VII ENANPPAS (2015) | Dialogando sobre a Carta da Terra para Crianças em uma Escola de Ensino Fundamental do Município de Barbalha-CE

June 1, 2017 | Autor: Maria Laís Leite | Categoria: Sustainable Development, Educação Infantil, Educação para a sustentabilidade
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Dialogando sobre a Carta da Terra para Crianças em uma Escola de Ensino Fundamental do Município de Barbalha-CE Môngolla Keyla Freitas de Abreu1 Magnollya Moreno de Araujo Lelis2 Maria Laís dos Santos Leite3 Veronica Salgueiro do Nascimento4 RESUMO Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de intervenção intitulada “Dialogando sobre a Carta da Terra para Crianças em uma Escola de Ensino Fundamental do Município de Barbalha-CE” realizada por estudantes do Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável junto à disciplina de Educação para a Sustentabilidade. A atuação de abordagem qualitativa e de cunho educativo buscou intervir em uma escola pública da zona rural, construindo uma metodologia de atuação para dialogar com crianças sobre as questões ambientais e colocar em prática conhecimentos construídos ao longo da disciplina Educação para a Sustentabilidade. Utilizou-se a pesquisa bibliográfica para construção desta pesquisa, a pesquisa-ação para a coleta de dados e a análise de conteúdo para analisar os dados. Neste trabalho estão descritas as atividades desenvolvidas na Escola de Ensino Fundamental Santa Luzia, uma escola pública municipal, situada na zona rural de Barbalha, localizada na região do Cariri Cearense. Durante a atuação foram realizadas atividades como a exposição dialogada dos princípios da Carta da Terra utilizando como recursos desenhos, músicas e vídeos e a produção de um desenho (coletivo) tendo como tema “o que aprendemos ao longo dos nossos diálogos sobre a Carta da Terra para Crianças?”. Por meio do planejamento e da realização das ações foi possível ampliar os conhecimentos acerca da Educação para a Sustentabilidade, tendo como foco a promoção da participação e diálogo com os participantes sobre as questões ambientais. Publicado no VII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (2015) Anais disponível em: http://anppas.org.br/novosite/index.php?p=viienanppas. Número ISBN: 978-85-64478-41-1 Grupo Temático 6: Sociedade, Ambiente e Educação.

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Mestranda em Desenvolvimento Regional Sustentável pela Universidade Federal do Cariri. Bolsista CAPES. Email: [email protected] 2 Mestranda em Desenvolvimento Regional Sustentável pela Universidade Federal do Cariri. Enfermeira pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Graduada em Saúde da Família pela URCA. Email: [email protected] 3 Mestranda em Desenvolvimento Regional Sustentável pela Universidade Federal do Cariri. Email: [email protected] 4 Professora do Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável da Universidade Federal do Cariri. Pós – Doc em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará. Email: [email protected]

1 Introdução Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de intervenção intitulada “Dialogando sobre a Carta da Terra para Crianças em uma Escola de Ensino Fundamental do Município de BarbalhaCE” realizada por estudantes do Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável junto à disciplina de Educação para a Sustentabilidade. A atuação de abordagem qualitativa e de cunho educativo realizada em uma escola pública da zona rural buscou construir uma metodologia de atuação para dialogar com crianças sobre as questões ambientais e colocar em prática conhecimentos construídos ao longo da disciplina Educação para a Sustentabilidade. As escolhas técnicas e metodológicas que utilizamos para a construção desta pesquisa foram para a coleta de dados: pesquisa bibliográfica, pesquisa-ação e para análise de dados: análise de conteúdo. Neste trabalho estão descritas as atividades desenvolvidas junto à Escola de Ensino Fundamental Santa Luzia, uma escola pública municipal, situada na zona rural de Barbalha, localizada na região do Cariri, Estado do Ceará. Durante a atuação foram realizadas distintas atividades, entre elas, a exposição dialogada dos princípios da Carta da Terra utilizando como recursos: desenhos, músicas e vídeos e a produção de um desenho (coletivo) tendo como tema “o que aprendemos ao longo dos nossos diálogos sobre a Carta da Terra para Crianças?”. Por meio do planejamento e da realização das ações foi possível ampliar os conhecimentos acerca da Educação para a sustentabilidade, tendo como foco destas ações a promoção da participação e diálogo com crianças sobre as questões ambientais.

