Visão Prospectiva I

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Nº 1 • Brasília 2008

I ENCONTRO SENAI DE TENDÊNCIAS E PROSPECÇÃO

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I ENCONTRO SENAI DE TENDÊNCIAS E PROSPECÇÃO

Nº 1 • Brasília 2008

Introdução

O

SENAI, desde a sua criação, teve uma participação decisiva no desenvolvimento econômico e industrial do país, formando um contingente significativo de trabalhadores

industriais. Para atender à ampliação da demanda e às mudanças nos perfis profissionais, que se concretizam no cenário atual, o SENAI ampliou e diversificou seu elenco de cursos. Essa ampliação se faz com base na interlocução com diferentes setores industriais, para a definição de perfis profissionais e desenhos curriculares. Com a retomada do crescimento econômico, observada nos últimos cinco anos, ampliou-se de forma significativa a demanda por emprego, que cresceu a uma taxa média anual de 3,8%. Além disso, na indústria cresceu muito a demanda por profissionais mais qualificados (entre 1995 e 2005 a proporção de trabalhadores empregados com ensino médio passou de 21% para 43%). Paralelamente, os sistemas de educação básica e superior, que representam uma das formas de entrada para as escolas de educação profissional, apresentam-se distribuídos de forma heterogênea no território nacional, e os alunos que por aí passam possuem graves deficiências em português e em matemática. Por exemplo, os índices de proficiência em português atingem a 59%, 62% e 51% do requerido, respectivamente, na 4ª série do ensino fundamental, 8ª série do ensino fundamental e na 3ª série do ensino médio. Os índices de proficiência em matemática seguem essa mesma tendência. Ao compararmos a situação educacional do Brasil com a de outros países, por meio do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), podemos posicionar a nossa situação educacional em um contexto internacional. Para o ano de 2006, onde participaram, dessa avaliação, 57 países, o Brasil posicionou-se em 54º lugar (matemática), 49º lugar (leitura) e 52º lugar (ciências). A convergência desses três fenômenos – crescimento da demanda por emprego, exigência de maior qualificação e piora na qualidade do ensino – pode resultar em graves constrangimentos para o crescimento econômico e, para lidar com esses fenômenos, o Sistema Indústria lançou o Programa Educação para uma Nova Indústria. Esse Programa consiste na expansão e diversificação da oferta de educação básica, continuada e profissional, 4

modernização das escolas e laboratórios, flexibilização do atendimento às demandas educacionais e capacitação de seus recursos humanos em tecnologias e gestão da educação. No futuro próximo, continuarão a aumentar a demanda por emprego e a exigência por maiores níveis de qualificação. Será necessário lançar algumas hipóteses sobre o comportamento esperado da qualidade de ensino, para podermos antecipar desafios para o SENAI. O “I Encontro SENAI de Tendências e Prospecção” foi desenhado para discutir essas questões. Os trabalhos apresentados foram gerados pelos Observatórios Ocupacional, Tecnológico e Educacional, que compõem o Modelo SENAI de Prospecção, tendo reunido as principais instituições e pesquisadores que auxiliaram o SENAI na concepção e desenvolvimento do referido Modelo. Participaram do I Encontro os Representantes de Tendências e Prospecção dos 27 Departamentos Regionais e do CETIQT. A presente nota técnica, denominada de Visão Prospectiva, está estruturada em temas, sendo que para cada um é apresentado um contexto e são apontadas sugestões para o SENAI. Os temas são os seguintes: Educação básica, Desequilíbrios no mercado de trabalho, Crescimento da demanda por emprego; Investimentos públicos e privados; Tecnologia e Organização. A nota contém ainda um item sobre Considerações Finais, onde é realizado um resumo dos principais pontos.

