VIOLÊNCIA INVISÍVEL NA CIBERCULTURA Liberdade, Infovigilância e Controle

May 22, 2017 | Autor: Mario Finotti Silva | Categoria: Sociology of Violence, Cybercultures
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VIOLÊNCIA INVISÍVEL NA CIBERCULTURA Liberdade, Infovigilância e Controle Mario Finotti Silva1 O presente texto traz à tona um questionamento acerca da crença de que, por estar conectado, a segurança e a liberdade estão presentes como guardiães dos dados que navegam livremente pelos bancos de dados; e essa sensação de proteção é restaurada, na medida em que se desliga do mundo virtual. Para entender como a vigilância eletrônica e o controle integram essa narrativa, basta focar o crescimento tecnológico e a dependência de aplicativos, enquanto são transferidas para o gadget todas as mazelas e as desventuras da vida. Dessa maneira, o homem esbarra na política errônea de que quanto mais vigilância mais segurança. Quem pode reiterar essa afirmação são os mesmos que promovem o avanço da tecnologia em nome de um bem maior: o controle. Por vezes a liberdade está vinculada à monetização que tem uma só face – a servidão. E o discurso mercadológico, que se promove, está agregado à disponibilização “gratuita” dos dados, sob alegação de privacidade. Como pode haver promessa de privacidade, quando espontaneamente revelamos dados e informações a terceiros se, a efeito, todos no “cibermundo” são terceiros? Ainda que se saiba estar vigiado, não há maneira de impedir esse cerceamento, mesmo sem compreender como seus dados são utilizados; por outro lado, o indivíduo teme perdas sociais e econômicas por não participar das relações à base de troca. Afinal, para supostamente estar inserido num contexto social midiático não basta apenas escolher, tem de participar e vivenciar um mundo no qual todos os seus amigos estão numa rede social, a qual sutilmente coleta seus dados, a exemplo de Facebook ou Google (os mais famosos em termos de conectados por milhão). 1

Doutorando em Comunicação e Semiótica com ênfase em Cultura e Ambientes Midiáticos, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil.

Descobrir

que

aplicativos

de

mídias

sociais

manipulam

seus

usuários

psicologicamente, durante meses, por meio de experiência de engenharia social para fins comerciais, pode vir a ser irrelevante para alguns e impensável para tantos outros. É muito difícil imaginar-se fora desse mundo. Neil Postman, aproveitando-se do momento tecnológico, põe a humanidade em xeque ao observar que a apatia e o estancamento social cooperam nesse sentido: ” [...] vivo me divertindo com a maneira obediente com que as pessoas aceitam explicações que começam com as palavras: ‘o computador está mostrando’ ou ‘o computador determinou’. [...]”. (POSTMAN, 1993). O cotidiano, cada vez mais sufocado de interações digitais simbólicas com efeito invisível, impede o indivíduo de abstrair-se das redes e torna-o impotente, frente ao poder característico dessa era digital. A princípio, todos os dispositivos eletrônicos, que dependem de conexões de rede, tornam as decisões interdependentes. Essa ilusão termina, na medida em que se torna natural o uso de câmeras de reconhecimento facial nas ruas, postes que detectam a presença de pessoas na calçada, o controle digital automático das funções de serviços privados e públicos. Os ambientes, internos e externos, cercam-se cada dia mais de aparatos de vigilância. Os sensores digitais, em tempo real, compreendem uma violência, cujos efeitos são invisíveis na sua complexidade. Além disso, na palma da mão, intensifica-se uma tecnologia diferente de tudo, cujos danos só são apreendidos pelo uso. Pregar a não existência do outro define o bárbaro. A violência invisível é, para todos os efeitos, aquela que ofusca através da sociedade e transita despercebida por todos. Mesmo que tais ações sejam executadas conscientemente, seu significado é mais profundo. Mais tenebroso ainda é saber que os dados encontram-se armazenados em qualquer servidor, particular ou governamental, alocado no globo. Desse modo, a transparência deve ser articulada pelo ambiente de poder e privacidade, para as camadas inferiores. Soa como a “democratização” da vigilância. Os medos dessa interatividade no ciberespaço chegaram a tal ponto que não há mais a desconexão, mesmo que persista a ligeira sensação de segurança, por saber que a qualquer hora pode desligar. Bauman (2013) apontou essa narrativa em “online/off-line”. O não conectar permite o retorno ao mundo real, livre dos usos de perfis, restrição do número de amigos ou classificação dos grupos para publicação dos conteúdos.