2 Referencial Teórico 2.1 Educação e Participação Cidadã A Educação há muitos anos está sendo discutida como uma das formas de preparar o ser humano para estar presente efetivamente em uma sociedade participativa. Indicando que se necessita de uma educação transformadora, uma educação que contribua para promover as mudanças fundamentais exigidas pelos desafios da sustentabilidade, e esta deve levar a uma participação ativa na busca e aplicação de novos padrões de mudança e organização social (UNESCO, 2005). A participação cidadã é uma das formas de colaborar para que as transformações aconteçam, primordialmente por meio da educação. Segundo Muñoz (p. 9, 2004), “participação cidadã é sinônimo de partilha de decisões que afetam a própria vida do indivíduo e da comunidade”. Uma vez que o indivíduo é afetado ele também passa a ser conhecedor de tal realidade, podendo intervir com afetividade e sensatez diante da problemática que vier a se instaurar. Segundo Gadotti (2012), a educação pode ter um papel essencial neste processo se colocar questões filosóficas fundamentais, mas também se propuser este trabalho ao lado do

conhecimento, essa nossa capacidade de nos encantar com o universo, indicando a consciência de que o sentido das nossas vidas não está nem pode estar separado do sentido do próprio planeta. Uma vez que o homem percebe-se parte do todo, poderá sentir-se responsável pelas mudanças que almeja presenciar no universo. Porém, promover mudanças requer compromisso, e a primeira categoria para que um ser possa assumir um ato empenhado está em ser capaz de agir e refletir (FREIRE, 2003). E tal reflexão pode ser promovida por meio da educação que reconhece o meio no qual o processo ensino-aprendizagem acontece, reconhece em seu contexto. A Educação Contextualizada referenda o princípio político da valorização e articulação dos saberes; além da valorização dos espaços de aprendizagem, tais como o bairro, a comunidade. E esta é regida pela preocupação de não restringir os saberes e os conhecimentos apenas ao ambiente escolar, mas articulá-los com os saberes da vida, em suas diversas dimensões: afetiva, social, prática, estética, cultural (MENEZES; ARAÚJO, 2007). Tal proposta também é alvo da Pedagogia da Vida Cotidiana, a qual “trata de uma pedagogia que tenta provocar proposições utópicas, com base em uma atitude utópica, entendendo a utopia não como aquilo que não é possível, mas como o “inédito-viável” ”(MUÑOZ, 2004, p. 56, grifo do autor). A Educação voltada para o cotidiano do discente também é discussão da Ecopedagogia, uma pedagogia que promove a aprendizagem a partir do sentido das coisas da vida cotidiana (GUTIÉRREZ ; PRADO, 1998). Esta condição é possível, uma vez que o ser humano precisa ser capaz de, estando no mundo, saber-se como parte dele. Se a possibilidade de reflexão sobre si, sobre seu estar no mundo, associada de forma indissolúvel à sua ação sobre o mundo, não existe no ser, seu estar no mundo se reduz a um não poder ultrapassar os limites que lhe são impostos pelo próprio mundo, do que resulta que o ser humano em questão não é capaz de compromisso (FREIRE, 2003). Quando o sujeito percebe-se como parte do universo e assume o compromisso diante deste, a mudança pode acontecer. E conforme Freire (1999, p. 124), “as relações entre os homens, que não podem ser de dominação nem de transformação, como as anteriores, mas de sujeitos”, isto é, com sujeitos participativos, cidadãos atuantes, será possível promover a mudança na sociedade vigente e para as próximas gerações.