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Educação básica

O

s resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD para o período 1995/2006 revelam que o nível de escolaridade da população brasileira aumentou,

considerando as pessoas com 10 anos ou mais de idade. Esse crescimento foi de 56% no ensino fundamental, 165% no ensino médio e 102,4% na educação superior. No ensino fundamental o crescimento foi mais expressivo nas regiões Norte (157%) e Nordeste (90%). No ensino médio foi mais significativo nas regiões Norte (291%) e Sudeste (165%). Na educação superior, destacaram-se as regiões Norte (218%) e Centro-Oeste (158%)1. Contudo, o centro-sul do país ainda abarca o maior contingente de pessoas com educação básica e superior, o que corresponde a, respectivamente, 72% e 81%. Os resultados de aprendizagem da educação básica no Brasil, medidos pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB, são preocupantes. Os níveis de proficiência em português alcançados em 2005 pelos alunos das 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio foram, respectivamente, 175, 231 e 257 em escalas de 300, 375 e 500 pontos. Isso significa que os alunos demonstraram graus de desenvolvimento de habilidades, competências e aquisição de conhecimentos equivalentes a 59%, 62% e 51% do que deveriam alcançar em cada série mencionada. Em matemática, os resultados obtidos pelos alunos das 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio em 2005 foram, respectivamente, 185, 239 e 270 em escalas de 350, 400 e 500 pontos. Esses resultados, além de não serem homogêneos entre as regiões do país, são piores nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que são justamente aquelas para onde estão e continuarão a se direcionar muitos dos investimentos industriais nos próximos anos. A aprendizagem ocorre em função de diversos fatores, que explicam, mas não necessariamente determinam o desempenho cognitivo. Esses fatores são comumente conhecidos como efeito-família e efeito-escola. O primeiro prioriza a análise de variáveis extra-escolares para explicar o desempenho dos alunos. A tônica do segundo é de que a escola é capaz de interferir de forma significativa no nível de aprendizagem dos alunos, fazendo com que obtenham resultados acima do esperado para suas condições sociais.

1 A área rural dos estados da região Norte (Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá) passou a integrar a amostra

da PNAD em 2004. Por isso, a comparação com os dados de 1995 fica prejudicada para essa região. 6

O efeito-família considera as seguintes variáveis: os recursos econômicos e culturais da família, o envolvimento dos pais na educação dos alunos e a estrutura familiar. As características pessoais do aluno, tais como raça, gênero, condições de saúde, trajetória escolar, talentos inatos e adquiridos, também influenciam suas atitudes em relação à escola e, conseqüentemente, sua aprendizagem. O efeito-escola leva em conta o conhecimento, a experiência e o envolvimento do docente na gestão da sala de aula e do conteúdo ministrado. E, também, a gestão escolar propriamente dita que envolve os recursos físicos, humanos e pedagógicos de que a escola dispõe, a direção e gestão do projeto pedagógico, do ambiente escolar e o envolvimento da comunidade escolar. Alguns fatores extra-escolares não podem ser dissociados de sua gestão, tais como: a legislação educacional, os valores socioculturais e religiosos da localidade onde a escola está inserida, os planos e políticas educacionais do município, do estado e do país e a demanda da sociedade e do mercado de trabalho pela elevação e melhoria do nível de escolaridade da população. Os estudos realizados pelo INEP/MEC com dados do SAEB de 2001 revelam que nas regiões Nordeste e Sudeste a escola é responsável por até 33% do desempenho do aluno, chegando a 32% no Centro-Oeste e a 21% nas regiões Norte e Sul. Isso não significa que as escolas do Nordeste e Sudeste sejam necessariamente mais eficientes que as demais regiões do país, mas sinaliza que nessas localidades a escola tem uma influência maior no resultado da aprendizagem dos alunos. Constata-se, portanto, que a escola faz diferença na aprendizagem, uma vez que alunos com características socioeconômicas semelhantes apresentam desempenhos diferenciados por estudarem em contextos escolares distintos. Agrega-se a essa questão a comprovação empírica que o nível de escolaridade das mulheres vem aumentando e que esse é um dos fatores que contribuem de forma significativa para a aprendizagem dos alunos, desde que tenham interesse e acompanhem o desenvolvimento escolar de seus filhos.