Livre dos cadeados dos conteúdos publicados deve-se ter o cuidado em não limitar a rede de amigos autorizados e – o mais importante – não revelar a localização geográfica de residência, escola e, principalmente, ambiente de trabalho. A paranoia ilimitada do ser que vigia e, ao mesmo tempo, é vigiado. O discurso acerca das questões de privacidade toma rumos alarmantes, e – talvez por desconhecimento ou simplesmente abstração da realidade – não se deseja tocar na ferida aberta pelo consumismo e pela disposição dos dados. Devido ao caráter invasivo e invisível, as tecnologias das quais se dispõe atualmente, aliadas à velocidade de desenvolvimento, possuem a capacidade de surpreender, acomodar-se sem permissão nas rotinas e serem aceitas sem questionamento profundo. Têm sido criadas máquinas de infovigilância e controle, integrados com algoritmos complexos e devastadores, para poder coibir o usuário de fazer a coisa certa. O controle – por ser multifacetado – inibe as pessoas de entenderem, modificarem os dispositivos, modo pelo qual se desvia do fim pretendido pelos desenvolvedores. Apesar do enorme e intrincado desafio da privacidade e da segurança no nível pessoal, muitos outros desafios surgem, na medida em que são constituídos por meio do imaginário tecnológico. Num futuro bem próximo à realidade dos dias atuais, outros equipamentos eletrônicos sobre os quais paira a realidade também adquirirão capacidades de comunicação e de tomar decisões quase automáticas. Esses mesmos algoritmos decidirão o certo e o errado e não é mero acidente de percurso, apenas um desejo humano e – a menos que se construa um conjunto alternativo por meio de recusas – pode-se chegar a desenvolver uma grande teia na qual não produzam o efeito esperado que hoje poderiam apresentar-se antidemocráticos, autoritários ou fisicamente danosos. Na esteira do pensamento, no qual a velocidade e a tecnologia seriam a libertação, o que se percebe é justamente o contrário: sujeita-se o indivíduo a esse tipo de modelo. Em essência, todos os métodos e dispositivos eletrônicos disciplinares têm função de penalização, independentemente de qual seja seu resultado. Com leis próprias, a vigilância eletrônica estabelece-se como juiz de delitos específicos. À medida que a tecnologia torna-se mais complexa, ao mesmo tempo fica mais vulnerável para ser gerenciada na suposta transparência das informações digitais. Os rastros deixados são incorporados a espaços desconhecidos, a partir dos quais são geradas novas formas de governar. Pense-se em gigantes, como Yahoo, Intel, Microsoft e Facebook – exemplos majoritários de informações de usuários conectados.

A capacidade de manipular dados e o conhecimento digital por meio da navegação com a justificativa de oferecer uma experiência melhor, arma-se desses algoritmos complexos e fora do controle público, capta esse conteúdo. O cerne da questão está na disponibilização dos dados e nos códigos, sobre os quais temos pouco controle ou nem noção de sua existência. Os dispositivos passaram a ser onipresentes por meio da crescente atividade cotidiana de fluxo de dados. Representam perfeitamente esse problema, por estarem midiatizados e devidamente controlados, e sua presença constante na infraestrutura serve de base para seu funcionamento (ocultado), além de revelar a magnitude dessa dependência e a falta de ferramentas de controle. A afirmação acima, abre o precedente para a seguinte pergunta: quem está devidamente controlado? A justificativa, para uma discussão acerca do que tange a liberdade, reside no paradoxo de que quanto maior o volume de dispositivos eletrônicos que vigiam, menor será o controle. Com o desenvolvimento da tecnologia para o domínio do capital, a vigilância eletrônica – por meio de sistemas fechados ou circuitos capazes de conduzirem o modo de comportamento – obriga as pessoas a obedecerem a uma ordem imposta que coíbe seu ir e vir despreocupadas sobre estarem ou não sob vigilância. Há também um expressivo contingente na sociedade que considera tudo isso como invasão de privacidade sem limites. O próprio avanço das tecnologias dos computadores, na sociedade moderna, é visto por um lado como promissor e, por outro, relevante instrumento ameaçador. Devido aos avanços significativos nos sistemas comunicacionais, a partir dos comandos eletrônicos em busca de segurança, notam-se nesse contexto inclusões e exclusões das mais diversas, seja pelo rastreamento visual ou por códigos digitais. Observa-se, porém, que dessa exclusão ocasionalmente surge o medo de colocar-se à frente para que o domínio aconteça. O perigo maior nesse ambiente é o liame e a dependência, a troca do “Ser” pela máquina. O medo instaurado pela existência e vínculo virtual, a falta de recursos para combater esse espectro que ronda todos, é herança de outrora, quando o homem necessitava proteger espaço e pertences. Necessário, então, voltar no tempo e ver como ele gerenciava a sobrevivência e, a partir disso, entender como foi moldado e cercou-se de “segurança”. A seleção natural perde espaço para o virtual e não há mais amigos ou inimigos. Tudo que cerca a vida do indivíduo, inclusive as pessoas, está conectado e é rastreado por uma linha tênue de relações na busca pela segurança para ser livre. Se a proteção é fator de garantia da

