VII SEMINÁRIO BRAVOS COMPANHEIROS E FANTASMAS - MENSAGEM DE ABERTURA

May 31, 2017 | Autor: Orlando Albertino | Categoria: Literatura Brasileira Contemporânea, Literatura no ES
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VII SEMINÁRIO BRAVOS COMPANHEIROS E FANTASMAS MENSAGEM DE ABERTURA Orlando Lopes

Coordenador do Neples, Poeta, Professor do Departamento de Línguas e Letras da UFES, Pesquisador na área de Economia Criativa e Desenvolvimento Sustentável, Doutor em Literatura Comparada (UERJ)

Bom dia a todos. Hoje iniciamos a realização do VII Seminário Bravos Companheiros e Fantasmas. Promover a Literatura no ES, como todos os presentes certamente sabem por experiências próprias, não é apenas um trabalho árduo e persistente; é, também, algo labiríntico, muitas vezes apontando para descaminhos e becos sem saída. Somos, todos os que estamos neste auditório do CCHN/UFES e mais alguns dispersos pelo mundo afora, somos todos de alguma forma bravos, somos companheiros e – sim – somos espécies de fantasmas pairando diante das instituições culturais educacionais, das instituições políticas, das instituições empresariais, financeiras etc. Fato é que eles não conseguem viver conosco, mas também não conseguem existir sem nós, pois aquilo que fazemos, a Literatura de alguma forma ajuda a constituir a vida social e uma parte sensível de algo que podemos definir como uma “ecologia psíquica”. A vida social não pode prescindir da “Literatura”, o projeto de nossa civilização não pode abrir mão dela sem reconhecer uma falência “por princípio”; como quase nunca fica claro para que se quer ainda hoje preservá-la e permitir que também as pessoas comuns – os cidadãos “em geral” – possam ter acesso às suas formas plenas. Ela – a Literatura – pode exprimir tanto concepções revolucionárias quanto conservadoras, tanto concepções utópicas quanto distópicas, tanto idealistas quanto realistas. 1

Nosso trabalho – o trabalho com a Literatura – comete o grande pecado de não se poder reduzir completamente a uma mercadoria ou a um conjunto de mercadorias, bens e serviços que tradicionalmente se reconhecem no conjunto do mercado editorial e suas cadeias produtivas afins. Existimos fora da “lógica de mercado”, e isso cobra um preço que precisamos compreender melhor se pretendemos ser agentes operacionais e efetivos na vida literária do Estado do Espírito Santo. Se não pensamos “a partir da mercadoria” é a partir de quê que pensamos?

A Literatura não trata apenas de “escrever bem” e de “ler bem”. Ela trata de certos modos de ler e de escrever, e esses modos provocam, induzem, constituem perspectivas, ângulos, vetores... enfim, esse modo da Literatura estabelece – e se estabelece – como uma visão de mundo, como um conjunto de posicionamentos que localizam os indivíduos, os sujeitos, os grupos e as instituições que mais diretamente acionam e suportam a ocorrência do fenômeno literário. Nós que aqui estamos somos parte de uma das “encarnações” da Literatura. Nós somos os bravos companheiros e somos os fantasmas que a Literatura encontra aqui – ainda que tantas vezes seja ainda difícil definir esse “aqui”, um “aqui” que não remete apenas a um lugar físico, mas também e principalmente a lugares simbólicos e a infinitos lugares imaginários que se fundem e confundem desde a vida social até a vida cultural, e vice-versa. Nosso território não é apenas material, mas é também humano e social. Nós somos – aqui, ali e acolá – a encarnação daquela imagem dos “espíritos livres” que José Carlos Oliveira foi buscar no Humano, demasiado humano (1878) e que, exatamente pelo exercício da Liberdade, podemos tentar respeitar o que a Literatura é, merece e deve ser, e não aquilo que tanto nós quanto os outros queremos que ela seja por conta de interesses mais em torno de nós mesmos. O próprio Nietzsche não reconhecia em sua época, entre seus semelhantes, a existência dos “espíritos livres”, algo que ele certamente espera que seu “super-homem” seja capaz de, futuramente, concretizar. Não se trata, é claro, de “um”, “o” superhomem, mas de diversos, variados, múltiplos superhomens:

