Vila Sustentável São Luis
Descrição do Produto
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA BAIXADA FLUMINENSE AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA ECOLOGIA POLÍTICA Prof. Luis Henrique Camargo Tadeu Lima de Souza 2015.1.03588.11
É possível discernir sobre a realidade? Ou seja, o que é a realidade? É possível desenvolver um questionamento das políticas ecológicas baseado na crítica a percepção do real? Justifique. Pensar as políticas ecológicas é pensar na manutenção da vida na Terra. Vivemos no único planeta que sabemos reunir as condições necessárias para a existência humana, que diga-‐se de passagem é uma existência muito recente. É levando em conta a fragilidade da nossa presença neste mundo que devemos construir nosso modelo de desenvolvimento. As políticas ecológicas devem pautar também o presente, não ficando apenas no aspecto do “futuro”, elas devem responder às necessidades da nossa geração, mas sem comprometer às necessidades das próximas ou mesmo de outros seres que aqui vivem, ocupando-‐se assim, não só da preservação da vida humana, mas toda diversidade do planeta. A provocação ontológica contida nesta questão faz algum tempo me acompanha. A Ciência Moderna, de Descartes em diante, tem se ocupado em explicar a realidade fragmentando-‐a, afirmando que o real existe, podemos alcançá-‐ lo, sendo algo dado e externo. No entanto, do meu ponto de vista, a realidade não é compatível com o paradigma cartesiano. Ela extrapola as partes. Está além de aparências observáveis, sendo algo que nos chega mediado pelos sentidos. Mas, como pensar sobre a realidade que nos atravessa a existência e agir na totalidade, quando os braços e palavras só alcançam a parte?
A partir dos últimos congressos mundiais de meio ambiente planeje um bairro sustentável. Confesso que fiz uma leitura superficial sobre as propostas apresentadas e compromissos assumidos pelos países representados nos congressos mundiais sobre temas do desenvolvimento sustentável, mas o fato destes estarem desde as décadas de 1970/1980 debatendo sobre o assunto e ainda hoje casos como o que ocorreu semana passada, do rompimento da barragem da mineradora da VALE, é o que me levam a crer que – por diversos aspectos que não tenho ainda condições de aprofundar – será a passos muito lentos que tais congressos produzirão impactos positivos no modo como nossa sociedade se relaciona com o ambiente. A fome, a pobreza e escassez/concentração de recursos acabam sendo debatidos como problemas isolados, quando deveriam ser interpretados numa perspectiva rizomática. Numa busca por referências para o exercício proposto, encontrei na internet algumas informações sobre novos bairros e condomínios que estão sendo projetados e construídos utilizando conceitos “sustentáveis”, mas nesta primeira pesquisa não encontrei referencias de bairros já instalados que tenham sido inteiramente transformados em bairros sustentáveis. Minha imaginação me leva a crer que não será possível construir tantos novos bairros quanto seja necessário para que toda população passe a viver produzindo menos impacto. Dai, o primeiro desafio que me impus neste exercício foi de pensar a adaptação de um bairro que já exista, fazendo um movimento criativo de pensar/sugerir soluções que melhorem o aproveitamento dos recursos, reduzam o impacto no ambiente e provoquem mudanças a partir de um conjunto de pequenas novas práticas de produção e consumo numa determinada região. Resolvi imaginar a “Vila Sustentável São Luiz”. Apesar de eu ter ideias para isso, seria fundamental começar esse planejamento do bairro ouvindo as pessoas que moram nele, mobilizando e comprometendo a comunidade com tais transformações. Pesquisas de campo, ações de mobilização, grupos de trabalho podem ser realizados buscando o máximo de participação de moradores e outras pessoas que circulam pelo bairro (trabalhadores, estudantes, comerciantes, entre
outros) a fim de entender como as pessoas pensam seu protagonismo nessa mudança para um padrão sustentável e traçar estratégias para alcançar os objetivos planejados em conjunto.
Um aspecto importante no conceito de bairros sustentáveis é que este
ofereça ao morador possibilidades de atender todas as suas necessidades mais básicas. Dividirei tais necessidades em alguns “eixos”.