Sugestões do I Encontro As questões aqui abordadas refletem a preocupação do SENAI com a educação básica e a inserção dos seus egressos na educação profissional e, posteriormente, no mercado de trabalho, que é cada vez mais competitivo e exigente com a formação da mão-de-obra. Essas questões, conjugadas às políticas públicas em curso, nos permitem inferir que haverá 7

melhoria na qualidade da educação nos próximos anos. Contudo, as mudanças educacionais são lentas e só poderão ser percebidas a longo prazo. Assim, é provável que os resultados da avaliação do SAEB nos próximos 5 anos, a partir de 2007, mantenham a trajetória descendente (verificada nos últimos 10 anos), ou não apontem para uma reversão significativa, do nível de proficiência dos alunos. Como existe uma demanda latente do mercado de trabalho por mão-de-obra qualificada, torna-se preciso delinear estratégias para minimizar as perdas, para aqueles que já ingressaram na educação profissional, para aqueles cujo ingresso é iminente e para aqueles que ingressarão a médio e a longo prazos. Desse modo, é esperado que o SENAI continue apresentando, nos próximos cinco anos, gastos adicionais com formação profissional, provenientes da falta de qualidade da educação básica. Isto porque o SENAI já apresenta, no planejamento da oferta de educação profissional, respostas para os baixos índices de proficiência dos egressos da educação básica, o que gera um custo adicional ao SENAI, aos próprios alunos e às empresas, que deverão esperar por um tempo maior para receber os egressos do SENAI. Diante desse quadro, os Representantes de Tendências e Prospecção sugerem que: a) sejam ampliadas as ações do EBEP, que articula as ações da educação básica ofertada pelo SESI com a educação profissional ofertada pelo SENAI e que representa uma iniciativa estratégica em prol da formação integral realizada de forma concomitante com uma opção pedagógica pela integração dos currículos e das metodologias de abordagem das disciplinas; b) continuem a ser adicionados módulos de nivelamento em matemática e português, que visam a preparar os alunos para a iniciação do curso de educação profissional propriamente dito; c) seja adotada uma perspectiva de longo prazo, de modo a considerar o gasto em educação de qualidade como investimento e não como custo. Nesse sentido, a proposta inicial é realizar o monitoramento das variáveis que interferem na qualidade da educação, de modo a indicar as variáveis que mais interferem nessa qualidade; d) seja realizado levantamento dos gastos adicionais que a educação profissional necessita incorrer para compensar as deficiências da educação básica. 8

Desequilíbrios no mercado de trabalho

O

crescimento observado nos últimos anos, associado a uma maior exigência por qualificação e à queda na qualidade do ensino, vem provocando alguns desequilí-

brios no mercado de trabalho. Ao se comparar o comportamento do salário nominal, salário horário e desemprego, no período 2002-2006, percebe-se que alguns estados vêm apresentando crescimento significativo dos salários, para ocupações que possuem como requisito de contratação o ensino fundamental, como também para aquelas cujo requisito é o ensino médio ou superior. Isso significa que onde o salário apresentou um maior crescimento a demanda foi maior que a oferta de mão-de-obra. Dentre os estados com maiores sinais de desequilíbrio entre oferta e demanda por mão-de-obra destacam-se:

Ocupações que requerem nível fundamental SC, MG, GO, PA, MA, PI, BA, AL, RN e PB; Ocupações que requerem nível médio PR, GO, MS, MT, AM, BA, SE, AL, PI, PB e MA; Ocupações que requerem nível superior SC, PR, RS, MS, RO, RR, AM, PI, BA, MA, CE e SE.