(...) que um dia poderão existir tais espíritos livres, que a nossa Europa terá esses colegas ágeis e audazes entre seus filhos de amanhã, em carne e osso e palpáveis, e não apenas, como para mim, em forma de espectros e sombras de um Eremita: disso serei o último a duvidar. Já os vejo que aparecem, gradual e lentamente; e talvez eu contribua 2

para apressar sua vinda, se descrever de antemão sob que fados os vejo nascer, por quais caminhos aparecer. (Nietzsche, Prólogo ao Humano demasiado humano, 1878.) Nietzsche, esse filósofo que volta a ser capaz de pensar que a realidade também pode produzir-se a partir das ficções, Nietzsche acredita que os “espíritos livres” poderão ser ao menos em alguns casos “altos e seletos” (o que não se pode mais confundir com elitizados...), espíritos reverentes, reservados e delicados “frente ao que é digno e venerado desde muito, a gratidão pelo solo do qual vieram, pela mão que os guiou, pelo santuário onde aprenderam a adorar” (Nietzsche, HDH). É claro, ter o “espírito livre” não significa automaticamente haja um “corpo livre” para materializá-lo como ação e como efeito prático. Essa questão nos faz retornar ao Neples e ao seu significado no contexto em que a Universidade se atravessa com a Literatura, num contexto em que os corpos estão sempre a um passo de se libertar e de se comprometer: com a próxima aula, com o próximo curso, com o próximo evento, com o próximo artigo, com o próximo poema, com o próximo amigo, com o próximo amor, com o próximo boteco, com o próximo..., com o próximo..., com o próximo. É de proximidades que se faz a vida numa comunidade, qualquer comunidade, e nós acadêmicos, nós literatos não haveríamos de ser diferentes. Entre nós, o tempo, o compromisso, o trabalho, precisam de direções, objetivos, finalidades, não para nos prender mas para nos alinhar, para nos integrar e para nos garantir as condições materiais, simbólicas e imaginárias necessárias, desejadas e queridas, antes de qualquer outra coisa, por nós mesmos. O Neples surgiu de uma demanda acadêmica, pois o Departamento de Letras da Ufes naturalmente respondia, nas medidas de seu possível, aos apelos por órgãos da academia que pudessem acompanhar a vida literária local. Era preciso manter próximos e em diálogo os acadêmicos (pesquisadores, estudiosos, críticos, editores, difusores etc.), e o núcleo surgiu dessa preocupação, dessa urgência que impele todo o movimento do ensino superior no século XX, embora pareça muitas vezes termos a consciência nem a dimensão de suas origens e de suas implicações para as diversas manifestações históricas da Literatura, seja em seu aspecto mais propriamente “cultural”, seja como aspecto formativo, educacional, curricular. 3

Pessoalmente, conto com a memória de uma graduação e mestrado cursados nos anos 1990, quando a Constituinte já estava valendo, o muro de Berlim já havia caído, Collor já havia feito a sua bandalheira e o sucateamento da máquina pública passou a ser deliberado, nunca se sabe bem se em nome de uma mera reprodução do ideário neoliberalista ou se de uma conspiração mais ardilosa, porque ainda mais perversa, que é aquela pela qual as elites brasileiras insistem em investir num modo de produção que, para reproduzir posições de classe insiste numa rede no mínimo obsoleta, imoral, de acesso a privilégios e à exploração dos recursos (humanos, materiais e financeiros) disponíveis. É nesse contexto, o dos escombros e ruínas dos projetos de nacionalidade e de democratização que o Neples surgiu. Nunca pude aprofundar a memória da vida literária no DLL nos anos 1980, 1970 e antes, porque o que me interessava era a contemporaneidade, que vi esvaziar-se, sucatear-se, sufocar-se de uma forma progressivamente rotineira, naturalizando-se praticamente em todas as esferas do poder público... Mas, enfim, não devemos ir tão longe – a “política real” urge outras pulsões, outras pautas, que não cabem ainda nesta mensagem de abertura. Deixemos que ela retorne em momento mais oportuno. Assim, retomemos. Houve o surgimento do Neples porque houve o surgimento do PPGL, e houve o surgimento do PPGL por conta do engajamento de professores que hoje seriam identificados como um tipo muito específico de nerds, mas que Nietzsche, e Carlos Oliveira, souberam intuir e antecipar e que nós aqui continuamos, prolongamos, mesmo que não tenhamos plena consciência do fato.