O bairro da Vila São Luiz está localizado no primeiro distrito do município de
Duque de Caxias com acesso à rodovia Washington Luiz e no lado oposto a linha férrea e a estação de trem do corte 8. Está próximo de um importante hospital; de um grande shopping da região e há cerca de 10min do centro da cidade. De acordo com o censo IBGE 2010 cerca de 30mil pessoas vivem no bairro, que possui alguns galpões de logística, diversas empresas de serviços, posto de saúde, escolas de rede
municipal, estadual e particulares, além da oferta de cursos superiores da área da Educação numa instituição pública de ensino (FEBF-‐Uerj). No “Eixo Mobilidade”, penso que a implantação de ciclovia ligando alguns pontos estratégicos ajudaria no deslocamento dentro do bairro, favorecendo a economia local. Pode-‐se ligar a estação de trem do Corte 8 ao hospital Moacyr do Carmo passando pela rua 14 de julho, e o viaduto do Centenário ao Carrefour, com entroncamentos na Praça da Apoteose e no final da rua Dr. Laureano. Mas, a população tem bicicletas? Sabe andar? Existe público para um negócio local de aluguel de bicicletas? Como empreender/encubar essa ideia? As praças, escolas, academias de ginástica, supermercados, possuem bicicletários? Poderiam construí-‐ los? Outro aspecto da mobilidade que precisa ser observado é que o bairro possui atualmente pouco espaço para circulação das pessoas, privilegiando a circulação de carros e ônibus além de calçadas em desnível e obstruídas (inclusive com lixo, como na porta da FEBF). Construir com a comunidade soluções para estes problemas. Pode-‐se arborizar algumas ruas e abri-‐las exclusivamente para de pedestres? Quais ruas? É possível alterar o itinerários de linhas de ônibus? Quais? Organizar as áreas para estacionamento? Com relação ao “Eixo Água e Energia”, pode-‐se avaliar a possibilidade de instalar placas de captação de energia eletro voltaica em todos os prédios públicos do bairro, bem como substituir a iluminação dos postes por iluminação de LED e alimentadas também por energia solar. Além disso, a população pode buscar caminhos para subsidiar a instalação de captação de energia solar residencial. O mesmo pode ocorrer com relação à instalação de tecnologias de captação de água da chuva e sistemas de reuso de água nos prédios públicos, industrias e residências. Talvez caiba também um trabalho de conscientização e informação junto aos moradores para o uso consciente destes recursos. Com relação a “Origem e qualidade dos alimentos” a FEBF-‐Uerj pode realizar atividades de sensibilização para criação de hortas domésticas. Os moradores podem identificar áreas do bairro para a criação de hortas comunitárias em terrenos vazios ou telhados do bairro. As sextas-‐feiras acontece uma feira próximo a praça da Apoteose. Seria interessante que uma parte da feira fosse ocupada com produtos
orgânicos produzidos por pequenos agricultores da região (Xerém, Nova Iguaçu, Magé...). Cursos podem ser oferecidos para criação e ensino de receitas usando o máximo dos alimentos. Pode-‐se criar uma espécie de “selo verde” para certificar pequenas fábricas que se instalam próximo a Washington Luiz desenvolvem suas atividades minimizando os impactos ao ambiente. Alguns critérios como uso de matéria prima de fontes seguras, bom uso da água, o descarte adequado de seus resíduos, um percentual mínimo de funcionários morem no bairro, equidade de salários para homens e mulheres na mesma função, empregar jovens aprendizes, etc. A questão dos “Resíduos” é um ponto muito importante. Dos 3R’s clássicos da sustentabilidade -‐ Reduzir, Reutilizar e Reciclar -‐ damos muita atenção último deles: a reciclagem. Pode-‐se promover ações que invertam esta ordem de importância, por exemplo, Feiras de Trocas, brechós, reutilização de peças, maquinas e computadores quebradas ou ultrapassados em oficinas de mecânica e robótica com crianças e adolescentes. Do lixo doméstico, é importante que se garanta com o poder público que o mesmo seguirá para um local adequado e não provocará situação de injustiça ambiental. Importante haver coleta seletiva. Muito próximo a Vila São Luiz fica o bairro de Jardim Gramacho, que por anos recebeu toneladas de lixo de toda região metropolitana. Os catadores que trabalhavam no antigo lixão vêm se organizando nos últimos anos e constituindo cooperativas de reciclagem. Parcerias com estas cooperativas podem ser firmadas. É importante sempre lembrar que, quando se trata do mundo não existe “jogar fora”. Tudo que descartamos fica aqui conosco. Nesse sentido pode-‐se propor que os empreendimentos locais façam menos uso de produtos descartáveis e possamos identifica-‐los também através do “selo verde”. Na Alemanhã existe uma “start-‐up” que inaugurou o primeiro supermercado sem embalagens descartáveis do mundo. O cliente pode levar seu próprio recipiente para guardar as compras, usar uma embalagem de papel reciclável ou, em último caso, pegar emprestado um recipiente... Até que ponto algo semelhante pode ser implementado? O trabalho de mobilização e envolvimento dos moradores do bairro nas transformações que imaginamos serem necessárias para a transição da Vila São Luiz para uma “Vila Sustentável São Luiz” será fundamental em todas as etapas do
projeto. Seria muito importante a articulação com os movimentos sociais estabelecidos no bairro, envolver as escolas, associações de moradores e comerciantes, igrejas e grupos culturais, bem como envolver o poder público na busca de soluções a algumas das demandas que surgirem fora do alcance da nossa ação imediata. Nesse planejamento de um bairro sustentável é preciso, antes de tudo, não perder de vista que o aspecto mais importante é que as pessoas que moram, trabalham ou estudam por aqui tenham em si o desejo de viverem num lugar assim.
Lihat lebih banyak...
Comentários