Vila Palma - Uma Vila Operária em Ambiente Rural

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Vila Palma Uma Vila Operária em Ambiente Rural

João Castela Cravo Grupo de Investigação em Teoria, História e Pensamento Interdisciplinar Contemporâneo Centro de Investigação em Território, Arquitectura e Design Universidades Lusíada

Em trabalho recente (Cravo, 2013) fez-se referência a vários conjuntos de habitação operária1 no Eixo Venda Nova-Amadora2 (entre as Portas de Benfica e a Estrada Velha de Queluz3). Estes conjuntos estão ligados a diversos factores e integram-se em fenómenos de rurbanização e de suburbanização (v. Cravo, 2014, pp.62-63) e resultantes de uma mudança do paradigma económico da região4. Embora em finais do século XIX e inícios do XX, uma larga maioria da população ainda permaneça ligada à agricultura, no espaço compreendido entre as Portas de Benfica e a Porcalhota, tanto a jusante como a montante vão-se instalando industrias5 e outas actividades começam a se impor – serviços e construção civil, por exemplo. Ao longo de algumas vias, em especial da Estrada Real, “(…) os muros enramados de quintas (…)” (Queiroz, s.d., p.220) vão dando lugar a habitações, normalmente simples, que se intercalam com as mais ou menos áulicas construções referidas e outros “(…) casarões tristonhos (…)” (id. Queiroz, s.d., pp.220). Uma cada vez maior pressão demográfica, a especulação urbanística e a necessidade de alguns pequenos capitalistas investirem alguns cabedais6, provocam os fenómenos intersticiais dos Bairros, Pátios e Vilas, referidos no trabalho já mencionado (Cravo, 2013), próximos da realidade mais urbana de Lisboa (v. 1

Ou habitação para populações de fracos recursos. Um eixo de desenvolvimento económico da actual cidade da Amadora (v. Cravo, 2013, p.116). 3 Podemos referir como o primeiro desses conjuntos (no actual concelho da Amadora e reportando-nos ao sentido Lisboa-Amadora), o Bairro das Fontainhas, junto às Portas de Benfica e o Bairro Ferreira do Amaral, já integrando este, hoje, o centro da cidade, na Rua Gonçalves Ramos, perto da Estrada Velha de Queluz. 4 V. Miranda, 2004. 5 Caso das Fábricas de Francisco Grandella e Simões em Benfica, ou a Fábrica Santos Mattos no Alto do Maduro (Cravo, 2013, p.117). 6 Por exemplo, anteriores pequenos industriais de panificação da região (v. Miranda, 2004), caso de Zenaide Gomes Chambel (Bairro das Fontainhas) ou Jacinto Gonçalves (Pátio do Jacinto e Casas do Bairro das Cruzes) (Cravo, 2013, p.121). 2

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Cravo & Folgado, 2014), embora com variações de caso, até pela área em que se insere. Elencando, sem preocupações de exaustividade – Bairro das Fontainhas, Pátio do Jacinto, Pátio do Jacinto, Vila Florinda, Vila Maria Emília, Vila Martelo, Bairro Ferreira do Amaral – são fenómenos que correspondem ou ao carácter intersticial ou às preocupações higienistas7 e eventualmente filantrópicas (v. Cravo & Folgado, 2014, pp.398-399) ou à tentativa de controlo do patronato.

Um caso curioso (e fora deste eixo viário e de desenvolvimento económico e urbano) é o de Vila Palma. É uma pequena Vila arruada, composta por duas unidades habitacionais8 e construída, ao contrário do usual, isolada, longe de qualquer estrada, no alto de um monte e de difícil acesso. Hoje, quase absorvida por uma urbanização, Vila Palma fica no Monte da Galega, na crista entre o antigo casal de S. Brás e a Quinta da Bolacha, junto à Falagueira de Cima e perto do Moinho do Castelinho. Durante anos, o único caminho de acesso, de terra batida, era precisamente pela Falagueira de Cima, junto à Quinta da Bolacha, no arranque do estradão, também em terra batida, que passava entre a Fábrica do Ossos e a Fonte dos Lagartos em direcção à Brandoa e à Serra do Marco.

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Estas preocupações higienistas aparecem pelo menos no caso da Vila Martelo, na Porcalhota. Hoje já com algumas construções frustes adossadas.

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Através de uma observação dos materiais e técnicas construtivas utilizadas, Vila Palma remete para uma data mais tardia, relativamente às unidades aqui elencadas. A minha proposta, à falta de referências bibliográficas e documentais9 é fazer corresponder este conjunto ao á fase de crescimento do Parque Industrial da Venda Nova e a uma intenção de um pequeno promotor de aproveitar a grande necessidade de habitação operária. No fundo é um fenómeno correspondente à pressão urbanística que a Venda Nova “Velha” e outros locais da zona estavam a sentir e que, mais tarde, levam aos fenómenos de desordenamento e construção clandestina da Brandoa ou da Quinta da Lage10.

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Não há praticamente referências a Vila Palma, a não ser Alves Silva (2006) que refere o topónimo, apenas. O mesmo autor (Silva, 2005 e Silva, 2009), ao referir-se ao Monte da Galega não menciona Vila Palma. 10 De referir que os moinhos da crista da Galega, foram também aproveitados (alguns ainda o serão) para habitação desclassificada.

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Embora sem uma correspondência à relativa canonicidade das vilas (em termos de integração), constitutivamente Vila Palma estará próxima da Vila martelo, por exemplo. Sendo esta posterior a 1929, é possível que a Palma seja ainda dos anos 30 ou 40.

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Referências

Cravo, João Castela & Madalena Folgado, 2014, “CV: Cidade Vazia ou Cidade Vadia?”. In Mátria Digital, nº 2, Nov. 2014-Out. 2015, pp. 393-416. [em linha] [consult 06 de Novembro 2014]. Disponível em http://matriadigital.cmsantarem.pt/images/numero2/joaocravo.pdf Cravo, João Castela, 2013. “A Habitação Operária na Amadora – O Caso do Eixo Venda NovaPorcalhota”. In De Pé sobre a Terra – Estudos sobre a Industria, o Trabalho e o Movimento Operário em Portugal. Lisboa: IHC/UPP/IS, pp. 115-124. [em linha] [consult 18 de Novembro 2015]. Disponível em http://hdl.handle.net/10362/11192

Cravo, João Castela, 2014, “A Construção da Amadora-Ideia no Primeiro Quartel do século XX”, in Vértice, Out./Nov./Dez., pp. 60-66 Miranda, Jorge Augusto, 2004. “Cintura Moageira Pré-Industrial de Lisboa – Breve Caracterização. In Arqa Património em Revista, nº 1 Maio, pp. 6-15 Queiroz, Eça de, s.d.. Os Maias. Lisboa: Livros do Brasil Silva, Alves, 2005. Monte da Galega – Razão do Nome. In Jornal da Amadora, 17 de Março Silva, Alves, 2006. Vila Florinda. In Jornal da Amadora, 20 de Julho Silva, Alves, 2009. Monte e Moinho da Galega. In Jornal da Amadora, 31 de Dezembro

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