamon (2005, 2008). 5

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Com o passar do tempo o Colégio Andrade foi adquirindo reputação e fama na Corte. Um dos possíveis motivos para o destaque que a instituição privada alcançou na Cidade foi a aproximação com propostas educacionais alinhadas ao pensamento educativo estadunidense. Ali se praticava o “método intuitivo, a co-educação dos sexos e o alargamento do currículo escolar feminino6”. Elementos estes não praticados e oferecidos pela maioria das escolas, tanto pública quanto privada, cariocas (CHAMON, 2008, p. 75). Cardoso (2009) dedicou-se a analisar a escrita autobiográfica de Lili Castelo Branco e problematizar questões referentes as relações de gênero e a questão do registros e não-registros (ausência), a partir de uma reflexão dialética de memória e esquecimento. Segundo a autora, o silêncio assumido por Emília Leite Castelo Branco, Lili, na obra Fases do meu passado (...) longe de ser uma prática singular é uma das características da escrita autobiográfica, na medida em que essa prática se constitui de recortes, de escolha, de seleção e de ressignificação dos acontecimentos vividos (CARDOSO, 2009, s/p 7).

As preocupações teórico-metodológica apresentado por Cardoso (2009) no tratamento dado ao estudo sobre Lili, embora centrada na questão da autobiografia, auxiliam-me a pensar sobre a produção existente sobre a vida de Maria Guilhermina. Mesmo sendo outra a natureza das fontes, a abordagem e o cuidado metodológico é cabível de ser aplicado. A escrita autobiográfica (compreendendo esta como registro intencional em primeira pessoa) revela as experiências vivenciadas pelo sujeito e, de maneira consciente ou não, silencia alguns fatos (CARDOSO, 2009, s/p). No caso de Maria Guilhermina, até o momento, não foi localizado nenhum conjunto documental escrito em primeira pessoa que tivesse o interesse em deixar registrado e organizado suas memórias. A personagem escreveu sobre si de outra maneira, não privada mas pública, ao publicar em periódicos relatos sobre as experiências tidas quando esteve nos Estados Unidos; ao apresentar seu

Sobre o “alargamento do currículo” percebe-se na oferta de disciplinas como história natural, álgebra, grego, geometria e física. Um currículo não comum para as escolas para meninas. 7 Por motivo de má produção da cópia do texto não foi possível localizar a paginação para indicar. 6

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posicionamento e pensamento político educacional; ou ainda sua capacitação e formação profissional ao anunciar nos classificados sua escola. O que nos diz essa forma de “escrita de si” e o que nos diz a “escrita dos outros sobre ela”? Seguindo o direcionamento de Cardoso (2009) ambos movimentos são produzidos a partir da memória e, assim, são seletivos. Os artigos escritos por Maria Guilhermina são recortes das experiências vivenciadas na cidade de Nova York e só temos acesso ao que ela quis que fosse acessada. Os documentos oficiais nos dizem aspectos específicos a relação dela com o governo, pedidos de autorização, exames e outras assuntos de cunho burocrático chegaram-nos até hoje após terem passado por um processo de seleção e “sobrevivência” na organização dos arquivos públicos. O que sobre ela escreveram estão pautados na tentativa de criação de uma memória heroica e útil a nação, na tentativa de torná-la “destaque no magistério passado”8. Tais documentos, mesmo que “construídos” a partir de uma seleção feita pela memória, nos permite entender e visualizar a rede de sociabilidades da personagem, aspectos referentes a sua trajetória pessoal e profissional, sua circulação pelas principais cidades da região sudeste, no início do século XX e, ainda, suas compreensões sobre educação, aspecto de valia e interesse na produção da tese. A participação de Maria Guilhermina nas propostas e efetivações sobre a escolarização da população infantil carioca, menor de sete anos, é o elemento condutor para a construção da tese. Foi a partir da atuação e participação nessa discussão que a professora efetuou uma viagem à cidade de Nova York em 1883, em busca de formação específica na pedagogia de Friedrich Fröebel9. Sobre essa dimensão é que buscarei problematizar aspectos referente ao protagonismo, agência e experiências de Maria Guilhermina em relação com questão da feminização do magistério brasileiro no contexto da segunda metade do século XIX