2.2 Educação para a Sustentabilidade A Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) é mais do que conhecimentos relacionados com a sociedade, o meio ambiente e a economia. A EDS deve direcionar metodologias para a aprendizagem de atitudes, perspectivas e valores que orientam e impulsionam os sujeitos a viverem mais sustentavelmente suas vidas. As crises presenciadas e provocadas pelos seres humanos no planeta mostram, todos os dias, que somos seres irresponsáveis. Educar para o Desenvolvimento Sustentável é educar para que o ser humano tome consciência dessa irresponsabilidade e busque superá-la (GADOTTI, 2012).

Esta discussão foi foco do documento Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), organizado e lançado em 2002 pelas Nações Unidas, cujos objetivos específicos são: facilitar os vínculos e as redes entre os ativistas que defendem a EDS; incrementar ensinoaprendizagem da EDS; colaborar com os países na implementação dos objetivos do Milênio por meio da Educação para o Desenvolvimento Sustentável; oferecer as nações novas oportunidades para incorporar a EDS nos esforços de reforma educacional (GADOTTI, 2012). Todas estes objetivos são propostos e discutidos ao longo do documento em questão, com o intuito de promover uma educação direcionada para as necessidades atuais, em especial de um desenvolvimento sustentável. A EDS não é limitada somente a questão da educação ambiental como na maior parcela das discussões é dado foco, por isso é importante ressaltar que a percepção sobre a construção de cidadãos ambientalizados pode levar a uma educação para o meio ambiente como sinônimo de bom comportamento ambiental. Sendo que o problema desta visão é que ela perde muito da sua condição transformadora quando limita a questão da sustentabilidade à esfera privada dos comportamentos ambientalmente certos de consciências individuais (CARVALHO, 2008). Segundo Baptista e Baptista (2005), a perspectiva da educação que se pretende construir, quando o processo escolar é colocado a serviço do desenvolvimento integrado e integral, é de uma escola que trabalha a realidade, constrói conhecimento a serviço do desenvolvimento, especialmente no campo, integra escola, família e comunidade nessa caminhada. Uma escola que acredita que todos são produtores de conhecimento e, consequentemente, sujeitos do processo educacional. O desenvolvimento sustentável que se almeja alcançar com uma educação transformadora, precisa ser “ambientalmente correto, socialmente justo, economicamente viável e culturalmente respeitoso das diferenças” (GADOTTI, 2012, p.57).

2.3 Carta da Terra para Crianças: uma prática de ensino-aprendizagem em prol da sustentabilidade A Carta da Terra constituiu-se numa declaração de princípios globais para orientar a questão do meio ambiente e do desenvolvimento. Ela inclui os princípios básicos que deverão reger o comportamento da economia e do meio ambiente, por parte dos povos e nações, para assegurar nosso futuro em comum. Para conseguir o desenvolvimento sustentável e melhor qualidade de vida para todos os povos, a Carta da Terra propõe que os Estados reduzam e eliminem padrões insustentáveis de produção e consumo e promovam políticas demográficas adequadas (GADOTTI, 2001). A Carta fornece um bom exemplo de uma visão integradora dos princípios necessários para a construção de um mundo justo, pacífico e sustentável (UNESCO, 2005). Atualmente, a discussão sobre a Carta da Terra está se constituindo um fator relevante para a construção da cidadania