Quando discutimos sobre a extensão das homenagens a serem feitas daqui para a frente nas atividades do Neples, o nome imediato a surgir foi o de Reinaldo Santos Neves. Reinaldo, na sua tão característica tranquilidade intranquila, mandou um telegrama corrigindo que se havia de ter alguma homenagem à sua figura, era bom que se lembrasse que ele não fez nada sozinho. Se fosse para invocar um bravo companheiro, era melhor e justo que se mencionasse um coletivo, um plural. Por exemplo, quem iniciou o Neples como locus acadêmico foi o professor Francisco Aurélio um de nossos conferencistas convidados e desde então pesquisador de referência na área de estudos literários identificados com o Espírito Santo. Em meio ao caos crescente, professores como Francisco Aurélio, Santinho Ferreira, Geraldo Matos, Ester Abreu, Maria Thereza Ceotto, entre outros, mantinham vivo o interesse pela compreensão sobre como a Literatura acontece entre nós. 4

Decidimo-nos por uma homenagem ao Reinaldo em função de sua recente aposentadoria. Ela foi proposta pelo professor Wilberth Salgueiro, e pensar nela no contexto de inovação que estamos nos esforçando para trazer ao Neples é realmente provocativo. Reinaldo parece encarnar como poucos a figura do “espírito livre”, reverente à Literatura sem ser formal, reservado no ambiente constituído pela Universidade e pelo Neples, e delicado – ou melhor humano, demasiado humano. Um escritor, um autor antes, muito antes de ser um acadêmico; e um tradutor, e um crítico, e um editor, e um divulgador, e um apreciador. E mais um monte de coisa que eu não faço a mínima ideia, obviamente.

Homenagear Reinaldo é também uma forma de compreender o legado que ele ajudou a constituir para o Neples e para a Ufes, um acervo de publicações que reúne e provoca a maior parte da pesquisa que se faz sobre o que se escreve no território do Espírito Santo. Pode parecer pouco quando se pensa na responsabilidade da Universidade e do poder público em relação à política cultural e educacional, mas considerar o trabalho a partir de seu progressivo acúmulo lhe dá outra dimensão, uma dimensão que tentaremos cada vez mais alcançar e amplificar. Além de estudos específicos, da reunião e/ou localização de originais e fontes primárias, da promoção do Seminário Bravos Companheiros, o período em que o Neples foi conduzido por Reinaldo, sempre com o apoio e o envolvimento do PPGL, manteve sempre uma janela de resistência e uma cabeça erguida que só os “espíritos livres” conseguem manter, mesmo quando o navio está prestes a afundar ou quando, perdendo os motores, passa a navegar em deriva, ao sabor das marés e humores do Oceano e das Luas. Mais que fazer uma relação de vênias, tão merecidas, a Reinaldo, passamos a avaliar a possibilidade de recuperação, de circulação, de conservação desse legado, e uma revisão do próprio estatuto do Neples, que espremido pelos rolos compressores do sucateamento não previu sua aposentadoria nem a entrada de novos escritores residentes como “coringas” na vida ativa do núcleo. Como resultado, as atividades do núcleo foram reduzidas e por um tempo paralisadas, ainda que tenhamos contado com a disposição dos professores Paulo Roberto Sodré e Wilberth Salgueiro, que se mantiveram – como bons e bravos companheiros – à disposição do núcleo mesmo tendo suas próprias prioridades e encargos já bastante dilatados.