Um segundo aspecto a considerar é que existe um prêmio muito significativo associado à mobilidade ocupacional ascendente. Ou seja, existe um ganho salarial quando o trabalhador se emprega em ocupações que requerem níveis de escolaridade superiores às ocupações que requerem nível fundamental, conforme pode ser visto na tabela (pág. 10). Além disso, existe uma dispersão muito grande em torno das médias salariais (o desvio padrão é superior à média, além de crescer com os níveis de escolaridade), o que pode tornar menos clara a percepção dos trabalhadores acerca deste prêmio. 9

Prêmio associado a níveis de escolaridade das ocupações

268%

110%

Fonte: PUC RIO, 2007.

Sugestões do I Encontro Dado o comportamento esperado da demanda de emprego e da qualidade de ensino, é possível que, nos próximos 5 anos, ocorra um aprofundamento dos desequilíbrios regionais. Para enfrentar esses desequilíbrios, além das estratégias de expansão da oferta (registradas no tema Crescimento da demanda por emprego), é possível sugerir outras estratégias de formação, associadas às ocupações demandadas. Diante desse quadro, os Representantes de Tendências e Prospecção sugerem: a) requalificar trabalhadores que estejam empregados em ocupações sujeitas a impactos provocados pela difusão de novas tecnologias, para ocupações afins para as quais está previsto forte crescimento de demanda; b) reinserir trabalhadores no mercado formal (trabalhadores esses que foram desligados desse mercado, no passado recente) para ocupações afins para as quais está previsto forte crescimento de demanda. A metodologia a ser utilizada nessas duas estratégias estão baseadas em estudos da RaisMigra para a identificação de manchas ocupacionais de origem e de destino e caracterização de itinerários formativos. Uma parte do desequilíbrio poderia ser compensada melhorando a percepção dos trabalhadores em relação aos ganhos salariais associados à mobilidade ocupacional ascendente. Nesse sentido, os Representantes de Tendências e Prospecção sugerem: ampliar a utilização do Sistema SENAI de Informação Ocupacional, nos formatos Almanaque de Profissões e Sentinela Ocupacional. 10

Crescimento da demanda por emprego

O

SENAI possui o Modelo SENAI de Prospecção, e baseado nele é possível estimar a quantidade de trabalhadores que será demandada no futuro próximo, por estado,

setor e ocupação. Apesar do aumento do grau de incerteza quanto ao cenário externo, estimamos que a economia brasileira deverá crescer a taxas próximas a 4,0% ao longo dos próximos 5 anos, baseada principalmente em investimentos, produtividade, emprego e renda. O cenário externo, agora mais volátil e acima de tudo com expectativa de crescimento menos vigoroso, não impedirá que o Brasil continue a gerar saldos comerciais e a atrair recursos externos, com repercussões positivas no balanço de pagamentos. As maiores incertezas estão nos gargalos de infra-estrutura, que representam custos adicionais, perda de eficiência e menor competitividade. Utilizamos essas informações no Modelo SENAI de Prospecção como parâmetros para a realização de projeções de emprego, com vistas a identificar “Quantos trabalhadores serão demandados nos próximos 5 anos”. Os resultados preliminares apontam para a geração de aproximadamente 22 milhões de novos empregos no período 2008/2012, sendo que mais da metade, cerca de 13,5 milhões, deve ser gerada no setor de serviços, enquanto na indústria esse número será de 4,2 milhões, e na agropecuária, 4,3 milhões. No que diz respeito às regiões, a expectativa é da ocorrência de uma maior taxa de crescimento do emprego industrial nas regiões Norte e Sudeste. No que tange à distribuição regional do emprego industrial, os resultados apontam ainda para uma concentração na região Sudeste, com a participação de 55,9 % do emprego projetado no período, seguido da região Sul, com 20,9%, Nordeste, com 14,0%, Norte, com 4,8%, e o Centro-Oeste, com 4,4%. Dentre os setores que deverão apresentar um desempenho significativo nos próximos 5 anos, os principais são: 11

Automotivo; Construção Civil; Bens de capital e eletroeletrônicos; Extração mineral e siderurgia; Comércio; Eletricidade, gás e saneamento; Transporte, armazenamento e correios; Químico; Agricultura; Agroindústria.