planetária, pois qualquer pedagogia que não vivencie as temáticas e realidades da globalização e do movimento ambiental estará fora do contexto mundial. E assim vive-se a segunda globalização, retratada ao longo da Carta da Terra como um novo código de ética universal, e que deveria assim contribuir não apenas como orientação para os Estados sobre como fazer a diferença, mas, sobretudo, pelo impacto que seus princípios poderão ter no cotidiano do cidadão (GADOTTI, 2005). A Carta da Terra tem um grande potencial educativo ainda não suficientemente explorado, tanto na educação formal, quanto na não-formal, através de sua proposta de diálogo intertranscultural, pode contribuir na superação do conflito civilizatório que vivemos na atualidade (GADOTTI, 2012). Távora (2012), em seu estudo intitulado “Práticas e reflexões sobre a educação ambiental na escola pública” concluiu que trabalhar esse tema no contexto escolar estimula a conservação do meio através de práticas corretas e que a educação ambiental ressalta valores de amor e respeito à vida, propondo constantemente uma reflexão sobre a nossa postura perante as outras pessoas e ao nosso planeta. Assim, abordar a Carta da Terra para crianças justifica-se por acreditarmos que uma criança orientada e engajada possa ser um novo ator social, implicando em seus padrões de consumo e de comportamento.

3 Metodologia 3.1

Localização da pesquisa

O projeto Dialogando sobre a Carta da Terra para Crianças em uma Escola de Ensino Fundamental do Município de Barbalha-CE consiste em uma intervenção com abordagem qualitativa e de cunho educativo na Escola de Ensino Fundamental Santa Luzia, uma escola pública municipal, situada na zona rural de Barbalha, localizada na região do Cariri, Estado do Ceará.

3.2 Métodos Optando pela abordagem qualitativa, as escolhas técnicas e metodológicas que utilizamos para a construção desta pesquisa foram para a coleta de dados: pesquisa bibliográfica, pesquisa-ação e para análise de dados: análise de conteúdo.

3.2.1 Abordagem Qualitativa Fraser e Gondim (2004) afirmam que a abordagem qualitativa ou idiográfica surge como contraponto à abordagem nomotética que defende a quantificação e o controle das variáveis para que o conhecimento objetivo do mundo seja alcançado. O fundamento da abordagem nomotética está na crença de que o modelo das ciências naturais é pertinente para as ciências sociais e, em

sendo assim, estas deveriam aderir à proposição de que as leis gerais que regem os fenômenos do universo são necessárias e constantes. Caberia às ciências sociais, então, descobrir as leis gerais do comportamento e das ações humanas por meio da adoção dos procedimentos metodológicos das ciências naturais. O ponto de vista da abordagem qualitativa e compreensiva, no entanto, é o de que os modelos científicos das duas ciências são diferenciados dada a natureza distinta de seus objetos. A ação humana é intencional e reflexiva, cujo significado é apreendido a partir das razões e motivos dos atores sociais inseridos no contexto da ocorrência do fenômeno, o que não acontece com os objetos físicos, foco de análise das ciências naturais. Conhecer as razões e os motivos que dão sentido às aspirações, às crenças, aos valores e às atitudes dos homens em suas interações sociais é o mais importante para as ciências sociais (FRASER; GONDIM, 2004). Dilthey, autor de abordagem compreensiva, defendeu o método histórico-antropológico ao afirmar que os fenômenos humanos são apreendidos ao se integrar a representação, o sentimento e a vontade e inseri-los em uma perspectiva histórica (AMARAL, 1987). A abordagem qualitativa ou idiográfica parte da premissa de que a ação humana tem sempre um significado (subjetivo ou intersubjetivo) que não pode ser apreendido somente do ponto de vista quantitativo e objetivo (aqui entendido como independente do percebedor e do contexto da percepção). O significado subjetivo diz respeito ao que se passa na mente consciente ou inconsciente da pessoa (individualismo metodológico - o nível de análise é a pessoa) e o significado intersubjetivo se refere ao conjunto de regras e normas que favorecem o compartilhamento de crenças por grupos de pessoas inseridas em determinado contexto sóciocultural (holismo metodológico - o nível de análise é a estrutura e os sistemas) (FRASER; GONDIM, 2004).

