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May 24, 2017 | Autor: Maryella Sobrinho | Categoria: Fotografia, Fotografia Y Arte
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Virtuais ​ : Uma reflexão sobre o tempo em um mundo de ideias e conceitos. 1

Por Maryella Sobrinho

A linguagem fotográfica geralmente indica uma ação relacionada ao registro, à uma descrição precisa e à memória; qualidades que lhe conferem o patamar de testemunho irrefutável da realidade, com alto grau de credibilidade. A série ​ ​Virtuais​ (2015)​, do artista Fábio Salun foi realizada com o objetivo de retratar o centro da cidade de Florianópolis. O que se espera da imagem do centro de uma capital estadual? ​Desde a intensificação da urbanização, a cidade tornou-se palco principal das relações humanas. A constatação de que a cidade é espaço de interação sóciocultural, produção e consumo de objetos e imagens, mostra-se para Salun uma questão relevante, ao menos tratando-se desta série. A expectativa de olhar para as imagens produzidas por Salun e reconhecer uma cidade específica não é suprida, tampouco de identificar um movimentado centro comercial. De interação humana, percebemos somente o pixo nos muros transmitindo uma mensagem certamente ilegível à maioria de nós. Ou talvez, a oferta de produtos expostos em vitrines de lojas. Salun ​captura o ​instante após o ​instante do caminhar das pessoas, feito conseguido pelo domínio da técnica fotográfica amplamente conhecido por Salun. O tempo de exposição necessário para a captura da imagem é incompatível com a rapidez do caminhar dos transeuntes e o que fica não é a imagem do homem/mulher, mas o que resta dela: uma mancha, apenas a ​ideia da pessoa. Salun mira a cidade, uma rua qualquer. Mas ao tentar documentar a duração do caminhar dos transeuntes, acaba registrando o rastro deixado pelas pessoas, sem fisionomia ou corpo palpável. Este resultado não se trata somente de uma questão formal da composição ou de uma questão técnica da linguagem, é também uma questão conceitual sobre a relação da sociedade com o tempo e espaços de uso comum. Ao registrar um instante, Salun registra o que está próximo a sobrevir, um momento muito breve, qualquer ocasião, hora, tempo. Em sua definição filosófica, o ​instante pode ser considerada a verdadeira realidade do tempo. Para Gaston Bachelard, “é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas. O tempo poderá sem dúvida renascer, mas primeiro terá de morrer. Não poderá transportar-se de um instante para o outro, a fim de fazer dele uma duração”. (BACHELARD, 2010, p. 14 e 15) Salun busca registrar o movimento das pessoas e da cidade, para fazê-lo permanecer na memória que se tem de um cotidiano vivido na urbe. E como todo instante, este movimento escapa e cede lugar para que outro instante exista, “a memória, guardiã do tempo, guarda apenas o instante; ela não conserva nada, absolutamente nada, de nossa sensação complicada e factícia que é a duração”. (BACHELARD, 2010, p. 36) O que resta da interação humana na cidade, documentada nas fotografias de Fábio Salun? Se o instante nasce quando outro morre, o que vemos nas imagens são os 1

Doutoranda em Teoria e História da Arte, pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)

fantasmas de pessoas que existiram num dado instante, um após o outro. Referências BACHELARD, Gaston. Tradução de Antônio de Pádua Danesi. ​A intuição do instante​. Campinas: Verus, 2010. KOSSOY, Boris.​ Realidades na trama fotográfic​a. São Paulo: Ateliê, 2009. SALUN, Fábio. ​Virtuais: Uma reflexão sobre o tempo em um mundo de ideias e conceitos. Texto não publicado.

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