Sugestões do I Encontro Diante de uma expectativa de um crescimento bastante consistente da demanda por emprego nos próximos 5 anos, e dos desequilíbrios já existentes no mercado de trabalho, os Representantes de Tendências e Prospecção sugerem que o SENAI: a) amplie sua oferta de cursos e programas por meio de estratégias de gestão (ações mais flexíveis – ações móveis e unidades móveis, aumento de utilização da capacidade instalada; estabelecimento de parcerias com outros DR; realização da formação no canteiro das grandes obras; realização da parte prática da formação na empresa; trabalhar com o estoque de alunos já formados, certificando-os novamente, se necessário; utilização de instalações das prefeituras ou de outras instituições; instalar escolas provisórias – com início e fim bem definidos; estabelecimento de parcerias com fornecedores de equipamentos por meio de contratos de cessão de equipamentos por tempo determinado; dividir a responsabilidade de formação com outras instituições, inclusive com as próprias empresas); b) amplie sua oferta de cursos e programas por meio de expansão das infra-estruturas de atendimento (quando se tratar de demandas estruturais); c) amplie sua oferta de cursos e programas de requalificação (intensificando o uso de processos de certificação e de desenho de novos itinerários formativos).

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Investimentos públicos e privados

O

investimento, tanto o de natureza pública como o privado, é uma das variáveis apontadas pelos especialistas como responsável pelo crescimento.

Os investimentos do setor público para os próximos anos estarão, em sua maior parte, concentrados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e poderão resolver alguns dos gargalos de infra-estrutura. O PAC prevê investimentos de R$ 506,2 bilhões no período 2007-2011, sendo que cerca de 20% desses investimentos serão destinados a obras com baixa probabilidade de concretização, em razão, principalmente, de restrições ambientais ou de inviabilidade econômica. Convém distinguir, para efeito de formação profissional, as diferentes fases desses investimentos. Enquanto na fase de implementação os impactos no emprego são de caráter temporário (embora de grande magnitude), os impactos estruturais são os oriundos da fase de operação. Para se ter uma idéia, no que se refere à destinação dos investimentos do PAC, por etapas de desenvolvimento dos projetos, estima-se que o total desses recursos (R$ 506,2 bilhões) deverá ter a seguinte distribuição: 55% serão destinados à construção e montagem; 37% a instalações; 8% a despesas para início da operação (excluindo-se a manutenção posterior à implantação do projeto). Além desses investimentos públicos, de acordo com um levantamento das intenções de investimento privado, realizado pelos Departamentos Regionais do SENAI, verifica-se que, para o período 2008-2012, dos R$ 187 bilhões previstos, cerca de 48,6% concentram-se na região Sudeste, 16,4% na região Centro-Oeste, 13,7% na região Nordeste, 13,2% na região Sul e 8,2% na região Norte. Convém também destacar outros fatores (além das fases dos investimentos) que devem ser levados em consideração para analisar o impacto dos novos investimentos: 13

a) os efeitos indiretos dos novos investimentos em outros setores da economia; b) o efeito transbordamento, que resulta os impactos indiretos gerados em outros estados ou regiões a partir da realização de um investimento em uma determinada região; c) a diferenciação dos impactos nas fases de construção, implementação e operação.