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Jornal O Fluminense, 11/12/1934, n. 15871, p. 1 Friedrich Wilhelm August Fröebel (1782-1852), natural da antiga região da Turíngia, hoje sudeste alemão, criador de proposta educativa voltada para o desenvolvimento infantil denominado de Kindergarten. Sua proposta pedagógica foi considerada inovadora por associar elementos destinados ao desenvolvimento físico, intelectual e moral de crianças a partir de referencial teórico e metodológico específico. 9

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A mulher no magistério

O último quartel do século XIX foi um momento de intensas disputas e debates no cenário educacional brasileiro. Dentre os múltiplos projetos e encaminhamentos estava posto à discussão, de forma mais incisiva, a questão do preenchimento das vagas do magistério primário pela figura feminina, enquanto os homens se deslocaram para o ensino secundário, profissional e superior. Tal movimento institucional oficial estava construído, sobretudo, com base na ciência higienista que paulatinamente modelava o perfil do ser mulher e as responsabilidades sociais destas. Construiu-se um perfil modelar de mulher associada ao cuidado, à maternidade e a ocupar o espaço privado (CARDOSO, 2009; CHAMON, 1996; SÁ, ROSA, 2004; RABELO, MARTINS, 2006; CHAMON, 2008). É recorrente na História da Educação a afirmação que a feminização do magistério se deu em função da ampliação dos cargos de docentes em função do processo de escolarização da sociedade brasileira, empreendido durante o século XIX e XX, em movimento concomitante de abandono desses postos de trabalho pelos homens e razão de baixos salários e para ocuparem postos de trabalho em industrias. Hahner (2011), considera que o processo de feminização do magistério primário é fruto das reformas educacionais acontecidas no final do século XIX e que permitiram a ampliação da escolarização de mulheres (HAHNER, 2011). Sá e Rosa (2004) apontam para a necessidade de problematização desse movimento e a ampliação de sua discussão. As autoras consideram necessário levar em consideração para essa questão não somente o aspecto de industrialização e “renovação” de mercado de trabalho do país. Consideram ser necessário ter em perspectiva o “incremento do processo de escolarização, com aumento do número de escolas e, sobretudo, da matrícula das meninas”, a “nova” representação feminina construída por médicos higienistas e intelectuais, relacionando a figura da mulher a maternidade, cuidado e educação das crianças, e a inserção da mulher no magistério como o local de trabalho possível, que permitia conciliar atividades domésticas familiares com uma profissão (SÁ, ROSA, 2004, p. 4; CARDOSO, 2009).

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Ao refletir sobre o processo de feminização do magistério, através da análise da trajetória profissional de Maria Guilhermina, buscarei levar em consideração os apontamentos efetuados pelas autoras.

Viajar para aprender

Da sua atuação profissional destaco a participação na implementação dos Jardins de Infância no Brasil, tanto no que confere ao seu discurso político quanto na formação do professorado para a atuação nesta modalidade de ensino. No final da década de 1880, Maria “abriu um jardim de infância – o qual denominou Kindergarten Modelo – e a primeira escola para formação de Jardineiras10 na Corte carioca” (CHAMON, 2008, p. 82). Sua inserção na discussão sobre essa modalidade de ensino ganhou impulso ao ser convidada, pelo Governo Imperial, para produzir um parecer acerca da utilidade de criação dos Jardins de Infância no país (1883). Como resposta declarou que “nenhum proveito disso poderia vir às nossas crianças pela falta de jardineiras competentemente habilitadas para esta melindrosa tarefa”11. Acrescentava ainda que, o investimento realizado sem as bases necessárias para tal compreenderia “um crime” contra as crianças sua aplicação de modo equivocado (BASTOS, 2008). Dessa forma, Maria Guilhermina optou por ultrapassar as fronteiras geográficas e sociais de sua época. Angariou fundos, criou coragem e lançou-se ao mar rumo a uma longa viagem. Como destino escolheu os Estados Unidos da América, por que lá, segundo

seus

argumentos,

a

instrução

primária

apresentava

um

progresso

verdadeiramente admirável (BASTOS, 2008). Nesse país, na cidade de Nova York, permaneceu por quarto anos, de 1883 e 1887, onde obteve formação pedagógica específica na metodologia froebeliana de Jardins de Infância.