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Tendo assumido interinamente a coordenação do Neples, em 2014, passei a analisar e a considerar o que poderíamos tomar como pontos fortes e como pontos fracos do Núcleo, para além daqueles que se mostravam mais imediatamente, como a necessidade de pessoal regular para cumprir o expediente administrativo (servidores e/ou bolsistas). Era preciso chegar a uma proposta que atualizasse o perfil de funcionamento do Neples, seu contexto, sua presença institucional etc. Aos poucos, foi possível compreender melhor a dinâmica e a inserção, os bloqueios e as dificuldades, as condições de uma época e as condições de outra.

Em síntese, acabamos compreendendo que era preciso complementar o Neples e retomar tanto sua constituição acadêmica quanto cultural. Para ter um nova constituição acadêmica, a questão se concentra em ter mais pesquisadores, professores e estudantes universitários executando planos de trabalho; para uma nova constituição cultural, a questão passa a ser a do acionamento daqueles grupos que efetivamente tornam viva a prática cultural como elemento da vida social e econômica: autores, editores, livreiros, professores numa espécie de linha de frente, secundada por grupos mais difusos, menos nítidos, daqueles que podem ser “convocados” a participar como correspondentes que ajudem a monitorar, a acompanhar e a interagir com as cenas literárias que, mesmo tímidas e frágeis, acontecem em todo o Estado e que podem – devem – alimentar e alimentar-se, fortalecer-se, qualificar-se para atingir uma produção relevante e efetiva, tanto no diálogo com o desenvolvimento da Literatura como prática cultural em escala de civilização quanto na capacidade de resposta que ela tem a dar aos nossos enigmas ideológicos, estéticos, históricos etc. Nesse sentido, a pretensão é que este VII Seminário Bravos Companheiros e Fantasmas funcione como o início de uma passagem do conceito de “seminário” para o de “circuito”, indo da ideia de um evento pontual para a de um calendário permanente e também itinerante para projetar obras, temas e autores junto aos leitores, para provocar o contato e a interação entre autores, entre editores, entre livreiros, entre críticos e outros agente que podem interferir sensivelmente na circulação do livro e no acionamento da leitura literária em todo o Estado.

Assim, esperamos que nestes dias de seminário alguns encontros aconteçam, que uma agenda comece a se definir a partir da formalização de planos de trabalho de antigos e de novos participantes do Neples, não somente os acadêmicos de carreira mas, no limite, de quaisquer agentes envolvidos com a preocupação com o resgate, a conservação e a divulgação de elementos da vida literária no passado e no presente, em nosso sistema e campos culturais. A título 6

de ilustração, destacaremos algumas ações que esperamos afirmar e multiplicar como um catálogo disponível para as instituições afins, parceiros e apoiadores:

 Maior presença no DLL o Captação de acadêmicos para projetos de pesquisa e extensão  Qualificação editorial (editoria acadêmica e literária)  Laboratórios de crítica  Laboratórios de poética  Minicursos  Ampliação na rede de contato com escritores e demais agentes da cadeia editorial  Maior contato e interação com as academias literárias o Cursos o Participação em eventos o Validação de estudos e pesquisas  Maior contato com secretarias de cultura e de educação interessadas em ampliar seu catálogo de ações no campo da Literatura o Validar palestras, cursos, oficinas e afins oferecidos por membros como atividades de Formação Continuada para professores e servidores públicos o Estimular e ajudar a viabilizar a realização de concursos literários o Auxiliar na circulação e divulgação de autores e obras publicadas com apoio público (a partir do interesse dos membros do Neples)  Maior proximidade com a rede IFES o Rede de NACs / Projeto CRIA / Sec. de Cultura / Proex  Saraus  Lançamentos de Livros  Conversas com escritores  Formação editorial (acadêmica e literária) o Cursos de Letras  Vitória  Venda Nova do Imigrante  Prof Letras  EAD  Maior contato com a BPES e a rede de bibliotecas municipais o Ciclos de palestras o Cursos e minicursos 7