vida, a liberdade é quem paga o preço por essa escolha. Reside nesse ponto o anacronismo, pois é exatamente o fato de ser livre que o torna responsável pelo aprisionamento. No momento em que há a proliferação de aparelhos eletrônicos dos mais diversos, o “corpo” tem sido suporte desses gadgets na forma de telefones móveis, que anteriormente habitavam bolsas e bolsos, e agora estão sempre inseparáveis. Não se pode acreditar em modismos ou status apenas. Pode-se observar em todo âmbito social, sem importar o local, que o aparelho está continuamente nas mãos, maneira pela qual a pessoa assinala certa segurança, espanta o medo de existir e nega a si próprio, ou seja, negar sua plenitude. Toda forma de vigilância tem como função principal adestrar o vigiado nos modelos eletrônicos ou não; e, quando capta a desordem, imediatamente aparecem as retaliações. A disciplina opera por dispositivos que apreendem o modus operandi. Qualquer dispositivo que tenha efeito de observação sugere poder e controle, como consequência a coerção estabelece seu perímetro e a surveillance tem seu papel declarado. Com o passar dos séculos, esses métodos foram abolidos e aos poucos foram substituídos por aparatos que continham cada vez mais tecnologia. O desenvolvimento dessas tecnologias possibilitou ao homem vigiar e ser vigiado; e, assim, manter o poder sobre tudo ao seu alcance. Milhares de anos depois, as preocupações continuam as mesmas, é o “Oroboros”2 da humanidade. O poder, qualquer que seja ele ou de que forma se apresente, sempre esteve ligado ao ser humano, desde eras remotas quando a lei do mais forte dominava o mais fraco. O “poder”, como palavra na sociedade, tem nuances como ideia de força exercida pelo Estado, para fazer valer o direito – caráter este do acúmulo das mais diversas teorias políticas e filosóficas através dos tempos. A humanidade só respeita uma autoridade por saber que para uma ação há uma oposição recíproca, ou seja, para cada ação ou infração cometida, a resposta é rápida e dolorosa. Pelas dificuldades da sociedade frente aos problemas sociais e dada a deficiência dos órgãos públicos, a criminalidade formou verdadeiras empresas especializadas em roubos, sequestros, homicídios e tráfico de entorpecentes. Diante dessa realidade não se pode entregar 2

Oroboros: símbolo que aparece principalmente entre os gnósticos, representado como dragão, cobra ou serpente que morde o próprio rabo. No sentido mais amplo, retrata o tempo e a continuidade da vida (57). [...] Em algumas versões de Oroboros, o corpo é metade de luz e pela metade escuro, aludindo deste modo a sucessivo contrabalançar de princípios opostos como ilustrado no símbolo de Yang-Yin chinês por exemplo (32). Evola afirma que representa a dissolução do corpo ou serpente universal que (para citar o gnóstico que diz) ‘passa por todas as coisas’. [...] O Oroboros mordendo o seu próprio rabo é símbolo da autofecundação ou ideia primitiva de uma Natureza autossuficiente —, isto é, uma Natureza que à la Nietzsche constantemente volta, dentro de um modelo cíclico, ao próprio começo.