O termo “jardineiras” é empregado na literatura froebeliana para designar professoras formadas para atuar na modalidade de ensino. 11 A resposta referida encontra-se no folheto “O Kindergarten, ou, Jardim de Infância” por Maria Guilhermina Loureiro de Andrade (1888). Neste texto nos utilizamos da publicação do documento feita por Bastos (2008). 10

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Pesquisas sobre viagens, em geral, se apoiam e são produzidas a partir do material histórico que registrou o evento, como diários pessoais, relatórios e documentos de viagens escritos por viajantes realizados por interesse próprio ou por encomenda de governos e/ou instituições de pesquisa. Sobre esse aspecto, Franco (2008) considera que o século XIX foi um período fértil das viagens e registros já que é possível localizar grande produção de relatos de viagens, escritos não somente por homens, mas também por mulheres. De acordo com Leite (1997) os relatos de viajantes têm sido utilizados como documentação em trabalhos de História, Sociologia, Economia e Antropologia. Contudo, somente a partir da década de 1970 é que tais materiais sofreram uma abordagem mais crítica, analítica e sistemática. Tal ação pode ser entendida como resultado da mudança de paradigma que a História passou nesse mesmo período. Nessa leva, Miriam Leite, desenvolveu pesquisas sobre a História das Mulheres no Rio de Janeiro, entre 1803 e 1900, a partir dos registros de viajantes que pela cidade passaram ou se estabeleceram (LEITE, 1997). Como estratégia de identificação de mulheres viajantes autoras de publicações sobre suas viagens, Leite se debruçou sobre a literatura de viagens das quais ela teve contato e daí, pode obter um panorama sobre o quantitativo de mulheres que passaram pela cidade do Rio de Janeiro no século XIX

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. Eram modistas, turistas, jornalistas,

professoras, acompanhantes ou cientistas, de origem estadunidense ou europeia (LEITE, 2000). Sobre o quantitativo de mulheres viajantes a cidade do Rio de Janeiro como destino, a autora observa que: De certa forma, o número de viajantes mulheres, em relação ao de autores homens, já é um indicativo de um padrão – o espaço para as mulheres, em viagens longas e perigosas, que não existia no início do século XIX, foi conquistado muito lentamente, com a modernização dos transportes marítimos, mas conservou-se área predominantemente masculina. De 1800 a 1850, dos 80 livros selecionados, apenas 5 foram de mulheres, sendo que a primeira, Rose de Freycinet (1817), embarcou clandestinamente,

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A autora identificou na literatura de viagens produzida sobre a cidade do Rio de Janeiro, entre os anos do século XIX, 17 mulheres viajantes. Ver em Leite, 2000.

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disfarçada de homem. De 1850 a 1900 houve 17 autoras entre 92 livros de viajantes examinados (LEITE, 1997, p. 16)13.

Com relação à profissão dos viajantes identificados e por ela analisados, eram, principalmente cientistas, botânicos, naturalistas, militares, comerciantes e religiosos. Por sua intencionalidade estar pautada em descobrir, analisar e problematizar a questão familiar e a condição das mulheres na cidade carioca nos Oitocentos, a autora aponta para a importância de professoras/preceptoras. A partir dos relatos, cartas e diários, foi possível obter “uma sensível penetração dos inter-relacionamentos familiares” (LEITE, 1997, p. 21). Sobre mulheres viajantes que atuaram como professoras na sociedade carioca no século XIX, há registros de Maria Graham (1785-1842), “a mais conhecida das viajantes da primeira metade do século XIX” (p. 34), “governanta dos filhos de D. Pedro I e de D. Leopoldina” (p. 20) e, Ina Von Binzer (1856-1916), governanta de famílias tradicionais da cidade do Rio de Janeiro. Eram elas “moças instruídas que se propuseram a ganhar a vida, enfrentando a solidão de um mundo estranho e hostil e tentando transmitir a crianças brasileiras a educação europeia que tinham recebido” (LEITE, 1997, p. 20). Além dessas duas figuras, outras mulheres estrangeiras viajantes que passaram pelo Rio de Janeiro no século XIX são apresentadas por Miriam Leite: Rose de Freycinet (1794-1832), francesa, viajante em companhia de seu marido, em uma missão científica, e, de acordo com a autora (LEITE, 1997, p. 32), a “primeira mulher francesa a dar a volta ao mundo”. Langlet Freycinet (1820-?), também francesa, chegou ao Brasil com aproximadamente 15 anos de idade. Da sua terra natal saiu “fugida” na intenção de acompanhar seu marido na viagem ao novo mundo em busca de tesouros. A Baronesa de Langsdorff, que veio ao Brasil em companhia de seu marido, o então Barão de Langsdorff14, na missão de negociação do casamento do príncipe de Joinville com a princesa D. Francisca, irmã de D. Pedro II. Mesmo na condição de companheira, foi responsável pela comunicação com a rainha de França no processo do contrato