Sugestões do I Encontro Diante de uma perspectiva de realização de novos investimentos, tanto no setor privado quanto no setor público, podemos esperar, para os próximos anos, distintas demandas por profissionais qualificados. Existirão demandas oriundas de investimentos em obras de infra-estrutura, que tenderão a se concentrar no tempo, exigindo trabalhadores de construção civil em sua maioria, sendo que os setores que compõem a cadeia produtiva de construção também sofrerão um grande impacto. Posteriormente, ocorrerá a instalação de equipamentos, exigindo trabalhadores de montagem, alguns bastante especializados. Finalmente serão demandados, de forma permanente, trabalhadores para a operação das instalações, em quantidade reduzida, porém com alta especialização. Tal demanda irá se colocar de forma diferenciada entre os estados, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, de modo que os Representantes de Tendências e Prospecção sugerem que o SENAI mobilize distintas estratégias de formação associadas às fases dos investimentos (distinguindo entre demandas pontuais e demandas permanentes). Além disso, sugerem que o SENAI acompanhe de forma sistemática as intenções de investimentos (tanto públicos como privados).

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Tecnologia e organização

T

ecnologia e organização são dois fatores que influenciam, de forma significativa, o perfil de qualificação dos trabalhadores. Por essa razão, o Modelo SENAI de Prospecção tam-

bém estima mudanças prováveis nos perfis profissionais dos trabalhadores, por meio da prospecção tecnológica e organizacional. A heterogeneidade estrutural da economia brasileira pode ser observada nos desequilíbrios regionais. Uma evidência desse fenômeno pode ser vista nos resultados da pesquisa de difusão tecnológica realizada pela UNITEP em 2007, que objetivou identificar as taxas de difusão, em todos os estados da federação, de um grupo de tecnologias do setor de Máquinas e Equipamentos. Os resultados dessa pesquisa ratificaram algumas percepções iniciais, mas que ainda não estavam confirmadas, devido à falta de pesquisas desse porte. Dentre as informações obtidas verifica-se ainda a baixa difusão das tecnologias mais complexas, as quais foram prospectadas pelo Modelo SENAI de Prospecção, e a maturidade (alta taxa de difusão) das tecnologias com menor grau de complexidade. Os resultados por regiões confirmam a concentração industrial nas regiões Sul e Sudeste, mas indicam um crescimento futuro na difusão das tecnologias mais complexas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A pesquisa ratificou, também, o baixo grau de atualização tecnológica nas pequenas empresas do setor, observado pelo elevado grau de difusão das tecnologias consideradas maduras (tornos horizontais, fresadoras e retificadoras) em comparação com outras tecnologias mais “complexas”. Em relação ao mercado de destino, a pesquisa mostrou que as empresas que trabalham com os mercados interno e externo possuem atualmente as maiores taxas de difusão. O que mostra que as exigências do mercado brasileiro ainda estão aquém daquelas exigidas pelo mercado internacional. Contudo, as taxas de difusão futura para as empresas que trabalham somente com o mercado interno mostram que o mercado nacional tenderá a aumentar seus níveis de qualidade e de valor agregado. A dimensão organizacional pode também ser verificada nos movimentos comerciais internacionais. A necessidade de uma empresa atender a mercados altamente diferencia15

dos tem feito com que desenvolvam novas estratégias de atuação e se façam presentes em diversos países e regiões. Essas mudanças na economia global têm como pano de fundo: a entrada de novos países como potências produtivas (Coréia, China, Índia); desregulamentação dos mercados; formação de mercados regionais; privatização de indústrias e serviços; avanços tecnológicos, especialmente no campo das informações; e a priorização dos indicadores financeiros em todas as atividades da empresa (financeirização). Nesse novo e dinâmico contexto ganham importância estratégica as novas formas de organização da produção. Sua distribuição em diversas regiões e o crescimento muito significativo de um conjunto de serviços industriais são fenômenos associados às novas formas organizacionais e ao desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. Essas mudanças organizacionais podem ser exemplificadas pelo crescimento da indústria de software, que apresenta configurações organizacionais e produtivas que trazem significativos impactos no trabalho. A difusão de softwares, ao gerar novas oportunidades de negócios, principalmente aquelas relacionadas ao conjunto “software e conteúdo digital”, impactará de forma significativa um conjunto de trabalhadores, principalmente os de níveis técnico e superior.