nossa segurança apenas nos órgãos públicos já que os mesmos não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo por esse motivo a vigia de tudo e de todos. A segurança eletrônica é um recurso que se destaca a cada dia, como um valioso auxiliar na proteção do público ou do privado. Com o auxílio da tecnologia moderna, veículos roubados podem ser localizados em minutos, depois de disparados os alarmes eletrônicos; câmeras de vídeo desestimulam ou denunciam ações furtivas nas propriedades; cartões magnéticos substituem os antigos crachás com eficiência; alarmes, acionados por sensores infravermelhos, auxiliam a detectar violação de patrimônio; apenas para citar alguns exemplos. Pode-se observar essas tecnologias em diversos lugares: escolas, restaurante, lojas, residências, praças públicas e hospitais. Isso revela a importância que essas tecnologias trazem para o dia a dia, somando eficiências e trazendo mais segurança para a sociedade. A pergunta é: toda essa tecnologia é mesmo para proteção ou apenas para que determinado setor saiba o que as pessoas fazem, pensam, usam ou distribuem? O avanço no desenvolvimento das tecnologias de vigilância, ora denominada surveillance, ocorreu na mesma velocidade que as cidades tornaram-se mais ricas. O montante investido em equipamentos, softwares, aparatos individuais remotos é proporcional ao medo das grandes cidades. Apesar de ainda não estar adaptado a essa mudança de comportamento, o mundo em geral tem-se protegido com programas de vigilância eletrônica, nos mais diversos segmentos cujo foco sejam pessoas e comportamentos. Nada foge à regra de um sistema de vigilância que – embora advenha de esferas independentes – confunde o público e o privado. Os gastos privados ampliam-se; enquanto nos espaços públicos, busca-se acompanhar de perto essas atualizações. Por outro lado, as incertezas da proteção não garantem a segurança necessária, pois contar com o poder público não basta para que a segurança seja garantida na mesma velocidade que as câmeras captam as ocorrências. A punição não visa a expiar, nem a repreender, e sim fazer com que as pessoas saibam seu lugar na sociedade em que vivem e diferenciar os indivíduos em relação a uma regra imposta. Em outras palavras, compreende-se um modo de exposição que, pelos gadgets eletrônicos, modula a vida social dos indivíduos. A vigilância é de caráter normalizador de uma ordem pré-instaurada. O cerne da questão está em determinar o que é plausível ou não.

O tempo da existência, como algo presente, torna-se passado; aquele instante já não existe mais, pois a atemporalidade é inesgotável ainda que fique um registro. O tempo real é o tempo de agora, e a tele-existência é a distância por espectro. A “Existência” vaga, mantida entre bits e bytes eletrônicos das tecnologias comunicacionais. Pode-se dizer, então, que essas tecnologias são os “panópticos3” da cibercultura que assumem diversas formas, tamanhos e tecnologias agregadas. É o poder do capital na sua forma primal. Novidades e mais novidades sempre, o ganho não tem parada ou escala. Quanto mais conectado por vias eletrônicas, menor é o mundo e mais fácil de manipular. É a potencialização na sociedade. A princípio o homem tem as condições favoráveis de liberdade que lhe foram dadas pela própria natureza; infelizmente, ao contrário disso, ele não observa que as alternativas para o seu aprisionamento vêm na forma de possibilidades de poder escolher pelo melhor. Por exemplo, quanto mais opções, maior será o nível de responsabilidade quanto à sua liberdade. Por outro lado, qualquer consideração acerca dessa condição parece reduzir a liberdade de escolha. Mera ilusão, trocar o ambiente natural por aparelhamento ao qual se deve adaptar. É falsa escolha e relevante atraso numa estrutura construída através de gerações. É retroagir na anatomia, na fisiologia, no cérebro e, portanto, na capacidade de inteligência e consciência cognitiva. Em qualquer instância o indivíduo é representado pela cultura, desde o nascimento com regras, tabus, mitos... Por questões mercadológicas, a sociedade impõe leis, regras e proibições; então, o lugar comum, por assim dizer, é guiado. Condição que torna todos, tecnologicamente, dependentes e órfãos. Como pensar em liberdade, quando se oferta o próprio corpo como produto final aos laboratórios ambulantes das grandes corporações. Uma vez que a liberdade é o poder de escolha, o que impulsiona a optar pelo aprisionamento do corpo? Ao que parece, as pessoas gostam dessa violência, pois a sensação é boa. Nota-se pela aquisição desenfreada por aparelhos de última geração desovado por empresas de tecnologia, que nem sempre são de última geração de fato. Toda novidade tecnológica já sai de fábrica desatualizado por pelo