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Os livros por ela selecionados e analisados foram coletados a partir de um levantamento feito por Paulo Berger, em 1964, na obra: Bibliografia do Rio de Janeiro de viajantes e autores estrangeiros (1531-1900). Rio de Janeiro: Livraria São José, 1964. 14 Tal Langsdorff, como destaca Leite (1997), não pode ser confundido com o homônimo naturalista russo.

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matrimonial. Por fim, a “viajante profissional” Ida Reyer Pfeiffer (1795-1858) que ao ficar viúva optou por iniciar uma viagem de volta ao mundo, aos 47 anos, já que, viúva e com os filhos criados, iniciou a empreitada “que sempre desejara” (LEITE, 1997, p. 42). Seu argumento, legitimador para viajar pautava-se em ter “nascido no fim do século XVIII” e assim, “podia viajar só, por si mesma” (PFEIFFER, 1858, p. 2 apud LEITE, 1997, p. 42. Grifos da autora). Na sua terceira viagem ao redor do globo, passou pelo Brasil, aos 51 anos. As viagens (preparação, percurso e o estabelecimento em terra desconhecida) que cada uma dessas mulheres, e outras desconhecidas, realizaram não deviam ser nada fáceis. Em alguns casos, para conseguir viajar, em função das negativas familiares e até mesmo de autoridades da época, era necessário subverter as regras sociais onde travestir-se era uma das soluções encontradas: cortar os cabelos, vestir roupas de homens e agir com trejeitos esperados por um homem, como no caso de Freycinet. Em um ambiente (o da embarcação e das viagens) demarcadamente masculino, mulher não era bem-vinda. A justificativa da segregação deste espaço era a crença dos marinheiros em que “mulher em barco dá azar” (LEITE, 1997, p. 100). Como meio para sobreviver à travessia e forma de minimizar todos os riscos possíveis, elas deviam guardar certa distância dos tripulantes. Não era conveniente, estando a bordo, demonstrar fraqueza e medo diante dos perigos. Embarcadas, exerciam funções específicas. Eram, geralmente, as responsáveis pelo cuidado da tripulação, dedicando atenção aos enfermos. Em casos de gravidez, ainda, tinham que lidar com o estado de gestação e as indisposições físicas e emocionais que ela causava, além dos traumas causados por abortos e outros possíveis infortúnios (LEITE, 1997). Embora não seja o foco específico de seu trabalho, Davis (1997), ao se dedicar ao estudo de três mulheres europeias do século XVII, aborda o movimento de viagem que cada qual efetuou em suas vidas, cada qual dentro de um contexto específico e distinto. Glikl bas Judah Leib, judia flamenca, necessitou efetuar viagens com fins comerciais. Enviuvou muito cedo e, como forma de sobrevivência, tocou o empreendimento comercial do seu esposo falecido. Já, Marie de l’Incarnation, católica, freira ursulina, deslocou-se para o atual Canadá para atuar como superiora em uma missão religiosa de acolhimento e educação de nativos. E, Maria Sibylla Merian, protestante, naturalista e