3.2.2 Pesquisa-ação Optou-se pelo uso desta técnica pela necessidade de despertar para ações transformadoras a partir da autorreflexão coletiva nas áreas práticas e de investigação científica, atendendo aos objetivos propostos por esta pesquisa. Segundo Tripp (2005) pesquisa-ação é uma forma de investigaçãoação que utiliza técnicas de pesquisa consagradas para informar à ação que se decide tomar para melhorar a prática. O sociólogo canadense Dionne (2007) acrescenta afirmando que a “intervenção” e interação entre os pesquisados e pesquisadores envolvidos promovem ações que transformam uma situação inicial numa situação desejada. De acordo com Thiollent (1996) o objetivo da pesquisa-ação consiste em dar aos pesquisadores e grupos de participantes os meios de se tornarem capazes de responder com maior eficiência aos problemas da situação em que vivem, em particular sob forma de diretrizes de ação transformadora. No que concerne às fases da pesquisa-ação, seguimos as orientações de Tripp (2005), que afirma que o ciclo desse método investigativo se inicia com um reconhecimento que corresponde a uma

análise situacional que produz ampla visão do contexto, práticas atuais dos participantes e envolvidos. O autor assinala as seguintes etapas de planejamento, implementação, relatório de pesquisa e avaliação.

3.2.3 Análise de conteúdo Como método de análise de dados usar-se-á a análise de conteúdo, um conjunto de técnicas de investigação que através de uma descrição sistemática do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas comunicações (BARDIN, 2009 citado por CÂMARA, 2013). Para Bardin (2011), o termo análise de conteúdo designa: um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Godoy (1995) citado por Câmara (2013), afirma que a análise de conteúdo, segundo a perspectiva de Bardin, consiste em uma técnica metodológica que se pode aplicar em discursos diversos e a todas as formas de comunicação, seja qual for à natureza do seu suporte. Nessa análise, o pesquisador busca compreender as características, estruturas ou modelos que estão por trás dos fragmentos de mensagens tornados em consideração. O esforço do analista é, então, duplo: entender o sentido da comunicação, como se fosse o receptor normal, e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira.

4 Resultados e Discussões

As atividades foram planejadas no mês outubro de 2014 e deveriam acontecer em dois momentos. O primeiro momento seria para criar um vínculo com os pesquisados e conhecer a realidade em que vivem, no segundo apresentar-se-ia os princípios da Carta da Terra utilizando uma forma lúdica e dinâmica. O primeiro encontro do dia 28 de novembro de 2014 iniciou-se às 7 horas estendendose até às 9 horas, com a apresentação da proposta de forma sucinta para os alunos, seguida de uma dinâmica de apresentação do grupo. Na sequência foram mencionados exemplos do cotidiano onde foram indagadas suas opiniões sobre o assunto, envolvendo cuidados com outros seres vivos e com o ser humano, bem como sobre recursos naturais e seu uso de forma consciente. Ao longo das exposições e discussões os alunos foram participando e possibilitando a continuidade das propostas anteriormente pensadas. Deu-se continuidade a proposta solicitando que fosse elaborado um desenho individual com tema livre relacionado ao que foi discutido anteriormente. Finalizou-se com a apresentação e comentários sobre os desenhos.

No dia 02 de dezembro do mesmo ano às 7 horas da manhã teve início o segundo momento, onde foi desenvolvida uma exposição dialogada sobre os princípios da Carta da Terra, utilizando recursos didáticos variados, a fim de tornar a atividade mais dinâmica e didática, além de mais participativa. A etapa seguinte consistiu na produção de desenho coletivo tendo como tema “o que aprendemos ao longo dos nossos diálogos sobre a Carta da Terra para Crianças?” Logo após, o desenho foi apresentado sendo comentado pelos participantes (Figura 1). Às 11 horas a atividade foi finalizada com a entrega de um panfleto resumido e didático sobre os princípios da Carta da Terra.

Figura 1. Construção do desenho coletivo.