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Segundo Michael Foucault, o panoptismo corresponde à observação total. Tomada integral por parte do poder disciplinador da vida do indivíduo. Vigiado durante todo tempo, sem que veja o seu observador, nem que saiba em que momento está a ser vigiado. Finalidade principal do Panóptico, ora os dispositivos eletrônicos. O panóptico organiza espaços que permitem ver, sem ser vistos, portanto, uma garantia de ordem. Assim, a vigilância torna-se permanente nos seus efeitos, mesmo que não fosse sua ação principal. Mais importante do que vigiar o prisioneiro o tempo inteiro, era que o mesmo se soubesse estar vigiado. Logo, a finalidade é sentirse imerso num campo de visibilidade. Em suma, o Panóptico desfaz a necessidade de combater a violência física com outra violência física, mas, com mecanismos de ordem psicológica. – Nota do Autor

menos seis meses. Isso dá tempo para que o mercado fique à mercê de coisas novas a todo instante. O que é futuro hoje já nasce ultrapassado por ele mesmo. As tecnologias a serviço do homem, sejam elas visíveis ou não, tornaram esse aprisionamento comercial especifico prazeroso. A sensação de proteção - do corpo em si - vai além dos fios condutores de eletricidade que fazem os olhos eletrônicos cuidarem da vida dos outros e das próprias. Em outras palavras, não basta a preocupação diária, as considerações vão além. Algo como a espetacularização em tempo real. Revela-se, assim, que o corpo é preso, na medida em que a tecnologia avança. Desvincular corpo e tecnologia, entretanto, não é a solução. Não há a segurança desejada sem que ele esteja “protegido” por telas eletrônicas de vigilância. Se as câmeras têm como alvo os movimentos corporais, o controle é a razão de sua importância policialmente sitiada. Imagem e violência invisível caminham pari passu em uma sociedade adoentada por tecnologia; em especial, os lucros são mais importantes que o “Ser” como existência. O homem passou de autor para ator, numa representação diária de movimentos, próximo à mimese bastante difundida nos textos de Platão e na relevância do pensamento de T. W. Adorno e de W. Benjamin. Para Platão em sua época, a "representação" artística em geral é chamada de mímesis, que podemos traduzir como "imitação", e essa mesma empobrece muito o sentido da ação. Os gregos pensam sempre a arte clássica como uma figuração enraizada na mímesis, ou, melhor, na "apresentação" da beleza do mundo (Darstellung4 que Vorstellung5). Podemos entender melhor esse conceito platônico não tanto pelo viés da imitação, mas pelo objeto paradigmático. De encontro com a nossa visão moderna de mundo, que vê na arte tecnológica principalmente uma criação subjetiva, que realça o caráter inovador. Insiste muito mais na fidelidade da representação ao objeto representado: é ele, o objeto, que desencadeia, por sua construção, o impulso mimético. A arte da técnica, tenta aproximar-se com certo respeito e precisão e, por isso, é sempre figurativa, nesse sentido amplo, "mimética". A mimese como reconhecimento, sempre fez parte da natureza humana e, podemos caracterizar, particularmente, como o aprendizado humano e cópia de si mesmo nos gestos e movimentos. O aprendizado mimético, diz Aristóteles, produz prazer, agrada e não causa ruído. Este é fator favorável para o pertencimento e, estimula e encoraja o processo de conhecimento, base do lúdico na convivência humana. Os homens olham para as imagens e reconhecem nelas uma representação da realidade; reproduzem: - esse é tal. Reconhecimento 4 5

Por "apresentação" ou "exposição", segundo o próprio Walter Benjamin – Nota do autor Como imaginação. Fonte: https://www.dict.cc/german-english/Vorstellung.html