Sugestões do I Encontro Os novos investimentos tenderão a ser realizados tendo por base novas tecnologias, o que exigirá novos perfis de formação. Por exemplo, parte dos investimentos no setor de máquinas e equipamentos estará alinhada com a trajetória tecnológica denominada de high speed cutting, que exigirá dos profissionais de programação de máquinas novas habilidades, conhecimentos e atitudes. Assim, dadas a difusão tecnológica e as mudanças organizacionais esperadas, a demanda por emprego continuará a exigir uma maior qualificação. Como o SENAI trabalha de forma sintonizada com as demandas atuais e futuras da indústria, os Representantes de Tendências e Prospecção sugerem que se intensifique a modificação dos desenhos curriculares, por meio dos Comitês Técnicos Setoriais. Além disso, sugerem que se continue a identificar tendências tecnológicas, organizacionais e ocupacionais (para os próximos 5 e 10 anos), com vistas a antecipar ações de educação profissional e de serviços técnicos e tecnológicos.

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Considerações finais

A

piora na qualidade do ensino está na raiz dos desequilíbrios no mercado de trabalho, uma vez que as respostas (à exigência por maior qualificação) das empresas (que

podem contratar trabalhadores diretamente no mercado de trabalho) e das instituições de formação profissional (que recebem alunos oriundos da rede de ensino) dependem essencialmente da qualidade de ensino. Pelos dados apresentados, nos próximos 5 anos a demanda por emprego continuará a crescer, e o perfil profissional seguirá exigindo maiores níveis de qualificação. Como não esperamos, para o futuro próximo, uma melhora significativa na qualidade do ensino, tudo indica que a sincronia desses três fenômenos irá se aprofundar, provocando mais desequilíbrios no mercado de trabalho. O posicionamento institucional do SENAI deverá tornar claro, para empresas e o público em geral, que a raiz dos desequilíbrios encontra-se na qualidade do ensino, bem como apontar o que a instituição está fazendo para lidar com esse problema. O EBEP, uma das ações mais estruturantes que o SENAI realiza em conjunto com o SESI para lidar com a qualidade do ensino, deveria ser ampliado. Ou seja, os Representantes de Tendências e Prospecção apontaram o EBEP como uma excelente ação para contribuir para solucionar o principal problema dos desequilíbrios no mercado de trabalho, hoje e no futuro próximo. Além disso, está prevista uma onda de investimentos de grande magnitude, o que incrementará, de forma diferenciada, a demanda por emprego em regiões e setores. Será muito importante distinguir essa demanda de acordo com as fases previstas para os investimentos – construção, instalação e operação – , pois a quantidade e o tipo de profissionais demandados serão completamente distintos em cada fase. De acordo com essa análise, parte significativa da demanda por emprego poderá ser atendida utilizando-se estratégias variadas de gestão, enquanto outras demandas (estruturais e permanentes) necessitarão ampliar a infra-estrutura de atendimento. 17

Finalmente, é preciso destacar que o Programa Educação para a Nova Indústria abarca essas e outras ações educacionais e está absolutamente sintonizado com os desafios atuais e futuros para o crescimento sustentado da indústria brasileira.

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Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Conselho Nacional do SENAI Armando Monteiro Neto – Presidente SENAI – Departamento Nacional José Manuel de Aguiar Martins – Diretor-Geral Regina Maria de Fátima Torres – Diretora de Operações Unidade de Tendências e Prospecção (UNITEP) Luiz Antonio Cruz Caruso – Gerente-Executivo Revisão Técnica Luiz Antonio Cruz Caruso Elaboração Luiz Antonio Cruz Caruso Marcio Guerra Amorim Marcello José Pio Denise Cristina Corrêa da Rocha

2008. SENAI/Departamento Nacional Setor Bancário Norte – Quadra 1, Bloco C Ed. Roberto Simonsen – 4º andar 70.040-903 – Brasília-DF Tel. : (61) 3317-9802 – Fax: (61) 3317-9685 [email protected] www.senai.br

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