o Oficinas de criação literária o Formações editoriais (acadêmicas e literárias)  Maior presença e participação na Biblioteca Central da UFES e rede universitária de bibliotecas da Ufes e do IFES o Divulgação de catálogos de editoras do ES (obras, cartazes, resenhas etc.) em displays e/ou espaços estratégicos o Circuito de atividades com escritores o Circulação de mostras e painéis informativos  Ampliação nas parcerias e ações conjuntas com o Academias literárias  Ael  Afesl  ALVV o Editoras  Edufes  Editora do Ifes  Editoras independentes o Outros cursos de Letras em Vitória e no interior o Outros cursos afins  Comunicação  Direito  História  Maior proximidade com os professores de redes públicas de ensino, considerando sua potencial o disponilidade para a entrada em estudos de pós-graduação, o realização da difusão de autores a partir de formações continuadas de curta duração o perspectiva de estímulo ao surgimento de novos autores e estudiosos de Literatura em seus ambientes de ensino. Essa lista não está completa, mas acreditamos que seja suficiente para ilustrar a lógica da abordagem proposta, que é a de aproveitar e integrar instituições, recursos e pessoas que possam, no limite de suas responsabilidades e interesses, assumir e praticar a Literatura, seja de forma esporádica ou permanente, como parte de seu cotidiano de trabalho ou como momento de esquecer dele.

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Enfim, e para terminar esta já tão longa nota, encerramos mencionando algumas ações efetivas que se encontram em processo de desenvolvimento:

 Pesquisa o Campanha de adesão e mapeamento de estudiosos da Literatura do ES, não restritos ao contexto da UFES o Agendamento de tópicos de pesquisa ligados à compreensão da cadeia editorial do livro por vieses alternativos aos já estabelecidos, em princípio com ênfase numa compreensão antropológica da prática e da produção literária o Retomada e aprofundamento dos limites temáticos para a pesquisa no Neples, mantendo os estudos de textos e de autores, mas buscando retomar contato com subáreas como a Poética, a Sociologia da Literatura, os estudos de Recepção, a Crítica etc.  Extensão o Desenvolvimento de um catálogo de atividades compatível com a Extensão:  Cursos de pequena e média duração (de um dia até um mês), com CH de 04 a 60h.  Oficinas e Laboratórios de Criação Literária, processos editoriais, metodologias de estímulo à leitura etc.  Clubes de Leitura contemplando autores e temas afins às questões identitárias provocadas por termos como “Espírito Santo”, “Capixaba” etc. o Circuito Literário Bravos Companheiros  nas bibliotecas dos campi da UFES e do IFES  nos espaços culturais do Centro de Vitória  Casa de Stael  Projeto Odomodê  em faculdades e instituições interessadas em difundir e promover a Literatura no ES  Norte do ES  Guarapari  Cachoeiro

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 Publicações o Definição de metas editoriais em parceria com a Edufes e a Edifes  Coedições  Divulgação de catálogos  Realização de eventos o Livros Bravos Companheiros VI e VII o Reedições críticas de livros  Bravos Companheiros e Fantasmas, de José Carlos Oliveira  Obra de Lacy Ribeiro  Obra de Fernando Tatagiba  Antologia de Literatura Contemporânea no ES (Poesia, Prosa, Teatro)  Série de publicações para difusão de autores em escolas e faculdades, para difusão em formatos populares e tiragens sob demanda  Proposta de Tradução pelo Observatório de Tradução da Ufes como forma de estímulo à participação de autores do ES em eventos e circuitos literários no exterior o Aproveitamento da produção intelectual validada pelo Neples (pesquisas reconhecidas, publicações, apresentações etc.) como subsídio para formações continuadas e de seus membros como instrutores, oficineiros e afins. A lista é longa, e a arte não é breve. Voltemos ao Seminário, e avancemos pelos trabalhos que fazem a radiografia da preocupação intelectual com o acontecimento da Literatura no ES. Tenhamos a memória de José Carlos Oliveira como um de nossos grandes bravos companheiros e como um de nossos fantasmas, uma das formas enigmáticas pelas quais podemos nos reconhecer, nós, os capixabas. Carlinhos será tema de uma série de conferências e de comunicações. Ele, tal como previu Nietzsche, talvez possa nos sinalizar o desvendamento do grande “livramento”:

Se ele, por tanto tempo, mal ousou perguntar: "por que tão à parte? tão só? renunciando a tudo o que eu venerava ? renunciando à própria veneração? por que essa dureza, 10

essa premonição, esse ódio a minhas próprias virtudes ? " - agora ele ousa e pergunta e voz alta e já ouve também algo como resposta. "Devis tornar-te senhor sobre ti, senhor também sobre tuas próprias virtudes. Antes eram elas teus senhores; mas só podem ser teus instrumentos ao lado de outros instrumentos. Devias obter poder sobre teus prós e contras e aprender a entendê-los, a desprendê-los e tornar a prendê-los conforme teus fins superiores. (Nietzsche, HDH, p. 67)

O Carlinhos – o nosso Carlinhos – era um mestre em reconhecer a relatividade de praticamente qualquer valor e, “espírito livre”, demorou a se perguntar “por que tão à parte? tão só?” Um homem sem deuses miraculosos, alguém que desconfiava de suas próprias virtudes e que até certo ponto deixou-se dominar por elas até entender seus limites, até compreender o que tinha de bom e de ruim e revirá-los pelo avesso, até encontrar uma nova e mais adequada finalidade. Um cronista que não se permitia a ingenuidade de ignorar a presença da desigualdade na vida, a vida prática, não como um mal mas como um fato. E, vendo com os próprios olhos onde a injustiça era maior – “ou seja, ali onde a vida está desenvolvida ao mínimo, mais estreito, mais carente, mais incipiente” (NIETZSCHE, HDH, p. 67) até entender como esse incipiente se pode tornar “fim e medida” até o ponto de dissolver e neutralizar “o superior, maior, mais rico”, e pô-lo em questão, estabelecendo outras ordens, outras perspectivas, outras permissões, outros limites. Nós, neste canto do campo histórico, acolhemos Carlos Oliveira, assim como saudamos Reinaldo Santos Neves, esses dois espíritos livres que se permitiram alcançar respostas próprias ao enigma da liberdade e que não negaram o acesso a essa possibilidade de resposta a outros, aos demais. Eles, junto com Nietzsche, nos dão um horizonte em que a ideia de “gestação” é poderosa e já nem tão misteriosa assim, já não mais uma “gravidez insconsciente”, mascarada, para permitir aqueles “estados mais múltiplos e contraditórios de indigência e de felicidade na alma e no corpo (...) penetrando por toda a parte, quase sem medo, não desdenhando nada, degustando tudo, tudo purificando e como que peneirando do acaso”(Nietzsche, HDH, p. 68), e, finalmente, revelando-nos nossos efetivos problemas. Seguiremos, buscando localizar o lugar – os lugares – ao qual o Neples pertence (ou está inserido). E tentaremos seguir na escuta para compreender o tom a que mais adequadamente corresponde a voz capixaba quando tornada literária. Este é um núcleo capixaba, e tenta encontrar seus bravos companheiros em um território que mesmo parecendo pequeno é vasto em terras e povos; e é preciso 11

que o façamos ser melhor ouvido exatamente em casa, que ele corresponda às expectativas daqueles que são nossos autores, textos e leitores, e que estes se permitam o desafio de ser vistos, pensados e valorados. Um bom Seminário, e boas conversas para todos nós.

FIM

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: a Literatura é um dos modos de formar e de informar os cidadãos, de

Seguindo o roteiro e a agenda ampla de fixação do projeto nacional e de seu cânone como base para os currículos (e – em tese – como base para os parâmetros editoriais das editoras livres e dos seus veículos difusores, como as antologias, as revistas culturais, programas e conteúdos audiovisuais etc., algo que lhe confere um valor potencial praticamente inexplorado entre nós).

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