de semelhanças apenas. A teoria aristotélica da linguagem esboça uma teoria da autonomia da linguagem em relação à realidade concreta, não havendo função referencial. A mimese designa um processo de aprendizagem específico do homem, geralmente caracterizado pelas crianças. A aquisição de conhecimentos é favorecida pelos aspectos prazerosos do processo, resultando como uma teoria da metáfora. Podemos dizer que conhecimento e semelhança, conhecimento e metáfora mantém ligações estreitas, muitas negadas e esquecidas. O corpo tornou-se produto do mercado vigente; uma vez nas vias eletrônicas, perde-se a posse dele, torna-se apenas escravizado e será necessário correr para provar o contrário. Em um mundo cercado de opções e prazeres dos mais diversos, como estabelecer que a verdadeira liberdade está em não se apegar ao que é externo, uma vez que há uma razão para as coisas deixarem de existir. Se tudo é descartável, é uma farsa sofrer pela perda, pois ela é inevitável. Portanto a razão sobrepõe-se à emoção na busca pela felicidade e pela vida. Livre é aquele que não se encanta nem se escraviza por nada. Não sente a necessidade de nada, pois tem consciência de ser parte da natureza. Liberdade será, então, a conformação à realidade, à natureza e ao porvir; e quem assim vive, é ético? Pouco provável. Tudo está aí para provar que a liberdade é restritiva e capaz de cegar os mais incrédulos. Tal perspectiva é essencial, pois confronta a natureza. Um pouco rude e criticável colocar a racionalidade como o único parâmetro para os homens, e a emoção em segundo plano. Porém, aos olhos da atualidade, essa relação entre liberdade e natureza esbarra na questão dos excessos que até podemos reconfigurar como descarte. A moderação é exatamente o que faz falta na atual noção de liberdade. Essa ideia caminha ao encontro do pensamento de Rousseau segundo o qual os homens só podem ser livres, se abrirem mão da liberdade individual. A liberdade é ilusória, para alguns, na medida em que egoísmo e individualismo compõem o cotidiano de cada um. Suponho os homens chegando àquele ponto em que os obstáculos, prejudiciais à sua conservação no estado de natureza sobrepujam, por sua resistência, as forças que cada indivíduo pode empregar para se manter nesse estado. […] esse estado primitivo não pode mais subsistir e o gênero humano pereceria se não alterasse seu modo de ser. (ROUSSEAU, 2015, p. 19-20).

Paralelamente a esse pensamento, surgem os dispositivos6 eletrônicos, uma vez que garantem a “liberdade” de caminhar com tranquilidade. O que se vê atualmente é o exagero

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[...] qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes. (AGAMBEN, 2014, p. 39)

em depositar todos os recursos nessa técnica e apostar que a tecnologia será a mantenedora desse estado. Decorrente desse acúmulo de dispositivos, observamos pessoas das mais diversas idades com telefones móveis inteligentes, tablets, notebooks, óculos de realidade virtual em computadores domésticos e biometrias das mais diversas espalhadas por estabelecimentos. A sensação é de estar diante de uma patologia chamada nomofobia7. Ela é resultante do avanço dessas tecnologias eletrônicas. A atuação incessante e diuturna, proveniente dessa interatividade na vida, nos costumes, na sociedade, no comportamento e no meio ambiente, não apresenta apenas benefícios, como também prejuízos, motivados por esses impactos. Bauman (2011, p.14), observou salas de bate-papo e apontou uma hipótese que mais tarde viria a concretizar-se: “as páginas de bate-papo são novas drogas poderosas em que os adolescentes se viciaram.”. E, não por menos, essa parafernália – ofertada e distribuída mundialmente, embutida em mini-aparelhos eletrônicos interligados nas redes – transforma as conexões temporárias em ininterruptas (24 horas por dia). O mote publicitário “você nunca mais estará só” realizase na virtualidade. Percebe-se que esse advento global marcou a sociedade moderna e permitiu acreditar que lacrar as lacunas da vida é mais seguro do que enfrentá-las. Se cada indivíduo permite-se estar enclausurado pelo meio digital, o contato com o mundo externo é cortado pelo simples toque de um botão quando há riscos. Nessa disputa pelo poder digital há lucros e perdas. Pelo viés mercadológico, para as empresas, os lucros são fabulosos: produção, distribuição e manutenção batem recordes. Para as pessoas resta viver dependentes e correr riscos de saúde por sedentarismo, solidão e exclusão. As tecnologias de comunicação permitem evitar essa “solidão”, todavia as pessoas não sabem como se comportar, sequer reagir; aceitam de bom grado a praticidade envolvente, indiscriminadamente sacam o dispositivo e negociam um contrato social sem limite. É como uma droga; para ter mais basta usar mais. Passa “despercebido” o seu uso em restaurantes, cinemas, teatros, enquanto dirige, em elevadores, hospitais, escolas. Esses são apenas alguns efeitos colaterais provenientes dessa corrida frenética. A necessidade de estar sempre conectado, para preencher o vazio existencial, revela um preço altíssimo na conta pessoal. O efeito da dromologia(explicar no rodapé?), decorrente 7 O nome surgiu da expressão “No Mobile Phobia”. Desconforto, ou angústia, causado pelo medo de ficar incomunicável ou pela impossibilidade de comunicação por intermédio do telefone celular, computador ou internet, estar off-line. Fonte: https://www.tecmundo.com.br/saude/21930-nomofobia-o-vicio-em-celular-agorae-uma-doenca.htm