Observamos que foi de suma importância a divisão em dois encontros para que pudéssemos criar um vínculo com os alunos e compreendermos a realidade em que estão inseridos. Conforme Gadotti (2001), o Desenvolvimento Sustentável tem um componente educativo formidável: a preservação do meio ambiente depende de um processo de conscientização ecológica e a formação da consciência depende da educação, seja ela formal ou informal. Caso este que é abordado pela ecopedagogia, uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana. Através da ecopedagogia encontramos o sentido ao caminhar, vivenciando o contexto e o processo para abrir novos caminhos; não somente observando o caminho. Foi a partir das percepções da ecopedagogia que observamos a importância do desejo de falar, de participar e de contribuir, demostrado pela maioria dos alunos, sendo possível interagir com a turma e trazer historias cotidianas que vivenciam diariamente como a violência, o desmatamento, os maus tratos com seres humanos e animais, a poluição do ar, o uso irracional de água e despertar para a possibilidade de mudança. Mudança para um mundo melhor com harmonia, paz, amor, união, respeito pelos outros e pelo meio ambiente.

Os desenhos confirmaram o que havia sido posto através das falas, os discentes retrataram no desenho individual a visão que possuem sobre o mundo poluído e agressivo em que vivem atualmente, especialmente no bairro onde moram. Observamos que apesar da pouca idade, eles conseguiram identificar que males podem advir se essa realidade não for mudada e que a transformação pode partir de cada um. O desenho coletivo permitiu perceber alguns critérios importantes, como o respeito pelo outro, cuidado com o meio ambiente, a importância da separação correto do lixo, a promoção da paz e não da guerra, o uso correto da água e o cuidado com os animais. Tendo alguns desenhos que se destacaram, tal como um coração feito por uma discente que finalizou dizendo que com amor tudo se resolveria! Todas as observações e discussões feitas ao longo deste trabalho corroboram com os conceitos anteriormente estudados e agora vistos sob a ótica da práxis, em especial sobre a Educação para o Desenvolvimento Sustentável, a qual é mais do que uma base de conhecimentos interligados ao meio ambiente, a economia e a sociedade. A EDS deve ocupar-se da aprendizagem de práticas, perspectivas e valores que orientam e estimulam as pessoas a viverem de forma mais sustentável suas vidas (GADOTTI, 2012). Através do desenvolvimento das atividades buscamos o comprometimento dos alunos, pois conforme Freire (2003), é justamente esta capacidade de atuar, operar, de transformar a realidade de acordo com finalidades almejadas pelo homem, à qual está associada sua capacidade de refletir, que o faz um ser da práxis. Sobre a avaliação do desempenho do projeto, esta foi feita de forma contínua, desde o contato inicial até a finalização da pesquisa. Após a apresentação, análise e interpretação dos dados, percebemos que, através da participação dos alunos e da construção do desenho coletivo, eles sentem a necessidade de mudança de hábitos, práticas e atitude para que tenhamos um mundo melhor, onde se viva com mais amor ao próximo e ao meio ambiente.

5 Considerações Finais A Carta da Terra nos desafia a examinar nossos valores e a escolher um futuro melhor. Faz-nos um chamado para procurarmos um terreno comum em meio à diversidade a fim de obtermos visão ética compartilhada por uma quantidade crescente de pessoas em muitas nações e culturas ao redor do mundo. Diante disso, através dessa intervenção pedagógica e pesquisa, conseguimos discutir temáticas atuais sobre meio ambiente, práticas conscientes de consumo, cuidado e respeito com o outro e assim iniciar a reflexão sobre o mundo atual, bem como sobre o que precisamos realizar para alcançarmos uma vida mais sustentável. A participação dos alunos em cada etapa desenvolvida do projeto permitiu conhecer a realidade da comunidade escolar Santa Luzia, além de nos proporcionar reflexões sobre nossas próprias práticas enquanto docentes e discentes que somos. As informações compartilhadas pelos alunos ao serem relacionadas com os princípios da Carta da Terra tende a tornar a aprendizagem mais significativa, bem como aguçar competências e habilidades presentes em cada um dos envolvidos, para que a partir de um novo olhar sobre a comunidade possam exercer a cidadania planetária.

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