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“amante da natureza”, viajou ao Suriname em uma expedição científica (DAVIS, 1997s). Três mulheres com trajetórias tão distintas unidas, dentre outros aspectos dissertados por Davis, pelo elo da identidade de viajantes e pela inserção no mundo que das letras, fator importante para a realização das tarefas a que se lançaram em outras terras. Enfrentaram percalços e perigos. Experimentaram alegrias e tristezas. Margeando, construíram suas identidades, abriram e fortaleceram os caminhos para que outras mulheres interessadas seguissem caminhos similares aos delas. Com relação às brasileiras viajantes em busca de formação profissional pode-se identificar na historiografia as experiências de Maria Augusta Generoso Estrella (18601946) e Josefa Agueda Felisbela Mercedes de Oliveira (1864-?15), as primeiras médicas brasileiras (RAGO, 2000). Em função da proibitiva legal que impedia o acesso de mulheres aos cursos superiores, ambas se dirigiram aos Estados Unidos da América em busca da formação e diploma em Medicina16. Segundo Rago (2000), ao viajarem em função de busca por formação em uma especialidade, alargaram fronteiras socialmente criadas e delimitadas para o gênero feminino e criaram um novo “campo de possibilidades” (VELHO, 1994) de inserção e participação social para as mulheres. Por fim, pelas produções apresentadas, é possível compreender que casos de mulheres viajantes não são excepcionalidades, embora possam ser diminutos frente às empreendidas por homens; que as viagens por elas realizadas também se enquadram em movimento de busca por formação profissional específica que não existia no Brasil ou então que era vedada a mulheres. A experiência de Maria Guilhermina no país do Norte foi um elemento significativo em sua formação. Ao chegar no Brasil, em consonância com a aprendizagem vivenciada nos Estados Unidos, Guilhermina criou um curso destinado à formação de jardineiras na capital carioca, no Colégio Andrade, instituição fundada e mantida por sua família. Tal empreitada a tornou pioneira no país no que compete à formação de 15

Data de falecimento ignorada. É importante indicar que a Reforma Leôncio de Carvalho (1879) declinou a proibitiva legal de mulheres frequentarem curso superior. Gerenoso Estrella e Oliveira foram alunas do New York Medical College and Hospital for Woman e suas matrículas são anteriores à data da reforma educacional imperial. Durante o período de estudos em Nova York seu pai e provedor enfrentou séria crise financeira, o que impediu que o mesmo custeasse a estada e formação de Estrella. Dom Pedro II, por sua vez, interveio e, via decreto, concedeu uma bolsa para que a estudante brasileira terminasse sua formação (RAGO, 2000). 16

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professoras para atuarem na escolarização de crianças na faixa etária de quatro a sete anos. Elias (1995), ao fazer a sociologia de Mozart, demonstra ao leitor que as viagens tournées foram escolas de formação do músico. As viagens estimularam “sua inclinação às experiências e a busca de novas sínteses entre as várias escolas de seu tempo” (ELIAS, 1995, p. 81). Possibilitaram a ampliação de seus referenciais estético-musicais, permitiram o estabelecimento de ampla rede de sociabilidade, influenciou músicos de outras cortes europeias e foi influenciado por eles e, foram elementos de empreendimento profissional e comercial e, por fim, colaboraram de forma decisiva no processo de criação de sua identidade e estilo artístico-musical. Por elas, em adição com outras dimensões do seu processo de formação enquanto músico, como a rígida educação recebida pelo seu pai e o contexto familiar imerso no universo musical, Mozart conseguiu ultrapassar a fronteira e modelos fechados e delimitados do músico-artesão em comparação ao músico-artista17 (ELIAS, 1995). Seguindo as ponderações efetuadas por Elias, ao que compete a dimensão que as viagens podem exercer sobre o processo de constituição do sujeito é possível imaginar esse aspecto como elemento contributo da formação de Maria Guilhermina, intelectual e profissional, em que ela viajou para obter formação profissional específica. Rago (2000), considera que o feito de Generoso Estrella “foi fonte de inspiração para outras mulheres dispostas a enfrentar um mundo masculino hostil à entrada de mulheres nesse universo” (RAGO, 2000, p. 204). Nessa direção, teria Maria Guilhermina se inspirado em Estrella, Oliveira e outras brasileiras viajantes? Embora não seja possível, por ora, responder a questão acima colocada, é possível afirmar que sua viagem permitiu sua legitimação no campo da educação. Dentre sua trajetória, no contexto pós-viagem, foi possível identificar sua participação como colaboradora em periódicos pedagógicos como A Instrucção Pública e A Eschola. Ambos circulavam na cidade do Rio de Janeiro. Em A Instrucção Publica, Maria Guilhermina, publicou um artigo intitulado Apontamentos de um ‘jornal de viagens’, onde narra uma

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Músico-artesão em relação com os modelos de organização de ofícios e corporações. Músico-artista estabelecido pela liberdade de criação e comercialização de suas obras, o que, até então não era previsto e possível. Sobre essa discussão ver Elias (1995).