de vários fatores econômicos após a Revolução Industrial, possibilitou o avanço tecnológico em detrimento da escravidão instaurada na sociedade moderna e cibercultural. Uma das coisas mais surpreendentes propiciadas pelo assombroso desenvolvimento tecnológico do século XX é a capacidade super ampliada de agir a distância. Até nossa conversa é possibilitada por meios eletrônicos. (BAUMAN, 2013, p. 75).

Paradoxalmente, essa tecnologia encurta distâncias, entre pessoas que moram afastadas, e distancia pessoas próximas. Essa mecânica é vista em praças, no transporte público, em museus e reuniões familiares. Por momentos de paz, pais entregam tablets aos filhos para entretê-los, enquanto utilizam seus smartphones. Que garantias a pessoa tem sobre a exposição, se não a controla? O aparelhamento pode ser necessário, embora seu uso geralmente cause fraturas irreversíveis. Se todo ciclo deve prosseguir, mais uma vez destaquem-se o tempo e a velocidade na propagação desse espetáculo de um ator só. A produção (como tempo) e o tempo (como mercadoria) caminham paralelamente na acumulação infinita dos espaços. Há várias maneiras de interpretar o conceito de redes e como estar relacionado nela. O advento comunicacional por vias eletrônicas passou, passa e passará por diversos períodos até o seu “quase” total aperfeiçoamento. No tocante à vigilância, o corpo passa por experiência sem precedentes, pois não é algo tangível nem suportado por aparatos realmente seguros. A morte do corpo faz-se presente, e essa sensação de “leveza” preocupa. Nada é seguro. Nesse ponto, vale a afirmação de estudos anteriores: tudo que é eletrônico pode ser alterado e não é seguro, por não ter mais controle, quando o botão de start é acionado. A ideia de uma sociedade de comunicação só se permite como utopia adaptada. De um lado aparatos eletrônicos, técnicas flexíveis, integradoras e inteligentes, instaladas em todos os lugares disponíveis para o homem ter conforto. De outro, o pensamento humano, capaz de comunicar-se, sem a presença em tempo real e em escala planetária. Fluxos de bits, bytes, códigos binários, criptografia, vetores. Um mundo maravilhoso no qual o “self” é esmagado e absorvido por essa rede neural dos sistemas. No fundo a questão sempre será a mesma. Qual elo perdeu-se na história da humanidade? Procurar estabelecer os vínculos e o fim do isolamento de cada indivíduo no processo social deve-se ao fato de buscar apreender e compreender o processo social produtivo. Há

também o questionamento sobre se os processos tecnológicos libertarão as mídias de seu processo natural e emancipatório. Sem querer impor um quadro aterrorizador, deve-se destacar que apostar todas as fichas na tecnocracia é matar a humanidade ou enquadrá-la como autômata; e notar a fuga da própria classe, cuja característica particular de produção ela mesma destrói, de forma invasiva e profunda. O individualismo somente se desarticula, quando separa aprendizado e produção. Assim, os três imperativos são: separar a ciência da técnica; a ciência da ideologia; e, por último, renunciar qualquer teoria geral sem embasamento nem foco de pesquisa completa e estudos de campo. Sem esses três atributos, será que o Homem algum dia conseguirá viver sem a comunicação, libertar-se dessa sociedade de comunicação tecnocrata? Ao que parece todo esse funcionalismo a favor dos usuários de sistemas digitais leva à mesma armadilha. Sempre que uma tecnologia de ponta é lançada, ao mesmo tempo já está obsoleta. O que resulta é uma violência estranhamente inaudível, invisível, porém, tátil. Ela, a violência, pode-se manifestar de várias maneiras: guerras, torturas, disputas étnicas, assassinato, fome, preconceito, bem como em outras frequências da vida social. A violência dos modelos digitais não foge muito a esse escopo, é uma agressão não visível na totalidade, apesar de afetar e destruir muito mais do que a física. Ao apontar as boas intenções para uma sociedade livre, abre-se o compasso para situações de risco, que muitas vezes – e ao mesmo tempo – condenam por completo um futuro fadado a ser problemático. A abertura (ou relaxamento) ao que é exposto é a chave que nem sempre contribui para a ordem econômica do ambiente cibercultural. O controle do tempo de exposição é parte crucial desse sistema que integra toda a sociedade, desde os elementos abstratos do cotidiano às atividades e hábitos. O corpo perde identidade por estar permeado por esse conjunto de relações. Prostra-se, então, em posição de aceitação, por não ter para onde fugir e estar engendrado no sistema, para que o curso instituído siga seu caminho, sem a intervenção de qualquer parte que seja. Os meios nutrem-se, então dessa insegurança, causada não pela falta de proteção e sim pela falta de clareza do seu escopo, num universo social organizado em torno da procura

incessante de proteção e da busca frenética por segurança. O medo da inadequação na convivência em rede não é a causa principal que gera essa doença social e universal que tem assombrado, através dos séculos. Tal violência retrocede a sociedade ao tempo das cavernas, quando tudo era permitido, para a sobrevivência e defesa do grupo social; e pelo medo da maleficência de outros humanos. Ressalte-se que estar protegido cria vínculos e, em contrapartida, um conjunto de regras e métodos para poder ser aceito. Estabelece-se nesse contexto o controle e a higienização virtual. Controlar para ser controlado pode ser uma das características mantidas à sombra das relações da civilização. O pensamento voltado para a coletividade está em uma condição sine qua non dos sistemas de controle pessoal. E tudo isso tem um preço, que pode ser alto demais: neuroses intimamente ligadas a solidão, angústias e incertezas – sejam elas em forma de ameaças ou de conflitos. Essa, todavia, não é uma conta muito justa, na medida em que o corpo com suas necessidades sensoriais perde espaço na luta com a tecnologia. Sob essa acomodação, em ver o mundo passar através de um clique e sentir-se protegido por telas (das câmeras e outros dispositivos), gera sensação nunca antes experimentada de proteção virtual. Estar protegido não significa ficar protegido. E pensar que isso facilitaria e simplificaria a vida e as emoções reduz a felicidade e a liberdade aos quadriláteros dos processadores digitais. A fragilidade do corpo como vida é trocado pela fortaleza da máquina, ou seja, estar virtual possibilita um poder para o qual corpo não tem potência. O ingênuo torna-se malandro, o tímido toma ares de destemido, e o meliante torna-se cavalheiro. Tudo e todos pelo virtual. Ou seja, protegido por escudos visíveis ou não, perde-se o sentido original do corpo. Qual será o custo dessa virtualidade, que compensa frustrações, fraquezas e falta de sentido na vida, uma vez que a humanidade aposta na tecnologia para tirá-la do lugar comum e transportá-la para o Shangri-lá das experiências cibernéticas. Estar protegido e ao mesmo tempo solitário, até o momento em que câmeras de vigilância, cartões identificáveis, senhas das mais diversas, para entrar ou sair, não puderem proteger o cidadão da realidade da vida. O corpo, inerte na horizontal ou na vertical, transmite e recebe dados. O ir e vir sem sair do lugar comum e com apenas um toque tudo está à mão. Tudo isso remete à película Wall-E (2008), na qual as pessoas de tanto estarem ligadas na luz da tela esqueceram-se da vida e quem pagou com isso foi o corpo, inerte, obeso, imerso em algo parecido com shopping center (depois fala em maquinista, está certa essa comparação? Sim, depreende que

ele mesmo é parte desse momento), protegido, vigiado e controlado por um maquinista tão gordo e obeso como seus passageiros. Será esse tipo de sociedade que se deseja ou já se vive uma era controladora, como numa onda em que se acompanha o progresso inevitável. A interatividade e a manipulação da vontade no ciberespaço ora soluciona ora traz problemas na bagagem, sem que as pessoas estejam suficientemente preparadas para levar esse fardo adiante, no processo de emancipação civilizatória, na medida em que corpo e máquina relacionam-se. As tecnologias de controle exercem tal poder autoritário, que a privacidade somente deve ser mantida para parcela minoritária da população mundial - aquela que detém o poder das comunicações e das tecnologias. Para o contingente majoritário, a transparência deve ser constante, e os dados distribuídos globalmente.

Referências

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