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conferência assistida quando residia em Nova York, proferida por Nicholar Murray Butler18, sobre a “Relação da Psychologia com a educação”19, e uma tradução intitulada Cultura de Kindergarten20, que aborda a metodologia froebeliana. Na revista A Eschola (1900-?21), periódico produzido pela Associação de Professores do Brasil e na qual chegou a ser vice-presidente (1902), ainda não localizei artigos específicos assinados por ela, mas sabemos que ela atuou como colaboradora, segundo notícia publicada no Jornal do Brasil22. Além da contribuição nos referidos periódicos, ela atuou como tradutora de obras educacionais do inglês para o português e ainda autora de livro didático sobre a História do Brasil23. Essa pincelada sobre participação e atuação da Avis Rara24 no cenário de discussões e proposições educativas e permite-nos cruzar discussões referentes a história das mulheres, das relações de gênero e história da educação. O termo Avis Rara empregado por Caetano de Campos para adjetivar Maria Guilhermina permite ingressar por uma discussão feita por Schpun (2014). Teria sido a personagem excepcional ou ordinária? Embora Maria Guilhermina tenha atuado de forma ativa no contexto de proposições educativas no contexto do sudeste brasileiro entre os séculos XIX e XX, e tido uma esmerada formação profissional, opto por encará-la como uma figura ordinária. Enquanto “mulher do seu tempo”, os aspectos relacionais de gênero e a construção dos papéis que os sexos desempenhariam naquele contexto foi experimentado e assumido por ela. O magistério estava em processo de ressignificação e em disputas pela ocupação do espaço pela participação feminina, em razão dos discursos e modelos forjados para a infância e paralelamente à mulher. Ela aderiu ao projeto proposto, mas não se limitou à oferta e a estrutura social de sua época. Interessada em se especializar na questão da 18

Professor do Teachers of College da Universidade de Columbia. A Instrucção Pública. 14 de outubro de 1887. P. 55, n. 7. 20 Não há referência sobre autoria nem idioma original do artigo traduzido. 21 A data de encerramento das atividades da referida revista é ignorada. 22 Jornal do Brasil, 11/05/1900, n. 131, p. 2; 14/01/1901, n. 14, p. 3-4. 23 Ver: Schueler, Chamon e Vazquez (2012). 24 Ciente da necessidade de problematização dos estudos biográficos e usos de termos laudatórios, como indica Bourdieu (1998), estes enquanto elementos que podem apresentar juízo de valor ou um encantamento ilusório na produção das análises sobre determinado personagem, consideramos o termo ilustrativo do destaque que Maria Guilhermina obteve durante sua trajetória profissional. Avis Rara foi a expressão que Caetano de Campos (1844-1891), político, intelectual e reformador da Instrução Pública Paulista, na década de 1890, se utilizou ao referenciar a personagem em carta encaminhada a Rangel Pestana. Ver: Chamon, 2008. 19

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educação da infância se utilizou da autonomia e dos caminhos possíveis. Como a cidade do Rio de Janeiro, e nenhuma outra no país oferecia o referencial e instrumental necessário para sua especialização no magistério, na pedagogia froebeliana, optou por investir numa viagem. Assim, utilizando de sua autonomia, forjou sua identidade profissional e, ao mesmo tempo, contribuiu para a construção de sua identidade enquanto mulher, favorecendo outras tantas possíveis.

Considerações finais

Buscar a intersecção entre dois campos de produção de conhecimento, a história das mulheres e das relações de gênero e a história da educação, é uma tarefa desafiadora e estimulante para qualquer aprendiz. Tarefa que necessita de sensibilidade, dedicação e comprometimento social. Considero que analisar de maneira interseccional (buscando a contribuição de outros campos teórico-metodológicos) a trajetória profissional de uma personagem possibilita alargamento de discussões e compreensões sobre a construção da história, este enquanto processo e arena de disputas. No caso da personagem Maria Guilhermina, especificamente a partir do olhar da história da educação que bebe da fonte da história das mulheres e das relações de gênero, é favorecer outras problematizações no que se refere ao processo de feminização do magistério e também a profissionalização feminina entre os séculos XIX e XX. Por fim, como considera Cardoso (2009), deslocar o olhar e local de análise já consolidados, dados a partir do projeto institucional e oficial, para verificar a agência e o protagonismo de mulheres nesse processo, é reconhecer o protagonismo feminino no campo educacional, político e também intelectual.

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